Antônio Caiado*

A ameaça de uma guerra nuclear global, embora diminuída desde o fim da Guerra Fria, permanece uma das mais graves preocupações internacionais. O potencial destrutivo dos arsenais nucleares modernos poderia levar à devastação em uma escala sem precedentes. Este artigo explora as capacidades nucleares e estratégias potenciais dos principais atores globais em tal cenário.

A Rússia possui um dos maiores arsenais nucleares do mundo, herança da União Soviética. Seu arsenal inclui uma variedade de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), submarinos nucleares lançadores de mísseis balísticos (SSBNs) e bombardeiros estratégicos, capazes de atingir alvos em qualquer parte do mundo. A modernização contínua de suas forças nucleares, incluindo o desenvolvimento de novas armas como o míssil hipersônico Avangard, reflete a importância que a Rússia atribui à sua capacidade nuclear como pilar de sua segurança nacional e influência global.

Do lado da OTAN, os Estados Unidos lideram em termos de capacidade nuclear, com um arsenal comparável ao da Rússia. Além dos EUA, outros membros da OTAN, como o Reino Unido e a França, possuem arsenais nucleares próprios, embora menores. A OTAN como aliança enfatiza a dissuasão nuclear coletiva, garantindo a segurança mútua de seus membros. Os EUA têm modernizado seu próprio arsenal, com investimentos significativos em novos ICBMs, submarinos nucleares e bombardeiros estratégicos, mantendo a paridade estratégica com a Rússia.

A China, com seu crescente arsenal nuclear e avanços em tecnologia de mísseis, emergiu como um importante ator estratégico. Em um conflito global, a China poderia adotar uma postura mais assertiva, especialmente se perceber seus interesses diretamente ameaçados. A Coreia do Norte, embora possua um arsenal nuclear menor, representa uma variável significativa devido à sua imprevisibilidade e proximidade estratégica com importantes atores regionais.

Israel, embora oficialmente não confirme nem negue a posse de armas nucleares, é amplamente reconhecido como um estado nuclear no Oriente Médio. Seu arsenal serve como um “seguro” contra ameaças regionais. Os países árabes, liderados por potências regionais como a Arábia Saudita, têm suas próprias preocupações de segurança com o Irã e poderiam buscar garantias de segurança ou até mesmo capacidades nucleares próprias em resposta a um conflito global. O Irã, com seu controverso programa nuclear, é um ponto focal de tensões regionais e globais, com implicações significativas para a segurança e estabilidade no Oriente Médio.

Em face de um ataque nuclear em seu próprio território, os Estados Unidos têm protocolos de resposta e defesa bem estabelecidos, projetados para minimizar as baixas e garantir a continuidade do governo e das operações militares. Estas estratégias abrangem desde a detecção precoce e a interceptação de mísseis até a retaliação nuclear e a gestão de consequências.

Os Estados Unidos possuem um dos sistemas mais avançados do mundo para detecção precoce de lançamentos de mísseis, incluindo satélites equipados com sensores infravermelhos e radar terrestre do sistema Ground-based Midcourse Defense (GMD). Estes sistemas permitem a identificação e rastreamento de mísseis balísticos intercontinentais momentos após o seu lançamento, fornecendo dados críticos para uma resposta coordenada. Em caso de ameaça confirmada, o sistema GMD, juntamente com outros elementos da arquitetura de defesa antimísseis, como os sistemas Aegis e THAAD, pode ser utilizado para tentar interceptar e destruir o míssil antes que atinja seu alvo.

A política dos Estados Unidos inclui a possibilidade de retaliação nuclear para dissuadir adversários de um ataque inicial. O princípio de “segunda batida” é fundamental na estratégia de dissuasão nuclear, assegurando que os EUA possam responder a qualquer ataque nuclear com força suficiente para infligir danos inaceitáveis ao agressor. Essa capacidade de retaliação é mantida através de uma tríade nuclear diversificada, composta por mísseis balísticos lançados por submarinos (SLBMs), mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) baseados em terra e bombardeiros estratégicos, garantindo a capacidade de resposta sob qualquer circunstância.

No caso de um ataque nuclear, o Departamento de Segurança Interna, em conjunto com a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) e outras agências, tem planos detalhados para a gestão de consequências, incluindo a evacuação de áreas afetadas, o fornecimento de assistência médica de emergência, a descontaminação de áreas irradiadas e a restauração de serviços críticos. O governo dos EUA também tem protocolos para garantir a continuidade das operações governamentais, incluindo a evacuação de lideranças-chave para locais seguros e a implementação de linhas de sucessão presidencial.

Embora os Estados Unidos estejam preparados para responder a um ataque nuclear, a ênfase é colocada na prevenção através da diplomacia, tratados de controle de armas e medidas de confiança. A manutenção da estabilidade estratégica e a redução das possibilidades de mal-entendidos ou erros de cálculo são fundamentais para evitar a escalada de conflitos que possam levar a um ataque nuclear.

A abordagem dos Estados Unidos em face de um ataque nuclear é multifacetada, combinando capacidades avançadas de defesa e interceptação, opções de retaliação credíveis, planos robustos de gestão de consequências e esforços contínuos de diplomacia e controle de armas para evitar que tais cenários se tornem realidade.E isso tudo faz da América o lugar mais seguro do mundo para se estar no caso de um conflito global nuclear.

Antônio Caiado | Foto: Acervo Pessoal

*Antônio Caiado é brasileiro e atua nas forças armadas dos Estados Unidos desde 2009. Atualmente serve no 136º Maneuver Enhancement Brigade (MEB) senior advisor, analisando informações para proteger tropas americanas em solo estrangeiro.

@oantoniocaiado
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