“O PMDB agora fará uma eleição ouvindo sua base. Será ótimo para o partido”
28 novembro 2015 às 13h38
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Com escolha de comissão provisória para o diretório estadual, deputado peemedebista reafirma candidatura à presidência da sigla, fala da semana atribulada no Congresso e lança livro, bancado por seu gabinete, com artigos de acadêmicos
Daniel Vilela pode dizer que passou por uma semana agitada. No plano pessoal, fez a divulgação do livro “Políticas Públicas em Goiás — Diagnóstico, Avaliação e Propostas”, um trabalho de professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) que ele patrocinou por meio da verba indenizatória a que tinha direito seu gabinete — atitude inovadora e que merece elogios. Entre os artigos acadêmicos, assuntos da administração pública estadual e avaliação das políticas sociais dos governos estaduais desde a década de 90.
Como deputado, sentiu o clima pesado que rondou o Congresso Nacional, com a crise envolvendo o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas, principalmente, com a surpreendente prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), flagrado em escutas nas quais tentava, segundo a polícia, impedir que o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, assinasse o termo de delação premiada.
Por fim, como peemedebista, viu um primeiro desfecho para a sucessão do partido em Goiás, com a formação da comissão provisória que comandará a eleição do próximo diretório estadual. Seu colega de bancada, Pedro Chaves (PMDB), será o presidente da comissão, conduzindo o processo com mais seis integrantes: o próprio Daniel, a ex-deputada Iris Araújo, o ex-prefeito de Bom Jardim Nailton Oliveira e os deputados estaduais Adib Elias, José Nelto e Ernesto Roller.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, o jovem parlamentar — hoje o nome mais promissor do partido para um embate ao governo do Estado em 2018 — estende reflexões sobre esses e outros temas.
Frederico Vitor — Como o sr. viu a escolha de seu colega de bancada, Pedro Chaves, para presidir a comissão provisória que conduzirá a eleição do novo diretório estadual do PMDB?
É um ótimo quadro. Pedro é um político experiente, com quatro mandatos como deputado federal e muito representativo. Sem dúvida, tem o perfil ideal para conduzir esse processo, que já foi muito desgastante para todo o partido, mas ao fim do qual creio que sairemos mais fortes. A composição da comissão, como um todo, ficou de bom tamanho. Tenho certeza de que será feito o melhor para o PMDB e teremos, agora sim, um novo diretório saído do desejo das bases.
Alexandre Parrode — Dizem que a imagem do sr. teria ficado arranhada com esse processo, por ter imposto a vontade de ser presidente do PMDB estadual, inclusive tendo descumprido um acordo. Isso procede?
Com todo o respeito que tenho por Samuel Belchior [ex-presidente do diretório estadual do PMDB], essa história é de quem está querendo achar uma saída para a forma frustrante com que acabou seu mandato, talvez até para dar satisfação a algumas pessoas. Foi Samuel quem propôs chapa única entre as duas correntes, e eu aceitei. Todos concordaram, mas, numa quinta-feira à noite, ele me ligou e disse que estava sendo apresentada outra chapa — como se ele não soubesse disso. O resumo disso é que viram que eu ganharia a eleição dentro da chapa. Ocorre que com outra chapa formada, por uma questão de regimento, a chapa perdedora entra na composição final com a proporção de seus votos. Juntos, esses votos com os da outra chapa, eles teriam como eleger o presidente, descarregando todos os votos no nome que quisessem para escolher, então, o presidente. Foi José Nelto [que liderava a outra chapa] quem não recuou, até porque ficou uma situação muito confortável para ele. O que ocorreu, enfim, foi que aceitei o acordo, mas o outro grupo não aceitou a possibilidade de minha vitória.
Mas a formação da comissão provisória foi boa para o partido. Estávamos despreparados para ouvir a base. Seria uma eleição de cúpula. Com a nomeação da comissão provisória, muda todo o processo. Ela terá a única incumbência de executar as eleições. Vão votar os sete membros da comissão mais os delegados dos municípios. Só que o estatuto do PMDB determina que um terço dos municípios tenha diretório constituído. E isso se faz em um mês. Ou seja, não é mais uma eleição de cúpula, mas de base. O interior vai ter voz, agora. Será muito bom para o partido.
Alexandre Parrode — E o sr. continuará candidato a presidente do diretório estadual?
Provavelmente serei candidato, sim. Entrarei com a possibilidade de ganhar ou não, porque eleição é eleição, mas sou otimista. Há uma visão de cúpula, segundo a qual eu teria me enfraquecido no partido depois desse processo. Pelo feedback que recebi de pessoas do interior foi o contrário: recebi muitos cumprimentos por ter enfrentado isso tudo, por ter ido até o final. Sem falar na leitura que as pessoas de fora do partido fazem. Temos de parar de pensar só com a ótica do PMDB; é preciso observar quem está olhando de fora, que é a pessoa de quem a gente tem de atender a vontade, a população, o povo.
Alexandre Parrode — O sr. iniciou como deputado estadual uma parceria com a UFG para a elaboração de um livro, o qual está sendo lançado agora. De que trata esse livro?
Em 2012, houve mais uma recorrente discussão sobre verbas indenizatórias (dos gabinetes dos deputados), que são um recurso discricionário do parlamentar, com o objetivo de potencializar sua produção legislativa. Eu, na Assembleia, comecei a cogitar uma consultoria para elaboração de bons projetos, de identificação de problemas que podem ser solucionados através de uma legislação, de construir algo pensante sobre isso. Aí surgiu a possibilidade de fazer parceria com a Funape [Fundação de Amparo à Pesquisa da UFG]. Fiz um contrato de pessoa física para pagar e depois ser ressarcido pela Assembleia com a verba indenizatória de meu gabinete. Apresentei seis temas abrangentes sobre os quais eu gostaria que fosse desenvolvido um estudo científico: desenvolvimento social, desenvolvimento econômico, saúde, segurança, educação e gestão de pessoas.
