A ignorância é algo muito perigoso, dela resultam danos mais variados, e, quando descamba para o pântano da malignidade, pode gerar morte de pessoas, bichos, plantas. Para Rui Barbosa — jurista, advogado, diplomata, jornalista, escritor e político —, a ignorância é “a chave misteriosa das desgraças que nos afligem”. Ele a definiu como “mãe da servilidade e da miséria”.

Conheço um homem cuja ignorância levou-o à servilidade e consequentemente o fez acreditar cegamente nas palavras ardilosas do pastor de sua igreja. Fato que lhe resultou em crise financeira e familiar. Vendeu uma casa modesta que tinha e doou a metade para a igreja na busca daquilo que consta em Malaquias 3. Certamente, por ter dado a grana “sem fé” (lorota de muitos pastores para justificar a graça inalcançada), as comportas do céu não lhe foram abertas de modo a receber tantas bênçãos a ponto de não ter onde guardá-las, conforme consta no versículo 10 do livro sagrado citado. Aliás nada de bênção aconteceu. Pelo contrário. Hoje, vive de aluguel com duas filhas adolescentes e sua mulher, que, com o gesto boçal do marido, acabou caindo nas garras de um demônio chamado depressão.

Árvore: anelamento | Foto: Sinésio Dioliveira

Malignidade da ignorância

Voltando à malignidade da ignorância, uma árvore foi morta por um motivo que não era culpa dela. Uma empresa de um bairro de Campinas foi capaz de matar uma munguba para simplesmente afugentar um casal de moradores de rua que vivia à sombra da respectiva espécie em companhia de dois cães. O casal, que certamente estava “afeando” a calçada da empresa, agora está morando debaixo de uma amendoeira a poucos metros da outra árvore. No período de chuva, os dois procuram a marquise de algum prédio nas imediações para se abrigar. Muitas pessoas que passam pelo casal acabam deixando algum trocado, e isso mais por compaixão dos bichos que dos dois.

E nessa toada estúpida para com as árvores, esses seres tão essenciais para o equilíbrio do planeta, muitas têm sido sacrificadas por motivos banais. Algum tempo atrás, a Delegacia de Meio Ambiente e a Amma fizeram uma ação em parceria na Avenida Araguaia sobre duas árvores que foram sacrificadas porque estavam impedindo a visão da fachada de uma loja. Além de aneladas, foram envenenadas. Eram dois oitizeiros. Apesar de que o pior tenha acontecido, que é a morte das árvores, ainda assim Amma atenuou a situação: plantou duas mudas da mesma espécie no mesmo local.

As folhas caídas têm sido outro motivo para sacrificar árvores. E há até quem as chame de lixo, por desconhecimento da importância delas como geradora de matéria orgânica para o solo. As árvores, coitadas, sofrem com os ignorantes. São elas que nos garantem segurança hídrica. Sem elas, não teríamos água para beber, tomar banho, lavar nossa roupa e outros tantos benefícios.

Sinésio Dioliveira é jornalista.