Vereador mais jovem da capital avalia negativamente gestão do emedebista e diz que a falta de parceria do Paço com o Legislativo está prejudicando a cidade

Fernando Leite/Jornal Opção

Uma das características que podem ser encontradas nesta primeira entrevista da semana do vereador Lucas Kitão (PSL) ao Jornal Opção é a reiteração da primeira pessoa do plural.

Durante todo o transcorrer do encontro, o uso do “nós” foi muito mais presente do que o do “eu”. Mais do que isso, ressaltou por várias vezes que pertence a um grupo político – o Pense Novo, corrente de saída do PSL com a provável filiação do deputado federal Jair Bolsonaro (hoje PSC-RJ), que procura um partido para sua ambição presidencial – e que pensa seus passos políticos de acordo com o projeto comum, que hoje prioriza a reeleição de Lucas Calil (PSL) à Assembleia Legislativa.

Eleito com 4.499 votos na única vaga alcançada pelo partido aos 25 anos, Kitão é o vereador mais jovem da Câmara de Goiânia. E, por seu discurso, pensa a política de modo muito mais orgânico do que a média de seus colegas de Legislativo. Diz não querer nenhum cargo na Prefeitura à disposição, mas ressalta que gostaria que o prefeito atendesse às demandas dele e de seus colegas. “Parece que pensam que só vamos até lá para pedir coisas pessoais e isso não é verdade. Não é feio atender pedido de vereador. Só que isso está sendo criminalizado”.
Nesta entrevista, ele critica a demora na escolha do líder do prefeito na Câmara, a falta de organização administrativa, a pouca transparência no repasse dos recursos para a saúde e a assistência social, entre outros fatores que o fazem concluir: “Tenho de admitir que esperava muito mais de Iris Rezende, até por sua história”.

Alexandre Parrode – O ano passado, o seu primeiro como vereador, foi complicado e atípico para a Câ­mara. Não teve designação de liderança do prefeito na Casa, alguns projetos chegaram difusos e, sem articulação, houve muitas derrotas para o Paço. Como o sr. avalia esse relacionamento difícil que ocorreu – e ainda está ocorrendo – entre a Prefeitura e os vereadores?

Realmente foi um ano complicado nessa relação, o que atribuo à falta de consideração do Executivo com a Câmara. O prefeito queria implantar uma ideia, um projeto, mas não estendia isso para a discussão no Legislativo. Posso citar vários casos, como o da regulamentação dos aplicativos de transporte. Veio um decreto do Paço que, além de um vício formal, teve uma desconexão política, já que Iris não adiantou nada com os vereadores. Nossa legislatura começou com tendo a regulamentação do Uber e dos outros aplicativos como uma das grandes responsabilidades, de forma que, com isso, ganhasse a Prefeitura e não fossem prejudicados nem os usuários nem os trabalhadores do setor. Mas não houve conexão do projeto, simplesmente uma imposição.

Outra questão foi a da cobrança do “puxadinho” no IPTU, que foi motivo de embate o ano inteiro e de decepção nos últimos dias do ano passado. Até pelo fato de o Paço não ter líder, fizeram com os vereadores algo que não se faz: desonraram a palavra, já que o compromisso era a gente votar a análise da lei que represtinava as alíquotas [repristinação é a revogação de uma lei por outra, tendo uma revogação posterior da própria norma revogadora por uma terceira lei, de modo a restabelecer sua vigência] em troca da devolução do projeto do “puxadinho” [que estava sob pedido de vistas do vereador Tiãozinho Porto (Pros) a pedido do Paço]. Era uma forma de terminar o ano dando resposta à sociedade sobre algo que também tem vício formal – o código tributário não permitia a cobrança por satélite [como ocorreu com o IPTU], em tese isso teria de passar por um auditor fiscal. Na maioria dos casos, além de não ter diálogo do Executivo com o Legislativo, há alguma outra questão que acaba atropelando o processo, ou a própria lei.

A Câmara, às vezes, toma a iniciativa de algum trabalho, por desatenção do Paço. Cito um caso: a primeira audiência que fizemos no mandato foi sobre a Previdência dos servidores, um problema histórico, porque tem um rombo muito grande. Começamos a discutir isso porque o prefeito ainda não tinha tomado frente do tema. Da mesma forma ocorreu com a alteração que fizemos na Lei Orgânica, obrigando os presidentes do Imas [Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais de Goiânia] e do IPSM [Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de Goiânia] a serem servidores de carreira. A Câmara tomou o primeiro passo, mas, a meu ver, o certo seria o Paço e os vereadores entrarem num consenso e tratarem a pauta da melhor forma, ouvindo os servidores e demais envolvidos. Mas nós acabamos por nos tornar reféns, porque o prefeito prefere editar um decreto do que nos repassar para discutir a lei.

Cezar Santos – É até inconcebível imaginar uma legislatura na qual o comandante do Executivo não tenha um líder na Casa. Alguém não assumiu esse papel, mesmo que informalmente?

