Euler de França Belém, Italo Wolff, Nielton Soares dos Santos e Bárbara Noleto

O Jornal Opção traz nesta edição uma entrevista exclusiva com o deputado federal Professor Alcides, do PL, eleito com quase 100 mil votos, e com uma trajetória de mais de 30 anos na vida pública.

Ele é fundador e presidente do Centro Universitário Alfredo Nasser (Unifan), uma das maiores instituições de ensino superior do estado. Em seu mandato na Câmara dos Deputados, Professor Alcides se destacou pela atuação em defesa da educação, da saúde e do desenvolvimento regional.

Nesta entrevista, o deputado federal fala sobre os principais projetos e desafios de seu mandato, sua avaliação do cenário político nacional e estadual, suas propostas para as próximas eleições e sua opinião sobre temas relevantes para a sociedade, como a reforma tributária e o meio ambiente. Comenta ainda o projeto de se tornar prefeito de Aparecida de Goiânia em 2024.

Euler de França Belém – Professor, porque o senhor quer ser prefeito de Aparecida de Goiânia?

Olha, ser prefeito de Aparecida é um sonho antigo, eu estava até me desestimulando desse sonho. Porque assim que terminou a eleição para deputado federal, meu principal projeto era viabilizar a minha eleição para o senado. Entretanto, nós tivemos um contratempo durante esse período. O atual prefeito se perdeu e deixou a cidade abandonada; Aparecida está esquecida. Vilmar Mariano (MDB) deixou de fazer gestão e faz só política. Por isso nós tomamos a decisão de apontar meu nome como pré-candidato a prefeito da cidade, com o objetivo de colocá-la nos eixos. Fazer com que a cidade volte a crescer como foi no tempo de Maguito Vilela.

Italo Wolff – E para esse projeto em 2024, quais partidos já estão com o senhor? Como está a articulação?

A articulação de partidos é muito complexa. Hoje nós temos o PL, o Partido Liberal, que está 100% conosco, é o meu partido; nós já temos um compromisso do Avante, já estamos montando as chapas. Inclusive o presidente municipal é nosso funcionário. E estamos em conversação com outros partidos, mas definição 100% mesmo, somente esses dois.

Nielton Soares dos Santos – Em 2016 a disputa que o senhor fez foi pelo PSDB. Existe uma chance de o senhor ter uma aliança com o partido, que é agora presidido nacionalmente pelo Marconi Perillo?

Sim, existe essa possibilidade, uma vez que eu e o Marconi temos uma relação muito boa. E acredito que, caso eles não lancem candidato, dizem que o pré-candidato seria o André, mas existe grande possibilidade de estarmos com o PSDB. E como ele é uma federação, PSDB e Cidadania, logicamente, os dois.

Euler de França Belém – André Fortaleza estava muito próximo do senhor. Víamos muitas fotos de vocês conversando. Então o que aconteceu? Qual foi o ruído? O que aconteceu que vocês romperam?

Não, não tem rompimento, nós continuamos conversando. Ele hoje está no MDB, e ele sempre foi muito ligado ao Gustavo. Então essa posição dele dizer que o líder dele é o Gustavo, eu vejo como natural. Mas eu não vejo possibilidade, caso ele não seja candidato, de ele andar com o atual candidato do MDB.

Italo Wolff –  Como está a relação com Gustavo Mendanha (MDB)?

A relação com o Gustavo é muito boa. Nós sabemos que o Gustavo é o líder do Vilmar Mariano também, e que logicamente a possibilidade de ele estar em nossa trincheira, junto conosco, é muito próxima de zero. Eu, assim considero, porque vejo que ele tem um viés político diferente do nosso. Nós estivemos juntos em 2020 e 2022 também. Mas nós não somos do mesmo viés político. A minha filosofia política é uma e a dele é outra. E a gente respeita, né? Eu sempre tratei com muita destreza e precisão a oposição de cada cidadão.

Euler de França Belém – André Fortaleza apoiou Marconi (PSDB) para senador, não é?

Sim, eles estão fazendo um trabalho juntos. Existe a possibilidade de André Fortaleza ser o condutor do PSDB em 2024 na cidade de Aparecida.

Euler de França Belém – Procede que o senhor deu uma nota abaixo de quatro para a gestão do prefeito de Aparecida? Não tem alguma área que está melhor?

