Coletivo da UEG faz alerta máximo sobre contaminação no Rio Vermelho: “Peixes continuam morrendo”
22 dezembro 2024 às 10h43
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O Núcleo de Agroecologia e Educação do Campo (Gwatá) da Universidade Estadual de Goiás (UEG) publicou um vídeo, neste domingo, 22, denunciando os efeitos da contaminação por agrotóxico do Rio Vermelho, curso d’água da cidade de Goiás. “Os peixes continuam morrendo no Rio Vermelho na Cidade de Goiás”, diz a legenda do vídeo, em que é possível ver peixes boiando na margem do rio.
Um nota publicada também pelo grupo universitário revela que foram registradas ao menos quatro substâncias de alta periculosidade para saúde humana e para o meio ambiente. No documento, a entidade alerta a população da cidade e cobra por medidas do poder público.
No alerta feito pelo Núcleo Gwatá, se fala em “prováveis e iminentes danos à saúde e ao meio ambiente” cuja causa apontada foi a “contaminação causada por agrotóxicos dispersados nas proximidades do Parque da Carioca” que aconteceu após acidente com caminhão que carregava os produtos. O veículo se acidentou na GO-164 na última terça-feira, 17. Nas imagens compartilhadas pelo grupo da UEG é possível ver peixes mortos à beira do Rio Vermelho e restos das embalagens dos agrotóxicos.
Entre as substâncias destacadas estão: Mitrion (fungicida “altamente persistente” e tóxico para espécies aquáticas), Envoke (herbicida com alto potencial de deslocamento no solo, podendo atingir águas subterrâneas), Sphere Max (fungicida “altamente persistente” e móvel, danoso às espécies aquáticas) e Fipronil (inseticida tóxico para saúde humana, com atuação no sistema nervoso).
O grupo cobra, portanto, “urgência na tomada de medidas que garantam a saúde dos moradores(as) e visitantes da cidade”, como também medidas que previnam “impactos ambientais irreversíveis” de quem depende do Rio Vermelho. Sugerem: o isolamento da área, criação de equipe interinstitucional para combate às possíveis catástrofes ambientais, e monitoramento constante das águas do Rio Vermelho.
Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Goiás (Semad-GO), afirma que, mesmo quatro dias depois do acidente, ainda continua a aplicar os “protocolos para frear a contaminação do rio Vermelho e mitigar danos ambientais causados pela ocorrência”. O órgão afirma ainda que, por se tratar de uma carga roubada, não havia licença ambiental.
“Há equipes do Centro de Análises Ambientais e Laboratoriais (Ceamb) da Semad e a Saneago trabalhando no monitoramento de parâmetros de qualidade da água, e, por se tratar de um procedimento complexo, o resultado ainda não está pronto. Os responsáveis pela remoção já retiraram 95% dos resíduos sólidos, construíram barreiras no corpo hídrico e vão remover parte do solo contaminado”, afirmam.
Apesar dos esforços a Semad reconhece os possíveis danos e reforça a recomendação à população de evitar o local. Leia nota completa abaixo.
Poder oficial
Reconhecendo a gravidade da situação, a Vigilância Sanitária do município emitiu aviso alertando a população sobre os riscos de se expor às águas do rio. O órgão do poder público coloca que “as chuvas recentes dispersaram parte da carga de agrotóxicos no rio” o que as contaminou. Portanto, o órgão orientou que se evite consumo e contato, humano ou animal, das águas do Rio Vermelho.
No documento publicado, informam ainda que a Saneago garante que a água destinada ao abastecimento da população não vem do curso contaminado. Sem informar quais medidas estão sendo adotadas para controle das substâncias despejadas no Rio Vermelho, a Vigilância Sanitária pede para que a população fique atenta a quaisquer sinais de intoxicação (como tontura, dor de cabeça, dificuldade respiratória, irritação nos olhos ou na pele…) e busque ajuda médica caso os percebam.
Leia abaixo nota na íntegra:
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Cidade de Goiás também emitiu nota destacando a gravidade da situação, e alertando a população sobre os riscos eminentes:
Entenda o caso
Um grave acidente envolvendo um caminhão no Km-493 da rodovia GO-164, nas proximidades do Rio Vermelho, resultou na morte de duas pessoas (ocupantes do carro de passeio) e deixou outras duas hospitalizadas (ocupantes do caminhão). O caso ocorreu no último dia 17.
O caminhão transportava agrotóxicos como ciproconazol, fipronil, protioconazol, bixafem, piraclostrobina, trifloxistrobina e fluxapiroxade, substâncias que oferecem risco significativo ao meio ambiente e à saúde pública. A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) foi acionada para coordenar as medidas de contenção e monitoramento. A pasta chegou a emitir um alerta orientando contra o uso da água do Rio Vermelho, “por precaução”.