Desenvolvemos um escopo do que seria cada tema específico. Isso se deu em três etapas: a primeira, um retrato histórico; a segunda, um diagnóstico atual; e a terceira, um momento propositivo — sobre qual linha adotar, o que deveria ser feito etc. Foram 18 meses para a finalização do trabalho. Foram seis professores doutores e seis alunos bolsistas contratados para ajudar na operacionalização do livro. Foi concluído no fim do ano passado, mas a parte gráfica não é tão simples, e isso demorou mais uns nove meses. Ao fim, a professora Denise Paiva, que na universidade era então coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Faculdade de Ciências Sociais (FCS), sugeriu que fizéssemos um livro. Então, o estamos apresentando ao público agora.
Frederico Vitor — E o que há nesse livro?
Tem muita coisa interessante. É uma iniciativa, primeiramente, para incentivar o melhor uso dos recursos que um parlamentar tem para um mandato mais produtivo. Em segundo lugar, isso aproxima a academia da classe política. Há um preconceito de ambas as partes que leva a um distanciamento. Vemos que o governo estadual contrata consultorias quase todos os meses enquanto temos um capital humano extremamente competente em nossas academias, especialmente na UFG, que pode ser mais bem utilizado se houver uma maior sinergia.
Outro ponto diz respeito à gama de informações inéditas que o livro reúne. São seis estudos de professores isentos, sem nenhuma interferência político-partidária. E posso dizer que há uma série de informações muito úteis para o governo atual. Elas servem para subsidiar ações parlamentares, ações do Executivo e também para os veículos de comunicação. A classe política precisa entender que não podemos tomar atitudes sem ter embasamento científico. O estudo facilita a decisão sobre o que se quer fazer na gestão pública.
Cezar Santos — O sr. pode exemplificar como discorreu um dos temas estudados?
Acabei de criar uma Frente Parlamentar na Câmara dos Deputados em defesa da convalidação dos incentivos fiscais. Isso porque o ministro Joaquim Levy quer porque quer acabar com a chamada guerra fiscal, ou seja, com a política de incentivos por parte dos Estados —, que é muito importante para nós.
Então, no livro, na questão do desenvolvimento econômico, foi enfocada a análise da política industrial do Estado, especialmente os incentivos fiscais. Há muito consenso sobre o tema, mas há dissenso também. A professora Francis Lee Ribeiro, com doutorado em Economia Aplicada, e sua equipe — extremamente preparada — identificaram que a grande maioria dos setores beneficiados com a política de incentivos fiscal estaria em Goiás mesmo sem eles.
Cezar Santos — Na verdade, o termo guerra fiscal é usado de forma pejorativa, para desqualificar os incentivos, não?
Verdade, porque é mais uma questão de equilíbrio para os Estados menores. Então, a professora Francis constata que essa política de incentivos fiscais estaria aqui mesmo sem o subsídio. Por quê? Veja o setor de mineração, que só pode fazer investimento onde há jazidas e minérios. Da mesma forma, o agronegócio também só pode se desenvolver onde há condições de alta produtividade, que é o nosso caso. Mas é claro que os incentivos foram importantes na política industrial, por exemplo, para trazer as montadoras, a Perdigão, que poderia ter ido para Minas, a Mitsubishi, e outras. O que o estudo da professora Francis propõe? Que nós tenhamos identificado quais setores nós queremos induzir em Goiás. Nós não temos isso definido hoje. Se quisermos atrair um polo de tecnologia da informação, devemos induzir isso aqui.
Outro ponto dessa questão é a falta de conhecimento do retorno que essa política deu ao Estado. É possível saber quantos empregos são gerados diretamente por tal empresa, mas não há um sistema de identificação dos empregos indiretos, da receita, da renda gerada no município. É algo meio abstrato, mas que seria necessário em uma política de incentivo fiscal. E existem muitos estudos nesse sentido. Então, esses dois pontos são apontados pela professora: é preciso saber qual setor queremos atrair para o Estado e ter uma métrica para identificar o retorno disso.
Frederico Vitor — E sobre educação?
Na educação teve algo interessante, a partir de uma pesquisa de 48 questões com mais de 300 alunos do ensino médio da rede pública estadual de Goiânia. A professora disse ter ficado estarrecida com o nível de conservadorismo dos alunos. A grande maioria, por exemplo, é a favor da pena de morte e da redução da maioridade penal. E ela faz uma comparação com os índices de homicídio entre esses mesmos jovens que estão defendendo essas pautas chamadas conservadoras.
Em gestão de pessoas, o resultado da pesquisa é, inclusive, bom para o governo que está aí. A professora Marina Sartori, que era da FCS e agora está na Universidade Federal do Sergipe, disse que esse debate de terceirização do poder público não será polêmico no futuro como é hoje. E isso porque daqui 50 anos o serviço público será basicamente terceirizado, pois não haverá outro caminho. E nisso defende a tese do governo atual.
Na saúde, há um estudo sobre a deficiência de leitos por regiões, fazendo inclusive uma comparação com o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] de cada uma delas. Por incrível que pareça, e é algo que eu desconhecia, a Região da Estrada de Ferro é a de maior IDH em Goiás, mesmo não sendo a mais rica — eu sabia que, individualmente, a cidade de Chapadão do Céu, no Sudoeste goiano, tinha o maior IDH.
Euler de França Belém — E ela aponta o porquê dessa região ter o maior IDH?
Não chega a apontar, mas ela dá algumas explicações do que pode levar a isso.
Marcos Nunes Carreiro — Como o sr. viveu esta semana no Congresso Nacional, em que teve pela primeira vez um senador preso e com a própria Casa avalizando essa prisão?
Foi uma semana ruim, não só por esse motivo. Uma grande parte disso já se devia ao estado de obstrução em que a Câmara está, por conta da situação de Eduardo Cunha. Ou seja, o clima já não estava bom. De qualquer forma, o caso do senador Delcídio do Amaral foi uma hecatombe política.
De positivo, porém, há um detalhe: o que ocorreu é o resumo mais claro de que o Brasil está mudando. Estamos deixando de ser o país da impunidade. Isso, de certo modo, também tem reflexos no Legislativo, porque há parlamentares que vivem situação similar
Cezar Santos — É uma espécie do que no passado se chamava de efeito Orloff, “eu sou você amanhã”?
