O tolo não pode ser responsabilizado por sua tolice. Esta, afinal, não é algo resultante de seu ato de escolha. Na verdade, a idiotice é consequência de não se saber fazer escolha. O tolo não sabe onde nasce o sol, pois seu coração vive num escuro constante. Com ele, as coisas são sempre goela abaixo.

Essa ausência de escolha é fruto podre de determinados dispositivos sociais e sobretudo o baixo investimento em educação. O que resulta na perpetuação da estupidez. E cabe também incluir nesse balaio nefasto determinados programas sociais paternalistas, que atrofiam a capacidade de lutar das pessoas e assim condicionando-as a coitadinhas e incapazes de lutar, dignamente, pelo seu pedaço de pão. E por trás disso governos manipuladores, liberticidas.

Essa escuridão danosa impossibilita o eleitor de peneirar, inteligentemente, os discursos populistas que lhe chegam e assim acabam, portanto, elegendo raposas para cuidar do galinheiro. Muitos discursos inclusive bem elaborados na estratégia da mentira. O que não falta por aí são raposas astutas no ato lambuzar as palavras de mel e passá-las na boca de tolos. E hoje, com o uso das redes sociais, a disseminação de embuste ficou bem mais fácil. Mamão com açúcar.

Não sei que igreja pertence o homem que encontrei na fila do Vapt Vupt da Rodoviária de Goiânia. Durante o tempo de sua conversa com outro homem, não mencionou o nome da igreja que frequentava. Seu assunto foi um candidato a vereador que ele está apoiando a pedido do seu pastor. Segundo o fiel, o pastor disse que o candidato é um homem de Deus que os fiéis terão na Câmara Municipal de Goiânia. Conversa pra jegue dormir.

Esse episódio da recomendação do pastor me transportou a um fato ocorrido alguns anos atrás. Fui com um amigo que era candidato a vereador numa determinada igreja da região norte para conversar com um pastor. Este o procurou para apoiar-lhe, haja vista que o homem de Deus tinha meu amigo como um homem íntegro e, portanto, capacitado para assumir uma cadeira na Câmara Municipal de Goiânia.

Só que, entre as dobras da seda rasgada pelo líder religioso ao meu amigo, veio uma facada. Ou seja, veio um pedido de grana. Conforme o lorota do pastor, o valor seria compensativo, haja vista que ele conseguiria cerca de 500 votos com os membros da igreja, cuja capacidade física não comportava uns 200 fiéis. Talvez nem isso.

Como o bolso deste amigo era vazio e sobretudo por ele ter descoberto que o tal pastor não passava de um tremendo picareta, saímos da casa do líder religioso, que ficava no fundo da igreja, sem seu apoio político. Se é que se pode chamar isso de apoio de político. Em síntese, meu amigo não foi eleito, mas raspou a trave; posteriormente vi o pastor, e em seu carro havia um grande adesivo do candidato a vereador ungido por ele. Só que sua unção não chegou ao conhecimento de Deus, de modo que não houve a bênção vendida, no caso a obtenção de uma cadeira na Câmara. O certo mesmo é que ele deve ter mordido na grana do candidato.

Quanto ao homem do Vapt Vupt, percebi uma convicção tola sustentando suas palavras, que tinham o propósito (disfarçado) de persuadir o outro homem. A tolice dele está na sua ingenuidade de achar que o tal candidato apontado por seu pastor será mesmo um homem de Deus na casa legislativa. A maioria indicada em circunstâncias afins e obtém êxito eleitoral não passa de demônios.

Pelo visto aquele homem manipulado por líder religioso não sabe que a verdade que liberta não é a que vem das palavras de alguém. Essa verdade tem de ser alcançada com a capacidade de pensar de cada de um; ela não pode simplesmente resultar do que outra pessoa falou. Isso é caminhar no escuro.

Talvez o tal candidato recomendado até seja gente boa, mas isso é o outro homem que tem de descobrir, conforme consta na Bíblia,
“aplicando o coração a esquadrinhar e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu…”

Sinésio Dioliveira é jornalista, poeta e fotógrafo da natureza