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[caption id="attachment_28981" align="alignnone" width="620"] Valto Elias: Partido precisa renovar; Alexandre Baldy: Nome forte tucano | Fotos: Fernando Leite[/caption]
O partido do governador Marconi Perillo (PSDB) nunca conseguiu ter um projeto político municipal vitorioso em Anápolis. A cidade que, em todos os pleitos estaduais, tem dado votação expressiva ao líder tucano, contraditoriamente ainda não teve nenhuma experiência no Executivo do município. Com o objetivo de fazer a primeira gestão tucana na prefeitura, o PSDB vai renovar o diretório local com a finalidade de trazer novos quadros e diretrizes políticas, para que a sigla chegue em 2016 em condição de protagonista.
Atualmente, o PSDB conta com dois vereadores dos 23 que elencam o Legislativo municipal: Fernando Cunha, que se licenciou para assumir a Superintendência Executiva do Produzir e Miriam Garcia. Ao contrário de outras legendas que já começaram a traçar metas de quantos vereadores precisam eleger, os tucanos não dizem em números, porém não escondem o desejo de avançar sobre mais vagas na Câmara Municipal.
Em março, o partido fará sua primeira reunião de 2015 para definir a nova diretoria. Segundo o presidente municipal do PSDB, Valto Elias, o foco da sigla no momento é a renovação da direção partidária. Portanto, até setembro, as filiações de novos quadros e lideranças será a ação prioritária tendo em vista a formação de chapas ao próximo pleito. “Estamos filiando várias lideranças e vamos filiar mais. Algumas conversas estão em cursos, mas vamos priorizar no momento o fortalecimento da sigla”, afirma.
Até agora, o PSDB anapolino tem conversado com lideranças do PPS, PV, PSDC e PSL. A primeira legenda, comandada por André Almeida, um militante histórico do partido com matiz socialista e presidido nacionalmente por Roberto Freire, estaria praticamente fechada para caminhar ao lado dos tucanos em 2016. Segundo Valto Elias, o momento é de fazer política de boa relação, ou seja, conversar com o maior número possível de partidos para a formação de uma chapa ampla no ano que vem. “São várias legendas que estão na órbita com possibilidade de acertos, apesar de ainda estar cedo, pois nem mesmo formatamos um novo diretório do PSDB.”
Governo tucano
Não é segredo que o governador Marconi tem como missão em 2016 fazer prefeitos em Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis. Justamente os três maiores municípios goianos que, atualmente, são administrados pelo PT e pelo PMDB — dois dos principais adversários políticos do Palácio das Esmeraldas. Para equilibrar este cenário, Anápolis deverá ser uma questão de honra aos tucanos. Segundo Valto Elias, o partido reconhece a fragilidade de nunca ter ocupado uma administração na prefeitura, contudo, um projeto local é visto como possível e viável, na medida em que a legenda abra diálogo com a sociedade e venha agregar novas lideranças e quadros. O primeiro passo foi dado com a eleição de um deputado federal anapolino pelo PSDB — Alexandre Baldy. Além disso, outro grande passo para coesão e fortalecimento do partido foi a vinda do casal Adhemar e Onaide Santillo. “Politicamente foi uma grande aquisição já que a experiência, e a estampa política, explicam o quantitativo eleitoral no qual eles representam”, ressalta Valto Elias. Outro quadro relevante apontado pela presidente municipal é o pastor e superintendente de Indústria e Comércio do Estado, Vitor Hugo de Queiroz. “Temos quadros e um cenário novo para o partido, portanto teremos candidatura própria para 2016.”Pouco afeito ao debate de ideias, o “Pop” ainda não percebeu a profunda conexão entre forma e conteúdo. Nas reformas gráficas, tanto do jornal quanto do site — que não virou portal, ao contrário do que deveria ser —, seus criadores preocupam-se com a forma, com um suposto embelezamento, com vistas a criar facilidades para os leitores, mas não mexem no conteúdo. O conteúdo do “Pop” é o mesmo, não mudou nada. Há outro problema, no caso do jornal goiano, aparentemente insolúvel. Por enquanto, o site está “aberto”, mas, depois, devem voltar a fechá-lo. Jornais regionais só se tornam conhecidos no país se forem abertos. Como alguém de São Paulo vai assinar o jornal se não consegue acessá-lo? O acesso de parte significativa do conteúdo, e de maneira permanente, pode tornar o jornal conhecido. Jornalistas de outros Estados ligam com frequência para a redação do Jornal Opção para discutir alguma notícia e colher informações. A maioria não conhece o “Pop”. Pode-se abrir tudo? “Folha de S. Paulo”, “Estadão” e “O Globo” não abrem tudo — os dois primeiros chegam a impedir que os textos sejam copiados pelos leitores —, mas abrem uma parte significativa para não-assinantes. Sobretudo, mantêm portais inteiramente abertos à consulta dos leitores. O “Pop” não tem um portal, e sim um site que, de tão franciscano, fica aquém do jornal impresso, e libera pouco material. “Síntese” sobre o “novo” site do “Pop”: mais do mesmo.