Procede e eu acredito que ele não merece nem isso. A gestão tá muito ruim, não tem. Nós tínhamos um viés na educação, estávamos cuidando à distância. Era um secretário nosso, a gente estava cuidando. Mas agora ele “soltou a peia” como diz o ditado popular. E na saúde a gente manda recurso, e falta tudo nas UBS. Nós não temos medicamentos básicos, não temos gaze, não temos medicamentos básicos. E o dinheiro não falta, agora mesmo, no final de novembro, chegaram dois milhões enviados pelo deputado federal Professor Alcides. No primeiro semestre nós enviamos mais três, em espécie, para o sistema de saúde. Recursos também foram enviados pelo João Campos, pela Sylvie, e outros deputados que tiveram votos de Aparecida e mandaram recurso para lá. E a gente não vê isso, eu não sei o que está acontecendo.

Italo Wolff – O que acontece com esse recurso? É uma questão de má gestão?

Acredito que seja má gestão. Porque 2 milhões de recursos, por exemplo, não é muito dinheiro considerando uma cidade como Aparecida, mas daria pelo menos para você manter aí dois meses ou três meses o custeio das unidades básicas da saúde, das UPAs. E isso não está acontecendo, né? Isso é uma coisa que nos preocupa muito, porque na realidade recursos é algo que não falta em Aparecida, não que justifique que ela esteja da forma que está.

Italo Wolff – E na sua área, a educação, como o senhor avalia a gestão atual da cidade?

Ainda não está ruim, a educação ainda vai indo razoavelmente bem, mas a tendência é piorar. Veja bem, esse ano, o prefeito veio entregar o material escolar em setembro! E o recurso estava lá desde janeiro. O Governo Federal repassa os recursos para a aquisição de material escolar no dia 10 de janeiro de cada ano. Independentemente do que aconteça, de qual é o município, o dinheiro vem através do FNDE para aquisição do material escolar das crianças. Porque nós sabemos que na maioria dos estados, as aulas começam em janeiro, e as outras em fevereiro. Então o dinheiro tem que estar a postos para que esse material seja adquirido. Quer dizer, se ele tivesse distribuído material em março, era compreensível, porque existe a burocracia da licitação. Mas veja bem, você receber o dinheiro em janeiro e fazer a aplicação apenas em setembro? É muito complicado.

Euler de França Belém – Professor, dizem que o Gustavo Mendanha é o eleitor número um de Aparecida. O senhor concorda com essa afirmação? Ele transfere votos? Como o senhor avalia? Ele é realmente um fenômeno político e eleitoral em Aparecida?

Gustavo herdou o Maguito e consequentemente a primeira gestão dele foi boa, seguindo os passos do Maguito. Na segunda ele deixou no meio da estrada, exatamente porque ele não estava preocupado com Aparecida, estava preocupado com Goiás. Ele queria ser candidato a governador e mudou o foco para o Estado, e com isso ele jogou a prefeitura para o segundo plano. E isso fez com que, quando o Vilmar assumisse, a nossa esperança era que ele tivesse condição de fazer uma gestão diferenciada, e não fez. Aí deixou a cidade nessa situação. O Gustavo realmente, hoje, é o eleitor número um de Aparecida. Todo pré-candidato gostaria de ter o seu apoio, mas ele não consegue transferir mais do que 30% dos votos. Nós temos pesquisas que mostram isso.

Nielton Soares dos Santos – Até algum tempo atrás o senhor estava na prefeitura, certo? O prefeito não ouvia os conselhos do senhor para melhorar a administração? Como foi isso?

Assim que o prefeito tomou posse, nós tentamos fazer uma gestão colegiada, visando dois anos e meio de gestão que ele tinha e fazer com que as coisas andassem bem, para que ele pudesse ter sucesso numa eleição. Infelizmente Vilmar Mariano não ouvia, não era a mim, era ninguém. E isso fez com que ele fosse se perdendo aos poucos, né? E hoje ele está totalmente perdido.

Nielton Soares dos Santos – Foi por isso que houve esse recuo? Essa saída de vários grupos que estavam dentro da prefeitura?

Sim, nós nos afastamos do prefeito por volta de abril. E coloquei os nossos cargos à disposição dele, quando ele quisesse podia dispensar, né? Porque a gente tinha tomado uma decisão, que o nosso caminho ia ser outro, diferente do caminho dele, que era a reeleição. Nós avisamos e a partir daí nos afastamos, isso não nos impediu de continuar ajudando, mandamos os recursos na mesma proporção. Só para você ter uma ideia, esse ano a prefeitura já recebeu de emenda do deputado federal Professor Alcides R$ 16 milhões. Já estão nos cofres da prefeitura, tudo via emendas pix (RP 6). Fora as outras emendas, que são obras que estão sendo feitas na cidade. Então nós continuamos a fazer o mesmo trabalho porque o meu compromisso não era com o prefeito, e sim com a população. Meu compromisso é com a população. Eu tive um terço dos votos na cidade de Aparecida, então a minha responsabilidade é continuar cuidando da cidade para retribuir aquilo que a população fez renovando o meu mandato de deputado federal.

