“Prefeito é funcionário público. Política tem de ser consequência do fruto do trabalho”
15 dezembro 2019 às 00h01
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Recém-chegado a PP, chefe do Executivo anapolino diz que tem feito o que pediu ao eleitor na campanha de 2016, a chance de trabalhar pela cidade
Roberto Naves, que acabou de desembarcar no PP, é um prefeito que tenta mostrar em números e resultado o que tem feito pela cidade que governa. À frente da Prefeitura de Anápolis, o político prefere ser visto como um gestor do que um agente público eleitoral. “O populismo tem o seu limite. Acredito muito na gestão. Sou mais gestor do que político. É preciso fazer política sem demagogia, sem mentir para a população.”
Em três anos de gestão, Naves diz que cumpriu 80% das propostas que apresentou no plano de governo. O prefeito não gosta de ser comparado com as gestões anteriores que passaram pela prefeitura. Mas alega que só avaliam o que o pepista fez que outros também executaram. “O diferencial foi fazer aquilo que não conseguiram fazer antes”, declara.
E diz que continua a trabalhar. No ano que vem, na hora de disputar a reeleição, afirma que deixará na mão do anapolino a avaliação de sua gestão. “Se você julgar que tenho competência e aptidão para continuar à frente da cidade ótimo. Se julgar que não, vou cuidar das minhas empresas.”
Euler de França Belém – É uma tradição governadores e prefeitos não cuidarem tanto do social com a alegação de que o governo federal cuida dessa área. Em Anápolis, dizem que uma das preocupações do sr. é justamente o social. Qual é o grande trabalho da gestão no setor?
Precisamos entender que é necessário que o poder público trabalhe para quem realmente precisa do poder público. É para isso que existe a área social. Quando assumimos a Prefeitura de Anápolis, percebemos que toda vez que é depositado dinheiro do governo federal em algumas contas, a 13ª parcela do recurso só vem se o município conseguiu gastar as 12 parcelas anteriores.
Encontramos várias contas com 12 a 16 meses sem cair um centavo. Contas que estavam no teto do dinheiro federal e que não recebiam mais repasses porque o dinheiro não era gasto.
E o dinheiro tem de ser gasto com quem? O recurso vem para ser aplicado nas políticas públicas, no acolhimento de crianças, de mulheres vítimas de violência, na questão do dependente químico, no acolhimento de idosos. O que temos feito como grande diferencial, que tem colocado Anápolis bem à frente dos outros municípios, é usar a lei para fazer chamamentos públicos e repassar o dinheiro direto na conta de instituições.
As instituições fazem um plano de trabalho, participam do chamamento público, passam a ser conveniada e a receber o dinheiro que vem do governo federal para ser aplicado no terceiro setor. É um dinheiro que está sendo aplicado e muito bem aplicado. Hoje já passamos de R$ 300 mil por mês destinados às instituições do terceiro setor.
Nós cuidamos daqueles que cuidam de pessoas. Sabemos que o poder público tem suas limitações no que diz respeito a prestar um serviço de assistência social. Potencializamos os parceiros. Em Anápolis, vocês não encontrarão instituições do terceiro setor com pires na mão pedindo pelo amor de Deus para um político ajudar. Demos dignidade e independência às instituições. São várias as que recebem os recursos do governo federal.
E quando os recursos do governo federal não são suficientes, fazemos repasses e também chamamentos com dinheiro vindo da própria Prefeitura de Anápolis. Isso foi uma grande mudança. Deu-se dignidade, independência, às pessoas que trabalham com o terceiro setor. Vivian [Albernaz, primeira-dama] sempre teve um carinho muito grande nessa área.
Começaram a surgir ideias, como o Arraiana, que hoje é o maior arraiá do Estado de Goiás. Já passaram pela festa mais de 130 mil pessoas. Fomos a Itumbiara e vimos aquela festa maravilhosa que o ex-prefeito José Gomes criou, que tem os shows – levam diversão para quem não tem condição de pagar por isso –, e a estrutura comercial do evento é explorada por instituições filantrópicas e do terceiro setor.
Em Anápolis, nós mantivemos as instituições do terceiro setor com a exploração financeira de toda a estrutura, demos diversão à população e cobramos um quilo de alimento não perecível na troca do ingresso. Em 2019, arrecadamos cerca de 80 toneladas de alimentos. Montamos as cestas e entregamos na casa das pessoas que participam do CadÚnico [Cadastro Único do governo federal] e são referenciadas pelo sistema da assistência social.
Temos uma parceria com as instituições do terceiro setor e valorizamos as entidades: Igreja Católica, instituições da igreja evangélica, maçonaria, Rotary. Aquelas pessoas que, por algum motivo, resolveram criar o seu próprio ambiente para realizar um trabalho de assistência social.