Não dá para negar que isso causa certa perplexidade nos congressistas. Mas veja: o Senado, mesmo com esse sentimento, conduziu uma votação aberta, enquanto todos imaginavam que seria o contrário. Nesse caso, a mobilização pelas redes sociais acabou surtindo efeito. No fim, o placar da votação exprimiu que não havia espaço para corporativismo. Mesmo os que teriam um sentimento favorável ao senador Delcídio tiveram de recuar.
Frederico Vitor — Mas essa prisão de Delcídio, como ocorreu, não teria sido uma medida arbitrária do Supremo Tribunal Federal?
O próprio Senado disse que não. E era a Casa que teria de zelar pela Constituição.
Frederico Vitor — Eduardo Cunha está em meio a denúncias de corrupção, mas é apontado como o melhor presidente que a Câmara dos Deputados já teve. Inclusive deputados do PSDB apontam isso. Qual a opinião do sr. sobre esse trabalho que ele tem feito à frente da Casa?
Não posso avaliá-lo como presidente comparando-o a outros, pois esta é a minha primeira legislatura. Mas, de fato, quem já está lá há mais tempo entende que ele dinamizou bastante os trabalhos e as atividades do plenário. Para mim, esta foi a grande diferença entre a Assembleia e a Câmara: a possibilidade de produzir. Primeiramente, porque as comissões temáticas funcionam mesmo. Criamos muitas comissões especiais — e isso foi decisão de Cunha — de temas urgentes e necessários para o País. Este foi um ano com o volume de medidas provisórias mais significativo do que nos anos anteriores. Muitos dizem que isso também é fruto da presidência.
Porém, nada disso justifica os erros que porventura ele tenha cometido. Sou comedido em passar o carro na frente dos bois, até porque uma das teses de sua defesa no Conselho de Ética é dizer que o relator antecipou seu parecer. Então, precisamos de fato comprovar tudo isso que está sendo dito na imprensa. Aparentemente, são coisas difíceis de ser explicadas. Materializando-se o relatório, acho muito difícil a permanência dele. Acho até o momento de ele fazer uma avaliação pessoal, se vale a pena continuar na Presidência da Câmara dessa forma. Se ele é um presidente diferente, melhor do que os outros, como alguns já disseram que foi, poderemos perdê-lo pelos erros que cometeu.
Euler de França Belém — No último fim de semana, todos noticiaram que Cunha está perdendo apoio crescente do PMDB.
O PMDB ainda tem um sentimento em relação a ele por ser do partido, por ter sido líder de bancada. Pelo que eu conheço de Eduardo Cunha, se chegar alguma coisa no Conselho de Ética, não pedirá para o PMDB votar pela manutenção dele. O que vai tentar é apresentar sua versão. O partido não tem se manifestado muito, até então estão todos solidários ao processo, embora não solidários aos atos que ele teria cometido. Que ele vem perdendo apoio está claro. A semana passada foi muito ruim para ele, com a imprensa muito incisiva e setores da oposição que eram seu aliados, já contrários a sua permanência na Presidência.
Cezar Santos — Como o sr. vê a situação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL)? Ele tem acusações pesadas contra si, mas, no entanto, a imprensa está sossegada e o MPF [Ministério Público Federal] também parece não importar muito.
Eu acho que o MPF não está tão sossegado assim. Este é um caso divisor de águas no Brasil, que vai trazer consequências importantes para a classe política. Acho que Renan tem outro estilo, mas não acredito na complacência do MPF em relação a ele. É preciso ressaltar que não apareceram supostas contas na Suíça no nome dele.
Cezar Santos — Quando apareceram as denúncias contra Cunha, o MPF já agiu ativamente pedindo informações na Suíça e teve resposta. Mas com Renan, não.
Mas será que não tem? Será que eles não agiram? O que vi de Renan é que alguém teria dito que iria encontrar com Paulo Roberto Costa [condenado na Operação Lava Jato] usando o nome dele. Acho que, desde a época de Roberto Gurgel [ex-procurador-geral da República], o MPF tem demonstrado bastante autonomia. Quantos do PT estão presos? Quantos petistas estão com habeas-corpus negados por ministros que foram indicados pelo PT ao Supremo? Sinceramente, acredito que seja um pouco de teoria da conspiração. Pode ser que amanhã possa vir aparecer coisas de Renan, mas aparentemente não vejo que há qualquer coisa. Se você me perguntar se o Ministério Público estaria então interessado em dar mais celeridade ao processo de Cunha, aí eu até concordaria. Mas isso seria fruto de quê? Do fato de que Eduardo Cunha foi para o enfrentamento com o procurador-geral Rodrigo Janot, e então entra o lado do ser humano.
Marcos Nunes Carreiro — A presidente Dilma perdeu maciço apoio político. Como o sr. enxerga isto na Câmara? Como ela é avaliada pela maioria dos deputados?
Não é bem avaliada. A Câmara é a representação da própria sociedade. A avaliação de um presidente é muito vinculada à economia. A partir do momento em que se tem uma crise econômica, em que o sujeito começa a sentir no bolso seu poder de compra diminuindo, isso se reflete na popularidade. Foi algo que aconteceu também com Fernando Henrique. Na Câmara, ela tem um componente a mais que é prejudicial, sua inaptidão para a relação política. Dilma iniciou esse governo com auxiliares que, a meu ver, também não tinham essa aptidão. Isso tudo foi se somando. Agora creio que a presidente encontrou alguns bons auxiliares, como Jaques Wagner [ministro-chefe da Casa Civil] e Ricardo Berzoini [Secretaria de Governo], que são mais preparados. Eles estão conseguindo, no mínimo, estagnar essa crise política dentro do Congresso. Avançar daí para frente, para ter uma base mais sólida, ainda é algo com muito chão para percorrer.
Marcos Nunes Carreiro — Por que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) não conseguiu fazer uma boa articulação política?
Creio que ele não foi respaldado pelo governo. Credibilidade ele tem, e ele conhece a Câmara como poucos, pois foi presidente dela por três vezes. Temer dizia ao corpo político do governo o que era necessário fazer, mas o governo não reagia, não sei se deliberadamente ou por incompetência.
Cezar Santos — Será que a Dilma não tinha medo de ele conspirar?
