Gustavo Mendanha: “Aproximação com Caiado e Daniel foi algo natural e tranquilo para mim”

19 novembro 2023 às 02h30

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Elder Dias, Euler de França Belém e Nielton Soares dos Santos
Gustavo Mendanha chega à redação do Jornal Opção vindo direto de um shopping. E sua fala já dá ideia do “recall” que passou a ter, principalmente após sua candidatura ao governo de Goiás em 2022. “Eu ando muito e é impressionante como as pessoas me abordam. Eu estava querendo comprar um sapato e um casal de jovens me chamou pedindo para eu me candidatar em Goiânia. Eu pensei até que seriam de Aparecida”, conta.
No ano passado, levando os frutos de sua boa gestão em Aparecida de Goiânia, deixou o MDB para ser candidato ao governo pelo Patriota. Acabou sendo vencido ainda em primeiro turno por Ronaldo Caiado (UB), mas “estadualizou” seu nome. Neste ano, voltou às boas com o governador e o amigo de sempre, o vice Daniel Vilela (MDB). A mudança reposiciona o nome do ex-prefeito até para o jogo sucessório da capital: ele é o mais lembrado em pesquisas de intenção de voto e também qualitativas.
A questão que pesa é um imbróglio jurídico-eleitoral: se Gustavo fosse candidato em Goiânia teria o terceiro mandato executivo na esfera municipal em sequência. A questão está sendo analisada pela Justiça, mas o próprio interessado sabe das dificuldades e é bem “pé no chão”, não sem fazer uma analogia: “Até o Vila tem chances de ir para a Série A, então ainda acredito”, compara, aos risos, usando o time do coração (“ao lado da Aparecidense”) como parâmetro.
Nesta entrevista, o ex e futuro emedebista – deve retornar ao antigo barco oficialmente ainda este ano – analisa o quadro político local e faz uma avaliação sobre como foram as gestões de Aparecida, incluindo seus dois mandatos. “Deixamos de ser uma cidade-dormitório para se tornar uma cidade industrial”, avalia.
Euler de França Belém – Hoje o nome Gustavo Mendanha influencia muito fortemente duas sucessões: a de Goiânia e a de Aparecida. Tanto que podemos chamá-lo de “general eleitoral”, muito mais do que um cabo eleitoral…
Acho que estou mais para major, capitão, deixa essa de general para o governador (risos).
Nielton Soares dos Santos – O sr. está sem mandato desde o ano passado. O que Gustavo Mendanha faz desde que deixou a Prefeitura de Aparecida?
Tenho as coisas da família. Minha mãe tem me ajudado bastante, todo mês cai o pix (risos). Meu pai [Léo Mendanha, ex-deputado estadual e liderança histórica emedebista], quando faleceu, tinha alguns imóveis alugados e temos uma renda vindo disso. Eu também possuía alguns investimentos, mas a situação anda agora um tanto complicada, tanto que estou para entrar em um negócio com amigos, no ramo imobiliário. Estou até pegando aulas para pegar meu Creci [registro do Conselho Regional de Corretores de Imóveis], para ser corretor, assim como meu pai foi. Então, é algo que conheço um pouco também e vai me permitir ter uma renda extra. Mas, se eu abrir aqui minha conta bancária, vocês terão um choque (risos). Eu tinha uma certa reserva financeira, mas já foi embora – até falei “mãe, me ajuda esse mês um pouquinho mais aí…” (risos).
Euler de França Belém – Por que o sr. não quis cargo no governo estadual?
Sou uma pessoa muito consciente e reflexiva para tomar decisões nesse sentido. Aproximar de Daniel e do governador foi algo natural e tranquilo para mim, mas participar do governo seria algo mais radical. Não que não fosse interessante ser secretário de Estado, por exemplo, poderia fazer um bom trabalho, mas não acharia legal, no momento, diante da opinião pública. Na posição em que estou agora, apoio a gestão, mas posso ser mais crítico em alguns pontos, inclusive com o próprio governador. Assim, sinto que tenho mais legitimidade.

As pesquisas confirmam como o governo Caiado está indo bem
Euler de França Belém – Como o sr. avalia o governo de Ronaldo Caiado?
