‘Queremos o movimento das mães atípicas em todo o Brasil’, diz fundador

09 julho 2025 às 09h06

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O advogado e empresário Roberto Hidasi é um dos fundadores do recém criado Movimento Nacional das Mães Atípicas (MNMA), uma iniciativa que visa defender e alavancar os direitos das mães com filhos atípicos através da criação de uma rede de apoio de advogados e especialistas da área da saúde.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o advogado contou a origem do movimento advinda de visitas em comunidades carentes de Goiânia e Salvador, bem como os dois principais eixos temáticos da proposta, a assistência social e o empoderamento das mães atípicas. Além disso, detalhou as principais lutas para o acesso à educação e a saúde das mães e dos filhos atípicos.
Com pouco mais de 40 dias de criação, o MNMA se encontra em dois estados brasileiros, Goiás e Bahia, com a integração de Pará prevista para ocorrer nos próximos meses.
João Reynol — O que é e como funciona este novo movimento ?
Roberto Hidasi — Nós trabalhamos com lideranças de associações de bairro e associações de mães atípicas. Goiânia e Salvador têm muitas entidades. Vamos nos mover através daquela mãe que tá na periferia e que é uma líder social. Às vezes ela nem é mãe atípica, mas é líder e é mãe que tem contato com vizinhas que possuem filhos atípicos.
João Reynol: Como funciona a iniciativa? Ela é registrada formalmente?
Roberto Hidasi: Trabalhos de forma descentralizada, que é a cara do movimento, não ter registro, não ter diretoria, não tem nada, hierarquia. Muitas pessoas me pressionaram para registrar. Mas eu não quero mexer com isso, com contador, com figura jurídica, eu quero ajudar aquela mãe carente que o Estado não chega até ela.

João Reynol: Como surgiu essa iniciativa? Foi a partir de uma mãe atípica conhecida, ou a partir de uma visita?
Roberto Hidasi: Através de visitas em comunidades periféricas, como a invasão da Terra do Sol, em Aparecida de Goiânia e a comunidade Periperi, em Salvador, Bahia. Em Aparecida a gente tem esse trabalho social de ir casa por casa, identificando as pessoas em situação de vulnerabilidade, atendendo e encaminhando elas. [Em uma dessas visitas] eu e a minha equipe com a assistente social entrei em um barraco com seis pessoas morando dentro. Aí descobrimos que é uma mãe solo com duas crianças atípicas, uma de 7 anos e outra de 10 anos.
Quando fizemos a entrevista, eu perguntei “Você tem CadÚnico?” Porque o CadÚnico e a Bolsa Família é um dos instrumentos que enxerga a miserabilidade da pessoa para conseguir o BPC (Benefício de Prestação Continuada). E ela respondeu: “Eu não recebo Bolsa Família, e não tenho CadÚnico”. E eu prometi que providenciaremos o CadÚnico, porque ela não tinha o dinheiro para pegar o ônibus e ir no CAIS da região dela.
João Reynol: Qual é o seu principal objetivo no futuro? Possui eixos centrais de lutas?
Roberto Hidasi: Nós estamos trabalhando agora no Congresso Nacional, com um Projeto de Lei (PL) da aposentadoria para mãe atípica do deputado federal Glaustin da Fokus, que já passou na primeira comissão. Isso é uma batalha fantástica que o deputado achou isso aí e nós vamos para cima agora com a bancada do autismo. Tem deputado e senador que tem neto ou filho autista, e o apelo do tema de trabalhar os direitos das mães atípicas é grande.
Outra luta é do professor auxiliar na sala de aula, que está prevista na Lei mas não existe [nas escolas]. A lei fala, mas os municípios não não cumprem. E quando tem medida judicial é apenas para uma escola. Outra área é o acesso à saúde, na Lei fala que as pessoas atípicas têm acesso prioritário e preferencial no SUS, mas a realidade é que o atendimento e o tratamento para pegar o laudo médico de uma neurodivergência pode demorar anos.

João Reynol: Vocês têm parcerias com entidades e agentes sociais de outros estados?
Roberto Hidasi: Em Goiás temos duas parcerias por enquanto, porque é uma equipe muito especializada. Não é qualquer médico que sabe cuidar, é um neuropediatra. Estamos em Salvador, e vamos nos sedimentar em Belém através de um contato que tive com um escritório que também faz assistência social.