Dilma, mesmo, eu creio que não, talvez outras pessoas tivessem esse receio. Mas — tenho certeza de que eles sabem disso — Michel não move uma palha para tirar Dilma. Ele é um professor de Direito Constitucional que se gabaritou na política exatamente por sua competência. Temer não é conspirador, pelo contrário, é ético, correto e sério. Dilma sabe disso. Mas, claramente, é uma disputa de espaço também e política tem isso.
Euler de França Belém — Por que o PMDB fez um plano econômico para o partido, sendo que Dilma não vai aceitar?
Nós estamos vivendo tempos de crise. Cada um tem de apresentar sua sugestão para sair da crise. O PMDB fez sua parte.
Euler de França Belém — Essa é a sua interpretação. Mas a interpretação geral é de que se trata de um projeto de substituição de Dilma.
Não vejo dessa forma. É uma linha programática que, aliás, todos os partidos deveriam ter. Uma coisa que defendo no diretório estadual é a defesa de teses. Não adianta chegarmos a 2018 sem ter plano de governo. Temos de formar uma linha programática objetiva, com temas importantes, já mostrando as consequências daqueles atos.
Euler de França Belém — Mas a sociedade recebeu bem esse projeto do PMDB. Um exemplo é sobre a problemática de Previdência, que ninguém quer enfrentar. Por que as pessoas têm de se aposentar com 45 anos se ainda estão produtivas?
É uma questão que precisa ser enfrentada, porque uma hora ou outra poderemos ter problemas graves. Isso pode e deve ter ajustes pontuais.
Alexandre Parrode — Como o sr. avalia a bancada do PMDB na Assembleia no debate com o governo?
Muito positiva. O deputado Adib Elias é uma liderança incontestável de nosso partido, foi um dos prefeitos mais bem avaliados que nosso Estado já teve, numa cidade complexa e grande como Catalão. Ernesto Roller é um advogado brilhante que já ocupou funções importantes; José Nelto tem toda uma bagagem de Legislativo; Bruno Peixoto é um líder popular; Paulo Cezar Martins é muito próximo aos municípios e às questões sociais. Nossa bancada é forte e tem protagonizado o debate. Temos de construir um grupo pensante dentro do partido para desenvolver ideias e apresentar alternativas.
“Iris Rezende pode ser candidato, se for o melhor nome”
Marcos Nunes Carreiro — Faz tempo em que o PMDB não é forte no cenário estadual e federal. Podemos dizer que há uma nova cara surgindo para o partido?
O PMDB é o partido que tem o maior número de deputados, senadores, prefeitos e vereadores. O que não fizemos foi disputar eleições presidenciais na cabeça de chapa. Mas me fiz esta pergunta: nas últimas eleições, qual seria nosso nome para a disputa? Então, é preciso disputar tendo alguém com o perfil adequado para isso. E o PMDB não tinha. Agora é outro momento. Por exemplo, temos Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, que está bem avaliado; há também a possibilidade de o senador José Serra (SP) voltar para o PMDB para disputar a eleição. São nomes significativos, coisa que antes o partido não tinha.
Em Goiás, vamos concluir um ciclo de 20 anos em 2018. As pessoas querem mudança. É mudança ou continuidade. A oposição terá de defender essa mudança. Mas mudar para onde? Se o PMDB não apresentar uma alternativa de mudança, alguém vai aparecer e fazer isso. Se esse alguém surgir e polarizar com o governo, vamos acabar espremidos no PMDB.
Euler de França Belém — E há também a possibilidade de aparecer alguém no grupo governista com a cara mais renovada e manter o ciclo.
Sim, mas nesse caso nos manteríamos vivos como antagonistas. O problema é se alguém se apresentar como mudança e for aceito dessa forma. Aí o PMDB pode acabar como força, entrando em declínio total. Por isso precisamos apresentar novos quadros para a sucessão estadual. No plano nacional será também uma eleição que haverá a possibilidade de quebrar a polarização entre PT e PSDB. É o espaço que o PMDB terá, se produzir bons quadros.
Alexandre Parrode — O sr. será candidato a governador?
Não sou demagogo nem hipócrita: se você perguntar para qualquer deputado em Goiás, todos querem ser governador. Eu não sou diferente. No entanto, é preciso observar a conjuntura, discutir a situação a cada momento. Agora, sou candidato a presidente estadual do partido, até porque não há eleição aberta ainda para o governo. Tancredo Neves [ex-governador de Minas e presidente eleito em 1985, mas morto sem tomar posse] dizia que se tornar governador ou presidente não era questão pessoal, mas de destino. É um somatório de circunstâncias que leva ao sucesso na empreitada. Mas creio que nosso partido tem real chance de eleger o governador de Goiás, pois temos estrutura e capilaridade política.
Por outro lado, sou muito racional. Converso bastante com gente do partido e de fora também, como o senador Ronaldo Caiado (DEM), pessoa que tentam colocar em conflito conosco. Mas não há segredo: não tem bobo na política. Em 2018, tem de ir o melhor candidato, e todos sabem, naquele momento, quem será o nome certo. Se for meu nome, bom demais e vou trabalhar bastante; da mesma forma, terá de ser com o nome de Caiado, se for o melhor.
Cezar Santos — E se for Iris Rezende (PMDB)?
Da mesma forma. O que não pode é Iris ser candidato apenas por vontade dele, sem que ele seja o melhor nome. Hoje, para prefeito, vejo que ele seria o melhor candidato do partido.
Alexandre Parrode — Mas o sr. acabou de falar de mudança. Goiânia não precisa de mudança, depois de 12 anos de poder do mesmo grupo no município?
Talvez a mudança que estejam querendo seja um gestor preparado, experiente. O que não pode é partir da lógica de que as pessoas consideram a gestão de Paulo Garcia (PT) como uma gestão como a de Iris. Eu não acho assim, e creio que todos saibam a diferença. Gosto de Paulo, acho-o um sujeito correto e que tem projetos modernos, mas talvez não se cerque de uma equipe que consiga fazer o que ele deseja para a cidade. Isso sem falar que as circunstâncias levam 90% dos prefeitos a estarem mal avaliados.