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Nível do Rio Vermelho, em Goiás, sobe 1 metro após chuva nesta segunda-feira
Bombeiros, Defesa Civil e a Saneago também foram notificados para auxiliar na contenção dos danos. Por meio da identificação da placa do veículo, a empresa responsável pelo caminhão foi localizada e orientada a adotar providências imediatas.
As fabricantes dos agrotóxicos foram notificadas pela Semad, conforme determina a Lei nº 6.938, que atribui responsabilidade indireta às empresas em incidentes desse tipo.
As indústrias forneceram suporte técnico e contrataram uma empresa especializada para gerenciar os impactos do vazamento. No dia 19, foi constatado que a carga de agrotóxicos era roubada, o que adicionou um componente criminal à investigação.
Até sábado, 21, cerca de 95% dos resíduos já haviam sido removidos, e o solo contaminado começou a ser retirado. No entanto, chuvas intensas na região provocaram o escoamento de resíduos para o Rio Vermelho, resultando na morte de peixes e no agravamento dos danos ambientais.
Sobre o coletivo
O Núcleo de Agroecologia e Educação do Campo (GWATÁ), da Universidade Estadual de Goiás (UEG), constituído em 2011 por professores, estudantes, técnicos e movimentos sociais na Cidade de Goiás, tem como objetivo central o desenvolvimento de atividades de pesquisa, extensão e ensino relacionadas às temáticas socioambientais, com atuação destacada no Bioma Cerrado.
Nota da Semad-GO
Quatro dias depois do acidente automobilístico que resultou no vazamento de defensivos agrícolas no km 493 da GO-164, na Cidade de Goiás, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) continua a executar protocolos para frear a contaminação do rio Vermelho e mitigar danos ambientais causados pela ocorrência.
O acidente ocorreu por volta das 7h30 do dia 17 de dezembro e envolveu um caminhão e um veículo de passeio. As duas pessoas que estavam no carro faleceram e os dois ocupantes do caminhão estão hospitalizados. Já se sabe que a carga era roubada. Por consequência, não havia licença ambiental, com as devidas condicionantes, para o transporte do produto (como determina a lei).
A partir de embalagens encontradas no local do acidente, sabe-se que vazaram volumes de Fipronil, Blavity, Fox xpro, Sphere Max e Orkestra SC. Na manhã deste sábado (21), constatou-se a morte de peixes no rio Vermelho. Choveu 35 mm na região, e é provável que a precipitação tenha carreado defensivos para o leito e causado esse fato.
Há equipes do Centro de Análises Ambientais e Laboratoriais (Ceamb) da Semad e a Saneago trabalhando no monitoramento de parâmetros de qualidade da água, e, por se tratar de um procedimento complexo, o resultado ainda não está pronto. Os responsáveis pela remoção já retiraram 95% dos resíduos sólidos, construíram barreiras no corpo hídrico e vão remover parte do solo contaminado. Por precaução, a Semad reforça a recomendação para os moradores não banhem ou utilizem água do rio Vermelho.
Protocolos do acidente
A Semad foi comunicada a respeito do acidente duas horas depois de ele ocorrer, por volta das 9h30. Acionou então o protocolo de emergências ambientais, que prevê a comunicação imediata da Saneago, Defesa Civil e do Batalhão Especializado em Operações com Produtos Perigosos do Corpo de Bombeiros. Enviou também para o local uma equipe da gerência que cuida de emergências ambientais e outra do seu próprio Centro de Análises Ambientais e Laboratoriais (Ceamb).
Enquanto bombeiros trabalhavam na contenção e recolhimento de embalagens e frascos de defensivos, que foram acomodados em sacos “big bag”, e na remoção das ferragens para retirar o corpo de uma das vítimas fatais, a Semad usou a placa para chegar no responsável pelo caminhão, a quem cabe a obrigação legal de contratar uma empresa para atender a emergência ambiental.
Valendo-se do que diz a lei federal 6938, que atribui responsabilidade indireta aos fabricantes dos produtos vazados, a Semad acionou a BASF e a Bayer. Ambas contrataram a Ambipar, que desde então trabalha no local.
A Semad continua a monitorar a região da GO-164 e a trabalhar no monitoramento da qualidade da água do rio Vermelho, mas reforça a orientação para que, por precaução, não utilizem água do rio para consumo, nem para banho. As sanções administrativas cabíveis ao caso serão aplicadas pela secretaria. A Semad se solidariza com as famílias e amigos das vítimas nesse momento de dor.