“Uma Longa Viagem” (Planeta, 267 páginas, tradução de Solange Pinheiro), do escocês Eric Lomax, é um livro de memórias muito bem escrito (“The Railway Man” é o título em inglês). O início, em que fala de sua paixão por trens de ferro, é uma delícia. O filme de Jonathan Teplitzky não se preocupa com toda a história, mas captura bem a participação de Lomax na Segunda Guerra Mundial.
Capturado pelos japoneses, Lomax é torturadíssimo. Mas sobreviveu — com traumas — e viveu 93 anos (morreu em 2012). Ele e um de seus principais carrascos se reconciliaram mais tarde. No filme, o ator Colin Firth interpreta à perfeição o complexo, traumatizado e civilizado Lomax. Disseram que o filme é “açucarado”. Não é. Retrata o que de fato aconteceu.
No livro “A Segunda Guerra Mundial”, o historiador inglês Antony Beevor relata que japoneses chegaram a comer americanos.

[caption id="attachment_28972" align="alignnone" width="620"] João Gomes ressalta que Anápolis é referência na Ciência e Tecnologia | Foto: Prefeitura de Anápolis[/caption]
Anápolis recebeu a 56ª edição do Encontro Regional de Ensino de Astronomia (EREA) que foi realizado no último sábado (21). Essa foi a segunda vez que o EREA foi realizado na cidade pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), que transcorreu na sede do Instituto Federal de Goiás (IFG).
O evento promove a capacitação dos professores da cidade e região em ensino de astronomia e ciências espaciais e também de universitários interessados pelo tema. Toda a programação foi gratuita e conta com palestras e oficinas. O professor João Batista Canalle ressalta que tudo foi preparado para que o conhecimento seja repassado. “Vamos mostrar como podemos incluir nas salas de aula um tema tão importante com materiais didáticos e também por meio da prática como, por exemplo, a observação do sol”, explica.
Segundo o secretário municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, Fabrízio Ribeiro, nesta edição do encontro, os participantes também terão atividades lúdicas, como a instrução de como elaborar foguetes de garrafas pet. “Estamos aliando teoria e prática e assim o encontro se torna mais atrativo”, observa.
A secretária municipal de Educação, Virgínia Melo revela que Anápolis se destaca nos investimentos na rede de ensino por aliar conhecimentos em vários setores. O prefeito João Gomes destacou que a administração municipal projeta Anápolis para ser referência na área da ciência e tecnologia. “Ajudamos na construção da sede do IFG aqui na cidade que hoje é um grande parceiro na realização de eventos como este”, diz.