Hoje em Anápolis, estamos vivendo o momento do Natal de Coração, que é o espírito natalino chegando aos quatro cantos da cidade. São 25 pontos e 25 dias de festa. Que tipo de festa? Temos a Caravana do Papai Noel, que é um caminhão todo ornamentado para a pessoa subir e tirar foto. O Trenzinho da Alegria, que chega ao bairro carente da periferia para passear com as crianças. Há entrega de pipoca, algodão doce, foto instantânea e um brinquedo na mão de cada criança.
Falo de bairros que precisam do poder público. Os distritos que, durante anos, ficaram realmente abandonados. As cidades fazem iluminação natalina nas principais avenidas, nas praças mais nobres, que têm mais visibilidade. No nosso governo não. Se tiver dinheiro para fazer iluminação natalina, temos de fazer para todos. Independente de ter muitas pessoas vendo ou poucas. Não levamos isso em consideração. Mas se a pessoa mora em Anápolis, ela precisa sentir realmente que o poder público tem a consciência de a pessoa mora e precisa ser respeitada.
O que mudou na assistência social em Anápolis foi que empoderamos o terceiro setor e começamos a tratar com dignidade o povo. Anápolis é a única cidade do Estado de Goiás que tem uma casa de acolhimento para mulheres vítimas de violência doméstica. Se a mulher em Anápolis sofreu algum tipo de violência, pode procurar a Delegacia da Mulher que será acompanhada e tem um lugar para ficar com proteção o período que for necessário.
Euler de França Belém – Como está a situação das crianças e adolescentes em situação de rua?
Quase não temos crianças nas ruas. É muito pouco. Mas temos moradores de rua. Porque é a opção deles. Não podemos obriga-los a sair da rua. Existe o Centro Pop [Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua]. Já almocei no local algumas vezes. A alimentação que é oferecida é de qualidade. São tratados com dignidade e acompanhados pelo Centro Pop.
São dois tipos de morador de rua. Aquele que optou por morar na rua e está nessa situação há muito e a pessoa que está de passagem. E temos todo o serviço de passagem, com os albergues e depois se compra a passagem e a pessoa vai embora. Temos tratado esse problema com muita dignidade. Enfrentamos o problema de frente.
Anápolis não sofre tanto com isso porque temos oferecido condições para que a pessoa possa sair da situação de rua.
Euler de França Belém – Como Anápolis tem lidado com a questão das drogas, que não envolve apenas a questão das drogas, mas também do tratamento?
Estamos abrindo o chamamento público para instituições terapêuticas que tratam destas pessoas. O poder público aportará recursos para ampliar o trabalho que essas instituições já fazem em nossa cidade. O problema deve ser enfrentado com a oferta do tratamento para a pessoa viciada, mas é preciso também garantir os investimentos na educação. E é necessário garantir o combate ao tráfico na segurança pública.
“Estamos vivendo o momento do Natal de Coração, que é o espírito natalino chegando aos quatro cantos da cidade”
Euler de França Belém – Goiânia não tem um apoio muito grande em segurança pública, mas outras cidades têm. Anápolis é um dos municípios que apoia a segurança pública?
Anápolis apoia e investe cerca de R$ 9 milhões anuais em segurança pública. Alugamos dez caminhonetes cabine dupla. A prefeitura arca com a manutenção e combustível dessas viaturas. Em cada caminhonete ficam três policiais militares com salários pagos pela prefeitura. É um novo batalhão que colocamos na rua, chamado de Força Tática Municipal. Aumentamos a capacidade ostensiva.
Euler de França Belém – Não é guarda municipal?
Não. É Polícia Militar. A Força Tática Municipal age enfrentando o crime. A Prefeitura de Anápolis não se omitiu na questão da segurança pública. Muitos prefeitos usam a Constituição Federal para dizer que segurança é obrigação do Estado. Mas é obrigação do prefeito cuidar do bem-estar da população.
Euler de França Belém – Houve resultado na redução da violência?
Sim. Mais de 50% de todos os índices. Anápolis hoje é uma das cidades mais seguras do Estado de Goiás. E os números da PM indicam que tivemos reduções drásticas depois de colocar a Força Tática Municipal na rua. Tínhamos três viaturas – caminhonetes – da CPE [Companhia de Policiamento Especializado], que são os homens de preto. Colocamos mais dez. Aumentou e muito a vantagem da Polícia Militar em relação ao bandido.
Euler de França Belém – O crime organizado está em Anápolis?