Em alguns casos, sim. Mas nunca foi algo planejado. O vereador Clécio Alves (MDB), ex-presidente da Câmara, assumiu a frente no caso da LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] –, até indo ao encontro a uma sugestão de nossa parte, permitindo que uma porcentagem maior da realocação dos recursos da Prefeitura. Nessa questão, ele simplesmente assumiu e conseguiu agradar ao prefeito. Mas não houve um pedido do prefeito, não havia essa conexão.
Da mesma forma, o vereador Welington Peixoto (MDB) ajudou nesse sentido, em alguns casos, bem como o presidente Andrey Azeredo (MDB) também se tornou um líder informal do prefeito. Aliás, isso é algo que nós criticamos, porque, em tese, por ser presidente de outro Poder, não deveria ser uma extensão do Paço. Ele não é secretário do prefeito, seu trato com ele teria de ser outro.

Alexandre Parrode – Andrey Azeredo, agindo às vezes como um assessor direto do casal Iris, gerou decepção aos vereadores? Digo isso porque vocês o elegeram, após formarem um grupo, e o escolheram exatamente por ser um novato e representar renovação.

Como vereador novato, fiz campanha para eleger outro nome de primeiro mandato e que tivesse compromisso com nossas ideias. Isso foi formalizado em um ato que fizemos, abrindo mão de alguns velhos costumes e forçando o compromisso com esse candidato do grupo de novatos, no caso Andrey Azeredo, a atender o que nós queríamos: um presidente do Poder Legislativo, e não um emissário do Paço. Por mais que soubéssemos da ligação forte de Andrey com Iris, acreditávamos que ele seria o presidente dos vereadores. Porém, vimos que isso não ocorreu, porque até o momento ele conduziu a Casa tentando agradar ao prefeito e atender seus pedidos. Essa é nossa decepção. Em outros pontos, Andrey foi atencioso, ouviu nossas demandas. Tem tentado melhorar, mas, em questão de posicionamento político como Poder, vejo que falta autonomia à Câmara.

Augusto Diniz – Mesmo com An­drey tentando puxar para si essa liderança da Prefeitura no Legis­la­ti­vo, ainda ficou uma lacuna. Ele não conseguiu exercer de fato essa função, mesmo que tenha dado certa orientação. O buraco entre Pre­fei­tura e Câmara continua. Como re­solver isso, caso o prefeito demore mais ainda a indicar seu líder?

Eu realmente fico com pena, porque quem perde com isso é a cidade. Cito o caso em que o cidadão que foi diretamente punido: por exemplo, alguém que pagaria 17 reais de aumento, mas vai acabar pagando quase 30%; temos também o valor da passagem de transporte coletivo subindo agora; isso sem contar as questões que vão além, como o aumento do gás, dos combustíveis etc. Isso tudo pesa para o cidadão e, enquanto há essa disputa entre a Câmara e Prefeitura, é ele quem sai perdendo.

Há programas da Prefeitura que estão parados, bem como questões como a da Guarda Municipal, que tinha de ser reaparelhada, mas Iris caminha para torná-la uma espécie de
vigilância sem poder de polícia. Isso por falta de o prefeito ouvir a Câmara e, novamente, é o cidadão quem sofre.

De qualquer forma, mesmo se houvesse líder na Câmara, as insatisfações não deixariam de ocorrer, porque elas estão em próprios vereadores do MDB e outros partidos que apoiam Iris. Há uma falta de diálogo que vem decepcionando até gente como Clécio Alves, que sempre foi um dos maiores defensores do prefeito. Claro que há questões pessoais e públicas que separam e, mesmo que haja um líder, não deixará de haver essas pequenas insatisfações e isso pode impossibilitar de caminhar juntos. Por exemplo, Paulinho Graus (PDT) é uma pessoa muito benquista, mas se o prefeito não tratar particularmente suas insatisfações, mesmo com ele tendo esse papel de liderança, vai haver dissidência.

Cezar Santos – Quem o sr. acha que pode ser escolhido como líder do prefeito?

Pode ser o próprio Paulinho, como também Tiãozinho Porto (Pros) ou Welington Peixoto, que também têm boa aceitação. Qualquer um dos três nomes poderia ser um bom líder.

Augusto Diniz – Mas qual hoje seria o preferido para acabar com esses problemas de contato e comunicação entre Executivo e Legislativo?

Qualquer um dos três seria um bom líder, mas desde que o prefeito passe a tratar as insatisfações de cada vereador. Veja o caso do vereador Izídio Alves (PR), que é um vereador já de muitas legislaturas, muita história, mas que vem sofrendo com o fato de Iris deixar desatendida a Comurg, sua base eleitoral. Paulinho Graus e Welington Peixoto saem na frente por já conhecerem a Câmara de outros mandatos e terem bom contato com os veteranos e os novatos. Tiãozinho, por sua vez, tem a vantagem de ser um contato com os vereadores mais à oposição, podendo estabelecer um elo entre a base e os que estão mais à oposição. A questão, que eu soube, é que o prefeito queria que os vereadores escolhessem esse líder. Mas essa é uma questão de afinidade, confiança e perfil. Tem vereador que é muito bom, mas não tem perfil de líder.

Augusto Diniz – A alegação de Iris é de que, como havia 23 novos vereadores e mais de 20 partidos, ele precisaria conhecer melhor o quadro para fazer sua indicação. Mas não é estranho passar um ano sem indicar um líder?