Euler de França Belém – O senhor falou que o Gustavo não transfere 30% dos votos. No momento está transferindo bem menos que isso, porque nas pesquisas mostra o senhor bem na frente, com ele bem atrás. Isso significa que o Gustavo ainda não assumiu a candidatura do Vilmar Mariano? Parece que tem uma dúvida ainda.

Pode ser que seja isso, mas eu também tenho pesquisas que a gente faz para uso interno. E eu acredito que ele não está conseguindo, a gente pergunta ao eleitor que diz que votaria no Gustavo se ele votaria no candidato do Gustavo, essa afirmativa não passa de 30%. E quando informa que esse candidato seria o atual prefeito, essa prerrogativa também não passa de 30%. Então é por isso que nós estamos afirmando que hoje ele não consegue transferir 30% dos votos.

Euler de França Belém – Professor, procede que num determinado momento o senhor articulou com André Rosa e Tatá Teixeira?

Houve essa aproximação de ambos me procurarem, se eu aceitaria que eles viessem para o meu grupo trabalhar. Eu falei que seriam bem-vindos, porque são dois homens inteligentes politicamente que somariam. Com certeza somariam.

Euler de França Belém – E porque não deu certo?

Pela proibição do chefe maior deles, o Gustavo Mendanha.

Euler de França Belém – Mas chegaram a articular?

Chegamos a falar, tivemos alguns encontros.

Euler de França Belém – Eu tenho uma pergunta, que eu acho que o senhor pode resolver, até como professor. Quem foi melhor prefeito: Maguito Vilela ou Gustavo Mendanha?

Maguito Vilela, infinitamente, melhor prefeito que Aparecida já teve em todos os tempos e em toda a história.

“Nossa mão de obra não tem qualidade. Precisamos de formação para desenvolver a indústria em Aparecida de Goiânia e elevar a renda das famílias”, diz Professor Alcides

Euler de França Belém – Fala-se na possibilidade de retirar o Vilmar Mariano e lançar o Leandro Vilela. O que o senhor acha disso?

O Leandro é um mero desconhecido, às vezes eles vão estar apostando por causa do nome. Mas se você analisar quem era Maguito Vilela, o que ele fez. Ele foi um ótimo governador, foi senador do Estado, várias vezes deputado, vice-presidente do Banco do Brasil. Ele tinha um histórico muito positivo. Isso é sobre política, o Leandro não, ele é um mero desconhecido para o povo aparecidense. Creio que, caso aconteça a substituição do Vilmar pelo Leandro, causará muito prejuízo a ele. O Leandro terá menos voto que o Vilmar.

Italo Wolff – Se o senhor for eleito, qual a sua prioridade? O que vai fazer de diferente?

Em Aparecida nós temos muita coisa para fazer diferente. Hoje nós temos um polo industrial muito desenvolvido, mas nós não temos mão de obra qualificada. Nós precisamos fazer uma parceria público-privada com os empresários para que nós possamos preparar a mão de obra para o povo aparecidense ocupar os espaços oferecido pelas indústrias de Aparecida. Os nossos empresários, hoje, buscam suprir suas necessidades em Goiânia, Anápolis, ou até outros estados. E nós temos muita gente em Aparecida, mas infelizmente, a nossa mão de obra não tem qualidade. E por isso nós precisamos qualificar urgentemente, para podermos fazer uma somatória de coisas positivas. Fazer com que as pessoas de Aparecida assumam os espaços que são ocupados por outros em Aparecida, essa é uma meta. A outra é fazer uma injeção de ânimo na educação. Porque a nossa educação não é ruim, mas também não é boa. E nós precisamos aparelhar, qualificar, melhorar, para ter educação de qualidade. Porque, como eu sou educador, eu sempre fui extremamente exigente, sempre fui. Como professor eu trabalhei 45 anos dentro da sala de aula, então a gente conhece. E hoje temos muitas falhas, que você pode corrigir, mas essa correção é através de um plano. Temos que sentar com os nossos colegas professores para discutir e colher a opinião de todos para fazermos um plano de quatro anos para tentar melhorar a nossa educação, pelo menos uns 50% a mais.

Bárbara Noleto – E o senhor pode apontar exemplos dessa falha na educação que você já detectou?

