Vigésimo quinto livro lido em 2024: “História da Solidão e dos Solitários” (Editora Unesp, 514 páginas, tradução de Maria das Graças de Souza), do francês Georges Minois.

Carlos Willian Leite

Composta por 11 capítulos, a análise meticulosa do francês Georges Minois expõe a dualidade da solidão na era moderna e ao longo da história. O estudo aborda a solidão sob várias perspectivas — históricas, psicológicas, sociológicas, biológicas e filosóficas —, refletindo sobre seu impacto na era digital, onde a hiperconectividade paradoxalmente coexiste com o isolamento. O livro explora a fascinação humana por retiros isolados, apesar de a solidão ser vista como um desafio social significativo. O autor examina como diferentes sociedades têm incorporado a solidão em práticas religiosas e processos de amadurecimento pessoal.

Georges Minois: historiador francês | Foto: Reprodução

A dicotomia entre a busca por conexões sociais e a apreciação pelo isolamento remonta à antiguidade, explorando a natureza do homem como “animal social” que valoriza períodos de reclusão. Desde figuras bíblicas até monges eremitas, filósofos, escritores e artistas, a solidão é simultaneamente venerada e temida. A narrativa atravessa épocas, destacando o contraste entre os reclusos de Port-Royal e pensadores como Rousseau e, posteriormente, Schopenhauer, com a valorização da sociabilidade nos salões iluministas.

Ao analisar a modernidade, Georges Minois realiza um estudo abrangente — aliás, meu capítulo favorito do livro — sobre a ascensão do liberalismo e a glorificação da solidão pelos românticos, exemplificada por Guy de Maupassant, o que sinaliza uma transformação na percepção desse estado. No século 21, a valorização da autonomia dos solteiros contrasta com a crescente preocupação com o isolamento dos idosos, marcando a solidão como um problema emergente.

O livro não apenas mapeia a trajetória histórica da solidão, mas também incita uma reflexão profunda sobre como o isolamento molda a experiência humana em um mundo cada vez mais conectado, mas paradoxalmente solitário.

Primoroso, mas merece e precisa de uma edição revista, já que possui uma infinidade de erros de tradução e de impressão.

Nota: 9

Carlos Willian Leite é poeta, jornalista e editor da “Revista Bula”. É colaborador do Jornal Opção.