Isso deixa claro que ele não faz tanta questão de ouvir a Câmara. Nossa luta é exatamente para que ele ouça mais. Na área da Saúde, houve mudanças as quais Iris poderia ter ouvido mais a gente. Não sou vereador de bairro, mas esse, que está lá, em sua região, sabe o que é preciso para aquela localidade, qual é o maior problema. Se Iris escutasse mais esses pedidos, poderia agradar à população imediatamente.

Isso tudo, porém, fez com que a Câmara conseguisse uma conquista histórica: as emendas impositivas, conseguindo alterar a Lei Orgânica e colocar na Lei Orçamentária e no Plano Plurianual. Tem tudo para que o Iris faça cumprir e podemos até discutir na Justiça, caso ele não queira. Mas o primeiro passo é ter um diálogo e fazer com que tudo ocorra de modo pacífico. É uma conquista nossa, mas que acabou acontecendo justamente porque ele não nos ouvia.

Alexandre Parrode – Quantas vezes os vereadores foram chamados no Paço ou que Iris tenha se reunido com uma quantidade maior deles, sem que fosse individualmente?

Essa foi uma das minhas maiores surpresas com Iris, pelo histórico que ele tem. Iris já foi tudo na vida pública, tem muita bagagem, fez muita coisa pelo Estado e pelo Brasil. Por isso, eu esperava muito mais dele. E aqui tenho de fazer um paralelo entre sua atuação e a do governador Marconi Perillo (PSDB) em relação ao Legislativo: fui chamado ao Paço uma vez e estive com ele outras quatro ou cinco vezes, mas, na maioria, provocado por nós. Levei até o Paço moradores e representantes de associações, mas sempre com muita dificuldade em ser recebido – percebe-se que sua assessoria o blinda em relação a nos receber. Posso garantir que nunca fui até ele para pedir alguma coisa para mim, tenho tranquilidade para dizer que disse ao prefeito que abria mão de qualquer indicação em prol do Centro Profissionalizante para Jovens. Fiz isso porque, ao mesmo tempo em que recebia muito pedido de emprego, também tinha empresário lamentando que não tinha trabalhador qualificado e que tinha de trazer de fora para algumas tarefas, como a automação de uma empresa ou indústria.

Cezar Santos – E qual foi a resposta de Iris?

Ele falou que iria estudar o caso. Querendo ou não, há da parte da Prefeitura uma preocupação com os Cmeis e a educação infantil é um problema nacional do qual Goiânia está no topo do ranking negativo, em relação ao tamanho da lista de espera por vagas em Cmeis. Iris disse que teria de primeiramente organizar esse ponto, mas creio que, paralelamente, poderia também investir nesse centro. Há cidades em que essa parceria com os empresários já deu muito certo, como está provando o prefeito João Doria (PSDB) em São Paulo. Mas, até agora, nada foi feito. Aliás, nem mesmo em relação à obrigação de cuidar dos Cmeis. Parece que a Prefeitura inaugurou uma ou duas unidades, só que o déficit é de mais de 15 mil vagas.
O vereador sente isso na pele, principalmente em época de matrícula. No meio de uma crise como essa, o pai precisa de uma vaga em uma creche pública. Somos sensíveis a essas demandas. Mas esse pedido que eu fiz para Iris não foi atendido nem encaminhado, muito menos os de obras de infraestrutura ou de atendimento a alguma associação. Tenho o prazer de representar quem trabalha com o terceiro setor, agentes privados com finalidades públicas, como são os casos de associações como a Pestalozzi [que visa crianças com síndrome de Down] e a Ascep [Associação de Serviço à Criança Especial]. São voluntários com um serviço lindo prestado à cidade, só que sem apoio algum do poder público.

A Semas [Secretaria Municipal de Assistência Social] é uma secretaria importantíssima e que está praticamente inoperante, com verba federal que chega lá e some. Enquanto isso, essas associações estão a ponto de fechar.

Elder Dias – O sr. está falando de associações, inclusive, que cuidam de idosos?

De idosos, de deficientes físicos, de crianças. Tenho muitos levantamentos sobre isso. Estive na Semas no fim do ano, para cobrar um repasse da Ascep que está há seis meses atrasado. Não sei o que acontece.

Elder Dias – Esse dinheiro vem de onde?

É verba federal carimbada. Depois do Natal, fiquei um dia lá na Semas para receber o dinheiro dos renais crônicos. A Prefeitura recebe do Ministério da Saúde o dinheiro que paga os transportadores dos pacientes e as clínicas de hemodiálise. Verificamos que estavam, ambos os pagamentos, há seis meses atrasados. Recebi um ofício do presidente da associação e do dono da empresa. Disseram que estavam paralisando o serviço, pois não davam conta mais de se sustentar.

Alexandre Parrode – Então não se pode nem dizer que seja uma dívida da gestão anterior?

Exatamente, é algo dessa gestão da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Da mesma forma, está ocorrendo com as clínicas. Mas, veja bem: o doente renal que tem condição financeira não fica dependendo do município; quem depende é o pobre mesmo, aquele bem humilde. Depois de uma sessão de hemodiálise, imagine, a pessoa sai fraca e não tem como voltar para casa. Isso se a clínica não encerrar o serviço por falta de pagamento. Então, o que faz o vereador? Um mutirão na Prefeitura, para conseguir que essas pessoas sejam pagas, com um dinheiro que em tese já deveria estar lá.

