Intrigas, processos e suspeitas de desvio: os bastidores da crise no Clube Social Feminino

22 setembro 2025 às 13h36

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O histórico Clube Social Feminino (CSF), uma das instituições de lazer mais antigas e prestigiadas de Goiânia, vive um momento de crise interna entre a atual gestão do clube contra grupos da administração anterior. A atual diretoria da associação conversou com a reportagem e revelou uma longa intriga movimentada pelo controle dos recursos financeiros e do imóvel da entidade.
Tudo começou em agosto de 2025, quando associados do CSF se mobilizaram em denúncia de supostas irregularidades cometidas pela atual administração, como o aumento no número de sócios e de títulos, a concentração de contratações na figura da presidência, encabeçada por Jane Moghames e a reeleição da presidente em 2024. Além destas reclamações, os membros do clube denunciaram o sucateamento e o abandono da infraestrutura, além da falta de pagamento do Imposto Predial de Território Urbano (IPTU).
Após a denúncias, o Jornal Opção conversou com a presidente Jane e o integrante da Comissão Administrativa, Francisco Santana, que relataram o outro lado da história. Em uma conversa no escritório jurídico da equipe, as lideranças relataram, com documentos processuais e vídeos providos à redação, uma longa batalha iniciada desde a diplomação da presidência em abril de 2018, após vencer a disputa em fevereiro do mesmo ano contra outras duas chapas.
As contestações contra a oposição — formada por indivíduos que controlaram o clube de 2007 e 2017 — vão desde desvio de recursos da CSF, a uma articulação de desvio de emendas parlamentares de um vereador da Câmara Municipal de Goiânia por uma figura líder do grupo.
Momento de crise
Segundo conta Jane e Santana, os atritos começaram ainda em 2017, um ano antes da posse da diretora, quando uma assembleia foi chamada para alterar o estatuto do clube. Durante a reunião, um pequeno grupo decidiu diminuir o número de associados de 800 para 400 membros.
A alteração, segundo Jane, não apresentou comprovação de um edital de convocação no livro de atas, nem registro de uma reunião prévia do conselho deliberativo, que, segundo o estatuto, seria o órgão responsável por convocar assembleias extraordinárias.
Segundo Santana, o clube perdeu cerca de 110 sócios “da noite para o dia”, como afirma, sem a apresentação de um motivo ou estudo técnico de como a decisão poderia impactar a organização. “Eles diminuíram [o número de sócios] em setembro [de 2017], se pegar as contas de outubro, novembro, e fevereiro [de 2018] você vai ver que a gente tava recebendo, antes e depois de Jane tomar a posse, de 510 sócios”, explicam. “[Depois de reduzir o estatuto], 110 sócios perderam o título, sem explicação nenhuma e sem comunicação, sem nada.”
Em defesa, Jane afirma que o seu objetivo nunca foi de diminuir o número de sócios, e sim aumentar o quadro de membros. Da mesma forma, afirma que a troca poderia configurar uma possível tentativa de sabotagem da nova gestão e de desvalorização do clube para uma eventual venda do imóvel. “Quem quer vender o clube aumenta a quantidade de sócios ou diminui? Fica essa questão”.
Correção pela nova administração
Essa troca súbita e perda de títulos teria causado uma insegurança jurídica para o clube, ao passo que processos foram abertos contra a associação.
Em 2023, a gestão de Jane aumentou o limite de 400 para 500 sócios em uma assembleia extraordinária, além da manutenção de 110 “ações remidas” (isentas de pagamento pelo tempo de inscrição). Na mesma reunião, Jane afirma que ficou decidido aumentar o mandato de 2 para 3 anos, bem como permitir a possibilidade de reeleição para cargos de presidência.
Segundo a diretora, a gestão tomou todos os cuidados para garantir a legalidade e a transparência do processo, buscando evitar os erros da assembleia de 2017, como a convocação por meio de edital público e registro dos atos. Contudo, a oposição busca a nulidade da assembleia devido um erro técnico em mencionar os termos “ordinário e extraordinário” no mesmo documento.
Desvio de emenda
Em contrapartida, Santana afirma que ação judicial é uma forma de retaliação política movida por uma das figuras líderes da oposição, o advogado Cláudio Albuquerque, após Jane ter recusado ser parte de um suposto esquema de desvio de emenda parlamentar. Em um vídeo obtido pela equipe de redação, o advogado tenta combinar o esquema por represar 50% de emenda parlamentar de R$ 100 mil ao Clube, reconhecido como instituição de utilidade pública pela Prefeitura de Goiânia, em 2024.
Segundo a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025, nenhuma emenda foi enviada para o CSF.
À reportagem, Cláudio diz que não irá se posicionar e afirmou que o caso é apreciado na Justiça. “Eu não tenho nada a declarar, isso aí está tudo sendo na Justiça.”
Disputa de títulos
Outra ação que mira o CSF, acessada pelo Jornal Opção, diz respeito a reintegração de posse do título de Rosana Portella. Segundo o Clube, o título foi suspenso após a nova administração ter encontrado possíveis incoerências em um processo de cessão de direitos entre Rosane e a proprietária original do título, Mara das Neves Castro, que nega ter vendido a ação.
Segundo a equipe jurídica, no processo, o clube alegou que os recibos e assinaturas apresentados tinham sinais de irregularidades, como o carimbo e a datilografia distinta da época. Outro ponto apresentado foi a assinatura do presidente da associação divergentes com o líder da época, com o nome de Aurélio Consorte, que só foi eleito ao cargo em 2010.
Desorganização administrativa
Outro ponto apresentado pela atual gestão foi a falta de informações acerca da condição financeira do Clube nas administrações anteriores. Logo após a posse, Jane afirma que uma das primeiras ações foi chamar a contabilidade para avaliar a situação financeira. Nos documentos foi encontrado que o caixa do clube não refletia a realidade declarada pela gestão anterior de Aurélio.
Além da diferença em dinheiro, os diretores afirmam que supostos empréstimos que o clube teria para receber simplesmente não existiam, não havendo livros ou documentos que os comprovassem. Além disso, descobriram que o clube acumulava dívida de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) herdadas por falta de pagamento pela diretoria anterior.
A presidente optou por parcelar a dívida de IPTU para poder investir na recuperação da infraestrutura do clube. Atualmente, o pagamento do IPTU comprometem 17% da receita do clube. A decisão, com isso, foi entre “recuperar ou perder o clube.”
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