O crime organizado está em todas as cidades do País. É uma ilusão achar que Anápolis não vive a mesma realidade. O que temos de fazer é valorizar nosso policial militar, dar condições para que a PM possa trabalhar e combater a criminalidade.
Euler de França Belém – Virou lugar comum dizer que o grande problema de Anápolis é água. Todo prefeito diz que vai resolver a situação. Como a questão está no momento?
Não tivemos falta de água em 2017 e 2018. Existia um problema crônico de falta de água em Anápolis. A Saneago sempre nos colocou que a falta de água ocorria por falta de matéria bruta. No começo de 2017, providenciamos junto ao governo do Estado a transposição do Córrego Capivari para o Ribeirão Piancó, o que aumentou a vazão no período de seca e não permitindo a falta de água.
Só que fomos surpreendidos negativamente com a Região Sul da cidade, que é abastecida pela Codego. E a empresa não fez o que tinha de ser feito. De forma até mesmo irresponsável, permitiu que o sistema entrasse em caos total, a ponto de o reservatório secar. E a Região Sul sofreu com falta de água.
Estamos discutindo com a Saneago um novo contrato no qual a estatal faça um investimento de aproximadamente R$ 500 milhões. Será um contrato de programa, que terá a supervisão do Ministério Público. A ideia é que o contrato descreva o que será feito nos próximos dez anos, que dia começa cada obra, termina e qual a multa a Saneago terá de pagar no caso de descumprimento.
Nos últimos 50 anos, a Saneago só tirou de Anápolis. Arrecadou milhões e milhões e milhões de reais e não investiu o que tinha de ser investido. O dinheiro de Anápolis foi utilizado para fazer investimento em outras cidades. Isso nós não vamos aceitar. E pretendemos até o dia 15 de janeiro entregar um novo projeto para a cidade de Anápolis. O anapolino poderá dizer que nos próximos 30 a 40 anos não sofrerá mais com o problema da falta de água.
Euler de França Belém – Quais são as principais obras de infraestrutura feitas em três anos de gestão?
Assumimos a gestão em Anápolis com problemas graves de infraestrutura, principalmente na Avenida Brasil, onde um viaduto foi construído em cima de uma adutora de esgoto. Tivemos de desviar a adutora. Concluímos as obras da Avenida Brasil, que é hoje um cartão postal da cidade. Foi um processo demorado, muito difícil. Corrigir o que está errado depois de iniciado é muito mais difícil do que quando começa certo.
Investimos milhões em galerias de água pluvial. Planejamos fazer um trabalho preventivo nas principais vias da cidade, que é fazer um estudo antes de começarem a abrir os buracos, retirar a camada asfáltica estragada, aplicar uma nova camada e aplicar um microrrevestimento que confere maior durabilidade àquele asfalto. Se incluirmos as galerias de água pluvial, operação tapa-buracos e novos asfaltos, o investimento é muito grande.
Em janeiro daremos ordem de serviço. Já foi projetado, licitado e está em fase de contratação o maior plano de asfalto na cidade. Vamos investir em vários bairros de Anápolis. Serão aproximadamente R$ 60 milhões em bairros que tinham terra e que vão receber galeria de água pluvial e asfalto novo. Serão incluídas nove grandes regiões de Anápolis.
Euler de França Belém – Quanto a prefeitura já asfaltou até o momento?
Já asfaltamos várias pontas de rua. Quando assumimos a prefeitura, encontramos várias aberrações. Situações em que o bairro inteiro estava asfaltado e ficava uma rua no meio do bairro sem asfalto. Outro bairro inteiro asfaltado e uma rua sem asfalto.
Levamos asfalto para o Vale das Laranjeiras, para os quatro cantos da cidade através dessas pontas de rua. E agora vamos chegar ao Jardim Promissão, Polocentro e várias regiões da cidade com asfalto novo.
Euler de França Belém – Em uma pesquisa recente, o sr. aparecia mais bem avaliado como gestor do que como político. Por que da dicotomia entre o gestor e o político?
Primeiro fico muito feliz com o resultado da pesquisa, porque o que sou é gestor. Entendo que o prefeito é funcionário público, está ali para trabalhar. A política tem de ser consequência do fruto do trabalho. O gestor precisa ter foco e trabalhar diuturnamente para que o trabalho apareça. Quem tem de aparecer não é a pessoa.
A população brasileira já não é mais a mesma de 20 anos atrás. É muito mais crítica politicamente, é muito mais esclarecida. Campanha eleitoral não se ganha três ou quatro anos atrás. Campanha eleitoral se ganha apresentando projeto e resultado. Ele trabalhou por mim? Fez com que a minha vida melhorasse? O número de vagas nas escolas aumentou? Como está a cidade: está limpa, bonita, tem infraestrutura, o esporte funciona, o social?
