Wellington Paranhos: “Nenhuma força policial em Goiás passa por tanto preparo quanto a GCM”

04 junho 2023 às 00h00

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Italo Wolff e Euler de França Belém
O comandante Wellington Paranhos Ribeiro preside a Agência da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de Goiânia – uma instituição com 1200 agentes que receberá 700 novos quadros em breve. Além do concurso para suprir a abertura de vagas, a GCM passa por um momento de franca expansão, com dez novas bases operacionais (uma já licitada) e aumento de suas atribuições. Desde março de 2023, após convênio com o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran), agentes da GCM – além de realizar o policiamento – também fiscalizam o trânsito.
O prestígio que a instituição vem recebendo, explica o comandante nesta entrevista ao Jornal Opção, tem relação com o apoio do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) e do presidente da Câmara Municipal, Romário Policarpo (Patriota) – este, um agente da GCM. Além da valorização da carreira, Executivo e Legislativo municipais têm movido aplausos, realizado sessões solenes em louvor da corporação e promovido ampliações. Segundo Wellington Paranhos, o resultado foi uma expressiva queda na criminalidade e aumento da Segurança Pública na capital.
Euler de França Belém – Há mulheres na Agência da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia (GCM)? Elas têm se interessado por fazer parte da corporação?
Sim. Hoje elas são 10% do nosso efetivo. Do total de 1.200 servidores, 127 são mulheres. Teremos um novo concurso para suprir pelo menos 700 vagas, que deve ser anunciado no segundo semestre de 2023, e a expectativa é que o quantitativo de mulheres chegue a 20%.
A legislação do Plano de Cargos e Salários da Instituição prevê que os candidatos à GCM tenham pelo menos 18 e no máximo 35 anos, habilitação A e B e ensino superior completo (podendo ser cursos sequenciais). O concurso é composto por cinco etapas: prova teórica, escrita; vida pregressa; avaliação médica; Teste de Aptidão Física (TAF); e por último o curso de formação de nossa academia, que é eliminatório e classificatório.
Euler de França Belém – Goiânia tem um déficit de agentes? Precisamos de mais integrantes para fazer a segurança da cidade?
Não se trata exatamente de um déficit. A legislação traz uma proporção de agentes em função da população, e o número de guardas municipais em Goiânia hoje está abaixo deste coeficiente. Mas atingir esse quantitativo não é essencial para que haja segurança. É um déficit que existe em todas as forças: Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Penal. Conseguimos suprir essa suposta deficiência com trabalho conjunto, integrado e inteligente, de forma que a segurança pública é hoje bastante eficaz.
Italo Wolff – Como é o curso de treinamento? Depois da formação do Guarda Civil Metropolitano, há um treinamento recorrente?
Todos os agentes de nossa instituição foram formados dentro da Academia da Polícia Militar. Às vezes ouvimos falar que “a Guarda não tem preparo”; isso significa dizer que a Polícia Militar também não teve preparo, pois nós fomos treinados por eles. As primeiras cinco turmas da GCM fizeram o curso de armamento e tiro dentro da Academia da Polícia Civil. Ou seja, passamos pelas forças de segurança mais renomadas de nosso Estado.
Isso aconteceu em uma época quando nossa instituição ainda não tinha sua própria academia. Dois de nossos agentes se licenciaram em 2012 como instrutores de tiro através da Secretaria de Segurança Pública, se credenciaram pela Polícia Federal, e construíram nossa Academia. Hoje, nós temos 26 instrutores de tiro, sendo que oito são credenciados pela Polícia Federal. Somos os maiores formadores do estado na área.
Na formação continuada, nenhuma outra força policial em Goiás precisa de tantos disparos ou tantas horas de curso quanto a nossa. São 600 disparos e oitenta horas anuais após a formação para receber o certificado e manter seu porte de arma. Somos a única força policial que usa seus próprios recursos para obrigar o agente a se qualificar.

