Morre o último “Poderoso Chefão” da máfia siciliana, Matteo Messina Denaro
25 setembro 2023 às 10h41
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Retratado nos filmes da famosa saga “O Poderoso Chefão”, o chefe da máfia siciliana Matteo Messina Denaro morreu nesta segunda-feira, 25, em um hospital no centro da Itália. Capturado em janeiro de 2023, após três décadas de fuga, ele estava em coma e teve a morte confirmada pelo prefeito da província italiana de Áquila, Pierluigi Biondi.
Segundo o prefeito, se “encerrou uma história de violência e sangue” no país. Biondi também agradeceu aos funcionários da penitenciária e do estabelecimento pelo “profissionalismo e humanidade”. “Foi o epílogo de uma existência vivida sem remorsos nem arrependimentos, um capítulo doloroso na história recente da nossa nação”, completou.
Messina Denaro, de 61 anos, sofria de câncer de cólon, pelo qual foi tratado durante seu período como fugitivo, decisão que chamou a atenção das autoridades, que o detiveram em uma clínica em Palermo. Messina Denaro foi um dos chefes mais cruéis da Cosa Nostra, retratado nos filmes da saga “O Poderoso Chefão”.
Ele foi condenado pelos tribunais por seu envolvimento no assassinato do juiz antimáfia Giovanni Falcone, em 1992, e em ataques mortais em Roma, Florença e Milão, em 1993. Uma das seis penas de prisão perpétua contra ele foi proferida pelo sequestro e posterior assassinato do filho de 12 anos de uma testemunha no caso Falcone.
Messina Denaro havia desaparecido no verão de 1993 e passou os 30 anos seguintes em fuga, enquanto o Estado italiano reprimia a máfia siciliana. Foragido, ele permaneceu no topo da lista dos mais procurados da Itália e acabou se tornando uma figura criminosa lendária.
Em 16 de janeiro de 2023, foi preso durante visita a uma clínica, onde era tratado com identidade falsa. Após prisão, foi mantido em uma prisão de segurança máxima em L’Aquila, no centro da Itália, onde continuou o tratamento contra o câncer em sua cela.
Em agosto, Messina Denaro foi transferido para a enfermaria do hospital local, onde o seu estado piorou nos últimos dias. No último fim de semana, sábado, 23, e domingo, 24, a imprensa havia noticiado que ele estava em “coma irreversível”. Os médicos pararam de alimentá-lo e ele havia pedido para não ser reanimado, acrescentaram.
Após a fuga de Denaro, houve intensa especulação de que ele teria ido para fora do país. No entanto, um tempo depois as autoridades descobriram que ele tinha permanecido perto da sua cidade natal, Castelvetrano, no oeste da Sicília. Os investigadores vasculharam o interior da Sicília durante anos em busca de Denaro, procurando esconderijos e interceptando membros de sua família e amigos.
As testemunhas foram ouvidas e falaram sobre os problemas médicos de uma pessoa anônima que sofria de câncer e problemas oculares. Os detetives, então, tiveram a confirmação que a identidade correspondia a de Messina Denaro. A polícia italiana usou um banco de dados do sistema nacional de saúde para encontrar pacientes do sexo masculino com idade e histórico médico apropriados e, por fim, encerraram o caso.
Embora a prisão dele tenha trazido algum alívio às vítimas, o chefe da máfia sempre manteve silêncio sobre o caso. Em entrevistas sob custódia, Messina Denaro chegou a negar que fosse membro da Cosa Nostra.
“O Poderoso Chefão”
Além de um pôster de “O Poderoso Chefão”, a polícia italiana encontrou no covil do líder da Cosa Nostra Matteo Messina Denaro, em Campobello di Mazara, na Sicília, ímãs de geladeira que remetem à célebre trilogia de Francis Ford Coppola.
Um desses itens exibe a frase “Il padrino sono io” (“O poderoso chefão sou eu”), enquanto outra imagem retrata Al Pacino no papel de Michael Corleone. Além disso, os agentes encontraram fotos de felinos selvagens no esconderijo.
O próprio Messina Denaro era tido como o “poderoso chefão” da Cosa Nostra desde a prisão de Bernardo Provenzano (1933-2016), o sucessor do sanguinário Salvatore “Totò” Riina (1930-2017), em 2006. Seu covil também continha pílulas contra disfunção erétil, preservativos e roupas de grife.