Brasileiro vai avaliar voto de agora em diante. Quem não entender isso está enrolado porque não terá vida útil na política. O eleitor vai avaliar o que mudou na vida dele depois que determinada pessoa assumiu o cargo. O populismo tem o seu limite. Acredito muito na gestão. Sou mais gestor do que político. É preciso fazer política sem demagogia, sem mentir para a população. Como se faz política sem demagogia e sem mentir? Apresentando resultados concretos.
Como apresentar resultados concretos? Fazendo gestão trabalhando 24 horas por dia em prol da cidade. Isso não vai mudar. Não vou mudar meu estilo, minha forma de ser. Acredito muito em todas as pesquisas anteriores que apontavam que o brasileiro quer um modelo diferente de político e política. É o que estou dando. Quando nos candidatamos, me apresentei como novo. Não acredito na nova nem na velha política. Acredito na política correta.
A pessoa que ocupa o cargo pode ter só características populistas de alimentar sua imagem ou pode ter característica de gestor que valoriza a cidade. E lá na frente isso será colocado à prova. Teremos candidatos que pensam em si mesmo, candidatos que são populistas e pensam em projetos pessoais. E eu, que pensei na cidade 24 horas por dia e trabalhei para construir uma Anápolis melhor.
É interessante lembrar que quando fui para a campanha, não pedi voto. Me apresentava para as pessoas e pedia uma oportunidade de trabalho. Estou simplesmente cumprindo o que pedi para as pessoas.
Euler de França Belém – E agora o que o sr. irá apresentar?
O trabalho está aí. Gostaria que pudessem me avaliar. Reeleição é uma avaliação do que foi feito. Tínhamos determinados compromissos, que foram cumpridos, gostaria que você avaliasse o meu trabalho como um funcionário seu. E tenho novas propostas que estão aqui. Se você julgar que tenho competência e aptidão para continuar à frente da cidade ótimo. Se julgar que não, beleza também, vou cuidar das minhas empresas.
Não vou mudar o modelo Roberto de ser. Não vou mudar esse modelo de gestor.
Euler de França Belém – Se um eleitor perguntar “Roberto, em três ano o sr. fez 50% do que Antônio Gomide (PT) fez em seis?”, o que o sr. responderia?
Não temos de comparar o que cada um fez. Fiz coisas que Gomide não conseguiu fazer. Fiz uma UPA Pediátrica que ninguém conseguiu fazer. Criei uma Bolsa Universitária Medicina que não foi feita antes. Dei atenção para o terceiro setor que não ocorreu. Terminei obras que não conseguiram concluir. Cuidei de um sistema previdenciário que não tinha sido cuidado. Existe a comparação daquilo que fiz e outros gestores fizeram? Existe.
Mas onde está o diferencial? O diferencial foi fazer aquilo que não conseguiram fazer antes. Anápolis tinha uma segurança que era deficitária. Hoje não tem mais. Foi a prefeitura que fez a Força Tática Municipal. Quando analisamos meu plano de governo, temos hoje com tranquilidade 80% cumprido no terceiro ano.
“Os secretários estaduais precisam ajudar o governador”
Euler de França Belém – Como funciona a bolsa universitária municipal?
É um programa social, não é da Secretaria de Educação. Quando fomos criar a bolsa universitária municipal, a oposição na Câmara foi tão grande. Começaram a questionar se podia usar o dinheiro da educação para dar bolsa universitária. Para quem precisa. Transferimos para a Secretaria de Desenvolvimento Social. O crivo é 100% cento socioeconômico. É para quem precisa.
Euler de França Belém – Como funciona a seleção?
Publicamos o edital de seis em seis meses. As pessoas fazem o cadastro. Na primeira etapa, informações relativas a renda familiar, renda per capita, quantos anos mora na cidade são analisadas. Tudo isso é levado em conta. Se o inscrito passou no cadastro social, que é feito on-line, é preciso apresentar os documentos para comprovar as informações. Tudo on-line.
Depois o inscrito é convidado a participar de uma entrevista pessoal com toda a equipe que acompanha o programa Graduação. Só depois de se conhecer o histórico familiar e verificar se a pessoa precisa só da bolsa universitária, se precisa de uma cesta básica, se tem criança na casa e necessita de outro trabalho, chegamos na quarta etapa. A pessoa da prefeitura vai à casa do candidato para checar todos os dados.
