Conheça o balanço das forças militares na América Latina
18 dezembro 2023 às 18h26
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Antônio Caiado*
A América Latina está em um momento crucial, moldado por potenciais conflitos entre países e a crescente influência da China. A tensão entre Venezuela e Guiana sobre o território do Essequibo exemplifica os conflitos regionais, agravados pela descoberta de petróleo. Neste contexto, a presença crescente da China, com investimentos em infraestrutura e recursos vitais, desafia a influência dos Estados Unidos na região. Esta realidade cria um jogo geopolítico complexo, onde países latino-americanos vêem na China um parceiro valioso, apesar dos riscos de dependência econômica.
A posição dos Estados Unidos é fundamental neste cenário. Seu compromisso com a América Latina pode oferecer alternativas aos investimentos chineses, mas deve equilibrar a manutenção de influência com o respeito à soberania dos países da região. A diplomacia e cooperação são essenciais para promover a democracia, os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável.
No contexto do poder militar, o Brasil lidera no ranking regional, com um efetivo de 1.987.000 militares na ativa, seguido por Cuba com 1.256.000. Em termos de pessoal apto a ser convocado, o Brasil tem uma vantagem significativa com 84 milhões de reservistas, comparado aos 11,7 milhões da Venezuela. Na comparação dos veículos militares entre Brasil e Venezuela, o Brasil se destaca com uma frota mais ampla. Possui 723 aviões, 255 helicópteros, 1.707 veículos terrestres, 180 lançadores de foguetes, 110 embarcações e cinco submarinos de combate. Em contraste, a Venezuela conta com 280 aviões, 104 helicópteros, 700 veículos terrestres, 52 lançadores de foguetes, 50 embarcações e dois submarinos.
Esses números reforçam a superioridade do Brasil em termos de equipamentos militares, refletindo seu maior poderio na América Latina, destacando ainda o imenso potencial militar do país, refletindo sua posição dominante na região. Por outro lado, o país enfrenta desafios únicos devido à sua extensão territorial. Com grande parte da Amazônia e uma extensa costa marítima, o Brasil necessita de uma estratégia de defesa robusta, implicando a necessidade de investimentos superiores aos atuais para garantir efetiva segurança e defesa. Esse fator precisa ser considerado ao avaliar o poderio militar do Brasil na América Latina. Devemos lembrar também a questão do narcotráfico, que se utiliza da cobertura da selva e da extensão das fronteiras para operarem suas atividades criminosas.
Acrescentemos a isso os últimos desdobramentos na dinâmica geopolítica da região. A volta da esquerda ao poder no Brasil e o fato de a direita governar apenas três países (Equador, Paraguai e Argentina) na região, com o agravante de regimes autoritários de esquerda (Venezuela, Cuba e Nicarágua). Essa polarização gera tensões e disputas, aumentando a possibilidade de instabilidade e confrontos. Não podemos esquecer da ligação existente entre narcotráfico e grupos guerrilheiros de esquerda na América Latina, que ficou evidente, no caso brasileiro, com o líder do Comando Vermelho, Fernandinho Beira-Mar, que fazia negócios com as FARC da Colômbia.
Como reza o artigo 4º da Constituição Federal brasileira, que lista os princípios que regem as relações internacionais do país, o Brasil defende a paz, a não-intervenção e a integração entre os povos da América Latina. Mas esta integração não pode estar à mercê de ideologias que não respeitam os direitos humanos e são baseadas em ideais ultrapassados. Lembrando também que a prevalência dos direitos humanos faz parte desse mesmo artigo.
No mais, apesar do longo de histórico de intervenções dos Estados Unidos na América Latina, que datam desde o final do século 19, com o envio de fuzileiros navais em inúmeras ocasiões na Nicarágua, Panamá, Honduras, bem como apoio a derrubadas de governo e mudanças de regime político, o objetivo americano sempre foi assegurar seus interesses econômicos e geoestratégicos ao mesmo tempo em que beneficia setores específicos dos países nos quais intervém.
No caso recente da Guiana essa dinâmica fica muito clara, pois existe a presença de ExxonMobil que explora o petróleo em parceria com o governo local, o que já vimos é vantajoso para os dois países. Ao mesmo tempo, a proximidade com a Venezuela, que tem um governo hostil aos Estados Unidos e já tornou claro seu interesse de anexar a região, faz com que seja natural que os americanos queiram implantar uma base militar na Guiana. O foco de toda a atuação dos Estados Unidos na América Latina nunca foi o conflito armado, mas a garantia dos seus interesses comerciais, políticos e geoestratégicos, e a consolidação de sua posição como liderança em todo o continente americano.
Portanto, o Brasil precisa ser claro em relação à sua parceria com os Estados Unidos, vendo-o não só como um importante aliado estratégico regional para questões de segurança, como tem sido desde a Segunda Guerra Mundial quando o país juntou-se aos Aliados no combate ao nazi-fascismo na Europa, mas também como um parceiro comercial, haja vista os ganhos obtidos pela Guiana desde 2015 e o grande potencial que o Brasil possui com os campos do pré-sal.
Antônio Caiado é brasileiro e atua nas forças armadas dos Estados Unidos desde 2009. Atualmente serve no 136º Maneuver Enhancement Brigade (MEB) senior advisor, analisando informações para proteger tropas americanas em solo estrangeiro.