Em relação a Iris, a mudança significa o fim de um ciclo, mas ela pode ser também pela experiência, pela juventude, pode ser por um partido ou outro. Não estou dizendo que a mudança tenha de ser por uma pessoa nova ou por um candidato que nunca disputou uma eleição. É o que eu digo em relação a 2018. Quem é o melhor? Quem se adequa ao perfil que a população almeja? Quem se preparou, planejou, construiu? Quem está com o melhor projeto? Foi isso que defendi.
Euler de França Belém — Quer dizer que existe a possibilidade de o sr. apoiar Ronaldo Caiado em 2018 a governador?
Claro, se ele for o perfil que a população quiser, se ele se apresentar como uma possibilidade positiva para o Estado, eu não vejo dificuldade alguma. Eu sou racional.
Euler de França Belém — E Caiado também o apoiaria?
Bom, neste caso, eu não sei. É uma pergunta que tem de ser feita a ele. Mas ele também é racional, é inteligente. Se eu for o melhor candidato, mais à frente, não vejo por que não me apoiaria. Mas acho que ele pode surpreender a todos nós e ser candidato a presidente da República ou, então, vice. Aliás, as conversas em Brasília dão a entender que a turma do PSDB, os pré-candidatos, já o convidaram a ser candidato a vice.
Cezar Santos — O sr. está diretamente envolvido nesse processo atual do PMDB, o que talvez dificulte a análise do caso. Ainda assim, o que a realidade lhe mostra? Há rachas, intervenções, questões na justiça. Qual a leitura que se pode fazer?
É um fato, não há como negar que o partido passa por um momento de dificuldades e nada melhor que uma eleição, que abre uma possibilidade de o Estado inteiro se manifestar para a gente saber o que o partido quer, qual sua escolha. Em minha opinião, o partido precisa se sacudir, se renovar. Nós temos vários líderes no interior, novos e que estão bem avaliados, lideranças que apresentam uma prática diferente e que querem imergir dentro do partido, mas não têm essa oportunidade. Nós temos de trazê-los. Em Ouvidor, onde eu fui esses dias, o prefeito Onofre Galdino deve ser, se não o prefeito mais bem avaliado, um dos mais aprovados de Goiás. É um homem novo, preparado, profissional de carreira da Caixa Econômica Federal e que voltou a Ouvidor para ser prefeito, tem realizado uma grande gestão. Para ter ideia, ele está construindo uma escola que vale uma boa matéria, gastando R$ 4 milhões em uma escola que não existe no interior do Estado. Em Buriti Alegre, o vice-prefeito André Chaves é um sujeito carismático e que, hoje, se você caminhar ao lado dele pelas ruas, percebe sua popularidade, suas boas intenções. Então, o partido precisa começar a dar oportunidade para emergirem estas lideranças. Em Rio Verde, Paulo do Vale é extremamente bem visto. Foi um grande secretário de Saúde, é um médico bem preparado. O PMDB precisa colocar essas figuras que estão surgindo para protagonizarem o debate, para se apresentarem. Será uma oportunidade para o partido. Mas é fato que enfrentamos problemas. São poucos os que se levantam da cadeira por já terem contribuído e entenderem que outros podem utilizar desse espaço disponível, para realizarem outras coisas. Não é tão simples assim.
Alexandre Parrode — O sr. acredita realmente que, se Iris for eleito em Goiânia, não vai aumentar a força dele e também dificultar essa renovação? Ele será prefeito da maior cidade do Estado.
O prefeito a ser escolhido tem de ser o melhor para cidade. Não ficarei pensando de forma mesquinha se ele perder ou ganhar a eleição, qual será a consequência disso para o partido ou para os meus projetos em 2018. Se ele for eleito, eu entendo que ele tem condições de fazer uma grande administração. Mas eu acredito que o partido tomará uma decisão não baseada em 2018, apenas. É lógico que há uma influência, não negaria, mas a decisão será tomada não porque o Iris seja prefeito. Isso não tem essa relevância toda.
Cezar Santos — Quando foi que o sr. conversou com o Iris pela última vez?
Há um mês e meio atrás.
Cezar Santos — E com a ex-deputada Iris Araújo?
Já faz muito tempo.
Euler de França Belém — Qual foi o motivo do recente encontro do sr. com o vice-prefeito Agenor Mariano?
Conversamos muito sobre política, atualizando nossas informações, nossos projetos. Agenor é meu amigo pessoal e nós dois temos uma relação de amizade muito madura, pois sabemos separar as coisas — o que é difícil na política. Ele, nesse processo das eleições do diretório, disse “sabe que não votarei em você, não é?”. E eu disse que esperava que ele votasse, mas, como estava falando que não, eu acreditaria nele. Ele: “Não conte comigo, não posso lhe ajudar desta vez”, mas nossa amizade continua do mesmo jeito. Eu gosto dele, acho-o um sujeito extremamente preparado, um quadro importante do partido, talvez até subutilizado pelo próprio Paulo Garcia, talvez até pela vontade dele, Agenor — talvez Paulo tenha o convidado para algumas funções e, por alguns motivos, ele não tenha assumido. De todo modo, eu sei diferenciar muito bem. Mas é lógico que sempre conversamos sobre política. Temos muitas convergências de pensamento, de futuro do partido, de futuro de Goiânia, fomos vereadores juntos, então é uma pessoa que eu gosto. Não me ajudou para deputado federal também (risos) e, da mesma forma, falou que não iria me ajudar. Esse tipo de franqueza é bom, fortalece as amizades.
Cezar Santos — Como o sr. analisa a atitude dele ao falar publicamente que “o PMDB tem de vomitar o PT”?
Falei a ele que estava errado. Não era o momento de fazer isso. Essa é uma aliança política que vai se encerrar na eleição, no fim do mandato. Então, se não quer uma aliança com o PT, se esse é o desejo dele e de Iris, que manifestem isso na hora de fazer uma nova aliança, daqui para frente. A população é muito politizada para saber a relação que sempre tiveram Iris, Paulo, o PMDB e o PT. Não podemos, simplesmente, dizer que não temos nada a ver com o PT, que não temos nada a ver com esta administração. A população não aceita isso, ela sabe que tem. E a eleição depende do candidato, do projeto, do perfil.
