Goiânia abriga 15 obras de arte especiais, viadutos e os seus monumentos, que, segundo avaliação técnica do engenheiro de estruturas Rodrigo Da Mata, doutor pela USP e professor adjunto da PUC-GO, estão em estado crítico e demandam manutenção urgente. Ao Jornal Opção, Da Mata alertou, nesta quinta-feira, 18, que nenhuma dessas estruturas possui projeto executivo, o que inviabiliza a elaboração de orçamentos e, consequentemente, a abertura de processos licitatórios para obras de recuperação. Da Mata lembrou que o colapso é silencioso.

Depoimentos da população

Na Praça do Ratinho, o advogado João Paulo Arantes comentou que o viaduto apresenta sinais claros de deterioração. “Não é uma estrutura tão antiga, então deveria estar melhor conservada. As pinturas estão desgastadas e a sinalização é precária”, afirmou.

Advogado João Paulo Arantes | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O motorista de aplicativo Pedro Pimentel criticou a execução da estrutura metálica da praça: “Foi muita mão de obra para algo que está enferrujando por completo. As partes metálicas estão todas corroídas. Vai dar um trabalho enorme para pintar aquilo. Tantas outras coisas poderiam ter sido feitas com esse espaço, e agora está lá, abandonado”, disse.

No viaduto da T-63 com a Avenida 85, o vendedor Ruan Pablo relatou sentir instabilidade ao trafegar. “Dá uma ‘bacada’ quando a gente entra e sai. Isso gera insegurança, principalmente para quem anda de moto. Os grafites até ajudam na estética, mas a conservação está péssima. Tem muita ferrugem exposta e sinais de infiltração que podem causar outros problemas estruturais”, apontou.

Vendedor Ruan Pablo | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Também sobre o viaduto da T-63 com a Avenida 85, a advogada Jaqueline Borges também criticou o estado de abandono: “Está sem manutenção, sem revitalização, muito feio mesmo”, apontou. O entregador de aplicativo Jhonatan Silva reforçou: “A estrutura está deteriorada e não recebe nenhum tipo de cuidado”, comentou.

Jaqueline Borges | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção
Entregador de aplicativo Jhonatan Silva | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Situação técnica e perspectivas

Segundo Da Mata, a prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra), está captando propostas para contratar escritórios de engenharia que elaborem os projetos de reforço estrutural. O prazo estimado para entrega desses projetos é de 180 dias. Após isso, serão necessários mais 90 a 100 dias para licitar as obras e até 360 dias para execução. Ou seja, a solução definitiva pode levar de um ano a um ano e meio.

“Sem projeto executivo, não há orçamento, nem licitação. Estamos falando de um processo que ainda levará muitos meses para se concretizar”, explicou o engenheiro.

Estrutura precária | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Apesar da gravidade, Da Mata ressaltou que intervenções de curto prazo são necessárias, especialmente por conta do impacto no trânsito urbano. “Mesmo com uma avaliação crítica, é preciso intervir. Não são emergenciais, mas qualquer interferência atrapalha muito a mobilidade da cidade”, disse.

“Olha, quando a gente observa essa árvore crescendo ao pé do monumento da Praça do Ratinho, não estamos apenas vendo vegetação, estamos vendo o tempo escancarado. O tamanho dela revela, com precisão quase científica, quantos anos se passaram sem qualquer tipo de manutenção ou cuidado com essa obra que, além de histórica, é simbólica para a cidade. É como se a natureza estivesse nos dando um lembrete silencioso: o patrimônio público precisa ser preservado, respeitado e valorizado. Não é só uma questão estética, é uma questão de memória e responsabilidade”, comentou.

Arvore que cresceu na base da estrutura | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Símbolos do abandono

Um dos exemplos mais emblemáticos citados por Da Mata é o monumento metálico da Praça do Ratinho, que apresenta corrosão nas placas metálicas e ausência total de manutenção. “Imagine se houver uma ruptura. O risco para os usuários é grave.”

Engenheiro de estruturas Rodrigo Da Mata | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Além dos riscos estruturais, o engenheiro destaca o aspecto visual das obras. “A ausência de uma peça de revestimento já transmite abandono. Em países como Estados Unidos e Portugal, viadutos são revestidos e recebem manutenção periódica. Aqui, o cenário é de descaso”, disse.

Na T-63 com 85

Da Mata também relembrou um episódio em que um incêndio atingiu uma estrutura revestida com material reciclado. “O papelão pegou fogo e foi necessário retirar tudo. Hoje, a estrutura está exposta e o aspecto estético é horroroso”, comentou.

T-63 com 85 | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O especialista reforçou que mesmo obras recentes podem apresentar problemas se não forem mantidas adequadamente. “A ausência do Estado é visível. Pequenos sinistros ocorrem e não há reparo. A cidade perde em segurança, funcionalidade e estética”, afirmou.

Seinfra

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) para saber se há projetos de revitalização dos viadutos e das estruturas citadas na reportagem, mas até o momento do fechamento da matéria não obteve resposta. O espaço permanece aberto.

Leia também:

Especialistas de Goiás avaliam como decreto federal de importação de resíduos sólidos pode afetar catadores

Desembargador Carlos França anuncia aposentadoria

“PEC da Blindagem é um gigantesco retrocesso para a democracia”, critica criador da Ficha Limpa