Justiça Federal investiga Grupo Coral por ocultação de patrimônio em operação que mirou Faria Lima
24 setembro 2025 às 09h56

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A Justiça Federal e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) investigam a utilização de fundos de investimentos administrados pela Reag Investimentos em disputas relacionadas ao pagamento de dívidas do antigo Grupo Coral, conglomerado goiano que atuava no setor de serviços terceirizados e teve a falência decretada em 2015.
O Grupo Coral, controlado por Lélio Carneiro, teria acumulado mais de R$ 300 milhões em dívidas quando entrou em recuperação judicial em 2012. Três anos depois, a falência foi reconhecida pela Justiça. Ex-investidores ainda cobram indenizações que somam cerca de R$ 250 milhões.
Segundo documentos da PGFN, durante tentativas de bloqueio de valores ligados ao empresário, foram identificadas transferências para fundos sob gestão da Reag — instituição que é alvo de investigações da Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público de São Paulo por suspeita de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis.
A defesa de Carneiro, no entanto, nega qualquer irregularidade e rejeita a associação da família a investigações criminais. “Não existe nenhuma investigação sobre o Lélio Carneiro ou sobre seu filho envolvendo crime organizado. O que há são processos relacionados à falência do Grupo Coral, o que é fato público, e a gestão de fundos que, em determinado momento, estavam sob administração da Reag”, afirmou a assessoria jurídica do empresário.
Outro ponto destacado pela defesa é que, após a deflagração da Operação Carbono Oculto, os fundos de investimento de Carneiro deixaram de ser administrados pela Reag. “O processo de troca de gestão já está em andamento, conforme previsto pela legislação do mercado financeiro”, completou a nota.
Além do histórico empresarial, o nome de Lélio Carneiro voltou ao noticiário em agosto, quando ele e um grupo de investidores propuseram a transformação do Vila Nova-GO em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), em operação avaliada em R$ 500 milhões. A proposta também envolvia a Reag, mas acabou não avançando.
A defesa do empresário reforçou que a atuação de Carneiro na negociação da SAF não guarda qualquer relação com os processos de falência do Grupo Coral.
Já a Reag, em nota enviada anteriormente, afirmou que “não há qualquer participação da empresa ou de seus executivos em operações de ocultação de patrimônio ou de lavagem de dinheiro” e que “atua em conformidade com as normas vigentes do mercado financeiro”.
Entenda o caso
A Justiça e órgãos de fiscalização vêm desmantelando uma teia de fundos de investimento sediados na Faria Lima, em São Paulo, suspeitos de serem usados por empresários para ocultar patrimônio e escapar de credores. O caso mais emblemático envolve a família Carneiro, do Grupo Coral, conglomerado goiano de serviços terceirizados que faliu em 2015 e deixou uma dívida bilionária. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) identificou que parte dos R$ 250 milhões em impostos devidos estaria escondida em uma rede complexa de fundos, em parte geridos pela Reag Investimentos.
As investigações revelaram que o esquema usava uma estrutura de camadas — fundos dentro de fundos — para dificultar a identificação dos verdadeiros donos do dinheiro. Essa mesma estratégia, já apelidada de “fundos caixa-preta”, foi associada a outros empresários e até a organizações criminosas, como o PCC, em operações recentes da Polícia Federal. A Reag, alvo de busca e apreensão, resiste em abrir informações sobre os beneficiários finais de determinados fundos, o que tem gerado embates com a Justiça.
Além do passivo do Grupo Coral, os Carneiro seguiram envolvidos em negócios de grande porte, como a tentativa frustrada de investir R$ 500 milhões no Vila Nova-GO por meio de parceria com a Reag. Em paralelo, decisões judiciais bloquearam valores atribuídos à família em diferentes fundos e empresas. Enquanto a PGFN sustenta que os mecanismos foram usados para blindar patrimônio, a família Carneiro e a própria Reag negam qualquer irregularidade, afirmando agir em conformidade com a lei e repudiando ligações com atividades ilícitas.
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