Acontecem erros? Dentro de uma instituição de 1.200 agentes, é claro que sim. Estamos armados desde 2013, então são dez anos de experiência e exposição. Mas se você pegar o número de incidentes com armas de fogo (são sete ou oito) e ponderar pelo tempo e efetivo, verá que os erros são irrisórios. Praticamente inexistem os casos de equívocos, e eles são resolvidos internamente; sem a necessidade de envolver outros órgãos.
Euler de França Belém – A GCM tem psicólogos?
Todas as polícias têm a obrigação legal de dispor de psicólogos. Nós temos profissionais credenciados que nos atendem regularmente. Os agentes que se envolvem em incidentes – seja no período de serviço ou em folga – têm de passar por sessões especiais. Os agentes também são atendidos pela equipe de saúde mental e assistência social para qualquer questão, independente se a queixa tem relação com a atividade ou não. Se a questão tem a ver com alcoolismo, por exemplo, a estrutura da instituição também está apta a amparar esse agente.
Euler de França Belém – Nos últimos anos, a segurança melhorou muito em Goiânia e Goiás. A GCM esteve envolvida nesse projeto para a Segurança Pública?
O governador Ronaldo Caiado (UB), nos eventos em que participa junto ao prefeito Rogério Cruz (Republicanos) e em que cita a questão da Segurança Pública, sempre faz referência à nossa instituição como fator decisivo em Goiânia. O secretário de Segurança Pública, coronel Renato Brum, também se refere à GCM como parte da solução para a diminuição dos crimes.
Há um contexto geral, de ações conjuntas em parceria com a Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Penal, para aumentar a segurança pública. O que cremos que há de específico na GCM é o trabalho de aproximação com a sociedade. Antes de eu estar fardado, sou um cidadão, e a proximidade com a população faz com que a sensação de segurança seja comunicada.
Para além da sensação de segurança, temos acesso aos dados estatísticos do Observatório da Secretaria de Segurança Pública que refletem os resultados do atendimento. De janeiro de 2018 a março de 2023, foram 1.118 armas de fogo tiradas de circulação pela GCM. Foram apreendidos 122 foragidos, recapturados e entregues à autoridade policial. Foram 499 veículos recuperados pela instituição.
Somente este ano, atendemos mais de 44.268 ocorrências. Deste total, 67% foram atendimentos à vida. Grande parte desses chamados foram realizados pelo número de telefone 153 – este é o número emergencial da GCM, como a PM tem o 190 e a SAMU o 192, nós temos o 153. É gratuito e 24 horas.
Euler de França Belém – Como é a valorização da Guarda?
O salário inicial é R$ 3.600 e este valor é elevado a cada três anos. Como a Polícia Militar tem soldado, cabo, sargento, tenente, major, tenente coronel e coronel, nós temos GCM-1, GCM-2, GCM-3… até o GCM-9, que é o equivalente a inspetor e último grau hierárquico dentro da carreira.
Hoje, praticamente todos nossos agentes estão no mesmo nível, porque entramos há 18 anos na corporação e estamos sem concursos desde então. Eu brinco que fizemos a maior idade. Os agentes homens podem se aposentar com 30 anos de serviços prestados, e as mulheres com 25. Destes, é obrigatório que 20 anos para os homens e 15 para as mulheres tenham sido empenhados dentro da instituição, o restante se pode averbar.

Italo Wolff – Quais programas específicos a GCM de Goiânia tem conduzido?
Vou fazer um esboço geral da instituição. Há o comando operacional, que é responsável por toda a logística empregada em Goiânia. Essa diretoria é dividida em sete unidades regionais, cada uma com seu comandante regional. Além disso, há a guarda ambiental; o grupamento de K-9, que é o nosso canil; o grupamento Mulher Mais Segura, que faz o trabalho de acolhimento para vítimas de violência doméstica; a diretoria de política sobre drogas, responsável pela fiscalização das casas de apoio aos dependentes químicos.
Temos o programa do Guarda Mirim, que atende 480 crianças no contra turno escolar, na faixa de sete a quatorze anos de idade. É um projeto muito anterior; eu participei da guarda mirim quando era jovem. Na minha época, era realizado no Bosque dos Buritis. Hoje, é desempenhado pela Secretaria de Desenvolvimento Social e as crianças são atendidas pelos nossos instrutores e coordenadores,.com um caráter de polícia comunitária.
Temos o programa Anjos da Guarda. Neste programa, seis agentes por vez atendem as crianças dentro das unidades de ensino do município – um devidamente fardado e outros cinco em trajes lúdicos. No programa, abordam questões como sexualidade, drogadição, racismo; tudo que pode ser problemático na comunidade. O objetivo é ajudar os jovens a terem uma formação melhor, bem como evitar ataques às escolas como os que temos visto em outras cidades do país.
Euler de França Belém – A GCM pode desempenhar um papel no trânsito?
Exatamente. O primeiro concurso para fiscais de trânsito de Goiânia aconteceu em 1999. Anteriormente a isso, quem fazia a fiscalização de trânsito era a Guarda Civil Metropolitana, que na época não tinha esse nome – era a Guarda Municipal somente. A atribuição voltou a ser compartilhada em legislação estadual de 2022, mas não é nova. A lei 13.022 de 2014 é clara ao afirmar que os guardas civis podem atuar no trânsito mediante convênio com o órgão estadual de trânsito.
Euler de França Belém – A GCM tem participado dessa proposta de cidade inteligente?
Sim. Conceitos como a implementação da cidade inteligente e muralha digital estão dentro do plano de governo do município. Nossa central operacional é capaz de acompanhar por câmeras diversas partes estratégicas de Goiânia. Diversas ocorrências nascem do policiamento remoto e do mapeamento da cidade. Trabalhamos junto à Secretaria Municipal de Inovação, Ciência e Tecnologia para policiar todas as entradas da cidade – sejam elas rodovias movimentadas ou trilhas não-pavimentadas.
Conseguimos buscar por veículos e passantes com características específicas. Se soubermos que um suspeito usava camiseta azul, podemos filtrar as buscas por esta característica. Podemos ainda cruzar dados com o Judiciário caso o suspeito esteja em regime semiaberto, usando uma tornozeleira eletrônica que indica sua localização.
Italo Wolff – Como funciona a ouvidoria e corregedoria da GCM?
A legislação federal exige que toda guarda civil tenha uma ouvidoria e uma corregedoria. No ano passado tivemos de fazer demissões de alguns agentes que passaram por processos administrativos apurados e corregecionados pelos nossos órgãos. Para evitar esses episódios, temos diversos procedimentos que, infelizmente, nem sempre são cumpridos. Seguimos o Procedimento Operacional Padrão (Pop), recebemos doutrina de direitos humanos durante a formação, seguimos legislações pertinentes a abordagem – mas, às vezes, temos de recorrer à ouvidoria e corregedoria.