Passou pelas quatro etapas, com o inscrito que se enquadra nos padrões socioeconômicos, ele pode receber uma bolsa de 100%, 90%, 80%. O mais interessante é que dez vagas das bolsas do programa Graduação são destinadas ao curso de Medicina. Aquilo, Euler, que sonhávamos em Porangatu, que escutávamos dos nossos pais, “você tem de fazer Medicina”, algo muito restrito à população de baixa renda, em Anápolis é um sonho possível.
Mediante a bolsa universitária Graduação, o pai pode colocar o filho para estudar desde pequeno pensando em fazer Medicina que a Prefeitura de Anápolis está junto para concretizar esse sonho.
Italo Wolff – São quantas bolsas?
Temos 300 vagas semestrais. Entregamos no domingo, 8, 172 bolsas. E 22 bolsas para o curso de Medicina.
Italo Wolff – O sr. disse que retirou a bolsa da educação e passou para a área social. Não houve resistência na educação contra outras propostas?
A lei diz que temos de gastar 25% daquilo que arrecadamos com educação. Anápolis gasta de 29% a 30%. Em momento algum iríamos pegar o dinheiro da educação para aplicar na bolsa universitária. Levamos para o social por entender que é uma questão mais social do que educacional. Hoje Anápolis é a segunda cidade do Centro-Oeste que mais investiu em educação. Ficando à frente de cidades importantes como Belo Horizonte (MG).
Estamos climatizando 130 salas de aula com instalação de aparelhos de ar condicionado. Estamos colocando recursos audiovisuais para que possamos ofertar melhores condições de trabalho e deixar o professor fazer realmente o seu trabalho. Muita gente acha que colocar aparelho de ar condicionado em sala de aula é supérfluo. Eu, como sou professor, posso dizer a todos que não é.
Em dias quentes, a quantidade de tempo que se perde em aprendizado, com crianças entrando e saindo da sala para beber água porque não suportam o calor, é imensurável. Temos investido muito na qualificação, na estruturação das escolas. Toda escola que temos entregado é no perfil Escola Nova, que tem sistema de ar condicionado, recursos audiovisuais e toda adaptação necessária.
Vamos entregar sete quadras cobertas. Outras já foram entregues. E temos feito o investimento para cuidar das pessoas que fazem educação, que são os professores, os diretores, sem deixar que a parte estrutural seja um problema. Eu sou fruto da rede pública. Estudei na rede pública e comecei a dar aula na rede pública. Estudei a vida inteira no Colégio Estadual Professor Waldemar Lopes do Amaral Brito em Porangatu. E comecei a dar aula em Goiânia no Colégio Estadual Major Oscar Alvelos, no Parque Atheneu.
Sabemos bem a realidade e temos trabalhado no intuito de dar condições. Mão de obra qualificada Anápolis tem. Com certeza estão na cidade os melhores professores. Se dermos condições, vamos continuar a ter a melhor educação do Estado.
Euler de França Belém – O servidor sempre foi muito maltratado em Anápolis. Gomide melhorou essa situação. Como está no seu governo?
Somente os professores tinham titulação. Estendemos a titulação a todos os outros servidores da prefeitura. Não teve um mês que não pagamos o salário dentro do mês trabalhado. Até janeiro de 2017, quando as contas da prefeitura estavam zeradas, conseguimos pagar dentro do mês. Não teve um ano que não conseguimos dar no mínimo reposição salarial. Em dois anos conseguimos dar reposição e ganho.
No ano de 2018 só demos a reposição. Temos trabalhado diuturnamente para poder contemplar esses servidores em um curto prazo de tempo. Estamos trabalhando para conseguir implementar o vale alimentação. Valorizamos o servidor público, aqueles que trabalham, através da produtividade. E não cortamos nada daquilo que foi uma conquista do trabalhador.
Euler de França Belém – Como está a situação do Daia [Distrito Agroindustrial de Anápolis]?
Há a necessidade de que seja passada a plataforma logística para a Codego [Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás] poder fazer a distribuição das áreas. Tenho conversado com o governador Ronaldo Caiado (DEM) e é algo que tem avançado bem. O deputado estadual Amilton Filho (Solidariedade) tem acompanhado. A plataforma logística, que está com infraestrutura pronta, consta no patrimônio do Estado. É preciso passar o patrimônio à Codego para que ela possa destinar às empresas.
Paralelamente a isso, temos o Distrito Agroindustrial Municipal. Pedimos a autorização. Estamos na fase cartorial, fazendo a permuta. É uma área de 19 alqueires que será destinada à implantação de indústrias na Região Norte de Anápolis. A cidade começava a ter um problema muito grave. O maior número de vagas de emprego está no Daia, que fica na Região Sul. E os bairros mais populosos ficam na Região Norte: Grande Jaiara e Recanto do Sol.
