Alfabetização se torna mais complexa na Era Digital

14 novembro 2023 às 11h46

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No dia 14 de novembro no Brasil é celebrado o Dia Nacional da Alfabetização, dia cada vez mais desafiado pela Era Digital. Nos tempos atuais, é inegável que a tecnologia desempenha um papel fundamental na vida cotidiana, permeando diversos aspectos da sociedade. No entanto, quando se trata do uso excessivo de celulares por crianças e os problemas relacionados à alfabetização, surge a necessidade de refletir sobre as implicações desse comportamento no processo de aprendizado.
Apenas 43% dos estudantes brasileiros apresentam níveis adequados de alfabetização na idade certa, por volta dos sete, oito anos, ou seja, no final do segundo ano do Ensino Fundamental. Os números são pesquisa Alfabetiza Brasil, do Ministério da Educação (MEC), apresentada em maio de 2023. O número piorou em relação a 2019, ano de início da pandemia, quando 60,3% das crianças estavam alfabetizadas na faixa etária ideal.
Em primeiro lugar, é importante compreender que os celulares, quando utilizados de maneira equilibrada, podem oferecer benefícios educacionais significativos. Aplicativos e jogos educativos podem estimular o interesse das crianças pelo aprendizado, proporcionando uma abordagem lúdica e interativa para o desenvolvimento das habilidades linguísticas. Contudo, a linha tênue entre o uso educativo e o excesso de tempo diante das telas muitas vezes é ultrapassada.
O uso exacerbado de celulares por crianças pode acarretar uma série de consequências negativas no processo de alfabetização. Uma das principais preocupações é o impacto na atenção e concentração das crianças. A constante exposição a telas luminosas pode levar à dispersão, prejudicando a capacidade de se concentrar em tarefas mais analíticas, como a leitura e a escrita.
Uma pesquisa publicada pela Universidades de Calgary (Canadá) apontou que a quantidade de tempo que as crianças passam em frente às telas todos os dias disparou mais de 50% de 2020 a 2022, o equivalente a uma hora e vinte minutos a mais de consumo diário. Os resultados mostraram que o tempo de tela saltou de cerca de 162 minutos por dia antes da pandemia para 246 minutos durante e após a disseminação da covid-19.
Além disso, a linguagem virtual, muitas vezes caracterizada por abreviações e emojis, pode interferir no desenvolvimento da linguagem escrita formal. Crianças que passam longas horas nas redes sociais ou trocando mensagens instantâneas podem absorver padrões de comunicação que se afastam das normas linguísticas, dificultando a transição para a linguagem escrita convencional exigida na escola.
Outro ponto relevante a ser considerado é o impacto do uso excessivo de celulares no tempo destinado a atividades mais tradicionais, como a leitura de livros impressos. O contato direto com o papel é essencial para a formação de uma base sólida na alfabetização. O simples ato de folhear um livro, visualizar as palavras no contexto da página e experimentar a narrativa de forma linear são experiências que contribuem para o desenvolvimento de habilidades essenciais na formação de leitores proficientes.
O tempo de tela tem substituído os livros, que normalmente envolvem a criança e tem um papel importante na descoberta das letras. O acesso excessivo às telas prejudica também a qualidade do sono, acostuma a criança a querer sempre atividades que não exijam dela muito esforço para pensar; além das consequências físicas como a baixa motricidade, com a falta de interesse em escrever e realizar atividades que vão auxiliar no desenvolvimento físico.
O que fazer?
Diante desse cenário, é imperativo que pais, educadores e a sociedade como um todo estejam atentos ao equilíbrio necessário entre o acesso à tecnologia e a preservação de práticas tradicionais que fundamentam a alfabetização. Estratégias que promovam a conscientização sobre o tempo de tela, a seleção criteriosa de conteúdo e a promoção de atividades offline são essenciais para mitigar os efeitos negativos do uso excessivo de celulares por crianças.
Em suma, o desafio contemporâneo da alfabetização na era digital exige uma abordagem cuidadosa para integrar as vantagens da tecnologia sem comprometer as bases essenciais do aprendizado. Ao reconhecer os riscos associados ao uso excessivo de celulares por crianças, podemos criar ambientes educacionais que fomentem o desenvolvimento equilibrado das habilidades linguísticas, garantindo assim um futuro mais promissor para as gerações futuras.
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