Elder Dias – É um problema muito grave.

É gravíssimo e está ocorrendo em várias secretarias. O Ministério da Saúde nos apresenta que o repasse foi feito. Então, o que aconteceu com o dinheiro? Ninguém sabe. Claro, a Prefeitura tem dívidas. Mas estive na Prefeitura de Rio Verde e sabe o que ocorre por lá? Eles fazem uma conta para cada recebimento. Então, tal conta, que é da hemodiálise, ninguém mexe nela para outra coisa. Se o dinheiro cair hoje para a Prefeitura, no outro dia está na conta da clínica, ninguém passa dificuldade. Mas, em Goiânia, parece não haver gestão para isso.

Cezar Santos – A Prefeitura estaria fazendo um caixa único, o que não seria permitido?

Alexandre Parrode – A proposta de conta única foi rejeitada pelos vereadores.

Sim, essa não é a saída. Não sei se o objetivo era fazer volume para ter margem de negociação, mas isso pode ser feito também em contas separadas. O que precisa acontecer é a Prefeitura se organizar para uma atividade não pagar pela outra. Vou dar outro exemplo: tem servidor da Saúde que tomou empréstimo consignado, mas está sendo negativado pela financiadora. Então, ele vem até a gente e diz “vereador, como posso estar negativado, se vem o desconto todo mês no meu contracheque?”. Só que a Prefeitura está descontando sem repassar para o banco. Veja o ponto a quem chegamos.

Um servidor que pediu demissão me explicou o que acontece: a Secretaria de Finanças estava passando, para pagamento, apenas o valor líquido, não o valor bruto. Perguntei “como assim?”, já que é preciso honrar a parte patronal – o que é a causa do rombo que há no IPSM. Vai virando uma bola de neve e o servidor é quem paga a conta, porque o banco não vai ficar no prejuízo. O correto seria se sentarem o prefeito, o secretário de Saúde e o de Finanças para regularizar tudo, passando o valor bruto para a Secretaria de Saúde fazer o pagamento. Uma coisa à toa que gera tanto transtorno, poderia ser resolvida com uma ligação.

Alexandre Parrode – Falta vontade para resolver o problema? Parece ser esse o problema…

Elder Dias – Isso não parece nem ser uma questão de vontade; o que isso parece é que é algo para ser assim mesmo, para fazer um fundo à parte.

Há saídas interessantes para problemas assim. Uma seria estabelecer por lei uma ordem cronológica de pagamentos a fornecedores e prestadores de serviços. O que isso significa? Se o sujeito A forneceu algo hoje e o sujeito B fizer isso amanhã, obrigatoriamente o sujeito A terá prioridade para receber. Isso precisa estar em um portal da transparência no qual a ordem de recebimento vá sendo publicada. Quando isso for feito, o prestador de serviço vai ter mais confiança e, tendo uma data para receber, poderá passar a fazer um preço mais barato, tendo certeza de que não vai entrar em qualquer negociação para poder “salvar” o que tem em crédito.

Suponhamos que, hoje, um determinado item custe 100 reais na loja; para a Prefeitura vai custar 170 reais, porque o fornecedor vai embutir o porcentual de risco, a demora no pagamento. Mas se for criado um fluxo de caixa, por que não vender também por 100 reais, tendo certeza de que vai receber? Assim, vai sobrar dinheiro para o município e organizar a saúde financeira da Prefeitura.

Pode ficar até mais barato do que o valor de mercado.

Sim, porque a venda será em grande volume. Vai compensar fornecer para a Prefeitura.
Exatamente. E corrige várias distorções. Veja o problema das creches conveniadas. No início de nosso trabalho, constatamos pelo menos 5 mil crianças sem ter onde estudar. Quando não tem Cmei, a Justiça obriga o município a abrir vagas. Então a Secretaria Municipal de Educação vai até uma igreja ou uma associação e fecha acordo para pagar uma cota mensal por aluno. Nessa época, tinha meia dúzia de empresários que forneciam para a Secretaria de Educação com pagamentos em dia de seus contratos, enquanto havia 5 mil crianças esperando o pagamento das creches conveniadas para voltar a estudar. Qual a lógica disso? Se houvesse a lei da ordem cronológica não teria esse problema, estaria tudo em dia. Não haveria privilégio a uma meia dúzia de amigos.

Cezar Santos – E se fechava uma porta à corrupção.

Com certeza, haveria uma redução do “jeitinho”.

“Se eu fosse prefeito, acamparia em Brasília pelo BRT”

Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Elder Dias – A desorganização parece ser uma marca da Prefeitura de Goiânia nesta administração. Onde há desorganização, há mais risco de desvio ou outra coisa errada acontecer. Mas como está reagindo a Câmara a esses acontecimentos? Uma série de questionamentos e parece não haver nenhuma CEI [Comissão Especial de Investigação] à vista para apurar e saber, por exemplo, para onde está indo o repasse às entidades filantrópicas. Por que a Câmara não se mobiliza de verdade para investigar o que está acontecendo?

