Em seu novo filme, os “vai-idosos” Didi e Dedé mostram que ainda conseguem cativar seu público

28 janeiro 2017 às 09h55

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Augusto Rodrigues, de 42 anos, e seu sobrinho Pedro Maia, de 16, escrevem, a quatro mãos, crítica sobre os “novos” Trapalhões mostrando as percepções de duas gerações de espectadores

Pedro Maia e Augusto Rodrigues
Especial para o Jornal Opção
Atuação, canção, músicas e filmes. Animais falantes, pessoas silenciosas? Talvez tudo junto, talvez, não, com certeza, “todos juntos”. Um espetáculo, um musical, estrelado por Didi Mocó Sonrisal Colesterol, cheio de imaginação, contos de fadas, fábulas que vêm de outro século e o que mais vier às suas cabeças.
Um reboot? Um remake? Ou uma nova criação? Um pouco dos três, pois “Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood” foi uma nova visão nostálgica para o público antigo e um picadeiro de incríveis descobertas para um admirável público novo.
Infância é dentro da gente. Esta, a maior lição deixada pelos Trapalhões, nos idos dos anos 80. Década de roupas extravagantes, cabelos projetados, rock mal tocado e bem letrado. Mas, aos domingos, às 19 horas, quatro vozes ecoavam nos lares do Brasil. Tudo acontecia nos improvisos, nas paródias chaplinianas e críticas políticas. Um circo que cabia no écran – nome pomposo para pequenas tvs que, muitas vezes, precisavam de Bombril em suas antenas para funcionar.
Vale ressaltar a surpresa do público antigo sem Zacarias e Mussum, marcantes para aquela geração, que voltam ao cinema depois de tantos anos. Para os filhos, que estão conhecendo os comediantes agora, poderão saber como era o trabalho da época. A dupla cômica retorna com muita química. Didi e Dedé, vai-idosos, ainda guardam o tempo das piadas, a percepção um do outro e expressão corporal capaz de contagiar o pai na plateia e a criança que conhece o circo, muitas vezes, numa tela.
A história se desenvolve a partir do momento que a filha do Barão retorna de seus estudos na cidade grande para o Circo Sumatra. Ela se depara com uma crise da arte circense, ocupada por eventos, comícios e leilões, prefeitos, gerentes e barões.
Na primeira cena, a Festa d’Os Cara (e não do Oscar!), os atores são paródicos, as estrelas decalques cômicos e o prêmio vai para um pato de desenho animado. Este sonho tupiniquim aconteceu n´Os Saltimbancos Trapalhões de 1981. Eles foram a Hollywood, invadindo sets de “Guerra nas Estrelas”, passando pelo “Tubarão” de Spielberg, rememorando divertidamente, antes de Tarantino, clássicos do Faroeste. Os motes para o cinema literário continuam sendo “Os músicos de Bremen” e “Os Saltimbancos” de Chico Buarque e Sergio Bardotti. As novas interpretações emocionam quem cresceu assistindo o Jumento, o Cachorro, a Galinha e a Gata nas sessões da tarde.
Uma pirueta, duas piruetas, maxipiruetas; uma cena, duas cenas, supercenas; um sonho, dois sonhos, mega-sonhos foram formando tão esperado espetáculo. Vamos a Hollywood?
O figurino, roteiro e trilha sonora de “Saltimbancos – rumo a Hollywood” – são muito bem postos, bem montados e bem-feitos. As performances dos bailarinos, músicos e artistas circenses – que realmente vivem essa atmosfera no tablado de Marcos Frota – evocam à franquia de Os Trapalhões um novo começo. Franquia que já teve mais de 120 milhões de espectadores e que continua com velhos da época (Roberto Guilherme, nosso Sargento Pincel) e jovens atores de agora, como Alinne Moraes atuando no papel de Tigrana. Passam, ainda, pelas tomadas, nem circenses, nem atuantes, Emílio Dantas e Rafael Vitti. Lívian Aragão, ainda aprendiz, divide cenas com um pai admirado. Há belo tratamento das imagens, enquadramentos certeiros, movimento de cenas e cortes eficazes. Os diálogos-monólogo de Didi com animais – realidade computadorizada – demarcam o formato escolhido pelo diretor João Daniel Tikhomiroff. Nesta versão temos três núcleos: a dupla cômica, o musical com memórias do filme anterior e a presença da atriz Letícia Colin que, inexplicavelmente, ocupa grande parte da trama.
Mas o filme tem gargalhada? Tem sim senhor! Tem muita estrada e tem muita dor. Mas a “maquina” de escrever e a película rodam pra fazer serão, pra ficar contente, pra comer macarrão. Que emocionante o trapalhão escritor rodeado de palavras, personagens e folhas voando. As teclas, tá que tá que é bão, tecladas por um trapalhado saltimbanco que viveu de humor e de alegria. Didi Mocó – Renato Aragão, completando 50 filmes – continua hipopotizando crianças e convidando o público da arquibancada ou das cadeiras de uma sala escura a enfrentarem, todos juntos, os barões que sempre voltam. Todos juntos puderam trazer nostalgia e descoberta para o novo formato de algo que podemos chamar de teatro, show, filme, programa, comédia, verdadeiro espetáculo de saltimbancos trapalhões.
Por fim, (fechar da cortina do texto e the end do filme) as aparições, de gravações antigas, de Zacarias e Mussum, geram a emoção e alegria no público e no incrível Renato – palhaço que chora dentro do filme.
O resto é linha, margem, etcétera e tal.