Visitar o amigo Jeremias Lunardelli Neto me faz muito bem. Por isso o visito sempre que posso. Para o filósofo, escritor, cientista e político inglês Francis Bacon — um dos mais importantes pensadores da Modernidade — o homem sem amigos vive a solidão mais triste. Segundo o filósofo, “a falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto”. Sempre que falo do Jeremias para alguém, cito que é um moço no corpo de um homem de 85 anos. Eu inclusive já lhe disse isso pessoalmente. Seu entusiasmo pela vida é contagiante. Quem o conhece sabe bem do que estou falando.

Borboleta conhecida como 88 | Foto: Sinésio Dioliveira

As janelas e portas da vida de Jeremias estão sempre abertas para o sol, a lua, o vento, as borboletas. E sobretudo para algo essencial: que é o conhecimento, o qual, conforme Leonardo da Vinci, “torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice”. Não vejo, portanto, amargura alguma em Jeremias. Conheço pessoas bem mais novas que ele, que, por ausência de sabedoria, andam asfixiadas de amargura. Há, no entanto, muitas que já estão mortas e que só faltam deitar para fechar o ciclo.

Jeremias Lunardelli, da Fazenda Santa Branca | Sinésio Dioliveira

Minha curiosidade em conhecer o Jeremias pessoalmente se deu quando ele publicou um artigo no jornal “Diário da Manhã”, isso, se não me engano, em 2012. Em seu artigo, conta quem foi o personagem que dá nome ao segundo maior manancial hídrico de Goiânia e Região Metropolitana: o ribeirão João Leite. Relata também que João Leite da Silva Ortiz fora casado com Isabel Bueno da Silva, filha do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva (o filho) e que, em Pernambuco, se preparando para ir a Portugal a fim denunciar a perseguição do governador da capitania de São Paulo, Antônio da Silva Caldeira Pimentel, contra ele e seu sogro, fora assassinado por envenenamento em 1730 pelo padre Matias Pinto a mando de Pimentel.

Borboleta numa flor | Foto: Sinésio Dioliveira

Eu, que só conhecia o lado empresarial de Jeremias (fundador da Fazenda Santa Branca) e seu lado de articulista, descobri também um poema (“As borboletas”) seu gravado em baixo relevo nos dois lados de uma tábua na porta do antigo Casarão Cultural dentro da fazenda; em cada grupo de versos, uma fase de sua vida: o antes de falar com as borboletas e o depois de falar com elas. Foi o mais belo poema que li em 2019. Com a permissão do autor, fiz um vídeo amador, que publiquei no YouTube (confira abaixo) Abaixo o poema, no qual podemos perceber que o poeta consegue eclodir da crisálida pendurada no arame da vida mundana e se tornar borboleta:

“Quando deixei de ver as borboletas

Passei a ver o homem num campo de batalha

Quando deixei de sentir as borboletas

Congelei meu coração para percorrer a vida

Quando deixei de falar com as borboletas

Sufoquei minha voz ante o ruído do progresso

Quando deixei de tocar as borboletas

A vida mundana sufocou meu tato

Quando deixei de ouvir as borboletas

O rufar dos tambores roubou minha atenção

A ordem unida substituiu a dança

Quando parei de provar a vida com as borboletas

Ela se tridimensional, linear, finita

Voltando às borboletas

Borboleta nas flores, num dueto de beleza | Foto: Sinésio Dioliveira

Me vi em harmonia com o universo

Voltando a ver as borboletas

Juntos provamos a beleza da unidade

Voltando a falar com as borboletas

Cantei em cora mantras de louvor a Deus

Voltando a tocar as borboletas

Toquei na menor partícula da estrela mais distante

Voltando a ouvir as borboletas

Dancei com elas a música dos anjos

Voltando a provar a vida com as borboletas

Ela se fez total e infinita”