Nossas falhas na educação, não só de Aparecida, mas também em Goiás e no Brasil, é que hoje nós temos uma grande parte das nossas crianças que vão para a escola, mas chegam aos oito, nove, dez anos sem saber ler e escrever corretamente. Isso é a principal falha e nós vamos investir muito no alicerce, que é a educação infantil, no ciclo quatro, cinco e seis. Aonde nós devemos fazer com que os nossos filhos, as nossas crianças, os nossos netos aprendam a ler e escrever. Assim, quando chegarem na série inicial, no primeiro ano, já saibam ler de fato, mesmo que seja juntando sílabas, mas já saiba ler. Porque a maioria chega sem saber ler, esse é um dos grandes problemas, então nós temos que investir tudo no alicerce. E hoje nós temos um grande problema em Aparecida, nós temos mais de oito mil crianças que não estão no CMEI por falta de vaga. E isso é devido à má gestão. Porque, como deputado, eu trouxe seis CMEIs, não foi construído nenhum. O saudoso Maguito Vilela deixou 17 autorizados, faltando apenas a licitação, também não foi construído nenhum. Recuperamos esse projeto, devido a passagem do tempo o recurso que foi destinado à época não era suficiente, então usamos o recurso desses 17 e transformamos em oito. E desses oito, que também estão à disposição do atual prefeito, não foi feita a licitação de nenhum. Isso nos deixa tristes, porque nós temos de cuidar da educação de qualidade com muita destreza. Principalmente na fase inicial, que é o que nós chamamos de Jardim de Infância.

Bárbara Noleto – Sobre sua atuação como deputado federal, tem mais projetos voltados para Aparecida que você poderia citar?

Eu posso citar algumas coisas importantes. Nós trouxemos 36 milhões para o HMAP [Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia]. Foi uma herança deixada por Maguito, mas que não tinha os equipamentos. No meu primeiro ano de mandato eu trouxe 36 milhões para equipar o HMAP, então todo o equipamento do HMAP foi trazido pelo deputado federal Professor Alcides. Liberando 23 milhões em emendas, do ex-senador na época, Wilder Morais, e mais 13 milhões que trouxemos para somar os 36 milhões. Nós temos a Chácara São Pedro, que era um investimento começado no segundo governo do Lula em 2010 e abandonado na época. Em 2019 nós retomamos as obras, pagamos uma dívida de 30 milhões e investimos mais 32 milhões para concluir a obra. Foi 100% concluída, está lá, sendo habitada por 900 famílias diferentes. Essas são as duas principais obras. Além disso, nós trouxemos 28 milhões para reformar todas as escolas municipais. Fato esse que o secretário Divino Eterno concluiu boa parte, mais ou menos 80% da reforma das escolas. O resto ficou lá para ser concluído e eu não sei se está sendo.

Euler de França Belém – E meio ambiente? Eu não noto muito ninguém com essa preocupação voltada pro meio ambiente.

Nós temos essa preocupação, trouxemos sete milhões para recuperar uma ponte que caiu no Jardim Maria Inês, na divisa com a Vila São Tomás. Nós conseguimos trazer verba e recuperar aquilo. Mais embaixo, no Maria Inês, divisa com Mont Serrat, tivemos uma outra grande erosão e trouxemos quatro milhões para recuperação. Recuperamos também o Córrego Pipa, foi outro trabalho nosso, trouxemos para a recuperação do meio ambiente. Existe essa preocupação, inclusive, eu pedi pro pessoal que está fazendo o meu plano de governo para dar prioridade, para a gente ter um carinho e dedicação exclusiva com o meio ambiente de Aparecida. Porque nós temos muitas situações terríveis lá no município, muita erosão, muita coisa ruim que pode ser consertada. E meio ambiente é uma pasta que tem muitos recursos, basta você fazer bons projetos que você consegue os recursos fora das emendas dos deputados.

Euler de França Belém – Professor, teve uma reportagem no Correio Braziliense com uma especialista, ela dizia que não adianta preocupar só com a Amazônia e deixar o Cerrado ser destruído. Qual foi a posição do senhor sobre essa questão do Cerrado e da Amazônia?

Olha, eu acho que isso é muito jogo de confete. Eles falam que querem preservar a Amazônia, querem fazer isso e aquilo. Mas na realidade, por trás das cortinas, existe um grupo de ONGs e de outras entidades internacionais que são mantidas por essas organizações internacionais. São eles que destroem a Amazônia, eles recebem para mantê-la intacta e fazem tudo de errado que acontece por lá.

Euler de França Belém – Mas isso não é teoria conspiratória, professor?

Não, não é. Infelizmente não é.

Euler de França Belém – Porque o que a gente vê desmatar é para fazer pasto.

