“Degradar o Cerrado é estratégia suicida”, alerta Isabel Figueiredo
11 dezembro 2023 às 11h26
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Enquanto os olhares do mundo se voltam para a preservação da Amazônia, o cerrado agoniza. Esta é a constatação de especialistas. A coordenadora do Programa Cerrado e Caatinga do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Isabel Figueiredo, alerta para a necessidade urgente de cuidar do bioma. “Degradar o Cerrado é uma estratégia suicida”, afirmou a especialista ao Correio Braziliense.
Para a ecóloga, os dois biomas estão profundamente interligados, e todos dependemos da água que brota do Cerrado para a sobrevivência, seja matando a sede ou para gerar energia elétrica. A especialista faz um alerta e sugere medidas que precisam ser tomadas com urgência na tentativa de minimizar os danos.
Conforme Isabel, o motivo do aumento no desmatamento do cerrado é a permissividade do Código Florestal. “O Cerrado é inversamente protegido em relação ao bioma Amazônia pelo chamado Código Florestal, a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei 12.651/2012). Nele, os imóveis rurais do bioma Amazônia têm proteção de 80% da vegetação, isto é, o proprietário pode desmatar somente 20%. Já no Cerrado, essa proteção é de apenas 20%, ou seja, 80% pode ser desmatado.”
Isabel Figueiredo explica que oito das doze principais bacias hidrográficas do Brasil têm origem no Cerrado. Portanto, ao degradar o Cerrado, está-se destruindo o futuro dos seres humanos, afirma. Ainda, conforme a ecóloga, estudos comprovam que já se perderam 15% da vazão dos rios do Cerrado e que haverá uma perda de 34% até 2050.
Para mudar esse cenário, a especialista diz que é preciso buscar formas de aumentar a proteção do Cerrado para além do Código Florestal, como ampliar o reconhecimento dos territórios de povos e comunidades tradicionais de áreas protegidas, por exemplo. “Além disso, o que temos feito como sociedade civil organizada é mostrar que não é preciso mais desmatamento para plantar soja ou criar gado, pois existem milhares de hectares de pastagens degradadas e que precisamos investir em cadeias produtivas baseadas na sociobiodiversidade”, lembra.
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