Sobre a questão da desorganização, eu concordo. Estamos tendo um prejuízo mensal de mais de R$ 1 milhão com a obra parada do BRT. E isso está ocorrendo por conta do sobrepreço em um item, sendo que já apresentamos à Secretaria de Finanças e a de Infraestru­tura que existem pareceres do TCM [Tribunal de Contas dos Municípios] e da Controla­doria-Geral da União (CGU) legalizando a obra quando há sobrepreço em um item, mas o valor global dela está dentro da média. No fim, é falta de vontade política. Costumo brincar que, se eu fosse o prefeito, estaria acampado em Brasília para resolver esse imbróglio.

Alexandre Parrode – Enquanto isso, abrem uma CEI do Mau Cheiro. Sem querer diminuir a importância desse problema, quando há uma situação de descalabro nas contas, uma comissão sobre uma questão mais pontual está aberta e a questão dos repasses não é discutida.

Sempre esse tema da falha nos repasses é alvo de nossos questionamentos durante as prestações de contas do prefeito. O portal da transparência da Prefeitura é inacessível. Então, sempre que a gente ouve alguém da Secretaria de Finanças ou o próprio prefeito, dizem que a situação está sendo regularizada e não dão resposta certa para isso. Não temos ainda a ferramenta certa para abrir essa caixa preta e saber o que está acontecendo de fato.

A Semas é uma pasta que sempre foi ocupada por políticos e, em grande parte das vezes, sua finalidade foi desviada. Agora, chegou a conta. Estamos tentando de todas as formas e já temos promessas de que os pagamentos seriam regularizados em alguns dias. O gestor fala “vamos pagar nesta semana” e a associação, com essa certeza, faz uma rifa ou até mesmo pega um empréstimo para se sustentar até pegar o repasse, que é o mínimo, não é um dinheirão. Aliás, o trabalho que eles fazem tira um peso que a Prefeitura teria.

Elder Dias – Na verdade, nem dinheiro da Prefeitura isso é, porque vem de fora.

Sim, na maioria das vezes é verba federal.

Augusto Diniz – Voltando um pouco à questão do BRT, dá para definir se o problema está na Prefeitura ou na Caixa Econômica Federal aceitar a adequação do projeto?

Alexandre Parrode – Um vai jogando a responsabilidade para o outro…

A meu ver, se uma obra é na sua casa, o maior interessado é você. Se faltar um pedreiro, um servente ou se faltar material, é você quem tem de ir atrás. Então, atribuo a responsabilidade à Prefeitura, que é – ou deveria ser – a maior interessada. Sei que é uma questão difícil, demorada, mas, com a autoridade de Iris, com o respeito que ele tem, e sendo o presidente [Michel Temer] de seu partido, eu iria para Brasília e só voltaria com ela em andamento.

Cezar Santos – Como cidadão, me parece que só um setor da Prefeitura está funcionando a contento: o de multas, na SMT [Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana]. O sr. tem algum indicativo sobre a reclamação dos cidadãos nesse sentido?

Eu vou complementar sua colocação e dizer que também há outro setor funcionando: o de Recursos Humanos. Todo dia tem pelo menos uma nova nomeação no Diário Oficial. Algo que vai até contra a lei da física, segundo a qual, para alguém entrar, outro teria de sair. Na Prefeitura não, lá só entra. O Diário Oficial é a prova disso.

As autuações foram alvo de um requerimento que fizemos, solicitando que o titular da SMT, antes de começar a multar, reorganizasse todas as ruas da cidade, dando a contrapartida que o cidadão espera. Depois de tudo estar resolvido, com todos os buracos tapados, aí sim poderia começar a autuar. Outro pedido foi o de fazer a sincronização das câmeras do município com a central de monitoramento da Polícia Militar, um procedimento simples e que ajudaria bastante na questão do combate à criminalidade. Bastaria que o secretário municipal de Trânsito se sentasse com o secretário estadual de Segurança Pública. Não é porque são adversários políticos que isso não pode acontecer, ainda mais se o cidadão vai ganhar e o custo será zero.

Alexandre Parrode – No ano passado, a Prefeitura fez um Refis, mas até hoje não se sabe quanto foi arrecadado. Não houve nenhuma prestação de contas. O sr. tem alguma informação sobre o resultado do Refis da Prefeitura?

É uma indagação que eu quero fazer pessoalmente na próxima prestação quadrimestral do prefeito. Temos informação de que não houve divulgação ampla sobre os resultados porque não houve a arrecadação esperada, inclusive pela crise financeira do País. A prova de que isso deve ter acontecido é que a própria Prefeitura pediu o adiamento do prazo para fazer o Refiz, de novembro para o fim do ano. Fizeram propaganda caríssima nas mídias para informar sobre o fim do prazo do Refis. Só que a pessoa chegava na unidade para ser atendida e não tinha senha. Então, o que adiantou gastar isso tudo com propaganda para isso, no final?

Vereador Lucas Kitão ouve a equipe do Jornal Opção: “O projeto de nosso grupo é reeleger Lucas Calil”

Alexandre Parrode – Qual é a prioridade da Prefeitura hoje, em sua visão?

