O 20 de novembro, “ Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”, faz referência à morte de Zumbi, líder do quilombo dos Palmares.

A data marca o dia de celebrar e relembrar a luta dos negros contra a opressão no Brasil. Por essa razão, o Treze de Maio, data em que a abolição da escravatura aconteceu, tem sido “de certa forma” abandonado, por representar uma “falsa liberdade”, uma vez que, após a Lei Áurea, os negros foram entregues à própria sorte e ficaram sem nenhum tipo de assistência do poder público.

De vários nomes consagrados na música que tão bem poderiam ser homenageados e celebrados nesse novembro, escolhemos Elza Soares (1930 – 2022).

Elza Soares

Elza nunca se calou, com a visibilidade que teve, deu voz às minorias: mulheres, negros, LGBTQIA+.  Todos eles foram representados por meio das obras memoráveis da artista.

Em “Lama”, ela canta sobre o empoderamento e a coragem de superar o passado;

Em “A Carne”, do preconceito e da violência vivida por pessoas pretas;

Em “Maria da Vila Matilde, fala da violência doméstica.

“Eu sempre quis fazer coisa diferente, não suporto rótulo, não sou refrigerante”

Embora contrária a rótulos, Elza Soares (1930 – 2022) foi eleita pela Rádio BBC de Londres como a cantora brasileira do milênio, dentro do projeto The Millennium Concerts, da rádio inglesa, criado para comemorar a chegada do ano 2000.

Elza Soares e o jogador Mané  Garrincha

Em ano de copa do Mundo é difícil falar de Elza Soares sem relembrar o grande Garrincha.  Elza e o jogador Garrincha se conheceram durante a Copa do Mundo de 1962. Em vinte anos de união, a cantora foi acusada de destruir  a família e agredida por ser mulher. Como ela mesma dizia:

“era uma relação de amor e ódio”.

Durante a vida, sofreu com o racismo, com a violência moral e sexual, convivendo com inúmeras perdas.

Ícone da música brasileira, com uma carreira eclética, iniciada nos anos 50, esteve inserida no Samba, no Jazz, na Música Eletrônica, no Hip Hop, no Funk e muito mais.

“Eu acompanho o tempo, eu não estou quadrada, não tem essa de ficar paradinha aqui não. O negócio é caminhar. Eu caminho sempre junto com o tempo.”

-My Name is Now

A vida de Elza Soares foi pesquisada e retratada no premiado longa-metragem que a jornalista Elizabete Martins Campos, roteirizou, dirigiu e produziu – My Name is Now.

A cantora esteve inúmeras vezes no topo das listas de sucesso no Brasil, embora também tenha amargado períodos de ostracismo, como na década de 1980, quando pensou em desistir de cantar, e, literalmente  “bateu na porta”  de Caetano Veloso para pedir ajuda.

Elza Soares  e Caetano Veloso

O auxílio de Caetano veio na forma de convite para Elza participar da gravação do samba-rap Língua (Caetano Veloso, 1984), faixa de álbum pop do cantor, “Velô” (1984).

Assim escreveu Caetano Veloso sobre a cantora:

“Elza Soares é uma das maiores maravilhas que o Brasil já produziu. Quando apareceu cantando no rádio, era um espanto de musicalidade. Logo ficaríamos sabendo que ela vinha de uma favela e desenvolvera seu estilo rico desde o âmago da pobreza”.

A mulher do fim do mundo”

Outra fase de renascimento musical veio em 2015 com o lançamento da “A mulher do fim do mundo”  – primeiro álbum em sua carreira só com músicas inéditas. As canções do disco falam sobre sexo, morte e negritude, e foram compostas pelos paulistas José Miguel WisnikRômulo Fróes e Celso Sim

“Me deixem cantar até o fim”

pediu Elza em verso da música que batiza o álbum.

E assim foi! Elza Soares cantou até o fim. Sua morte, em janeiro desse 2022, causou comoção no Brasil. Vários artistas e personalidades se pronunciaram e lamentaram sua partida.

Chico Buarque de Holanda, falou através de suas redes sociais ao saber da despedida de Elza Soares:

(…) Se acaso você chegasse a 1959 e ouvisse no rádio aquela voz cantando “Se acaso você chegasse’’, saberia que nunca houve nem haverá no mundo uma mulher como Elza Soares”.

Elza Soares  

Ouviremos Elza Soares cantando “ A Carne” canção composta por Marcelo Yuka e Seu Jorge.

“ A Carne”  grita: “a carne mais barata do mercado era a carne negra”

Observe a voz inesquecível e o brilho de Elza Soares, essa voz negra representando a luta dos negros contra a opressão.