Humor e jovialidade para esconder o despreparo e os interesses…
20 agosto 2024 às 18h13
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“O Velho Senado” é o livro de Machado de Assis resultante de sua passagem pelo Senado, no qual iniciou sua carreira jornalística aos 20 anos. Diz ele que “os senadores compareciam regularmente ao trabalho” e que “era raro não haver sessão por falta de quórum”. Fato que, portanto, destoa da rotina das nossas mais variadas casas de leis. E olha que naquela época nem havia automóvel. Machado, que trabalhava no Diário do Rio de Janeiro, fala de sua amizade com o escritor Bernardo Guimarães, este também atuando pelo Jornal do Comércio na cobertura da câmara alta do Congresso Nacional. Outros amigos são mencionados.
Meu propósito mesmo nesta crônica é falar do zombeteiro Pablo Marçal, em cuja capivara consta que foi condenado pela Justiça Federal de Goiás a pegar quatro de cana por furto qualificado. Enfim, coisa de mutreta virtual envolvendo e-mails infetados de vírus e assim bulir na conta dos donos dos endereços eletrônicos. Escapou do xilindró, pois a pena prescreveu. Ou seja, não foi engaiolado dentro do tempo determinado pela lei. (Certamente a prescrição foi mesmo prescrição…) Mais adiante, vou prosseguir com o assunto, mas antes vou falar mais um pouco do autor dos livros “Escrava Isaura” (que virou novela da Globo) e “Ermitão de Muquém”, entre outros.
Guimarães, mineiro de Ouro Preto, morou em Catalão e por lá foi juiz municipal por duas vezes: de 1852 a 1854 e 1861 a 1864. Li não sei onde que Couto de Magalhães, a caminho da sede da província de Goiás para a qual fora nomeado como presidente, passou na cidade goiana em visita ao amigo juiz. Não gostou do que encontrou: a casa era furdunço só e sujeira sobejava. Cachaça não faltava. Ele, então, de modo polido, esquivou-se do convite para hospedagem. Vou vasculhar esse episódio histórico depois.
Pablo Marçal tem a ver com o que Machado de Assis escreveu sobre os políticos numa de suas crônicas colhidas no seu tempo de jornalista no Senado. Segundo ele, os políticos, com o propósito de esconder seu despreparo e seus interesses…, usam como disfarce o bom humor e a jovialidade. Disse mais: “Os homens que não sérios e graves são exatamente os homens sérios e graves”. Enfim, tanto lá — nos tempos machadianos — como agora, a hipocrisia da seriedade, do moralismo, do bom cristão, é algo abundante. Em Mateus 23, os hipócritas são chamados de “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície”.
Na verdade, a hipocrisia teve início na época em que um monte de barro foi transformado num homem. Há quem diga (os bocas do inferno da vida) que o barro bíblico não é o da terra, mas o do intestino, haja vista que é merda demais que vem acontecendo em todos os cantos do mundo ao longo do correr do tempo. Eu particularmente fico de fora dessa blasfêmia. Prefiro dar ouvidos ao que o poeta Carlos Drummond de Andrade diz num trecho do poema “A flor e a náusea”: Todos os homens voltam para casa. / Estão menos livres mas levam jornais / e soletram o mundo, sabendo que o perdem”.
Que circo barato protagonizado por Pablo Marçal (PRTB) e Guilherme Boulos (PSOL) no debate promovido pelo Estadão dia 14. Até o cachorro que ainda não tenho riu da fanfarronice de ambos num evento cujo objetivo era debater o desenvolvimento econômico de São Paulo. Marçal é o rei da cocada no quesito da magniloquência, a qual é sustentada no patrimônio que tem. Tipo assim: “Se consegui patrimônio de R$ 200 milhões (na maciota), sei tudo, até como investir a lucro estratosférico o dinheiro arrecado pelo barqueiro Caronte na travessia nas almas nas águas do Hades”.
Nessas conversas moles sobre redes sociais, Marçal lacrou geral ao exibir a carteira de trabalho a Boulos. O fato gerou memes e mais memes. Mas cabe perguntar: o que ele realmente tem a falar aos quase 12 milhões de paulistanos? Se eleito, será que vai ensinar aos paulistanos a mágica de enriquecimento usada para si?
Se não sair desse discurso de bambambã, de fodão, Marçal entrará para rol dos pobres que são tais porque dinheiro é a única coisa que possuem. Com o andar da carruagem, a realidade será o Mister M de Pablo Marçal, o Minotauro grego da lacração.
Sinésio Dioliveira é jornalista, poeta e fotógrafo da natureza