Resultados
Segundo a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia, a prova de que esse mecanismo funciona está em Anápolis. Em 2013, apenas duas unidades escolares participaram da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA), sem conquista de medalhas. Já no ano seguinte em que houve a realização do encontro na cidade, das quase 30 unidades escolares que participaram da OBA, foram conquistadas 24 medalhas, inclusive uma na Mostra Brasileira de Foguetes.O “Pop” publicou que Lucas Calil “é” o deputado mais jovem da Assembleia Legislativa. Errou. O mais novo é Diego Sorgatto. Depois, ao se referir a Diego, escreveu “Sargatto”. O Laboratório Biocrima é, segundo o “Pop”, “Biocroma”.
Como forma de reafirmar importantes parcerias para o contínuo desenvolvimento de Anápolis, o prefeito João Gomes reuniu com a Câmara de Dirigentes Lojistas de Anápolis (CDL). O encontro entre lideranças classistas e políticas foi realizado na sede da entidade. Na ocasião foram discutidas melhorias no trânsito, em especial, o aumento do número de vagas de estacionamento no centro da cidade, para facilitar a vinda dos consumidores até o comércio local. No encontro foi colocado em pauta os investimentos feitos pela Prefeitura de Anápolis para incentivar ainda mais o desenvolvimento econômico da cidade. O presidente da CDL, Wilmar Jardim de Carvalho, observou que a Prefeitura de Anápolis tem apoiado constantemente as ações da entidade. O prefeito João Gomes destacou a importância da parceria com a CDL e disse que Anápolis atrai o interesse de empresas de todo o Brasil e também de outros países e é preciso estar atento e preparado para trazer esses investimentos para o município.
Os jornais de Goiás continuam publicando reportagens nas quais não aparecem os nomes de empresas e indivíduos envolvidos em atividade ilegais. Não se sabe se as empresas de comunicação estão protegendo possíveis aliados financeiros ou se os repórteres estão com preguiça de fazer checagens.
O jornalista e sociólogo Renato Dias lança, em março, o livro “Pequenas Histórias – Cuba, Hoje — Uma Revolução Envelhecida ou a Reinvenção do Socialismo?” [2015]. A obra traz entrevistas exclusivas com o escritor cubano Leonardo Padura, autor de “O Homem que Amava os Cachorros”, e com a blogueira dissidente Yoani Sánchez. Em edição de luxo, o repórter apresenta reportagens exclusivas sobre o País. Mais: avalia o impacto das reformas econômicas executadas pelo primeiro-irmão Raúl Castro, o surto de empreendedorismo em andamento, além de produzir análises sobre o reatamento das relações com os EUA. Plural, mas com um viés de esquerda, a obra, de 2015, inclui ainda entrevistas especiais com personalidades e intelectuais.
“Ano Zero — Uma História de 1945” (472 páginas, tradução de Paulo Geiger), de Ian Buruma, é uma das apostas da Companhia das Letras para o ano em que se comemoram os 70 anos do fim do conflito. Confira um sinopse da editora: “Por toda a Ásia e Europa Continental, governos caíram e novos regimes tomaram o poder. A escala da transformação é difícil de conceber. Ao mesmo tempo, na esteira de perdas irreparáveis, a euforia liberada foi indescritível, os festejos sem precedentes. Os anos de pós-guerra deram origem ao Estado do Bem-Estar na Europa, à ONU, à descolonização, à União Europeia. ‘Ano Zero’ é um trabalho centrado em um drama humano de proporções épicas, capaz de abranger os dilemas da Ásia e da Europa com igual erudição”.
O prefeito João Gomes recebeu o resultado do primeiro diagnóstico da Situação da Criança e do Adolescente no município, feito e entregue pelas equipes da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e do Conselho Municipal do Direito da Criança e Adolescente. O diagnóstico é um estudo completo da situação social das crianças e dos adolescentes anapolinos em todas as suas necessidades. Inédito em Goiás, o diagnóstico foi um pedido do Conselho Municipal do Direito da Criança e Adolescente e produzido por pesquisadores do programa de mestrado da UniEvangélica. Profissionais de diferentes áreas como, por exemplo, geografia e biologia, conselheiros municipais e Conselho Tutelar contribuíram com o levantamento geral sobre as políticas públicas existentes na cidade que têm o objetivo de resgatar a cidadania de jovens em situação de risco. O prefeito João Gomes destacou que é só o começo de um estudo que não pode parar. “Já surgiram bairros novos que precisam desse acompanhamento.”