Já que vamos criar um Distrito Agroindustrial Municipal, era preciso que fosse instalado na Região Norte, onde as pessoas moram para que tenhamos uma melhor distribuição do trânsito e de empregos na cidade.
Euler de França Belém – Quantos empregos são gerados no Daia?
Devemos ter aproximadamente 30 mil empregos.
Euler de França Belém – Isso em empregos diretos?
Temos várias empresas que empregam de 2 mil a 3 mil pessoas diretamente.
Euler de França Belém – Na sua gestão, foram atraídas muitas indústrias?
Conseguimos atrair algumas indústrias. Outras tantas manifestam interesse em se instalar na cidade. Mas agora que estamos conseguindo romper a questão da falta de áreas.
Euler de França Belém – A CAOA vai levar outra montadora para Anápolis?
A CAOA está instalada, desenvolvendo sua plataforma. O problema da CAOA é IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados]. Existiam incentivos de IPI para as regiões Nordeste e Centro-Oeste, o que barateava o custo médio dos carros em torno de R$ 5 mil por veículo. O problema é que na gestão passada do governo os incentivos de IPI foram mantidos e cortaram para o Centro-Oeste.
O governador Ronaldo Caiado tem trabalhado junto com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no intuito de voltar o incentivo do IPI para o Centro-Oeste. O que o dr. Carlos Alberto [de Oliveira Andrade, fundador da CAOA] tem dito que se tiver de produzir um carro em Goiás que é R$ 5 mil mais caro do que no Nordeste e R$ 5 mil do que quando produzia no maior mercado consumidor, que é o Sudeste, não justifica economicamente fabricar o carro aqui.
O problema da CAOA em Anápolis está na questão do IPI aplicado pelo governo federal com a manutenção dos incentivos que existiam no Centro-Oeste. Porque foram cortados no Centro-Oeste, mas os mesmos incentivos foram mantidos no Nordeste.
“Valorizamos o servidor público, aqueles que trabalham, através da produtividade”
Italo Wolff – Como Anápolis tem sentido o corte nos incentivos fiscais?
Até agora não foi feito corte. Temos uma CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] em curso que avalia os incentivos fiscais. Goiás como um todo e Anápolis dependem dos incentivos fiscais. As empresas para vir precisam dos incentivos para que seus produtos se tornem competitivos no mercado. É preciso cortar aquilo que existe em excesso e aquilo que possa ser imoral, até ilegal. Mas manter o que é o justo.
O que precisamos é de uma solução rápida. O maior problema dos incentivos fiscais hoje no Estado de Goiás não é cortar ou não. O maior problema não está nos excessos. O maior problema é que está perdendo o timing. É o que acredito que o governador vai fazer nos próximos dias.
Euler de França Belém – Como está a questão do aeroporto?
São duas pistas. Temos a pista do aeroporto de Anápolis e a pista do aeroporto de cargas, que fica no mesmo local. A pista do aeroporto de cargas tem alguns problemas estruturais, principalmente no que diz respeito à Anac [Agência Nacional de Aviação Civil]. Quando foi construída, não levou-se em consideração um dos silos da Granol. Em um sentido, a pista não teria condição de ter pouso e decolagem. Só permite em um sentido. No outro, a pista ficou comprometida. Há um trabalho junto a Anac para regulamentar a pista para que possa começar a operar.
Euler de França Belém – Quando começa a operar?
Isso depende muito da Anac. Tentamos diversas vezes em Anápolis. Governador Caiado também tem tentado. Acredito que isso deve ocorrer em um curto prazo de tempo. Estive em São José dos Campos (SP) em uma empresa que desenvolve peças de avião e trabalha na manutenção de aeronaves, a Akaer, e existe um interesse de se instalar em Anápolis. A empresa teve uma reunião muito produtiva com o governador nos últimos dias. Mas deixarei que o governador anuncie essa novidade.
Italo Wolff – Como está o funcionamento do Porto Seco?
O Porto Seco de Anápolis funciona da mesma forma que sempre funcionou. Sempre fazendo o trabalho de desembaraço aduaneiro, a acomodação de cargas. Não mudou nada. Existe uma disputa judicial por conta de uma licitação em Brasília (DF). Mas isso vai ser resolvido na Justiça. Não tem como participarmos disso.
Euler de França Belém – E o Centro de Convenções?
O Centro de Convenções precisa receber uma destinação o quanto antes. A estrutura está pronta. Existe o problema de não ter carga elétrica suficiente para fazer funcionar o Centro de Convenções. O funcionamento teria de ser através de gerador. A Enel garantiu que vai colocar carga suficiente a partir da entrega da ampliação de uma subestação na região do Daia. É preciso fazer uma rede que chegue até o Centro de Convenções.
