“Em vez de os reis levarem consigo os ladrões ao Paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno…” Esta frase está contida no “Sermão do Bom Ladrão”, o qual foi proferido em 1655 pelo padre Antônio Vieira. O religioso — que nasceu em Portugal em 1608, veio para o Brasil em 1614 — rasgou o verbo na presença de gente graúda de Portugal de então: D. João IV e sua corte, juízes, ministros e conselheiros. Vieira construiu seu sermão em cima do episódio da crucificação de Jesus ao lado de dois ladrões: Dimas e Gestas. O primeiro é conhecido como o bom ladrão, isso por ter se arrependido de sua vida bandida e pedido a Jesus para ser lembrado quando o Rei dos Reis entrasse no Paraíso. O segundo era o mau ladrão.

Ao mesmo em que falou dos ladrões de galinha, o padre também apontou outra modalidade de larápios: “…os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos”. Segundo Vieira, os pequenos ladrões “furtam e são enforcados; os outros “furtam e enforcam”. 

Por aqui na terra brasilis, temos ladrões de facetas mais diversas, no entanto não creio haver pôr em nosso torrão algum como o Dimas. De repente existe. Vejo como menos abomináveis os gatunos que se valem de armas para tomar os pertences alheios do que aqueles que se infiltram nos governos maquiados de cordeiros mansos e enchem os bolsos com o dinheiro público. Esta linhagem de ladrões é especial: não pega o tempo de cana que os ladrões definitivamente ladrões pegam, mas isso quando não morrem em embates com a polícia.

Eu venho falando de bichos ultimamente em minhas croniquinhas e nesta também vou fazer o mesmo: só que agora vou falar de rato. E isso motivado por uma matéria que li no “Estadão” recentemente noticiando que o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, está envolvido em várias mutretas.

Pintura de Paul Charles Chocarne-Moreau

Segundo o jornal, quando deputado federal, Juscelino Filho enviou emendas do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa em frente a uma de suas fazendas no Maranhão; conseguiu nomear seu sócio num haras de cavalos de raça como funcionário fantasma na liderança do PDT no Senado. Enquanto deputado federal, usou verba pública para pagar um servidor que realizava serviços braçais na fazenda de um tio seu. O que só parou quando ele se tornou ministro. E tem mais: na Câmara corre uma investigação sobre o contrato do piloto do avião particular do ministro no gabinete de outro deputado federal também do Maranhão e do União: Dr. Benjamim de Oliveira.

Isso tipo de comportamento deixa claro que o dinheiro do cofre gordo do Congresso está tomando rumo errado. O que não é novidade. Essa ciranda de maracutaia é antiga. Os parlamentares da Casa, composta de 513 deputados e 81 senadores, custam muito caro aos brasileiros. É o segundo mais caro do mundo, o primeiro é o americano. Do bolso dos brasileiros saem anualmente R$ 10,8 bilhões para custeio de salários, auxílio moradias, assessores, veículos, celulares e outras tantas coisas.

A imprensa presta um grande papel à sociedade na busca de informações sobre os parlamentares que fogem da obediência de dirigir o seu mandato em função da sociedade. Não fosse ela, não saberíamos que o ministro das Comunicações do governo Lula da Silva tem um passado complicado. O presidente que trate de colocar a barba de molho, que trate de chutar o pau da barraca enquanto ainda não foi levado para o inferno. Se não escutar as palavras de Maquiavel e assim não mandar seu ministro pra tonga da mironga, vai bailar: “Os homens hesitam menos em ofender quem se faz amar do que em ofender quem se faz temer; porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação que, por serem os homens pérfidos, é rompido por qualquer ocasião em benefício próprio; mas o temor é mantido por um medo de punição que não abandona jamais”.

Sinésio Dioliveira é jornalista