Livro
Uma Vida em Dança
Autor: Lilian Vilela
Preço: R$ 50,60 (Annablume)
O livro “Uma Vida em Dança: Movimentos e Percursos de Denise Stutz”, da dançarina e pesquisadora da Unicamp Lilian Vilela, conta a vida da dançarina carioca que tem participado do circuito Manga de Vento.
Música
Prayer
Intérprete: Robin Schulz/Vários
Preço: R$ 29,90 (Warner Music)
O DJ alemão Robin Schulz, que estourou recentemente com o remix de “Prayer in C”, da dupla Lilly Wood & the Prick, traz grandes nomes no seu primeiro álbum.
Filme
Jogo de Xadrez
Direção: Luís Antônio Pereira
Preço: R$ 44,90 (Ocean Pictures do Brasil)
Luís Antônio Pereira marca sua estreia na direção em “Jogo de Xadrez”, dividindo roteiro e produção com Priscila Fantin. A atriz dá vida a Mina, uma mulher envolvida num crime de colarinho branco contra a Previdência Social.

Com início em fevereiro, o circuito segue até agosto com programação em Goiânia, Pirenópolis e Cidade de Goiás

Desde a década de 1980, o partido não passava por um momento tão intenso de disputas internas como agora. Para saber se a sigla sairá maior é preciso esperar

O Jornal Opção publica, nesta edição, o último conto da série literária “Quatro Estações”. Trata-se de quatro contos em que dois autores escrevem, a quatro mãos, uma breve narrativa inspirada em uma estação do ano. Anteriormente foram publicados “Primavera”, de Luisa Geisler e Débora Ferraz; “Verão”, de Anderson Fonseca e Mariel Reis; e “Outono”, de Mauricio de Almeida e Rafael Gallo.
[caption id="attachment_28954" align="alignnone" width="620"] Natural de Inhumas, Matheus Antunes é ilustrador, designer gráfico e estudante de Arquitetura. Atualmente, reside em Natal, no Rio Grande do Norte[/caption]
Olhava para a aba do ar-condicionado split, que oscilava, para cima e para baixo, mas também para a boca da Cleide, a dona, que nunca fechava. Movimentos similares e ininterruptos. Frio demais, falar demais, pra quê? Cleide e a mesma história, a mesma opinião, a mesma piada, e ria alto. Maria sabia tudo de cor: as entonações, a hora da risada estridente. Mas não tinha tempo para conversa fiada, preferia fazer contas, mentalmente, todos os dias, para ver se elas fechariam (sem precisar contar com a pensão, que tinha destino certo: o aluguel), se poderia pagar a escolinha do menino e se sobraria algum dinheiro. Ou quantas unhas precisava fazer para cumprir sua meta do mês. Não precisava ser simpática, Cleide já era por todo o salão: com uma frase feita, sorriso de ponta a ponta e os peitos recheando os decotes. Já Maria era pura ação: cortava as unhas, geralmente quadradas ou redondas, e acertava com a lixa, com movimentos rápidos e certeiros, de um lado para o outro, evitando mover a lixa para cima e para baixo, como a aba do ar-condicionado ou a boca da Cleide.