Até agora o prefeito Iris Rezende não conseguiu constituir um projeto de governo. Há apenas questões paliativas, como o Mutirão nos Bairros, que tem um gasto grande, a meu ver, e não traz nada em definitivo. Posso aqui dar o exemplo do quanto foi gasto no mutirão realizado na região do Setor Urias Magalhães. Lá tem um Cais que está fechado há três anos para reforma. É uma unidade de saúde, a coisa que o cidadão mais precisa hoje. Por que não gastaram esse dinheiro todo para reformar a unidade e equipá-la? Se for escolher, o cidadão quer ver o Cais funcionar ou quer que pintem a praça? Ora, o Cais é algo muito mais importante e também algo definitivo. Sempre fomos incisivos na cobrança do prefeito em relação a essas questões. Qual a resposta? A de que vão “também” abrir o Cais.

Elder Dias – Aliás, a prioridade aos Cais foi uma grande promessa de Iris.

Augusto Diniz – É interessante e importante ver a primeira-dama, Iris Araújo, participando ativamente da administração, ajudando o prefeito. Mas procede que a Prefeitura virou um balcão de negócios de Dona Iris?

Tem vereador que vai lá todo dia. Não sei se “balcão de negócios” é a expressão correta, mas o que posso dizer é que virou troca. A prova clara disso é que 45 suplentes estão empregados no Paço, sendo que só há 35 vereadores. Qual é a lógica? Ora, os suplentes fizeram acordo de apoio político para a futura campanha de Dona Iris em troca de um cargo na gestão. Nada contra, muitos são amigos meus e até gente boa demais, mas estão ocupando uma área que não é da formação deles. Essa é minha preocupação, porque uma prefeitura não é um lugar para simplesmente pôr companheiro de eleição, é preciso colocar em lugares-chave as pessoas que têm aptidão para exercer a função.

Cezar Santos – Ou seja, pode não ter virado um balcão de negócios, mas talvez um comitê de campanha.

Exatamente. A expressão mais adequada seria esta: um conchavo político, um interesse eleitoral, ao invés de uma preocupação legítima de gestão. Em muitas situações isso fica claro hoje no Paço, inclusive em relação ao não encaminhamento da reforma administrativa. Há um claro motivo para não fazê-la agora, já que está chegando o período eleitoral e o prefeito atendeu pedidos de várias legendas. Apesar de não ter nada pessoalmente contra, Iris aconchegou representantes influentes de várias denominações religiosas, o que tem um peso eleitoral. Iris conseguiu evitar a reforma para agasalhar companheiros.

Elder Dias – Ou seja, na verdade a Prefeitura está gastando com esses “companheiros” em vez de investir o dinheiro na população, em demandas sociais.

Quem paga a conta, na maioria das vezes, é o cidadão.

Cezar Santos – Que nota o sr. daria hoje para a gestão da Prefeitura de Goiânia, de zero a 10?

Talvez uma nota 4 ou 5, no máximo, sendo otimista. E quem puxa essa nota para cima são secretários e pessoas competentes. Há gente boa lá, mas a coisa não funciona como uma engrenagem.

Augusto Diniz – Um retrato fiel dessa administração não seria o que aconteceu na reunião que decidiu o aumento da tarifa do transporte coletivo na região metropolitana, em que o prefeito Iris Rezende chegou, falou no início da reunião, recomendou que o valor fosse de 4 reais para não dificultar o troco e depois sair, deixando tudo acontecer sem acompanhar o que estava sendo discutido?

Eu não tinha feito essa análise, mas é algo bem inteligente para entender como anda a coisa. Parece algo amador, uma conversa de compadres, em que alguém chega, dá um tapinha nas costas e fala “faz isso aí”. Parece que a coisa pública não está sendo levada a sério. Não considero Iris mal-intencionado, pelo contrário, mas ele não está conseguindo imprimir o ritmo necessário, às vezes por interesses eleitorais ou por outras questões. O fato é que as coisas não estão acontecendo e, em muitos casos, ele parece mesmo não demonstrar interesse, faz pouca questão.

Muita gente fala que a permanência de Fátima Mrué [secretária municipal de Saúde] seria uma espécie de pirraça do prefeito. Eu penso apenas que ele poderia ter escutado alguns conselheiros e tê-la colocado em uma área que fosse só técnica. A secretaria exige alguém que seja, além de bom técnico, também um bom gestor. Se ela não sabe lidar com a burocracia, que é grande, não adianta.

O governador Marconi falou algo muito certo recentemente: é preciso ter a capacidade de fazer uma boa equipe. E ele atribui seu sucesso e suas conquistas a essa boa equipe. Por isso, vejo como essencial que se tenha um bom secretariado, para que uma gestão venha a funcionar, é o primeiro passo. Iris sofreu derrotas no Legislativo que Marconi não sofreria, como essa das emendas impositivas. Qual a diferença entre os dois? É que o governador tem disposição em ouvir o Legislativo, algo que falta para Iris. Tenho certeza de que Iris resolveria muitas insatisfações na Câmara se tivesse uma boa conversa com os vereadores.
Tem muito vereador bem-intencionado que foi até ele apenas em busca de atender demandas de sua comunidade. E não é feio atender pedido de vereador. Isso está sendo criminalizado, como se o vereador fosse até o prefeito só para pedir cargo. Pode até ter isso, mas não é nem na maioria das vezes.

