A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que, até 2050, o mundo chegará ao número de 9 bilhões de habitantes. Nesse horizonte, a preocupação com a alimentação de um número tão grande de pessoas no planeta é encarada como angústia mundial, preocupação de todos os governantes e um desafio gigante a ser batido. Obter uma escala de produção que venha suprir as necessidades mundiais só será possível se houver uma cooperação entre todos os governos do mundo.

Os dados que a FAO apresenta, no entanto, não são muito animadores. Segundo a entidade, o planeta precisará aumentar suas produções alimentícias em 70%, com o Brasil contribuindo com um aproximadamente 40% da produção local. Isso porque, na atual conjuntura, o país tem alcançado papel importantíssimo quando se trata de alimentação mundial. O Brasil está no topo das exportações de açúcar e café, além de ser o maior abastecedor mundial de suco de laranja, carnes de frango, de soja e outros insumos considerados básicos para a alimentação.

Embrapa

Em entrevista recente ao AGRO+, o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Celso Luís Moretti, fez algumas declarações importantes sobre o agro brasileiro. Para ele, sem dúvidas, o Brasil terá um papel relevante como grande supridor das necessidades do planeta, não só na maior oferta de mais 40% de alimentos, mas também em questões de água e energia, por exemplo.

O que mais impressiona e, às vezes assusta, é que nós temos hoje uma produção de grãos que ocupa algo em torno de 65 milhões de hectares, em primeira e segunda safra, e mais 90 milhões de hectares em pastagens degradadas que, com tecnologias, podem ser convertidas em terras produtivas. Se nós conseguirmos converter apenas 30 dos 90 milhões, já aumentaríamos em 50% a área produzida, fora o ganho de produtividade. De acordo com Moretti, o Brasil ocupará um papel importante na alimentação humana nessas próximas décadas e na segurança alimentar mundial. “A Embrapa vai seguir investindo em ciência nessa agricultura que é movida à ciência”, assegura ele.

Não tenho dúvidas que a agricultura é parte integrante da solução de problemas das mudanças climáticas. É preciso trazer temas como alimentação e agricultura para o centro dos debates nas próximas edições da conferência do clima

Estudos da Embrapa indicam que a contribuição brasileira para o abastecimento mundial continuará aumentando nos próximos anos. De acordo com os índices, em 2020, durante a pandemia, o Brasil alimentou 772,6 milhões de pessoas. Dessas, cerca de 212 foram brasileiros e 560 de outros países.

Agricultura e sustentabilidade

Em participação na Anufood 22 (Feira de Alimentos e Bebidas), o presidente da Embrapa alertou que, o que falta ao Brasil, é comunicar melhor no exterior o trabalho realizado localmente na busca por sustentabilidade nos seus sistemas. “Não tenho dúvidas que a agricultura é parte integrante da solução de problemas das mudanças climáticas. É preciso trazer temas como alimentação e agricultura para o centro dos debates nas próximas edições da conferência do clima”, considerou. Moretti ainda destacou que enquanto a Europa planeja aumentar sua área de floresta plantadas em 3 milhões de hectares, o Brasil, sozinho, já possui 12 milhões, com planos de dobrar esse número até 2025.

Ao fim do mês agosto, no último dia 24, o Canal Rural – em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) –, promoveu um evento em Brasília que fechou uma série de seminários sobre sustentabilidade e inovações no cooperativismo. Os palestrantes destacaram o trabalho desenvolvido pelo governo federal nos últimos anos. O Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, declarou que “saímos de uma política de simplesmente culpar e multar o setor privado, para incentivar a criação de uma nova economia verde. E as cooperativas são super responsáveis por isso, abraçaram a causa”. O Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Pontes, também valorizou o trabalho do setor em prol da segurança alimentar no planeta. “O mundo precisa do Brasil para se alimentar”, declarou. O ministro elogiou ainda o esforço dos produtores em conseguir aumentar a produtividade, com responsabilidade sustentável.

“O mundo precisa do Brasil para se alimentar”

Já o presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do Brics, Marcos Troyjo, aplaudiu o protagonismo brasileiro na questão da segurança alimentar, principalmente para além da Europa. Troyjo relatou que o Brasil tem tido novos parceiros para a exportação de alimentos e fez uma declaração importante: “O Brasil tem tudo para se tornar uma Arábia Saudita dos alimentos.” Ou seja, assim como a Arábia Saudita abastece o mundo com petróleo, da mesma forma o Brasil tem o potencial de não deixar faltar alimento no mundo.

Em entrevista concedida à Gazeta, Troyjo afirmou que, embora reconheça que o momento seja de muitas turbulências, também é de otimismo. “Este tipo de cenário internacional que se descortina é muito favorável para o Brasil. O mundo vai precisar de comida e infraestrutura”.

No entanto, ele também fez alerta sobre as necessidades de reformas estruturantes. Na sua avaliação, o Brasil pode entrar em dois extremos: o de ficar numa zona de conforto, dado aumento da arrecadação, e não realizar as mudanças necessárias; ou poderá usar recursos financeiros a mais para aumentar, por exemplo, o nível de investimentos em pesquisas e desenvolvimento, o que impulsiona o aumento da produtividade.

Na opinião de Marcos Troyjo, o Brasil está condenado a acumular sucessivos superávits comerciais ao longo do tempo. “Hoje, de cada cinco pratos de comida servido no mundo, um é produzido no Brasil”.

*Cilas Gontijo é estagiário do Jornal Opção em convênio com a UniAraguaia, sob a supervisão do editor PH Mota.