Alexandre Parrode — Mas o sr. e também seu pai, o prefeito Maguito Vilela (PMDB), de Aparecida de Goiânia, são contra este rompimento com o PT?
Em Goiânia, como eu disse, não tem jeito de desvincular, é uma aliança que foi feita e tem ônus e bônus, os quais têm de ser compartilhados. E eu tenho de confessar também que eu não tenho participado ativamente dessa relação do PMDB com o PT aqui em Goiânia. Mas em Aparecida é totalmente diferente, porque lá o governo federal, que é do PT, esteve muito presente na administração, com muitos e muitos investimentos e recursos. É uma questão também de caráter e de gratidão. Dilma está mal avaliada e com altos índices de impopularidade, mas ela fez muito por Aparecida. Então, como eu iria agora simplesmente virar as costas para ela? O próprio governador Marconi a elogia pelo que ela fez a Goiás. Quantos bilhões de reais foram liberados de financiamentos e de empréstimos para obras no Estado? O dinheiro veio, mas as obras estão todas paradas.
Enfim, há muita coisa que o governo federal tem feito por Goiás e isso o próprio governador tem reconhecido. Nós não seremos diferentes em Aparecida. Prefiro até perder a eleição, perder apoio político, a ser ingrato, a ter uma falha de caráter e não reconhecer o que o governo federal faz por Aparecida. A cidade tem muitos problemas, mas já avançou muito. Avançou para 35 unidades básicas de saúde, três unidades de pronto atendimento (UPAs), 50 CMEIs em construção, uma grande parte deles já entregue, milhões de metros quadrados de asfalto construído. Agora eu vou simplesmente virar as costas? Por isso que o prefeito defende o mesmo que eu defendo.
Marcos Nunes Carreiro — Por que Dilma fez muito por Aparecida, muito por Goiás, mas não fez muito por Goiânia? Aparecida tem um prefeito do PMDB; Goiás, um governador do PSDB; e Goiânia, um prefeito do PT. Este foi o único a não receber essa grande ajuda do governo federal da qual fala o sr.
O prefeito Maguito tem uma experiência com Brasília: já foi deputado, senador, além de ter uma equipe técnica que funciona. Aparecida tem, inclusive, uma secretaria de captação de recursos, que é composta, salvo engano, por seis engenheiros e oito arquitetos. A função da secretaria é fazer projetos acompanhando toda a programação de Brasília e não perdemos nada; a secretária, Valéria Petersen, é muito dinâmica. O então presidente Lula falava: “Aqui em Brasília não falta dinheiro, o que falta é projeto bem feito”. Aliada à experiência política, ao trânsito do prefeito, isso foi uma junção de coisas que deram certo. Talvez, Goiânia não tenha tido o mesmo sucesso. Mas teve também muitos investimentos.
Alexandre Parrode — Paulo Garcia fala que o grande problema de Goiânia, na saúde, são os 4 milhões de inscritos no SUS aqui, que vêm de outros municípios, inclusive de Aparecida. Paulo Garcia sugeriu que assim fica fácil administrar Aparecida.
Ele está certo em partes. Antes da administração de Maguito, isso realmente ocorria no município. Mas por quê? Porque não havia instalações para receber os aparecidenses. Havia três Cais para atender toda a população — Nova Era, Colina Azul e Garavelo. Três unidades para atender quase 500 mil pessoas. Hoje são 35 unidades de saúde, com 3 UPAs [unidades de pronto atendimento]. Hoje, portanto, há uma rede na cidade que consegue absorver a própria demanda, o que já reduziu bastante a pressão de lá sobre a capital.
Eu tive a oportunidade de acompanhar o prefeito Paulo Garcia ao Ministério da Saúde, há três semanas — sou amigo do ministro Marcelo Castro (PMDB-PI), o qual já veio a Goiânia, para expor na Assembleia Legislativa sobre a reforma política, da qual foi relator. O prefeito mostrou os dados sobre Goiânia para ele. Então, vejamos: por que o prefeito concentra tanto atendimento? Ora, porque não temos uma política de saúde descentralizada no Estado. O governador prometeu construir vários hospitais regionais e onde eles estão? Como está a política de saúde mental e de atendimento a dependentes químicos? Não há um Credeq pronto.
Se tudo se concentra em Goiânia, há de ver que o governo estadual prometeu um IML [Instituto Médico-Legal] para Aparecida há 12 anos que ainda está em obras, nunca termina. Então, Paulo Garcia sofre com isso mesmo. Estão vindo muitas pessoas do Maranhão, do Pará, de Tocantins. Goiânia se tornou um polo de saúde.
Euler de França Belém — Maguito é um prefeito com qualidade e agora tem um jovem que parece ser o principal pré-candidato a sucedê-lo, o vereador Gustavo Mendanha. Ele está mesmo caminhando para ser o escolhido?
Ainda tem muita água para passar debaixo da ponte. Temos muitos bons quadros e o prefeito não se manifestou, deixando, aliás, bem clara sua intenção de não conduzir debate eleitoral este ano. O foco é nos projetos em desenvolvimento. Isso fez com que muitos pré-candidatos se apresentassem. Temos Afonso Boaventura, secretário de Planejamento; temos Jório Coelho, secretário de Administração; temos Euler Morais, secretário de Governo, com grande bagagem política; temos Valéria Petersen, a secretária de Projetos e Captação de Recursos, citada por sua competência. E temos Gustavo Mendanha, que é um líder político, carismático, conciliador, que vem se construindo e é o presidente da Câmara de Aparecida. Brinco com Léo Mendanha [ex-deputado estadual e pai de Gustavo] que o filho dele é seu melhoramento genético. Ele retruca que também diz o mesmo ao meu pai (risos). O prefeito não tem candidato. O nome que sairá vai ter de se construir, aglutinando o maior número de forças políticas em torno de si. Gustavo vem mostrando esse potencial.
Euler de França Belém — Por que Leandro Vilela [ex-deputado federal, PMDB], depois de desistir da candidatura à prefeitura de Jataí, voltou a ser pré-candidato?