Italo Wolff – A GCM de Goiânia é uma das três maiores em produtividade do país. Ao que o senhor atribui esse fato?
A quatro fatores: poder Executivo, Legislativo, ao fortalecimento dos sindicatos e aos nossos agentes. Fora de Goiânia, somos considerados referência pelas demais guardas metropolitanas do país. Chegamos até aqui com muito suor e sangue de nossos colegas. Falo literalmente; estamos calejados.
Cito aqui o sindicato, porque temos uma associação forte, o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Goiânia (Sindigoiânia). Seu presidente também é um guarda civil, Ronaldo Gonzaga.
Atribuo o sucesso também ao Legislativo, na figura de nosso representante Romário Policarpo (Patriota), vereador presidente da Câmara Municipal, que é um orgulho para nossa instituição. Foi o único vereador a ser três vezes presidente daquela casa e vice-prefeito pelo segundo pleito consecutivo.
Também acredito que o desempenho da GCM se deve ao prefeito Rogério Cruz, que em sua gestão buscou investir de fato na nossa instituição. Quando assumiu, tínhamos 45 viaturas locadas em Goiânia e hoje nós temos 115. O prefeito também executou a reestruturação do plano de cargos e salários e aprovou novo concurso.
Italo Wolff – Quais as perspectivas para o futuro da GCM?
Pela legislação, o próximo concurso deve oferecer pelo menos 700 vagas, o que irá oxigenar a instituição – é algo necessário. Nossos próximos desafios são ampliar a estrutura física. Precisamos de novas unidades de comando – bases operacionais. Já apresentamos um projeto ao prefeito de construção de dez unidades na cidade, que estão em processo licitatório.
Já apresentamos o projeto de engenharia e arquitetônico para a nossa sede administrativa e conquistamos a doação de uma área de quase sete mil metros quadrados próxima ao Paço Municipal. Lá, nós temos alojamentos, academia, piscina, estande de tiro, quadras de areia – enfim, toda a estrutura para que os nossos agentes possam entrar em seu horário de trabalho e fazer sua parte motivados para o patrulhamento nas ruas.
Agora há o trâmite para definir a execução. Com o novo concurso público, necessitamos consequentemente também de fardamento, estrutura para os comandos regionais, para o comando da instituição. É algo que estamos buscando em diálogo com o poder público.
Euler de França Belém – Como avalia o mandato de Romário Policarpo?
O vereador é um orgulho para a Guarda Civil Metropolitana. Mesmo jovem, com 35 anos, é um de nossos agentes mais destacados. Já entrou para a História e, no meu ver, faz um papel brilhante. Tem sensatez, capacidade de articulação, tudo isso sendo muito jovem e tendo longa estrada pela frente. O considero um político promissor.
Uma pergunta para o ex-secretário de Segurança Pública

Euler de França Belém – Qual a importância da GCM?
Irapuã Costa Júnior – Não só pra Goiânia; para o Brasil inteiro as Guardas Municipais têm crescido em importância. Temos insuficiência de forças da Segurança Pública e um aumento nos integrantes do crime organizado. Apenas o PCC possui ao menos cem mil integrantes “batizados” e integrados, e essas organizações têm se expandido para além das fronteiras do país. Já estão presentes no Paraguai, Portugal, Espanha e Itália. A GCM tem preparo e proximidade com a população para identificar e combater a atuação de grupos como estes dentro das cidades.