Com máquinas a todo vapor em uma área às margens da GO-239, entre São Jorge e Colinas do Sul, na da Chapada dos Veadeiros, para o cultivo de soja, os moradores temem que a retirada de árvores e uso de agrotóxicos possam causar danos irreparáveis na região. Um dos denunciantes informou que o terreno tinha autorização Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) para pastagem e agora houve substituição para o plantio de grãos.

No último dia 11, a população da região notou a movimentação de tratores na Fazenda Procópio e ficaram sabendo que o proprietário havia arrendado toda a área de pastagem para a conversão em lavoura de soja. O Jornal Opção tentou contato com a pasta desde a sexta-feira, 17, sobre o assunto, mas até esta quarta-feira, 22, (cinco dias depois) não obteve posicionamento sobre o assunto. A reportagem não conseguiu contato com o proprietário do terreno. O espaço segue em aberto.

De acordo com relatos, a área em destaque integra a paisagem do turismo da chapada. O local compõe a cabeceira do Córrego da Cuia, que atravessa a rodovia estadual, descendo para o Vão do Rio Preto, onde se formam grandes cachoeiras. As águas deste complexo servem tanto para o abastecimento de propriedades como para o turismo.

Máquinas operando na fazenda da região | Foto: divulgação
Máquinas operando na fazenda da região | Foto: divulgação

O local é considerado um dos portais de entrada para a Chapada dos Veadeiros. “É por tal via que os turistas têm acesso ao lado norte do PNCV e às margens balneárias do Córrego Cuia e Rio Preto, já com inúmeros campings e pousadas em construção, alguns já com certificados no CADASTUR, do Ministério do Turismo”, cita trecho da denúncia de uma associação da região.

Conforme o texto, caso seja mantida autorização convertendo a pastagem em lavoura de soja, “cerca de 3,5 km de cenários e publicidade cênica, à margem da GO-239 serão destruídos”. O terreno fica próximo de onde será criada a Área de Proteção Ambiental (APA), Pouso Alto, ambiente “atrativo de visitação para a Chapada dos Veadeiros, e em especial para Colinas do Sul”.

Danos ambientais e ao turismo

Destaque em vermelho de área de pastagem que supostamente será substituída por soja | Foto: divulgação
Destaque em vermelho de área de pastagem que supostamente será substituída por soja | Foto: divulgação

“Necessitamos de um decreto do governador ou resolução da Semad que proíba a conversão de áreas de pastagens em lavouras de monoculturas de soja e milho dentro dos limites da área da APA Pouso Alto. O turismo das cachoeiras, das imagens e cenários na Chapada dos Veadeiros emprega e gera mais receita para a região do que as lavouras de soja e milho”, aponta um proprietário de uma pousada, que preferiu não se identificar.

Um turista lamentou a decisão de reconfiguração de atividades econômicas na região. “Na Chapada dos Veadeiros, com lavouras de soja de um lado e outro das rodovias, não há como fugir do ar contaminado pela aspersão de agrotóxicos nos plantios e na época de dessecação e colheita das lavouras. Ao menos na APA Pouso Alto poderíamos estar livre das lavouras químicas”, opina. 

Região é considerada um dos portais de acesso a complexo turístico da Chapada dos Veadeiros | Foto: divulgação
Região é considerada um dos portais de acesso a complexo turístico da Chapada dos Veadeiros | Foto: Divulgação

Posicionamento

Em resposta ao Jornal Opção, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável explicou que, segundo o plano de manejo da Área de Proteção Ambiental Pouso Alto, atualmente não existe nenhuma restrição que impeça, em áreas antropizadas, a conversão de uma área de pastagem em área para o desenvolvimento da atividade de agricultura.

Em nota, a Secretaria esclareceu que o registro de corte de árvores isoladas nº 20221313 foi emitido respeitando o plano de manejo da unidade de conservação e a legislação estadual e, por isso, o empreendedor poderá desenvolver a atividade de agricultura no local desde que execute técnicas de manejo e conservação do solo e da água, evitando o carreamento de solo e agrotóxicos para os cursos d’água próximos. Além disso, também é necessária a conservação da área de preservação permanente que ajuda a proteger os cursos hídricos desses contaminantes.

No entanto, conforme o plano de manejo, é vedada a utilização de agrotóxicos classe I (considerados altamente perigosos) na área.

Ainda segundo a Secretaria, o plano de manejo da APA Pouso Alto entrará em revisão e toda a contribuição apresentada pela AMARBRASIL será considerada durante o processo de atualização.