Começa a temporada de tráfico de papagaios e de araras do Cerrado
31 agosto 2023 às 09h30
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De meados de agosto a dezembro, no Cerrado, e do fim do ano a março, na Caatinga, ocorrem as temporadas de reprodução de papagaios e araras. Nesse período, há uma intensa busca de ovos e de filhotes por traficantes de animais silvestres. O comércio ilegal ao exterior também ocorre, especialmente em espécies cuja raridade aumenta seu preço de venda.
O Cerrado, bioma predominante no Estado de Goiás, tem 64 espécies em risco crítico de ameaça de extinção, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Dentre as espécies que podem não ser mais encontradas na natureza, estão a arara-azul-de-lear e o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), ameaçados pelo tráfico de animais silvestres cada vez mais crescente no país.
O ICMBio, por meio de um Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (Salve), catalogou 14.785 espécies brasileiras, sendo que 1.253 delas estão em categoria de ameaça. Além de subsidiar a elaboração de políticas públicas de preservação, a Salve também consegue passar um panorama geral sobre a situação de cada bioma. No bioma Cerrado, há 4871 espécies catalogadas, com 64 em risco crítico de extinção. No Brasil, há 364 em perigo crítico.
No Cerrado, do total de espécies, 79 aparecem catalogadas como quase ameaçada, 142 espécies estão em situação vulnerável, 100 são consideradas em perigo de extinção e 64 classificadas como criticamente em perigo.
Segundo a SOS Fauna, ONG que atua desde 2006 contra esse comércio ilegal, 2023 será um ano marcado por apreensões e mortandade de filhotes de papagaios e de araras. Além do tráfico de animais, a monocultura intensiva de grãos e a pecuária extensiva de baixa tecnologia também ameaçam a biodiversidade do Cerrado.
No último levantamento do Governo Federal, apenas 220 araras-de-lear, o que corresponde a 10% de sua população, estariam em idade reprodutiva. O roubo de seus ovos e filhotes é ainda mais danoso pelas baixa taxa reprodutiva e reduzida população da espécie.
Como a população pode denunciar
Sempre que avistar um animal silvestre nas ruas da cidade ou preso em cativeiro, a população pode entrar em contato com a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), com a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) ou com o Corpo de Bombeiros de Goiás (CBMGO). Os bombeiros e a Amma fazem o resgate, mas quem altua e investiga é a Dema.
Caso alguém aviste algum animal silvestre em áreas urbanas ou rurais, pode entrar em contato com a Amma pelo número 161 para que o resgate ou orientação seja realizado. “A gente conversa por telefone com as pessoas, pede fotos e vídeos dos animais, analisa a situação e às vezes não é necessário buscar o animal, porque muitos estão saudáveis ou em rota de migração para algum local”, explicou Isabela Saddi, gerente de Proteção e Manejo de Fauna da Amma. O contato também pode ser feito pelo (62) 3524-1422
Além da Agência, o resgate de animais também é realizado pelo Corpo de Bombeiros, mais comum em casos em que os bichos estejam em local alto, e é exigida instrumentação específica para resgate. O Corpo de Bombeiros deve ser acionado pelo telefone 193.
A Agência explica que recebe muitos chamados para animais domésticos, mas reitera que só faz o resgate de animais silvestres, que vivem na natureza e não têm contato com a espécie humana.Além da denúncia, é importante tomar alguns cuidados, como não tentar manter nenhum tipo de contato com eles. Além disso, é importante não alimentá-los, para evitar que criem o hábito de permanecer naquele local, pelo fato de não necessitarem caçar o próprio alimento, e ainda disporem de local para dormir.
A Amma autua em casos de maus-tratos aos animais somente quando é feito o flagrante. Quem investiga os casos é a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente. Maus-tratos a animais, sejam eles domésticos ou silvestres, são considerados crimes previsto por lei. A pena para este tipo de caso pode chegar a 5 anos de prisão. Denúncias podem ser feitas pelo número 161. Já para o tráfico de animais silvestres, a pena pode chegar até 1 ano de reclusão.
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