Penso que, em seu primeiro mandato, o governador pecou muito no começo. Imagine uma pessoa que trabalhou a vida toda como fotógrafo e de repente vira cinegrafista. É diferente. Então – e isso eu escutei da boca dele mesmo, falando para mim –, no começo Caiado tinha um pouco do parlamentar, que é totalmente diferente do executivo. Acho que, para meu azar (risos), ele foi pegando o jeito e já no período das eleições do ano passado ele estava bem à vontade no cargo. Basta ver as pesquisas, que reafirmam o que eu digo, nos últimos meses sua imagem e a do governo melhoraram muito. Isso vale para Goiânia, para Aparecida e para o Estado inteiro. O interessante é que muita gente que votou em mim, se eu não tivesse sido candidato, teria votado em Caiado.
Nielton Soares dos Santos – Hoje seu domicílio eleitoral é em Aparecida. Pretende mudar para Goiânia?
Posso mudar, tenho até abril para fazer isso.
Euler de França Belém – Mas o sr. acredita que tenha condições de ganhar na Justiça para ser candidato em Goiânia?
Até o Vila tem chances de ir para a Série A, então… (risos)
Euler de França Belém – E qual é seu time do coração?
É a Aparecidense (risos). Na verdade, nasci na Vila Nova, sou vilanovense mesmo.
Euler de França Belém – Mas, voltando ao tema do imbróglio jurídico-eleitoral, como está sua situação?
O presidente do MDB nacional, deputado Baleia Rossi (SP), fez uma consulta ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Está com o Ministério Público Eleitoral (MPE), para dar parecer. Então, segue tramitando.
Euler de França Belém – E o sr. tem esperança real de conseguir essa vitória?
Muito pequena, mas tenho esperança, sim.
Qualquer extremismo complica a eleição no próximo ano
Euler de França Belém – O fato é que o sr. se tornou um político “estadualizado”, influenciando outras eleições e se tornando maior do que muitos que estão há tempos na vida pública. Em Anápolis, como está sua posição? Márcio Corrêa [deputado federal pelo MDB] tem condição de derrotar o ex-prefeito Antônio Gomide (PT)?
Respeito a história de Gomide, mas Anápolis é uma cidade extremamente conservadora. É um lugar em que Jair Bolsonaro (PL) teve mais de 70% dos votos no ano passado. Se ele não ganhar em primeiro turno, quem for com ele para o segundo tem uma grande chance de vencer. Agora, quem seria esse “quem”, não sei. Na eleição passada, Gomide cometeu o equívoco de ter discussões com religiosos e isso pode ser cobrado no futuro.
Euler de França Belém – A extrema direita em Goiânia, teria chance com o deputado federal Gustavo Gayer (PL)?
É difícil, qualquer extremismo complica a eleição. É bem verdade que Gayer tem um número de seguidores muito grande, embora boa parte fora de Goiânia e até de Goiás. Talvez o eleitor dele o queira mais no Congresso do que na Prefeitura.
Euler de França Belém – E Vanderlan Cardoso, como o sr. vê o nome dele para as próximas eleições, depois de duas disputas seguidas em Goiânia? É um candidato difícil de ser derrotado.
Quando meu nome sai das pesquisas, ele aparece em primeiro. É alguém que tem recall e colhe a lembrança por ter sido bom prefeito em Senador Canedo. É um nome que, se eu não puder mesmo disputar, tende a ter um crescimento maior.
Euler de França Belém – Sobre Adriana Accorsi, já escolhida pelo PT para disputar as eleições de 2024, como ela lhe parece para a sucessão do próximo ano?
É mais ou menos a mesma situação de Gayer. O PT torna a missão dela mais complicada, por mais que ela não seja uma figura extremista. Se ela fosse para outro partido, teria muito mais chances de vencer as eleições, assim como Gomide, que seria eleito facilmente em Anápolis fora do PT.
Euler de França Belém – Fala-se muito em “cidade inteligente”, mas muitas vezes o cidadão comum não sabe o que isso significa na prática. Como o sr. pode explicar esse conceito e o que ele melhorou na vida das pessoas em Aparecida?