Os secretário estaduais precisam ajudar o governador. E ajudar o governador de tal forma que os secretários precisam agilizar as soluções os problemas que temos. O Centro de Convenções é uma grande obra que temos na cidade de Anápolis que precisa ter vida. E para ter vida é preciso ter a agilidade quando houver a necessidade de realizar.
Euler de França Belém – O sr. se filiou recentemente ao PP e se aproximou do governador Ronaldo Caiado (DEM). O que significa essa aliança entre o sr., o PP do ex-ministro Alexandre Baldy e o DEM do governador Ronaldo Caiado?
Sou prefeito da cidade de Anápolis. Então tenho de defender os interesses da minha cidade. Tenho de procurar me cercar de pessoas que querem o bem da minha cidade e estão dispostos a trabalhar por ela. O governador Ronaldo Caiado é de Anápolis, tem uma paixão pela cidade e trabalha diuturnamente para termos uma cidade melhor. O ex-ministro Alexandre Baldy da mesma forma.
O que estamos fazendo é uma grande união de pessoas de bem que querem uma Anápolis cada vez melhor. A parte política fica mais uma vez em segundo plano. Todos aqueles que têm uma história em Anápolis, que tem um legado em Anápolis e que querem trabalhar por Anápolis serão bem-vindos dentro deste grupo de trabalho, olhando para frente e pensando realmente no bem estar da população anapolina.
Euler de França Belém – O MDB pode compor com o deputado Antônio Gomide. Mas também diz que pode lançar o dentista Márcio Correia candidato a prefeito de Anápolis. Ou o médico Marcelo Daher. Mas também há uma possibilidade de compor com o sr.. Procede?
Como disse anteriormente, temos um projeto que tem sido desenvolvido e nós temos trabalhado muito. Todos aqueles que quiserem realmente o bem da cidade e quiserem ver Anápolis neste novo ciclo, serão bem-vindos, independentemente de sigla partidária. MDB é um partido grande, um partido forte, que agora recebeu o deputado Jovair Arantes, que tem sua história no Estado e com certeza vai fazer a discussão política. Que é a discussão que ainda não estou fazendo.
Estou fazendo a discussão administrativa. Aqueles que têm tempo, têm de continuar a fazer a discussão política. Eu, no momento, não tenho tido tempo para fazer essa discussão porque temos muitas obras e realizações para entregar à população anapolina.
Euler de França Belém – Além do PP e DEM, há outras alianças que o sr. irá pleitear?
Temos várias pessoas que nos ajudam.
Euler de França Belém – O PSD ocupa o cargo de vice-prefeito.
O vice-prefeito Márcio Cândido, do PSD, tem composto e trabalhado em prol da cidade, o Republicanos do nosso querido deputado federal João Campos tem uma aliança importante e pensa a cidade de forma muito inteligente. Temos o Solidariedade e muitos outros partidos que compõem toda a estrutura. PDT da deputada federal Flávia Morais. Muitas pessoas que realmente querem o bem da cidade. E temos mantido essa união.
Ainda não sentamos para discutir a questão eleitoral propriamente dita com nenhum deles. Mas temos trabalhado, sim, pensando que precisamos da Flávia, que hoje é a líder da bancada, quem participa da divisão das emendas. Precisamos do João Campos, que tem uma força muito grande na bancada do Republicanos, que é um partido grande em Brasília. Precisamos do PSD por causa do nosso querido Vilmar Rocha, do nosso deputado Francisco Jr..
Pensamos política assim, unindo pessoas. No MDB, temos o nosso querido senador Luiz do Carmo, que é uma pessoa que também tem um carinho muito grande por Anápolis. Não olho muito para a questão partidária, observo a questão administrativa. A pessoa chega e quer participar, a primeira pergunta é “o que você está disposto a dar para a cidade de Anápolis e o que você está disposto a trabalhar em prol do nosso povo?”. Se tiver algo a oferecer, é muito bem-vindo sempre.
Italo Wolff – O sr. disse que o governador Ronaldo Caiado tem um carinho grande por Anápolis. O sr. tem o apoio de Caiado em 2020?
Não apoiei Ronaldo Caiado para o governo. Mantive minha posição e fiquei até o final no apoio do candidato que perdeu. Não participei da eleição do governador Caiado. Mas Caiado pensa como eu. Para Caiado não interessa quem o apoiou ou deixou de apoiá-lo. Interessa quem pode ajudar o Estado a ser um Estado melhor. Nossa aproximação se deu na forma de pensar.
