Dalton Trevisan, o “Vampiro de Curitiba”, morre aos 99 anos
10 dezembro 2024 às 08h01
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Dalton Trevisan, considerado um dos maiores contistas da literatura brasileira, morreu nesta segunda-feira, 9, aos 99 anos. A notícia foi confirmada por sua agente, Fabiana Faversani, que não divulgou a causa da morte nem detalhes sobre o velório, atendendo ao desejo de privacidade do autor. Trevisan, conhecido como “O Vampiro de Curitiba”, deixa um legado que marcou a literatura nacional pela concisão e profundidade de seus contos.
Nascido em 14 de junho de 1925, em Curitiba, Dalton Trevisan construiu uma carreira literária singular, destacando-se por sua reclusão e aversão à exposição pública. Sua última entrevista foi concedida em 1972, e desde então ele manteve uma vida discreta, morando na mesma casa na capital paranaense, cercado por mistérios e excentricidades. Mesmo sem aparecer publicamente, sua presença era sentida na literatura, com uma obra que desafiava normas e explorava as complexidades humanas.
Trevisan iniciou sua trajetória literária com os livros “Sonata ao Luar” e “Sete Anos de Pastor”, ambos renegados pelo autor posteriormente. Foi a partir de “Novelas Nada Exemplares”, publicado em 1959, que ganhou destaque nacional, recebendo o Prêmio Jabuti. Seu conto mais emblemático, “O Vampiro de Curitiba”, apresentou o personagem Nelsinho, símbolo da solidão e dos conflitos morais urbanos. A obra inspirou adaptações para o cinema e o teatro, consolidando sua relevância cultural.
Ao longo de sua carreira, Dalton Trevisan recebeu diversas honrarias, incluindo o Prêmio Camões, o Machado de Assis e duas edições do Portugal Telecom. Mesmo com tamanha aclamação, ele jamais compareceu às cerimônias de premiação, reforçando sua crença de que “o conto é mais importante que o contista”. Seus textos, cada vez mais enxutos, revelavam uma busca incessante pela essência narrativa, com algumas histórias sendo reescritas ao longo de décadas.
O escritor também foi editor da Revista Joaquim, publicação que entre 1946 e 1948 posicionou Curitiba no cenário literário nacional. Ali, ele rompeu com o tradicionalismo do movimento paranista, promovendo uma literatura inovadora e crítica. Essa ousadia permaneceu como característica central de sua obra, que até hoje influencia novos autores em busca de uma narrativa precisa e impactante.
Dalton Trevisan deixa uma filha, Rosana, e duas netas, Katiuscia e Natasha. Sua partida encerra uma era para a literatura brasileira, mas seu legado, repleto de contos atemporais e profundos, continua vivo, inspirando leitores e escritores. Curitiba, cenário e personagem de tantas de suas histórias, se despede do seu “vampiro” que, mais do que morder jugulares, capturou a essência da alma urbana brasileira.