Rafaela Paula Marciano *
Especial para o Jornal Opção

O nascimento de um bebê chamado “de risco”, que necessita de internação, muda radicalmente a rotina de vida dos pais.

Eles precisarão de ajuda para estabelecer um bom relacionamento com o bebê e para desenvolver o que se chama de parentalidade – as atividades desempenhadas pelos adultos de referência da criança para assegurar sua sobrevivência e seu desenvolvimento pleno.

O nascimento de risco coloca toda maternidade/paternidade em suspenso. É um corte brusco no processo de construção do bebê idealizado, que vai se confrontar com o bebê real da incubadora.

Além de ter de lidar com esse luto simbólico diante da presentificação do bebê real, os pais precisam trabalhar com a iminência da morte e a possibilidade de um luto concreto.

Tendo em vista esse contexto, realizamos um registro fotográfico dos bebês que estão na unidade neonatal do Hospital e Maternidade Dona Iris como atividade do Dia dos Pais.

A atividade teve como objetivo promover a humanização da assistência pelo registro fotográfico, construindo um olhar crítico sobre o cotidiano dos bebês internados, no intuito de suavizar o eventual trauma ocasionado pela hospitalização da criança.

A ação também buscou mobilizar, pela leitura de imagens fotográficas, a produção de diferentes narrativas que servem para contribuir e facilitar o processo de humanização na unidade, tornando foco central a família e o paciente e assim possibilitando, pelas fotografias, uma outra forma de ver a recuperação do bebê na unidade.

A iniciativa foi idealizada pelas psicólogas Rafaela Paula Marciano e Nayara Ruben Calaça Di Menezes, com o apoio da coordenação multiprofissional do Dona Iris. O Serviço de Psicologia realizou a ação em parceria com a coordenadora do Centro de Estudos, Patrícia Evangelista.

Os bebês ganharam fantasias de super-heróis, fabricadas pela própria equipe e com o apoio do supervisor de almoxarifado, Lécio Duarte. A escolha dos figurinos tem valor simbólico, para mostrar a força dos bebês que, desde o nascimento, lutam pela vida.

Assim Flash e o Homem Aranha vestem os “bebês velozes”, que nasceram cedo demais.

Bebês pequenos, frágeis, mas que possuem uma força fenomenal, como a Mulher Maravilha e o Superman.

Bebês que passam por procedimentos invasivos, cirurgias, internações prolongadas e que são resistentes, como o Capitão América.

As fotos foram tiradas pela fotógrafa e doula Michelle Oliveira que conseguiu capturar, por suas lentes, o cotidiano e a força desses bebês. Guilherme Almeida, supervisor de custos da instituição, também contribuiu com as fotos.

As imagens foram entregues aos pais em comemoração a seu dia. Já as mães que cuidam sozinhas de seus filhos receberam a fotografia para simbolizar também sua força (e sobrecarga), por não ter ao lado quem deveria estar exercendo seu papel.

* Rafaela Paula Marciano é psicóloga e doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás (UFG).