Não, mas é muito pouco. Se você fizer essa observação, para plantar e fazer pasto, é muito pouco em relação aquilo que eles fazem com a depredação do meio ambiente lá na Amazônia, principalmente em Roraima. Naquela região a situação é muito calamitosa, é de fazer pena.

Euler de França Belém – Mas lá nessa região não é madeireiro?

É mais os garimpeiros que acabam com tudo isso.

Euler de França Belém – Mas os garimpeiros não são de ONGs. Já está mapeado, eles não são de ONGs, são brasileiros mesmo.

Mas são, são. Elas são mantidas por órgãos internacionais que roubam o nosso ouro, nossos minérios e carregam por lá mesmo.

Euler de França Belém – Especificamente sobre o Cerrado, o senhor tem algum comentário?

É uma grande preocupação que nós temos em relação ao Cerrado. Porque o nosso cerrado precisa realmente ser mais bem tratado e preservado. Coisa que infelizmente não está acontecendo.

Euler de França Belém – O senhor, como deputado, já pensou em fazer um projeto ou um movimento para ajudar na proteção do Cerrado?

Não sou eu que estou fazendo, é o pessoal do Mato Grosso, mas estamos fazendo uma frente parlamentar com o objetivo de ter um controle maior do Cerrado em mãos, eu apenas assinei a frente parlamentar.

Euler de França Belém – Professor, eu conversei com o Marx Menezes e perguntei se ele vai ser vice do senhor. Ele falou que tem muito respeito pelo senhor, mas que por enquanto o pai dele é pré-candidato. Mas que ele tem conversado com o senhor. Corre muito que ele seria o vice do senhor. E o senhor, gostaria de ter ele como vice?

Nós estamos conversando muito. Tanto eu, quanto o Marx, quanto o Ademir, temos uma relação muito boa. Eu participei diretamente do governo do Ademir, na época do segundo mandato. No primeiro mandato eu disputei a eleição com ele, em 96. Tenho respeito muito grande por ele, e a gente tem conversado muito. Ele seria um excelente vice, mas essas conversas vão ser adiadas para fevereiro e março, que é quando os partidos vão se definir para que a gente possa fazer um trabalho uniforme.

“Todo pré-candidato gostaria de ter o seu apoio, mas Mendanha não consegue transferir mais do que 30% dos votos”, diz Professor Alcides | Foto: Leoiran / Jornal Opção

Italo Wolff – Com o crescimento populacional de Aparecida nesses últimos anos, como ficou a especulação imobiliária da cidade? Isso é um problema em Aparecida? Porque aqui em Goiânia a gente tem uma questão grave, né?

Não, lá em Aparecida eu não considero questões graves. Nós temos inclusive uma forma de se fazer o planejamento na prefeitura para que as coisas mudem um pouquinho. Mas lá nós não temos, nós tivemos muitos anos atrás. Atualmente, nessa última gestão, não tivemos tantos problemas imobiliários, não.

Euler de França Belém – E o plano diretor de lá, como o senhor avalia?

Precisa ser melhorado, está aquém da cidade. Nós temos grandes regiões que poderiam estar sendo mais desenvolvidas, só que estão sendo seguradas pelo plano diretor. E a gente pode fazer essa mudança de forma tranquila, conversando com todos os setores da sociedade para fazer aquilo que for melhor para a cidade.

Nielton Soares dos Santos – Está avançando o trabalho de construção de condomínios fechados. O senhor está acompanhando isso? Está acontecendo dentro do plano diretor? Dentro do que a cidade comporta? Fica em cima de córregos? Tem sido respeitadas as leis ambientais? Como é que tá isso?

Pelo menos nos últimos três ou quatro anos, que o Cláudio Everson está por lá, o trabalho está sendo feito de forma bem coerente. A expansão dos condomínios fechados na cidade é uma necessidade porque temos muitos espaços vazios. Bem como também sou a favor da expansão vertical, não só a horizontal, como também a vertical. Nós temos grandes espaços onde poderiam ser feitos grandes espaços urbanos e que não estão sendo feitos justamente por causa do plano diretor.

Euler de França Belém – Professor, há um fetiche no Brasil chamado “cidades inteligentes”, em geral as cidades continuam não inteligentes, mas com o título de cidade inteligente. A cidade de Aparecida é realmente uma cidade inteligente?

Não, não é. Aparecida não é uma cidade inteligente porque as poucas coisas que existem no sentido de mobilidade e inteligência, elas não funcionam. E se não funcionam, a cidade não é inteligente. Ela poderia ser, mas infelizmente, não é.