Parece um termo abstrato, mas cidade inteligente é simplesmente aquela em que a tecnologia trabalha para favorecer e simplificar a vida das pessoas. Isso vale para todas as áreas da vida. Por exemplo, em Aparecida conseguimos melhorar os índices de segurança. Um dos grandes projetos que implementamos foi o do monitoramento com câmeras. Isso começou, ainda que timidamente, no governo de Maguito [Vilela (MDB), prefeito de Aparecida entre 2009 e 2016]. Quando eu assumi a Prefeitura, havia 56 unidades de videomonitoramento. Então, eu faço uma viagem a Barcelona e volto com a ideia muito latente de transformar a cidade numa “smart city” [“cidade inteligente”, em inglês]
Hoje são quase 5 mil câmeras espalhadas pela cidade. É um caminho de evolução, contínuo. A cada segundo tem uma inovação que pode ser implantada, não existe cidade inteligente pronta. Em Aparecida, eu falo do videomonitoramento porque é algo mais visível, mas há muito mais em andamento nesse projeto: tem a digitalização das rotinas, nosso data center, que recebe tudo que é gerido pela tecnologia, entre outros.
Tudo começa a partir das chamadas “saidinhas” de banco, um tipo de crime que hoje quase não ouvimos mais falar, muito em função da questão tecnológico. Maguito priorizou a implantação dessas câmeras primeiramente na porta dos bancos. As pessoas talvez não se lembrem, mas chegaram a explodir caixa eletrônico na cidade. Isso acabou.
Nesse tipo de ação, eu fui ousado em minha gestão. Implementamos essas quase 5 mil câmeras de monitoramento, todas com inteligência artificial e tecnologia de ponta. Estão em parques, praças, ruas, avenidas e em todos os equipamentos públicos, que são videomonitorados. Quando assumi, em 2017, Aparecida estava entre as cem cidades mais violentas do mundo. Não digo que isso mudou só por causa de meu governo, até porque houve uma evolução que veio de mais tempo, mas o investimento que fizemos com certeza foi um dos quesitos que ajudaram a pontuar para essa redução da criminalidade.
Nielton Soares dos Santos – Em outras áreas, quais exemplos há da cidade inteligente em Aparecida?
Durante a pandemia, por exemplo, tivemos o mapeamento de calor, para saber onde havia mais aglomeração e, portanto, mais risco para a Covid-19. Fizemos um trabalho tanto de comunicação como de testagem. Também posso citar, no trânsito, os corredores verdes, que são semáforos inteligentes.

A cidade inteligente é a menina dos meus olhos
Euler de França Belém – E o prefeito Vilmar Mariano, seu sucessor e que era seu vice, deu continuidade a esse projeto?
Essas são coisas que talvez ainda me deixam um pouco chateado, não vou dizer especificamente com Vilmar, mas com alguns de seus secretários, que ainda não entenderam a importância disso. A cidade inteligente é a menina dos meus olhos. Mas, no governo, fizemos muito também em saúde e educação. Em uma visita que fiz, passei a ter o sonho de levar robótica para o ensino público fundamental. Nisso, fui precursor no País.
Nielton Soares dos Santos – Como foi isso?
Fui participar de um evento no Sesi do Centro de Aparecida e me deparei com uma turma trabalhando robótica. Pedi ao professor para conversar com a turma e pude ver o interesse deles com a área e ouvir deles sobre a vontade de se tornar professores. Saí de lá e já procurei a secretária de Educação [Valeria Pettersen] e o secretário de Ciência e Tecnologia [Cleomar Rocha] do município. Perguntei a eles se o ensino de robótica seria aplicável ao ensino fundamento – no Sesi era ensino médio.
O professor Cleomar, com quatro pós-doutorados nas costas, um dos idealizadores do projeto da cidade inteligente, disse que era completamente possível. Fizemos um piloto na Escola Municipal Francisco Rafael Campos, vizinha do sistema prisional Odenir Guimarães, na região leste. Para lançar o projeto, fizemos uma visita prévia à unidade e só de ver aquelas crianças a gente já tinha um sentimento de compaixão. Tinham garotos que eram “aviõezinhos” do tráfico, outros eram filhos de pais que estavam no sistema prisional. Voltou depois de quatro meses de lançado o projeto piloto e as crianças estavam falando uma em ser professora, outra em ser astronauta e outra com o sonho de uma profissão assim. E ali eu vi que aquele projeto realmente mudou a vida daquelas crianças.
A partir desse projeto piloto, fizemos a robótica avançar em cerca de 50% das escolas municipais. Tenho comigo essa questão da tecnologia como algo vocacionado e acho realmente que a administração atual, de alguma forma, não prioriza mais isso. Vilmar é meu amigo, gosto muito dele, no geral trabalhar para ter um governo exitoso, mas esse é um ponto que me toca dessa maneira.
