Húngaro László Krasznahorkai vence o Nobel de Literatura 2025 com obra marcada pelo apocalipse e pelo grotesco

09 outubro 2025 às 09h11

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O escritor e roteirista húngaro László Krasznahorkai foi anunciado nesta quinta-feira, 9, como vencedor do Prêmio Nobel de Literatura 2025. A Academia Sueca destacou sua “obra poderosa e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte”.
Reconhecido como um dos grandes nomes da literatura centro-europeia contemporânea, Krasznahorkai se insere na tradição que vai de Kafka a Thomas Bernhard, marcada pelo absurdismo e pelo grotesco, mas também se volta ao Oriente em uma prosa contemplativa e meticulosamente calibrada.
Seu romance mais conhecido, “Sátántangó” (1985), apresenta uma aldeia remota habitada por personagens desajustados e atormentados, enquanto aguardam a chegada de Irimiás, figura ambígua entre profeta e demônio. A obra foi adaptada para o cinema em 1994 em parceria com o cineasta Béla Tarr, evidenciando o diálogo entre literatura e cinema na obra do autor.
O crítico Kelvin Falcão Klein observa que Krasznahorkai cria “uma realidade paralela, feita de linguagem, metáforas e hipérboles”, transformando a experiência do leitor e redefinindo a percepção do tempo e da narrativa.
Além de roteirista, Krasznahorkai já conquistou o Man Booker Prize em 2015. A Academia Sueca o reconhece como “um grande escritor épico que expande a tradição literária centro-europeia ao trazer o olhar apocalíptico e contemplativo para o mundo contemporâneo”.
O Nobel de Literatura, concedido desde 1901, consagra este ano uma voz que combina intensidade, experimentação e um olhar crítico sobre a condição humana, consolidando Krasznahorkai como referência global da literatura que une grotesco, filosofia e imaginação cinematográfica.
Brasil e América do Sul
O Brasil e a América do Sul, apesar de não vencerem, surgiram como protagonistas de uma narrativa histórica: a região não recebe o Nobel desde Mario Vargas Llosa, em 2010, e desta vez os escritores Milton Hatoum e Adélia Prado estavam na lista de apostas, simbolizando a resistência e a relevância da literatura sul-americana.
Adélia Prado, com 89 anos, acaba de lançar o livro “O jardim das oliveiras”, e Hatoum mantém sua sólida trajetória de romances que exploram memória, identidade e cultura amazônica. Caso algum deles seja escolhido, será a primeira vez que um autor brasileiro conquista o prêmio.
A disputa deste ano reflete também a diversidade de trajetórias literárias: Kracht domina os bastidores com prestígio e presença em eventos internacionais, enquanto Murnane, de 86 anos, mantém-se recluso na Austrália, longe da mídia e do mundo editorial, ressaltando o contraste entre visibilidade e erudição silenciosa.
Além dos brasileiros, nomes como o chileno Raúl Zurita, o argentino César Aira e a mexicana Cristina Rivera Garza reforçam a presença sul-americana, mostrando que o Nobel continua atento não apenas aos grandes mercados literários europeus e anglófonos, mas também à produção cultural do hemisfério sul.
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