Euler de França Belém – E o transporte coletivo melhorou? Era uma reclamação grande da população.

Melhorou, mas nós podemos melhorar muito mais. Podemos fazer ações junto à CMTC para que seja uma parceria mais positiva, fazendo com que o nosso transporte urbano melhore. Só esse ano já caíram dois pontos de ônibus em Aparecida, precisam ser melhorados. Uma parceria com o Governo do Estado e a União para que a gente possa ter pontos de ônibus que realmente deem segurança para os passageiros e não que venham a cair sobre os mesmos.

Nielton Soares dos Santos – E como está a aproximação do senhor com o governador Ronaldo Caiado, há alguma?

Meu relacionamento com o governador é bom. Ele sabe que eu não o apoiei, apoiei Gustavo Mendanha. Hoje o Gustavo está também na base do governador. E eu, assim que terminaram as eleições ano passado, eu fiz uma visita a ele e me coloquei à sua disposição. Porque eu sou deputado federal por Goiás e defendo meu Estado. E lá no Governo Federal, em tudo aquilo que ele precisar do meu apoio, ele pode contar. Nós temos uma relação muito boa.

Euler de França Belém – E se ele for candidato a presidente, o senhor poderá apoiá-lo?

Se o Bolsonaro não for candidato, sim. Sem problema nenhum.

Euler de França Belém – Mas o Bolsonaro não pode ser candidato

Ah, até lá eu não sei o que pode acontecer.

Euler de França Belém – Eu não tenho dúvida nenhuma de que ele não será candidato, o senhor tem alguma?

Eu tenho. Ele pode ser candidato.

Euler de França Belém – Por que?

Assim como eles tiraram um cara da cadeia e lançaram candidato.

Euler de França Belém – Mas quem tirou o Lula da cadeia hoje não está ao lado de Bolsonaro.

Ah, sim. Sim, mas isso aí, as águas se movem, não de acordo com a nossa vontade, mas de acordo com as vontades daqueles que lá em cima estão. Então, assim como aconteceu, pode acontecer isso, é preciso aguardar.

Euler de França Belém – E no caso do Flávio Dino? Membros do PL estão liderando um movimento contra a ida dele para o supremo, o senhor também está participando desse movimento?

Não, eu não estou participando do movimento, mas eu não sou favorável à ida dele para o STF.

Euler de França Belém – Porque?

Eu sei que ele é um cara extremamente qualificado e preparado para tal, mas ele não vai trabalhar em cima da constituição. O grande problema do nosso Supremo Tribunal hoje é que eles agem de acordo com a vontade deles, e não com a constituição. E eles são guardiões da constituição, deveriam exercer a função de guardiões e trabalhar em cima dela, o que eles não estão fazendo. Por exemplo, a inelegibilidade de Bolsonaro está fora da constituição. Ele não fez nada para ser inelegível, ou você acha que foi? Ele se reunir com os diplomatas e embaixadores? Isso é motivo para cassar o mandato de alguém e tornar ele inelegível?

“Vivemos a melhor política de segurança pública do Estado de Goiás nos últimos 20 anos”, diz Professor Alcides

Euler de França Belém – Mas assim, agora eu pergunto pro senhor, o senhor acha licito um presidente ficar ameaçando com golpe de estado?

Ele não ameaçou.

Euler de França Belém – Quando, por exemplo, um filho diz que para fechar o Supremo basta um soldado e um cabo, o senhor não acha isso muito grave?

Não. Basta alguém que tenha poder querer. Você dizer que “basta”, não quer dizer que faz.

Italo Wolff – O problema é que ele questionou a confiabilidade das urnas, né?

E elas foram desonestas. As urnas foram desonestas e nós sabemos disso.

Euler de França Belém – Mas não tem prova, professor. O senhor está falando uma opinião.

Tá bom. Então vamos deixar isso de lado, vamos cuidar de outros assuntos que são melhores; para nós isso não interessa.

Euler de França Belém – Sim, mas é porque isso já é uma opinião, certo? Não é um fato, porque temos que diferenciar fatos e opiniões. Isso é uma opinião.

Essa opinião, você sabe que é a opinião de 90% dos brasileiros, né?

Euler de França Belém – Mas não está comprovado, o Bolsonaro precisa ter comprovação.

Não, eu não estou dizendo para você que eu tenho certeza disso. Eu apenas estou comentando.

Nielton Soares dos Santos – Se fala da possibilidade de Caiado ir para o PL. O senhor acredita nisso?

Existe um movimento, porque ele é de direita e o PL é um partido de direita. Eu não vejo nada contra isso. Sou a favor, caso ele venha a se filiar.