O senhor quer mesmo que eu ligue o ar? Desculpe a pergunta, mas é que não é muito comum os passageiros pedirem isso. Se deixo ligado, pedem pra desligar. De São Paulo? Sei, lá as pessoas vivem nos escritórios, com ar refrigerado. Aqui em Brasília qualquer ventinho faz as pessoas morrerem de frio. Eu vou fazer o caminho por trás dos ministérios, pela via dos anexos, tá bom? A esplanada está bloqueada por causa da montagem das arquibancadas. Estão preparando o desfile de amanhã. O povo fica ali, naquele calorão, esperando pra ver os carros e os soldados passarem. No ano passado eu vim, trouxe meu piá, mas não consegui ver quase nada. Só os aviões, passando bem baixinho em cima das pessoas, ele adorou. Ih, já vai fazer três meses que ele não está mais comigo! Não se preocupe, chegamos lá em dez minutos. A via dos anexos tem um monte de lombadas, mas não tem sinaleiro, daí a gente entra num túnel, sobe uma rampa e eu deixo o senhor na entrada principal. Ah, Moacir, tomara que seu carro pegue fogo e você queime, lentamente. Assim você vai ver como é bom o calor. Pimenta e sol, a minha Bahia. As pontas precisavam ficar levemente arredondadas e também as laterais, sem estreitá-las. A lixa precisava dançar por baixo da unha, para remover rebarbas, e a lixa polidora removia as estrias da superfície. Que diabos o menino iria fazer da vida, aqui? Taxista? Como o pai? Nem a pau. Aqui não tem porra nenhuma para os ferrados, como a gente, mas voltar para Santana também não dá. Talvez Salvador, mas estão matando muito lá, dá não. Aqui não presta, não tem praia, e usam o ar-condicionado por qualquer calorzinho, até no inverno. Chacoalhava a cabeça, enquanto amolecia as cutículas da ruiva, usando creme emoliente e água, empurrando-as com a ajuda de uma espátula de unha, com muito cuidado. Mas ainda é melhor que o sul, quantos graus deve estar agora em Curitiba? A seca tá braba. Todo ano é a mesma coisa. Meses sem cair uma gotinha e agora só mesmo lá para pelo fim de novembro, quando a cidade já estiver enfeitada com os foquinhos de Natal. Até lá eu quero ver se economizo uma grana e chamo meu guri pra passar o Natal comigo. Eu me separei da Maria já faz três meses. Ela foi embora porque não suportava o frio, o senhor acredita? Disse que queria voltar pra Bahia. Eu também disse que ia voltar pra Curitiba, não suporto este calor desgraçado, 35 graus no inverno, o que é isso? Veja como são as coisas, o que é calor pra mim é frio pra ela, assim não podia mesmo dar certo, né? Mas acabei não voltando, ainda. Só que ela não sabe, ela acha que eu estou lá, naquele frio do cão, como ela diz. Eu ligo no celular dela, mas a gente nem conversa muito, é só pra saber como é que está o piá. Ele vai fazer quatro anos, eu quase morro de saudade. Que ela quisesse ir embora, eu entendo, mas me deixar sem meu filho, lazarenta! O amigo me desculpe. Com o alicate de cutícula removia o excesso de pele, retirando toda a cutícula externa de uma vez só, para evitar o aparecimento de pelinhas esbranquiçadas. Eu vou voltar para o sul, ele disse. Foi o jeito de se livrar de mim. Eu não quis Curitiba, você não quis a Bahia, e por fim não quis a baiana. Ele nem sonha que eu acabei ficando por aqui mesmo. Ele me liga e pergunta por que eu ainda uso o celular com número de Brasília e eu digo que não tive tempo de mudar. Mas eu vou embora, juro, é só juntar um dinheirinho, pegar o menino e cair fora. Dizem que é impossível tomar banho em Curitiba, no inverno. Olha, vou dizer pro senhor uma coisa que eu nunca disse pra ninguém, eu sou de Curitiba, lá o pessoal fala pouco, mas esses anos em Brasília me deixaram com a língua solta: minha vida melhorou depois que eu me separei dela. Eu até comprei este carro aqui, um Bravo, último modelo da Fiat, novinho. Antes eu tinha um Meriva 2002, caindo aos pedaços, nunca fiquei tanto