Tenho uma admiração muito grande pelo governador Ronaldo Caiado. Um homem íntegro, sério, que tem realmente trabalhado para fazer de Goiás um Estado melhor. Nossa aproximação é meramente ideológica. Qual ideologia? Partidária? Não. É trabalhar sempre para ter cidades melhores e um Estado melhor.
Italo Wolff – Como o sr. encontrou Anápolis quando assumiu a gestão há três anos?
Encontramos a prefeitura em uma situação muito complexa. Com um rombo na Previdência na casa de R$ 6 bilhões. Dívidas no curto prazo na casa de R$ 400 milhões. Só com a empresa de lixo existia uma dívida de curtíssimo prazo de R$ 24 milhões. Sem nenhum centavo na conta, com várias obras paradas por diversos motivos, desde financeiros a problemas em projetos e licitações. Era uma situação complexa a que encontramos. E por isso nosso foco foi fazer gestão e administração, senão não teríamos saído dessa situação.
Italo Wolff – O sr. acredita que os anapolinos têm consciência da situação em que estava a prefeitura?
Não ficamos só reclamando da vida e nem ficamos apontando erros anteriores. O que fizemos foi buscar soluções. Quando escutamos pessoas dizendo “a coisa está funcionando, a vida está melhorando, a cidade está ficando mais bonita, a saúde já não tem os problemas que tinha antes”, isso é o que nos move.
As pessoas não têm de falar “como o prefeito é bom”. Não é isso que eu busco. Quero que isso ocorra de uma forma muito sutil e que seja consequência dos resultados que estão ocorrendo. “Anápolis não era assim. Agora é.” Muitas pessoas têm me perguntado qual o maior legado quero deixar para a cidade de Anápolis? O maior legado que quero deixar não é uma obra física, é uma mudança de mentalidade. Que é justamente o empoderamento das pessoas. E que possamos ter uma cidade cada vez melhor.
Euler de França Belém – Quais são os projetos para 2020?
Em 2020, temos de entregar a nova UPA, lançar um Hospital Municipal, entregar asfalto nos bairros, como o Promissão e tantos outros. Temos de entregar várias quadras, centros esportivos, arenas com campo society, alambrado, praça ao ar livre. Vamos concluir oito até fevereiro com academia ao ar livre, pracinha. Temos duas escolas para entregar em breve. CMEIs [Centros Municipais de Educação Infantil]. Realmente temos muitas obras para entregar no ano de 2020.
Precisamos resolver definitivamente o problema da água. Potencializar ainda mais a segurança pública com a Força Tática Municipal. Melhorar o atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Criamos o Zap da Saúde, as UBSs de horário estendido. São unidades que foram copiadas pelo governo federal e hoje isso é uma realidade em todo o Brasil.
Os postos de saúde no nosso País funcionam de 7 horas às 11 horas, fecham para o almoço, reabrem às 13 horas e fecham às 17 horas. Mas são horários nos quais o trabalhador está no trabalho. Ele chega e vê que o filho está com febre depois das 17 horas e o posto de saúde está fechado. O que fizemos foi criar algumas unidades em 2018 que abriam às 7 horas e fechavam às 22 horas. Como resultado tivemos uma diminuição muito grande no número de pacientes que procuravam a UPA e que começaram a procurar o posto de saúde. Criamos em 2018 e hoje isso foi copiado e ampliado a todo o País.
O Zap da Saúde é uma condição básica. Se todo mundo que tem uma condição financeira melhor marca consultar e exames por telefone, porque as pessoas mais carentes têm de marcar presencialmente, têm de gastar o dinheiro com vale transporte, passar horas esperando para conseguir marcar? O Zap da Saúde veio fazer justiça social. Você consegue marcar exame, consegue ser atendido e marcar consulta através do WhatsApp.
Você entra no site da prefeitura, clica em Zap da Saúde e é levado para dentro de um grupo de WhatsApp. No grupo, você fala o que precisa e o atendente leva para o privado. Você manda as cópias dos documentos e sai com o exame, a consulta, marcado.
Italo Wolff – Qual é o maior desafio?
O maior desafio é ampliar o serviço, fazer isso chegar para todo mundo. O maior desafio é ampliar essa forma de pensar, de tratar a população com carinho e fazer um atendimento qualificado. Acredito que esse seja o maior desafio sempre.
Italo Wolff – Como surgiu a ideia de criar a Força Tática Municipal?
Existia um sentimento muito grande da população, que pedia por mais segurança. A população queria muito a Guarda Municipal. Só que a Guarda Municipal existe para proteger patrimônio. E a população queria proteção para o povo anapolino. Foi quando decidimos montar a Força Tática Municipal e utilizar mão de obra da PM, que é altamente qualificada.