Nielton Soares dos Santos – Nesse caso, Caiado apoiaria a sua candidatura em Aparecida?

Lá é um pouco mais complexo, porque eles têm compromisso com  Gustavo Mendanha (MDB) e Daniel Vilela (MDB), que são de uma ala diferente da minha. E a gente respeita a posição de cada um. E lá existe o Daniel e o Gustavo que são da ala ligada ao atual prefeito. Consequentemente, creio que o Caiado, o máximo que ele vai poder fazer, caso ele não queira trabalhar contra mim, é ficar em cima do muro.

Nielton Soares dos Santos – Você acha que a gente pode ver segundo turno nessas eleições em Aparecida?

Se a eleição fosse hoje não haveria, mas daqui pra lá tem muita coisa que pode acontecer.

Italo Wolff – E o Gustavo Gayer em Goiânia? Vocês podem fazer uma campanha casada?

O Gustavo Gayer é nosso companheiro em Goiânia. Se ele for candidato, ele também será o nosso candidato. Podemos fazer uma campanha casada, não vejo nenhum problema.

Euler de França Belém – O senhor acha que ele tem chance aqui?

Tem, tem sim.

Euler de França Belém – E o Márcio Correia, do PL em Anápolis, tem chance?

Não digo no dia da eleição, mas o Márcio Correia é hoje o único cara que dá conta de destronar o atual candidato do PT, Antônio Gomide.

Euler de França Belém – E porque seria isso, professor?

É pelas características do Márcio e por ser um cara de direita. Isso é muito importante, porque hoje, o eleitor de Anápolis, 72% vota no candidato do Bolsonaro.

Euler de França Belém – E o senhor apoia o Márcio?

Sim, é um grande companheiro e amigo. Ficou como deputado na substituição de Célio Silveira por um período de cinco meses, fez um bom desempenho lá nos cinco meses que ele ficou.

Euler de França Belém – Como o senhor avalia as políticas de segurança pública do Caiado?

Boa, muito boa. A melhor política de segurança pública do Estado nos últimos 20 anos. Firmeza, determinação, respeito aos comandantes. Isso é muito importante.

Euler de França Belém – Existe uma história de que tem gente no PL querendo que o PL banque o vice de Vanderlan. O senhor acha que isso não tem chance?

Que tem chance, tem. Na política tudo é possível. Agora, o Gayer já disse que quer ser candidato. Se ele disser que quer ser o candidato, logicamente, ele vai ser.

Euler de França Belém – Como o senhor avalia o primeiro ano do governador Ronaldo Caiado?

Muito bom.

Euler de França Belém – E o senhor destaca o que?

O Ronaldo Caiado tem se sobressaído muito na saúde, na educação e na segurança. Os três principais tópicos que ele joga pesado e a coisa acontece. Nós temos a educação, que melhorou muito em Goiás. Muito, mas muito mesmo. A saúde também é de boa qualidade. E a segurança é de ótima qualidade.

Euler de França Belém – E na questão da recuperação fiscal? Como está a situação do Estado?

O Estado hoje está fazendo o seu dever de casa. Ele está cumprindo tudo aquilo que foi acordado na recuperação fiscal, e consequentemente, ele está ok.

Italo Wolff – Sobre a reforma tributária, quais são suas opiniões e impressões?

A reforma tributária como foi aprovada nós somos veementemente contra. Vou explicar o porquê. Não tem sentido você arrecadar tudo aqui, mandar para Brasília e depois você não sabe como isso vai voltar. De que forma que vai voltar, e se vai voltar de acordo com a cara do gestor. E não tem como você fazer um planejamento, você não sabe o que que você vai receber. Qual a receita que você vai ter? Você não sabe. Então isso é muito complicado, muito difícil. Além do mais, fala-se numa alíquota de 33% do IVA.

Euler de França Belém – É de 28 a 33.

E isso é um verdadeiro absurdo. Vou citar para vocês exemplos de dois setores. O setor da educação e o setor da saúde. Hoje nós pagamos 8,85%, com IVA de 33, nós vamos pagar 16,5%. Porque a educação tem 50% e a saúde tem 50%. Então vamos pagar 16,5%, dobrou praticamente em 100% dos nossos impostos. Vai haver uma dificuldade muito grande. A mesma coisa acontece com os profissionais liberais, com os transportes. Vai ser realmente um caos, um grande caos.

Euler de França Belém – O senhor é favorável a abertura de mais faculdades de medicina no país?