Augusto Diniz – O legado político de Iris, com sua experiência, não combina com isso que ele vem desempenhando…

Eu esperava muito mais dele. Tenho no meu celular as promessas de campanha que ele fez. Sempre que posso pontuo isso na tribuna, nos discursos. Ele disse, por exemplo, que o primeiro compromisso dele com a cidade, em seu plano de governo, era investir na modernização tecnológica de prestação de serviços pela Prefeitura. Isso nunca foi feito da parte dele. O que saiu do papel foi o Alvará Fácil, que na verdade foi ideia do secretário Sebastião Juruna [ex-titular da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh)], da gestão passada, que Agenor [Mariano, atual titular da pasta] deu andamento.
Falamos para o prefeito não aumentar o IPTU, era muito mais prático, para arrecadação, implantar o parquímetro. Isso dá dinheiro e organiza a cidade. Ou seja, não precisava passar essa conta para o povo dessa forma. Basta usar a tecnologia.

Elder Dias – Com a proximidade das eleições este ano, começa a se acentuar a movimentação nos partidos. O que ocorre nacionalmente, é claro, causa repercussão local. No caso do PSL, seu partido, como está sua situação? Como ficou sua posição com a eventual filiação de Jair Bolsonaro [deputado federal pré-candidato à Presidência, de saída do PSC]? O movimento Livres, que pretendia ser a renovação do PSL, já anunciou a saída do partido por causa disso. E o sr., como fica?

O Livres é do nosso partido, mas minha corrente chama-se Pense Novo, são paralelas. Estamos definindo nossa situação, porque nem o PSL bateu o martelo sobre a filiação de Bolsonaro, embora esteja bem encaminhado esse processo.

Cezar Santos – O que o sr. pensa sobre essa vinda de um pré-candidato tão forte, mas com tanta polêmica?

A maioria dos membros do PSL é envolvida com a ideologia do partido e sua metodologia. Para o PSL, a vinda dele acaba sendo a perda dessa militância. Não será mais o militante liberal que vai levantar a bandeira do PSL, mas o militante da direita diretamente relacionada a Bolsonaro.

Elder Dias – O partido vai negar o próprio nome, então [Partido Social Liberal]?

Exatamente. E meu posicionamento hoje não tem qualquer peso quando a aceitar a vinda de Bolso­naro, isso é uma decisão imposta da executiva nacional. Será o diretório nacional que terá de decidir entre ter um candidato de grande alcance – que talvez leve o PSL a lugares onde o partido ainda não chegou – ou caminhar com suas próprias pernas honrando a história do partido. Já estamos conversando com outras siglas que, em tese, terão a mesma bandeira ideológica que a nossa e dará espaço ao nosso grupo a ponto de disputarmos a eleição com êxito para o deputado estadual Lucas Calil (PSL), que é o líder de nossa corrente.

Alexandre Parrode – Há uma articulação para seu grupo seguir para o PSD, presidido em Goiás pelo secretário Vilmar Rocha [titular da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos]?

Sim, hoje Lucas Calil está entre o PSD e o PP, partidos que têm espaço para nosso crescimento e defendem as mesmas bandeiras que as nossas. O partido precisa dar viabilidade eleitoral para a reeleição de Lucas Calil.

Elder Dias – O Novo não seria um partido que contemplaria as ideias de seu grupo?

Sim, com certeza, tem tudo a ver conosco. O problema é que tem ainda uma resistência eleitoral. Como é um partido que quer fazer cadeiras, mas não tem nenhum deputado eleito, a chapa vai ter muita resistência a receber um, porque isso dificultaria o processo. Todo partido pequeno tem resistência grande a filiar alguém com mandato, porque, em tese, isso dificultaria a eleição dos demais. Por isso, devem preferir lançar chapa pura.

Elder Dias – Foi o caso do próprio PSL em 2014, não?

Sim. O PSL lançou apenas candidatos sem mandato naquele ano, porque isso possibilitaria a eleição de mais membros. Querendo ou não, quem tem mandato acaba sendo privilegiado na disputa. Porém, o ônus é que não é em toda chapa que pode disputar.

Augusto Diniz – Há algum temor dentro do PSL de acontecer ao partido o mesmo que houve com o PEN, que se comprometeu com Bolsonaro – a ponto de mudar o nome para Patriota e gastou seu horário político na TV e seu fundo partidário com o pré-candidato – e depois tudo foi desacertado?

Claro que há, existe sim. No caso do PSL, além desses prejuízos materiais, há também uma perda maior, que é a dos militantes. Essa não tem volta, é a mais danosa e já está ocorrendo. O PSL está perdendo o Livres, de saída, e vai deixar de receber o grupo dos “cabeças pretas”, uma dissidência do PSDB, que aqui em Goiás é representada pelo deputado federal Fábio Sousa, que assumiria o partido a pedido do presidente nacional, Luciano Bivar, de lançar deputados federais nos Estados para alcançar a cláusula de barreira. Fábio assumiria o partido e levantar a bandeira do PSL no Estado, como nosso grupo faz hoje, com a diferença que não ainda não temos condição de disputar uma eleição para a Câmara dos Deputados. Com Bolsonaro, os “cabeças pretas” estão desfazendo a tratativa.