Euler de França Belém – Comenta-se que o sr. queria trocar os secretários de Governo [Marlúcio Pereira] e de Fazenda [Einstein Paniago] da gestão de Vilmar. Isso procede?
Não, isso tem a ver com articulação política. O prefeito Vilmar chegou a fazer uma troca, mas não sugestionei nomes, foi tudo da cabeça dele. Existe muita reclamação da questão política. Marlúcio é meu amigo, foi meu secretário, mas de fato, talvez até pela falta de empoderamento, fazia com que a articulação não acontecesse. Não foi nem crítica que eu fiz, mas houve problemas com a Câmara e uma série de coisas. Também não fiz nenhum pedido, até porque, se tivesse feito e não fosse atendido, teria de me afastar e ficar longe do prefeito. Também nunca pedi para que o secretário anterior ficasse no cargo. Nunca trabalhei desse jeito. Mas as questões que considero prioridades – e isso também depende de orçamento – é algo que posso criticar. A cidade inteligente deixou de ser prioridade e acho que isso é ruim, mas não houve nenhuma ingerência, até porque Vilmar é o prefeito. Se tudo der certo, parabéns para ele. Ele é o líder e quem conduz seu mandato. Se não der certo, a responsabilidade também é dele. Quando ele me chama para conversar, estou pronto para ajudar.
Euler de França Belém – E ele tem lhe chamado?
Já conversamos algumas vezes.
Éramos uma cidade cheia de vazios urbanos, o que se reduziu drasticamente
Euler de França Belém – Saneamento básico é um tema muito discutido no Brasil ultimamente. Essa área sempre sofreu com muitas reclamações no Entorno de Goiânia – falta de água tratada, esgoto sanitário etc. Como o sr. conduziu essa questão como prefeito?
É algo de responsabilidade do Estado, mas o que posso dizer é que, até 2018, as coisas aconteciam a passos muito lentos. A partir da gestão de Ronaldo Caiado, as coisas avançaram muito no quesito saneamento. Salvo engano, Aparecida tinha, antes deste governo, pouco mais de 45% de cobertura em termos de rede coletora de esgoto. Agora, isso está próximo de 80% ou 90%. No quesito água tratada, também avançou muito. São obras muito importantes do ponto de vista estrutural, até porque há uma discussão de verticalização da cidade, o que deve pautar o próximo Plano Diretor, não tenho dúvidas. Éramos uma cidade cheia de vazios urbanos, o que se reduziu drasticamente, com um ou outro setor que ainda tem certa especulação. E verticalização só é possível com saneamento pleno. Isso também é importante para empresas de várias áreas.
Euler de França Belém – Como está hoje o cuidado com o meio ambiente, em relação a sua gestão?
Temos a Serra das Areias, que é uma área preservada. Em nossa gestão, fizemos muitos plantios de mudas, reflorestamento e limpeza de mananciais.
Euler de França Belém – E esses mananciais não estão poluídos nem aterrados?
Já faz quase dois anos que eu deixei a Prefeitura, em um município grande como Aparecida, não posso afirmar como esteja. O que posso dizer é que a secretária [do Meio Ambiente] que lá está Valeria Pettersen] é muito inteligente e faz um bom trabalho. Em nossa gestão, fizemos um monitoramento tecnológico da Serra das Areias.
Euler de França Belém – O meio ambiente é um assunto que lhe empolga?
Como prefeito, fizemos uma série de ações, tivemos o processo de digitalização, para acabar com o uso do papel, o que, de certo modo, impacta positivamente. É um assunto importante e recorrente, claro.
Elder Dias – A ocorrência de eventos climáticos extremos é algo que todo prefeito vai ter de enfrentar de agora em diante, especialmente em grandes centros urbanos. São Paulo passou um final de semana inteiro tendo centenas de milhares de pessoas sem energia, por conta de uma tempestade. Aparecida hoje estaria preparada para os efeitos das mudanças climáticas? Pergunto porque, quando acontecem catástrofes, há sempre a justificativa de que “nunca havia ocorrido algo nesse nível”. Mas já se sabe que virão coisas mais graves assim. Há alguma espécie de preparação para isso no município?
Aparecida tem uma Defesa Civil muito ativa. É uma das cidades que mais investiu nesse âmbito.
Elder Dias – Mas a Defesa Civil já não seria para remediar?