Para mim, ele nunca desistiu dessa candidatura. Os políticos falam isso, “não quero”, “não estou querendo”, mas vai chegando a época da eleição e a vontade reaparece. Leandro está animado, passou por uma fase de desintoxicação política. Ele passou 12 anos em Brasília e, queira ou não, são três dias afastado da família por semana. Depois, ainda surgiu o convite de Júnior Friboi para integrar a empresa do grupo e Leandro ficou interessado em ter essa oportunidade na iniciativa privada. Mas ele sempre disse que seu projeto era voltar a Jataí, onde foi criado e que é uma cidade muito bem administrada pelo prefeito Humberto Machado (PMDB), um político muito acima da média e que tem o reconhecimento da população, que quer a continuidade desse trabalho. A situação é tão interessante que Victor Priori (deputado estadual pelo PSDB), o último a disputar eleição com Humberto, declarou em uma rádio que não seria candidato se o nome da situação for Leandro Vilela. Acho, então, que Leandro vai realizar o sonho de voltar para Jataí e disputar a eleição, se vai ganhar eu não sei. O que sei é que vou torcer para isso.
Euler de França Belém — Há um comentário que diz que, se o sr. assumir o PMDB estadual, Friboi deve voltar ao partido…
Não, não (enfático), isso não procede. Faz uns seis meses que não falo com Júnior, não propositalmente. Gosto dele como amigo, é um empresário de sucesso, que deve ser motivo de orgulho para Goiás, mas já disse a ele mesmo — e a pessoas que são de seu círculo — que a política não é o ramo dele. Ele tem muita boa fé, acredita muito nas pessoas. Também por viver o mundo empresarial em tempo integral, Júnior fica um pouco desnorteado. Em minha opinião, ele não deve sequer voltar à atividade política.
Euler de França Belém — O governo do Rio Grande do Sul, conduzido por José Ivo Sartori, do PMDB, está quebrado, com dívidas e salários atrasados. Há algo que diz sobre renegociação das dívidas dos Estados, o que o sr. sabe a respeito disso?
Esse governador do Rio Grande do Sul é diferente e a gente via isso desde a campanha: enquanto todos os candidatos assinavam compromissos com sindicatos e entidades, ele se negava e dizia que não sabia como estavam as finanças públicas. Isso aconteceu, por exemplo, com o piso salarial dos professores.
Sobre a renegociação, é preciso equalizar as gestões nos Estados. Em alguns a situação está mais grave, com quadro inviabilizado. Não é o que acontece em Goiás, por exemplo. Aqui, o que falta é uma gestão mais planejada. Goiás está vivendo de factoides, de embalagens, de programas que efetivamente não resolvem nosso caso. O governador lançou recentemente lançou o Goiás Competitivo. Na semana seguinte, alguém alertou pelas redes sociais que esse programa já existia e mudaram o nome para Goiás Mais Competitividade. Disseram que o Estado iria avançar no ranking de competitividade e, no dia seguinte, o próprio ranking demonstrou recuo em vez de crescimento.
Outro programa, o Inova Goiás, ninguém conseguiu entender ainda de que se trata. Ouvi uma entrevista do vice-governador, José Eliton (PSDB), dizendo que o goiano precisa parar de só ouvir música sertaneja e fazer churrasco. Sinceramente não entendi, porque isso era para explicar o Inova Goiás. Claro que é importante avançar tecnologicamente, mas como falar em inovação se até hoje não fazem o Diário Oficial na íntegra em PDF [formato eletrônico]. É preciso primeiramente fazer o que é preciso.
Euler de França Belém — Por que o sr. trabalhou pela não convocação de Joesley Batista, da JBS-Friboi, na CPI do BNDES?
Simplesmente porque não existia um documento sequer sobre a JBS na CPI. É preciso ter o mínimo de fundamento para convocar alguém e era apenas a segunda ou terceira reunião da comissão. Na verdade, não tinha chegado um único documento que a gente tinha solicitado. Muito se fala que dessa empresa, mas não se pode expor uma pessoa ou uma empresa sem a mínima base. O empresário Eike Batista foi depor e deu um banho, ao ponto de, ao fim, ter gente querendo lhe pedir autógrafo.
Alexandre Parrode — Como funciona a frente parlamentar que o sr. criou para debater o fim dos incentivos fiscais?
Para apresentar uma frente parlamentar é como apresentar uma PEC. É preciso captar quase 200 assinaturas. E ela acaba sendo responsável por conduzir discussões, promover debates sobre um tema específico. Eu já consegui recolher as assinaturas, fizemos sua fundação e agora começarei o trabalho de promovê-la. É uma discussão positiva, pois a maioria dos Estados brasileiros é favorável aos incentivos. Na verdade, apenas São Paulo e Rio de Janeiro são contra. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está obcecado em acabar com os incentivos. Tentou criar os fundos, por meio de medida provisória, mas isso caducou. Agora, naquele projeto de repatriação dos recursos que estão lá fora, os recursos iriam para o Estado por meio desses fundos para compensar o ICMS.
Cezar Santos — Mas isso faz parte do pacote de ajustes, não?
Não, eu até participei, como líder do PMDB, na reunião de líderes da base e deixei claro que sou contra, pois isso é o fim do desenvolvimento dos Estados, representa sua estagnação. Ainda mais, com a forma que eles queriam de repatriação, porque ninguém sabe quanto que vai vir. Disseram que sobraria R$ 1 bilhão para dividir entre os Estados. Primeiro, que R$ 1 bilhão não faz cócegas frente ao que os Estados vão perder com o fim dessa política. Segundo, que não havia garantia de que seria esse valor.
E o bom dessa reunião foi que não teve como ficar contra os incentivos, a não ser São Paulo e Rio de Janeiro. O projeto tem de passar nas duas Casas. Na Câmara, São Paulo tem 70 deputados e o Rio tem 46. No Senado, a disputa é mais desigual ainda porque eles têm seis senadores em um universo de 81. E outra: disseram que todos os governadores estavam a favor da medida. O governador Marconi Perillo (PSDB) estava, inclusive, viajando e eu fiz questão de perguntar: “Mas o governador de Goiás está a favor disso aí? Nem no Brasil ele está e eu vou perguntar”.
