Com denúncias de fraude, eleições na Venezuela terminam com novo mandato de Maduro
29 julho 2024 às 08h35
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As eleições presidenciais da Venezuela chegaram ao fim na madrugada desta segunda-feira, 29. Após certo atraso, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano publicou resultado indicando vitória do atual presidente do país, Nicolás Maduro. Com 80% das urnas apuradas, o atual chefe do Executivo venezuelano teve 51,2% dos votos, enquanto seu maior rival, Edmundo González, teve 44,2%. Observadores internacionais e representantes da oposição pedem divulgação de números auditáveis, alegando possibilidade de fraude.
O presidente do CNE e um dos principais aliados de Maduro, Elvis Amoroso, atribuiu o atraso na divulgação dos resultados a “ataques terroristas” ao sistema eleitoral, os quais serão devidamente investigados. O anúncio foi feito na madrugada desta segunda-feira, 29. Era pouco depois da meia noite no horário de Caracas, e mais de uma da manhã no horário de Brasília.
Pouco depois da publicação dos resultados oficiais, María Corina Machado, maior representante da oposição a Maduro, denunciou fraude “grosseira” nos números. “Ganhamos em todos os Estados do país e sabemos o que aconteceu hoje. 100% das atas que o CNE transmitiu, nós temos, e toda essa informação aponta que Edmundo obteve 70% dos votos”, afirmou.
O governo dos Estados Unidos negociava aliviar o peso das sanções econômicas impostas à indústria do petróleo da Venezuela como forma de estimular o processo eleitoral no país. Entretanto, com a proibição do CNE sobre a participação de María Corina no pleito, as medidas punitivas ao governo Maduro por falta de transparência foram restabelecidas. O secretário de Estado estadunidense, Antony Blinken, disse que os EUA possuem “sérias preocupações” com a forma como o pleito foi conduzido.
A líder da oposição, María Corina Machado, está inabilitada para exercer cargos públicos e converteu seu apoio a González. Desde 2013, a oposição ao atual regime venezuelano nunca teve tantas chances de derrotar Maduro quanto agora.
Comunidade Internacional
Pouco antes do anúncio oficial da vitória de Maduro, o presidente argentino Javier Milei fez publicação em seu perfil no X (antigo twitter) dizendo: “Fora, ditador Maduro! Os venezuelanos escolheram terminar com a ditadura comunista de Nicolás Maduro. Os dados anunciam uma vitória acachapante da oposição e o mundo espera que reconheça a derrota”, escreveu Milei.
O secretário de estado norte-americano, por sua vez, afirmou que: “É fundamental que todos os votos sejam contados de forma justa e transparente, que as autoridades eleitorais partilhem imediatamente informações com a oposição e observadores independentes e sem demora e que as autoridades eleitorais publiquem a apuração dos votos”.
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Celso Amorim, enviado especial do governo brasileiro, destacou uma “participação expressiva do eleitorado” e afirmou que o processo de votação ocorreu “com tranquilidade, sem incidentes de monta”. Posteriormente, o ex-chanceler brasileiro afirmou que: “Estou em contato com diferentes forças políticas e analistas eleitorais, além de membros da equipe de observadores do Centro Carter e do Painel de Especialistas da ONU. Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos”.
O presidente Lula (PT) não se pronunciou sobre os resultados anunciados das eleições na Venezuela. Nas últimas semanas, o petista, conhecido por ser apoiador público de Maduro, teve atritos com o venezuelano. Ao falar em “banho de sangue” em caso de vitória da oposição, Maduro despertou críticas no presidente brasileiro.
Gabriel Boric, presidente de esquerda do Chile, afirmou que só vai reconhecer números auditáveis e questionou os métodos aplicados nas eleições da Venezuela. “O regime de Maduro deve entender que os resultados que publica são difíceis de acreditar”, disse.
Pouco tempo antes do início do pleito, o CNE, controlado por Maduro, retirou convite para participação de observadores da União Europeia, reduzindo a transparência do pleito. Os governos da Bolívia e de Honduras felicitaram o presidente pela vitória.
Aos 61 anos, Maduro caminha para seu terceiro mandato à frente da Venezuela, que enfrenta crise econômica prolongada, empurrando milhões de seus cidadãos para a imigração. “Temos de respeitar o árbitro e que ninguém pretenda manchar essa jornada bonita”, disse Maduro após o anúncio de sua vitória.
O chanceler venezuelano, Yvan Gil, divulgou uma nota denunciando ao mundo “uma operação de intervenção contra o processo eleitoral” em seu país.
Os resultados anunciados são prenúncio de maiores tensões no país sul-americano nas próximas horas e dias.