Não precisa. O país precisa de alinhar as que já existem. Por exemplo, aqui em Goiás, nós temos várias faculdades autorizadas pelo nosso conselho estadual de educação. Essas faculdades são autorizadas de qualquer forma, não obedecem aos critérios nacionais. E quando essas faculdades são avaliadas pelo sistema nacional de ensino, as notas delas são ínfimas. Nós podemos analisar a URV, a nota da URV é nota um. E se ela seguisse a hierarquia do sistema nacional de ensino, ela já tinha sido fechada. Entretanto, está abrindo como se fosse filial de mercado. Isso é um perigo muito grande porque nós não vamos formar profissionais de extrema qualidade.

Italo Wolff – Como se faz para tentar corrigir esse problema?

O governador Ronaldo Caiado está tentando segurar, ou seja, pedindo ao conselho. Mas o conselho tem autonomia. O que tem que fazer é criar uma lei proibindo a abertura de novas faculdades, uma lei estadual através da fundação. Ou seja, elas deveriam ser abertas somente pelo critério nacional e obedeceriam a uma série de procedimentos legais. Aí sim, você teria uma faculdade obedecendo todos os trâmites nacionais e logicamente teria que ter qualidade.

“Márcio Correia é hoje o único cara que dá conta de destronar o atual candidato do PT, Antônio Gomide”, diz Professor Alcides | Foto: Leoiran / Jornal Opção

Euler de França Belém – Professor, como o senhor avalia o primeiro ano do Lula?

Péssimo.

Euler de França Belém – Nem razoável?

Não, péssimo.

Euler de França Belém – Deixa eu perguntar uma coisa pro senhor. E não estou defendendo o Lula não, mas o senhor não está sendo muito rigoroso?

Não. Eu estou sendo coerente.

Euler de França Belém – Então deixa eu te perguntar assim, por uma questão de esclarecimento, é uma questão de ideologia política do senhor?

Não, eu não sou ideológico. Eu sou um cara de centro, que tem uma visão voltada para aquilo que é bom para o país. E o Lula não fez nada de bom para o país até agora. Me mostra uma coisa que foi feita? Não fez nada.

Italo Wolff – E qual é a maior falha dele até agora?

Primeiro que é um governo que não tem centro, não tem direção. Não tem planejamento, e governo sem planejamento não tem futuro.

Euler de França Belém – Então até a Simone Tebet está falhando?

Não é só a Simone não. É todo mundo ali, Simone, Haddad.

Euler de França Belém – E como o senhor avalia essa crise do PT sobre a questão do teto de gastos?

Bom, na virada do ano passado, quando foi apresentado o teto de gastos, eu votei contra. Contra a liberação dos 200 milhões, que terminou sendo só 150 ou 160. Nós votamos totalmente contra. O governo teria que manter o teto de gastos e tentar fazer aquilo que o governo anterior estava fazendo e o Temer começou a fazer, procurar segurar as coisas. E o governo do PT é um governo gastador, ele só pensa em gastar, gastar, gastar, gastar, gastar. Por isso que a administração tem presença marcante da sociedade. E a prova tá aí, apenas vinte e poucos por cento aprovam o governo.

Euler de França Belém – Mas o Haddad não está falando que ele quer conter os gastos?

Falar é uma coisa, fazer é outra. Ele tá falando desde o dia que ele entrou, mas não fez. Me mostra uma ação dele que ele fez o governo tivesse contenção de gastos. Não fez absolutamente nada.

Euler de França Belém – E na questão do desmatamento? O governo Lula não melhorou em relação com o Bolsonaro?

Não, os números estão aí. Os números mostram que não.

Euler de França Belém – Mas a boiada não estava solta com o Ricardo Salles?

Ricardo Salles saiu do governo há três anos.

Euler de França Belém – O senhor acha que o Bolsonaro realmente vai ter peso nas eleições de Goiânia, Aparecida e Anápolis?

Não só Goiânia, Aparecida e Anápolis, mas todo o país. Pode ter certeza disso, anote o que eu estou falando para você. Eu sou baiano, você sabe disso. E na minha cidade, onde o Lula teve oito mil votos de frente, se a eleição fosse hoje o Lula perdia pra ele. É só um exemplo que eu vou te dar, isso do sertão da Bahia, lá nas margens do Rio São Francisco. Cidade de Remanso, Casa Nova, Sento Sé e Sobradinho, se fizer uma pesquisa lá hoje, você verá isso. Isso é as pessoas me dizem, não sou eu falando para eles. Lá eu faço o trabalho de ouvidor.

Euler de França Belém – Professor, eu não entendi direito, o senhor não é de direita? O senhor disse que era de centro?

Eu sou de direita. Não sou extrema direita.