Alexandre Parrode — E o governador já falou que não estava a favor.
Mas isso prova a força de São Paulo e Rio de Janeiro tentando forçar a medida. Mas essa tese é tão burra que vai acontecer o mesmo que ocorreu no passado, com pessoas migrando para São Paulo em busca de emprego, formando bolsões de miséria. Ou seja, a distribuição é boa para todos.
Cezar Santos — O sr. pretende aliar a frente parlamentar ao grupo de governadores do Consórcio Brasil Central?
Essa é uma boa ideia, na qual confesso que não havia pensado nisso. Colocarei a Frente Parlamentar à disposição desse grupo, que é composto por Estados que utilizam bastante essa política dos incentivos fiscais. E os governadores têm um papel muito decisivo. Por mais que uma matéria no sentido de acabar com os incentivos venha para o Congresso, os governadores têm peso. E o governo federal não vai enviar uma proposta sem ter o posicionamento quase que unânime dos governadores.
Agora, há a figura do STF, que está sentado em um projeto que pode colocar fim nas divergências de alíquotas de ICMS, o que será um prejuízo muito grande. Então, temos de nos mobilizar, pois o STF pode promover um grande ataque aos chamados Estados em desenvolvimento. É um risco que corremos.
Euler de França Belém — O sr. é a favor das OSs [organizações sociais]?
Sim e já afirmei isso. Escrevi artigos a respeito, principalmente na saúde. Eu sou a favor desse modelo. Na educação, porém, eu já acho algo um pouco complexo. O grande problema é quem está por trás dessas OSs, pois algumas delas foram criadas da noite para o dia. E aí entra uma questão cultural. Se quisermos pegar toda a saúde de Goiás e entregar para OSs, não acharemos boas instituições no Brasil. Tanto que na educação fizeram o primeiro chamamento e não apareceu ninguém.
A USP [Universidade de São Paulo] tem uma OS com “know-how”. O Hospital Albert Einstein, me parece, também tem uma OS, mas acho que eles nem querem vir para cá também, pois foram criadas para atender São Paulo, que já faz isso há 20 anos.
Frederico Vitor — Os colégios militares não são exatamente OSs, mas seu funcionamento é, de certa forma, parecido com o de uma. Como o sr. enxerga esse modelo de escola?
Não sou radicalmente contra. Acho que ter modelos de educação que potencializem mais a disciplina e a rigidez, ainda mais neste momento que vivemos, não é ruim. Entretanto, não se consegue fazer isso em escala, pois não terá a mesma qualidade. Outra coisa: o efetivo de militares já é pequeno para tirá-los de suas funções e colocá-los nas escolas.
Alexandre Parrode — Como o sr. vê a questão do desarmamento?
Ainda não sei como vou votar. Tenho acompanhado, até porque o autor desse projeto é um grande amigo, o deputado Peninha Mendonça (PMDB-SC) e o relator também é do PMDB, o deputado Laudivio Carvalho, de Minas Gerais. Não sei se é porque tenho completa ausência com essa questão de armas, eu não vejo isso como uma forma de garantir segurança, mesmo que a segurança pública esteja uma calamidade em Goiás.
Na nossa região, em Jataí, os produtores rurais estão desesperados. Se há assaltos na cidade, que têm policiamento e contingenciamento maiores, imaginem na zona rural. Então nós, que somos representantes desses produtores, nos sentimos pressionados a atender a essa reivindicação deles. Mas não acho que isso vai resolver a questão. Até porque — e nosso livro também aponta para isso — mesmo com o Estatuto do Desarmamento o número de pessoas armadas aumentou. Ou seja, esse estatuto também não resolveu.
O primeiro relatório apresentado tem algumas falhas. Acho, por exemplo, que não é necessário diminuir demais a idade para ter o porte e que é necessário ter critérios mais rígidos e regulares para dar o porte. Por exemplo, no primeiro texto, davam a possibilidade para quem já foi condenado nas primeiras instâncias por algum tipo de violência ter o porte de armas. E isso não pode acontecer. Mas acho que já há atualmente um encaminhamento para corrigir essas falhas.
Alexandre Parrode — Entre as pautas-bomba está o Estatuto da Família, que restringe o conceito de família. Como o sr. vê esse tipo de projeto, que acaba restringindo o conceito de família nos dias de hoje?
Não é papel do Estado determinar como cada cidadão tem de conduzir sua vida ou de que forma deva constituir sua família. Tenho opinião divergente sobre esse aspecto do estatuto em questão. Cada um precisa assumir as consequências de seus atos, tanto positivas como negativas. O Estado não pode impor nada e o Poder Judiciário já decidiu sobre isso. Há também outro ponto: não se pode colocar tudo que se queira na Constituição, porque ela precisa ter uma simetria, já que tem princípios basilares.
Frederico Vitor — O governo federal duplicou a BR-060 de Goiânia a Jataí. Mas como fica a duplicação da BR-153 de Anápolis a Porangatu?
Essa obra começou a sair, mas houve o problema da Operação Lava Jato. A BR-060 deve ter sido a última rodovia em que o governo fez investimento direto. Agora isso vai mudar, o que eu acho, de certa forma, positivo. Será lançado um edital para a concessão de Goiânia a Rondonópolis, com o trecho a duplicar da BR-364 a partir de Jataí, que será feito pela empresa vencedora do processo. Apesar do pagamento de pedágio, gosto do modelo.
Frederico Vitor — E sobre o novo aeroporto, como o sr. o avalia?
Acredito que ele vá comporta a demanda de Goiânia durante muitos anos. Estive há pouco tempo na ANTT [Agência Nacional de Transporte Terrestre] para resolver um problema pequeno, mas fundamental, que é a questão do viaduto de acesso ao aeroporto. Ele será um pré-moldado, que virá em vigas, em uma via lateral, sem nem mesmo parar o trânsito quando for instalado. A previsão é de que tudo seja entregue em abril.
Frederico Vitor — Por que a Ferrovia Norte-Sul ainda não está em plena operação?
Realmente não sei informar a razão de sua não operação na totalidade nos trechos já liberados. O que há nos locais ainda em obra em Goiás é a mesma questão da obra da BR-153: a questão da Operação Lava Jato.