Elder Dias – O PSL era uma sigla de aluguel que, com essa movimentação toda de correntes, estava buscando uma consolidação ideológica. Com a chegada de Bolsonaro, voltará a ser um partido alugado, agora para uma pessoa específica e quem quiser apoiá-lo. É isso?

Sim. O maior medo nos diretórios é que o PSL seja obrigado a dar carta branca para Bolsonaro, com os presidentes estaduais perdendo sua autonomia.

Elder Dias – Isso era o que ocorreria com o PEN e acabou causando a discórdia.

Exatamente, porque Bolsonaro só vai se tiver “porteira fechada”, com autonomia para mudar tudo. Isso causa muita instabilidade.

Augusto Diniz – No aspecto local, essa mudança obviamente comprometeria a aliança com o governo estadual e o nome a ser apoiado para a sucessão em Goiás?

Com certeza. Se Bolsonaro tiver de fato o comando do partido, poderia trocar tudo e fazer com que o PSL apoiasse seu próprio projeto, que, aliás, ainda não sei qual é. Há uma proximidade dele com o Delegado Waldir [deputado estadual, de saída do PR], o que provavelmente sinaliza para o apoio a outro candidato que não seja da base aliada.

Elder Dias – O sr. vê alguma viabilidade para o projeto da candidatura de Jair Bolsonaro?

Pode ser um candidato com chances, sim. Apesar de eu não o ver como um eventual bom presidente, penso que ele pode ganhar a eleição, é um fenômeno que vem crescendo e que acompanha o que já ocorreu em países europeus e nos Estados Unidos, com uma onda de extrema direita. Muitos brasileiros são receptivos ao projeto de Bolsonaro. Não é meu candidato, mas o vejo com chances de eleição.

Alexandre Parrode – Nas visitas que faz o sr. tem realmente visto esse apoio a Bolsonaro, com declarações claras de voto a ele?

Sim, é verdade. Tenho muita gente em meus grupos de WhatsApp que diz apoiar o projeto dele até mesmo financeiramente. Bolsonaro diz que não quer doação de grandes empresas – pelo menos nesse ponto eu o admiro – e quem, em tese, bancaria sua campanha seriam esses pequenos doadores. Vejo correntes dispostas a isso no setor rural, produtivo, de segurança pública. Bolsonaro dá margem a um voto perigoso, em silêncio. A pessoa não assume, mas, na hora, pode votar nele.

Cezar Santos – Isso é um reflexo até certo ponto natural, tendo em vista o altíssimo grau de corrupção em que o País se viu envolvido nos últimos anos. Bolsonaro acaba sendo visto como uma esperança de consertar tudo isso.

Só que o conserto não virá “na porrada”, como ele prega. Eu até o respeito, por ter chegado onde chegou. Só que agora vão revirar sua vida e ele deve ter ciência disso, porque o cargo que almeja exigirá esse jogo de cintura. Se Bolsonaro for realmente alguém limpo, sai ganhando. O fator Lula, porém, pode afetar a eleição, se mesmo com a condenação ele mantiver a postulação.

Augusto Diniz – Qual será seu projeto político pessoal para este ano?

Minha prioridade é o coletivo, nosso grupo. É uma obrigação minha e de quem está comigo responder bem aos votos que tivemos. Atualmente não almejo outra coisa do que cumprir nosso mandato e brigar pela reeleição. A partir disso, vamos adequar nossas ambições políticas ao contexto. Obviamente, pretendo disputar outras eleições, tenho idade para isso, mas não pretendo viver de política. Porém, enquanto eu estiver nela, vou buscar o melhor para minha cidade e para meus eleitores, de modo a melhorar a qualidade de vida. Antes disso, preciso dar a resposta que a sociedade espera de mim. Vou buscar a reeleição. Depois que Lucas Calil, também reeleito, puder se projetar para a Câmara dos Deputados ou talvez para a prefeitura de Inhumas, aí sim eu posso “subir”.

Elder Dias – Hoje o sr. é o segundo nome de seu grupo.

Sim, mas têm outros bons quadros nele e que esperam minha ascensão para disputar. Minha obrigação, antes de ser “promovido”, é criar um sucessor.

Augusto Diniz – Seu grupo já definiu por caminhar com a base aliada na eleição estadual. Mas qual nome o grupo espera que seja o candidato? Há algum outro além do vice-governador José Eliton (PSDB)?

Meu nome para o governo, até sendo ousado, é o próprio Lucas Calil. É a pessoa na vida pública que mais me transmite confiança e esperança. Se ele pudesse ser nosso candidato ao governo eu claramente o apoiaria. Porém, enquanto ele não tiver envergadura política para brigar por isso, vamos lutar por sua reeleição. No plano estadual, naturalmente vamos apoiar o projeto do governador Marconi e a pessoa que ele indicar, no caso, até o momento, o vice-governador José Eliton. Vamos seguindo esse fluxo por gratidão e também por reconhecer que o Tempo Novo não se estagnou e ainda tem muito a fazer por nosso Estado.