Às vezes arrisco alguns versos miúdos sobre algumas coisas, mas, diante de certas coisas, percebo que o melhor é o poema ficar calado. Constatação a que chego pelo fato de eu não encontrar palavras à altura do que as cousas dizem sublimemente sem a necessidade de palavras, porém se expressando com suas formas, cores, sons, cheiros. Me senti emudecido poeticamente perto de Emanuelly Vitória, uma garotinha de 4 anos, toda linda num vestidinho estampado de borboletas vermelhas, azuis e amarelas e com duas trancinhas com xuxinhas vermelhas. Uma voz de um anjinho com as asas ainda em formação.

Espeto da GCM com uma criança alegre | Foto: Sinésio Dioliveira

Foi sábado, dia 2, que conheci Emanuelly, que estava acompanhada de sua mãe. Encontrei-as num evento realizado pela Agência Municipal do Meio Ambiente no Parque Municipal Campininha das Flores em decorrência da Semana do Meio Ambiente. Criada em maio de 1981 pela lei nº 9.795, essa comemoração ocorre na primeira semana de junho, tendo o dia 5 como o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Lilica da GCM pinta o rosto de uma criança | Foto: Sinésio Dioliveira

Entre as muitas atividades realizadas pelo órgão, a distribuição de mudas de plantas medicinais a quem levasse materiais recicláveis, plantio de árvores, aulas de compostagem de materiais orgânicos, pintura facial de bichos em crianças. Esta ação ficou a cargo de cinco agentes da Guarda Civil Metropolitana, que fazem parte do grupo Anjos da Guarda: três deles sem fardas, mas com roupas alegremente coloridas e que adotam nome artísticos nos eventos que atuam: Joaninha, Espeto e Lilica, que são respectivamente os agentes Joelma, Vasco e Lilica.

Emanuelly, ao chegar com sua mãe, foi logo atraída ao espaço dos Anjos da Guarda, que, além da promoção de alegria à criançada, seja por meio da realização desenhos faciais, teatro, desenhos, também trabalham na sondagem de algum problema que a criança possa estar passando em sua casa ou na escola. A garotinha foi até a Joaninha (nome inspirado no belo insetinho), que perguntou à menina que bicho ela queria em seu rostinho. Sua escolha foi uma borboleta. E assim foi feito. Bem-feito. Perguntei à menina, com a autorização de sua mãe, por que a escolha da borboleta, e ela, com uma voz de anjinho me respondeu: “Porque é igual do meu vestido”.

No prazo de quase uma hora, havia muitos bichos enfeitando o rostinho de muitas crianças presentes, acompanhadas de seus pais. Um vendedor de picolé fez a feira com o tanto que vendeu, mas ele me disse estar triste, pois seu time havia perdido. Na hora pensei comigo: “Com tanta coisa séria para se ficar triste, e ele desperdiçando sua tristeza com a derrota de seu time”. Mas, sei, é humano apreciar o que não parece importante…

Também no evento, estavam Antônio e José, filhos do presidente da Amma, Luan Alves, que, junto com os filhotes (de nove e dois anos) e a mulher (Taynara), plantou uma muda de uma árvore: um resedá-gigante, conhecida também como escumilha-africana. A florada dela é de uma beleza de entrar em nossos olhos e colorir nosso coração. Na verdade, todas as flores, por mais singelas que sejam, têm esse poder, mas isso desde que sejam observadas por quem realmente gosta de flores.

“Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas” | Foto: Reprodução

A Parábola do Semeador, dita por Jesus a uma multidão de pessoas, me veio à mente vendo aqueles pais envolvendo os filhos na comemoração da Semana do Meio Ambiente e assim ensinando-os a terem uma relação de harmonia com a natureza.

De Jesus fui a Khalil Gibran. Acho belíssima a metáfora de Gibran sobre a função dos pais para com os filhos: “Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas”. Nesse arremesso dos filhos como “flechas vivas”, os pais devem ser bons arqueiros. Assim evitam que os filhos (sementes) sejam arremessados à beira do caminho, em terreno pedregoso, entre os espinhos, mas sim em terra boa. O que resultará em boa colheita para os filhos (e também para os pais): no caso eles serem pessoas de alma grande e consequentemente protetoras ferrenhas do meio ambiente.

Sinésio Dioliveira é jornalista