tempo sem trocar de carro. Sabe como é, duas bocas, depois três, tudo fica mais difícil, e olha que a Maria trabalhava pra ajudar. Olha lá a catedral, com céu ao fundo. É bonito, não vou dizer que não é. Em Curitiba eu tinha um Astra, calotas com aro cromado, uma teteia. Meu sonho é ter um Honda Civic com câmbio automático. Um dia eu vou ter e aí já vou estar dirigindo de pulôver e meia de lã. Passa a base em toda a unha, extrapolando a linha da cutícula, para facilitar a etapa de limpeza com o palito. Por que aceitei vir para cá? Burra, isso sim, minha mãe sempre disse que eu era burra. Ao passar o esmalte, puxa a pele lateral do dedo para garantir que não sobrem espaços brancos na unha. Três camadas de esmalte cremoso para ficar da cor e cobertura extra brilho para o esmalte durar mais. Uma camada logo após a pintura. Ele está bem, carro novo, taxista dos bacanas. Paga pensão e tudo, mas não o perdoo. Gostava, gostava dela, sim, mas ela queria ir pra Bahia, voltar pra terra dela, e eu nem aqui consigo viver direito. Olha aquela árvore ali, olhe a grama: tudo estorricado. Está certo, o céu é bonito, na esplanada é lindo, pena que não dá pra ver hoje por causa da preparação do desfile, mas e as queimadas? A estiagem vem, o mato queima e a fumaça esconde o céu. E aí, adeus beleza. Agora a loira falsa, seios siliconados, rosto repuxado. Essa gente não tem vergonha de ficar toda torta e esticada? Mas a unha, em dia. Passa o palito em seguida para limpar os cantos, limpa com o algodão e acetona. Será que estou gorda como essa morena? Não pode ser, não. Apoia o palito no vão entre o polegar e o indicador e enrola, encharca na acetona novamente, remove o excesso com batidinhas na toalha e esfrega levemente nos dedos, fazendo pressão. No Natal fica tudo verde de novo, e eu vou estar com o meu piá. Já comprei até um pinheirinho pra colocar os presentes que ele vai ganhar do Papai Noel quando vier. O senhor tem trocado? Facilita. Muito obrigado. Olha, vai com Deus e obrigado por ter pedido pra eu ligar o ar!Carlos Henrique Schroeder é autor dos romances “Ensaio do vazio” (7Letras), adaptado para os quadrinhos, e “A rosa verde” (Editora da UFSC), adaptado para o teatro, e do recém-lançado “As fantasias eletivas” (Record), dentre outros. Sua coletânea de contos “As certezas e as palavras” venceu o Prêmio Clarice Lispector 2010, da Fundação Biblioteca Nacional. Tem contos traduzidos para o alemão, espanhol e islandês.
Mário Araújo nasceu em Curitiba-PR. Publicou os livros de contos “A Hora Extrema” –– prêmio Jabuti em 2006 –– e “Restos”. Tem contos publicados em revistas e antologias na Alemanha, Espanha, Finlândia, EUA e México. Atualmente escreve crônicas para o site Vida Breve e finaliza seu primeiro romance. Sua página na internet é www.marioaraujo.net.

No Capitulo III do conto “Sem Palavras”, Larissa Mundim escreve: “No princípio, havia dito que preferia as sutilezas, mas entregou-se ao naturalismo. Me mordeu inteira, explorou minha geografia conforme anunciado. Deixou marcas na epiderme. Não me esquecerei da movimentação cheia de sensualidade, como a sua capoeira”. Virou livro. A prole cresceu, Larissa escreveu “Agora Eu Te Amo” e a cada passo, a goiana Nega Lilu Editora se consolida. No ano que passou, selecionou 40 poemas e apenas 10 contos. Por isso, o edital para Coleção "e/ou" abre suas páginas outra vez. “O número de finalistas não foi suficiente para a composição de um livro, por isso, decidimos reabrir o edital, agora com foco na prosa”, diz ela. A ideia é publicar textos corajosos, livres em forma e consistentes no conteúdo. A iniciativa lança o selo literário Naduk, uma vitrine para a produção de autores inéditos, que procuram espaço para publicação. Por isso, desengavete seus textos, perambule sua criatividade, pois o período de inscrições encerra em 16 de março.