Ontem, durante uma festa de halloween aqui no meu prédio, eu brinquei com a filha de uma vizinha por alguns minutos e me diverti enquanto ela soltava gargalhadas. Durante um tempão, ela sorria largo, brincando de me assustar. E olhando pros cachinhos da Lavínia eu pensava: quanto tempo passou desde que a Cecília era assim e sorria tanto, desse jeito. Ah, que saudades!

Se você é uma mãe atenta e amorosa, você vai sentir saudades. De várias coisas. Em alguns dias vai sentir vontade de voltar pra uma fase, pra um lugar. Você vai se lembrar de tantos detalhes que enquanto aconteciam, pareciam só rotina. Não era, era a vida correndo e correndo. Os sorrisos mudam, mas vão diminuindo conforme a gente cresce… Por qual motivo deixamos isso acontecer?

Decidi dançar com a Cecília e brincar com ela lá na festa enquanto o Matheus dormia e consegui arrancar uns sorrisos, fiquei admirando ela dançar, brincar e se divertir. Como ela cresceu… Tá preocupada com o corpo mudando, a adolescência daqui a pouco chega. Eu preciso ouvir todas as gargalhadas infantis que ela der. Eu ainda admiro os furinhos na mão, os dentes de leite, o jeito como ela brinca de boneca.

Depois do primeiro mês do Matheus o clima começou a mudar e os dias ficaram mais quentes. Um dia eu olhei pros pés de meia e pensei: preciso deixar ele sem meias pra ficar admirando esses pés. Daqui a pouco estarão sujos de terra e não vão mais parecer bisnagas. Eu beijo esses pés todo dia e curto esse cheiro viciante de bebê. Tem gente que fala sobre fases difíceis. Eu só acho que cada uma delas é um presente.

Essa semana foi caótica de trabalho. Mãe doente, filha com dedo quebrado, Matheus em salto de crescimento querendo colo e colo, mil reuniões. No meio de todo o caos eu brinquei e amamentei, preparei lanches, fiz cócegas e arranquei risadas. Minha mãe me chamou e soltou uma frase assim: “Meu Deus, Matheus, quanta paciência sua mãe tem.”

Essa paciência que nem sempre eu enxergo é resultado da vida. Perdi gente que eu amava, passei por uma pandemia, perdi uma casa num incêndio. Sobrevivi tantas vezes e aprendi cedo a apreciar os detalhes, a vida que passa todo dia enquanto a gente espera o final de semana.

Eu sinto saudades da Cecília bebê, dos primeiros passos, de cada primeira vez dela. O primeiro dente arrancado, a primeira vez surfando uma onda, a primeira apresentação da escola, a primeira vez que ela disse “Eu te amo, mamãe”. Eu faço muita questão de não deixar a rotina me engolir. Eu vou sentir saudades mas eu também quero ter certeza de que aproveitei cada segundo e tudo que eu pude.

De vez em quando eu questiono as escolhas de quem me cerca porque eu tô vendo a vida deles com meus olhos. E claro, cada pessoa vive do seu jeito. Mas a minha vontade é dizer pra todo mundo que eu amo: aproveita, você vai sentir saudades…