O autor afirma que escreveu uma obra marxista da história do mais rico município do Sudeste de Goiás

Júlio Paschoal

Especial para o Jornal Opção

O livro “História Política e Econômica de Catalão e Outras Reminiscências” (A Redação, 278 páginas), do economista Fernando Safatle, procura fazer uma interpretação singular e articulada entre as transformações que operaram no bojo da infraestrutura econômica e as mudanças que ocorrem na estrutura do poder político no município do Sudeste goiano. O autor frisa que se trata de uma análise marxista.

As transformações políticas e econômicas sofreram influência direta de questões verificadas em nível nacional e estadual.

Teve início com a Revolução de 1930, a ascensão do Estado Novo (1937), com a transição do modelo agrário exportador para o urbano industrial, período em que Goiás, tinha como interventor Pedro Ludovico Teixeira e que mais tarde seria responsável pelo crescimento do PSD, em Goiás, fortalecendo a esquerda em Catalão e em outros municípios do Estado. No período o grupo liderado por ele rivalizava com o grupo defendido pela UDN. Em Catalão, Fernando Safatle junto as famílias Netto, Fayad, Margon Vaz, dentre outras de igual importância,a integravam o partido de Pedro Ludovico, enquanto os Evangelistas, Fonseca, Paschoal, Avelar, Marques, Mesquita e outras integravam a UDN. E assim foi até o golpe civil-militar de 1964.

Posteriormente o PSD virou MDB, congregando todas as forças de esquerda contrárias ao regime militar. Este representado no Estado e em Catalão pela Arena, partido político que substituiu a UDN.

O livro mostra o importante papel de resistência feito por Fernando Safatle combatendo as atrocidades cometidas pelos militares. No período, a atividade econômica de Catalão, que centrada na agropecuária, dá lugar a atividade industrial, ali representada pelos empresários da carne, que construíram um frigorífico e passaram a agregar valor no produto auxiliando no crescimento e desenvolvimento de Catalão.

Fernando Safatle, economista, faz uma ampla revisão da história de Catalão | Foto: Reprodução

No período, a Metago passou a fazer prospecção no município e encontrou grandes jazidas de minério, que, após os anos 1970, passaram a ser a principal atividade econômica do município (atualmente, a presença da Mitsubishi representa importante para a prefeitura municipal).

As políticas públicas advindas desse governo acabaram permitindo uma maior integração de Goiás com São Paulo e o restante do país pelas obras de infraestrutura aqui realizadas, no âmbito da Sudeco, beneficiando também Catalão. A infraestrutura para suportar as grandes empresas que lá se encontram instaladas ocorreram com forte atuação legislativa de deputados da situação da época — como Enio Pascoal e Hélio Levi da Rocha, tendo como  oposição responsável e que também brigava pelo desenvolvimento do município João Netto, dr. Jaci Netto e, nos anos 90, Silvio Paschoal, Mauro Netto, Arédio Duarte e Haley Margon Vaz etc. Por sua vez, no governo de Henrique Santillo, Fernando Safatle auxiliou no desenvolvimento, como secretário de Planejamento e presidente da Fundação Pedroso Horta. Cada um a seu tempo, exerceu forte influência na política e na histórica econômica do município.

O autor traz a luz episódios inéditos e até agora não revelados que marcaram positivamente a administração do ex-governador Henrique Santillo, que trouxe de volta a figura do planejamento iniciado no governo Mauro Borges e que teve a brilhante atuação interrompida por sua cassação no âmbito do golpe civil-militar de 64.

Para além da atuação governamental, o autor e outros companheiros ilustres fundaram a Fundação Pedroso Horta, criticada por muitos, mas que prestou serviços úteis ao formular políticas públicas, que, apresentadas a Santillo, permitiu desenvolver ações em todo o Estado, principalmente em regiões esquecidas por governos anteriores como: Norte, Nordeste e Oeste. O governo de Santillo não se preocupava tão-somente com gestão. Era um governo para o qual o planejamento era prioridade, Fernando Safatle costuma enfatizar isto.

Catalão, na região Sudeste, se apresentava na vanguarda desse processo de desenvolvimento. Fato que aumentava a politização de seus líderes que rivalizavam nos partidos de direita e esquerda.

O livro, dentre outras curiosidades, mostra que a atuação firme do autor permitiu a fundação do primeiro Partido Comunista de Goiás, em Goiandira, município da Estrada de Ferro, circunvizinho a Catalão.

Como pode se perceber a história política e econômica de Catalão se confunde com a do Estado e do País, uma vez que seus líderes exerciam influência fora de seu território, pelas posições políticas tomadas, nos períodos que marcaram a vida política e econômica do país.

A obra retrata também a importância dos governos Marconi Perillo para o Estado e, por conseguinte, para Catalão, só não se traduzindo como melhor governador para o município pela fraca atuação do ex-prefeito do PSDB e de seu filho, atual deputado estadual do partido. Pela proximidade com o ex-governador, poderiam ter trazido ainda mais benefícios para o município.

Feitas essas considerações, finalizo minhas palavras dizendo da importância desta obra para o conhecimento das especificidades políticas e econômicas que têm marcado o desenvolvimento do nosso município nos últimos 145 anos de emancipação política.

Serviço

“História Política e Econômica de Catalão” será lançado na terça-feira, 22, às 19h30, na sede da União Brasileira de Escritores, na Rua 21, nº 262, Centro, em Goiânia.

Júlio Paschoal, mestre em Desenvolvimento Econômico pela UFU-MG, é professor do curso de Economia da UEG.