Com equipamentos que foram adquiridos, é possível, de alguma forma, ter informações prévias importantes. O município é praticamente todo ocupado, urbanizado, então queimadas, por exemplo, não seria um problema tão importante, a não ser em regiões como a Serra das Areias. Não temos muitos morros na mancha urbana, penso que dificilmente teríamos alguns problemas como os que têm havido em outros lugares. Mas tudo depende do tipo de evento, algo como o que está ocorrendo no Sul, como as enchentes, acho que não vamos enfrentar. Mas o Brasil, em geral, está bem atrasado, talvez não esteja tão preparado para isso e precisa estar pensando para evitar problemas maiores.

A Covid fez a gente voltar todos os olhos para ela. E, modéstia à parte, nesse tema também fizemos bom trabalho
Nielton Soares dos Santos – O sr. concluiu vários projetos iniciados por Maguito Vilela: o Anfiteatro Municipal, o HMAP [Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia] e outros. Houve, porém, outros projetos, como o de transformar a Serra das Areias em um parque, que esbarraram em problemas, como o das áreas particulares na região. Por que esse projeto em particular, na área ambiental, não andou?
Durante minha gestão houve um “probleminha” que enfrentei, chamado Covid-19. Tínhamos um projeto mais ousado, que era a construção de praças e parques. Em 2018 começamos essa restruturação, com cercamento e videomonitoramento. Mas a Covid fez a gente voltar todos os olhos para ela, fatalmente. E, modéstia à parte, nesse tema também fizemos um bom trabalho. De fato, essa ação na Serra das Areias era um sonho de Maguito – não exatamente um parque, mas uma APA [área de preservação ambiental], um polo para ser utilizado de forma sustentável. Com a pandemia – na qual reitero que fizemos um trabalho que assustou “para o bem” quem olhou nossos números, o que nós investimos para salvar vidas –, alguns projetos tiveram que ficar para outro tempo.
Nielton Soares dos Santos – A Serra das Areias é um local onde há todo tipo de ação negativa, como pessoas que jogam entulho, lixo, há até casos de desova…
Eu posso dizer que isso é algo que ficou no passado. É bem verdade que um crime pode ocorrer em qualquer lugar, até na porta do prédio aqui. Então, não vou dizer que não vá acontecer, mas a partir do videomonitoramento, os veículos que entram na área têm suas placas identificadas. E precisamos lembrar também que a Serra das Areias está entre dois municípios, uma parte fica em Hidrolândia. É um lugar belo, com cachoeiras, que de alguma maneira precisaria ser explorado – apesar de que “explorar” pode parecer uma palavra feia – de forma sustentável, não só do ponto de vista ambiental, mas também para a subsistência das pessoas que vivem ali perto.
Euler de França Belém – Aparecida teve, na gestão de Maguito e depois na sua – que são praticamente uma só, modernizadoras em vários aspectos – uma mudança de cidade-dormitório para cidade industrial, com um dos maiores PIBs nesse setor. Agora tem um novo distrito industrial. Como é esse novo espaço?
Aparecida hoje tem mais de 2 mil indústrias e são mais de 100 mil empregos diretos gerados. Os primeiros polos foram criados ainda na década de 80, por Iris Rezende [governador de 1983 a 1986 e depois de 1991 a 1994] no governo do Estado e por Norberto Teixeira [prefeito de Aparecida de Goiânia de 1983 a 1988 e depois de 1993 a 1996] no município. Depois, tudo aconteceu com mais celeridade. Uma figura que foi bem penalizada por conta do investimento em uma área industrial para Aparecida foi Ademir Menezes [prefeito de 1997 a 2004]. Ele desapropriou terrenos, mas não quitou o pagamento da indenização, o que gerou uma série de problemas, inclusive para ele. Mas, de qualquer forma, aquele gesto da administração dele foi a salvação da cidade. José Macedo deu sequência nessa política e, depois, Maguito e eu fizemos o trabalho de melhorar a infraestrutura. Porque o grande problema era que o terreno estava cedido, mas sem asfalto, sem água, não tinha nem energia. Quando melhoramos essa estrutura dos polos, também fazemos simultaneamente o trabalho nos eixos estruturantes. Maguito começou sua implantação, no Eixo Norte-Sul, o qual finalizo e então inicio o Leste-Oeste, que está tendo sequência com Vilmar. Isso melhorou muito no sentido de facilitar para as empresas.
Além disso, tivemos uma agenda de desburocratização, criamos um comitê permanente para isso. Durante a pandemia, reduzi algumas alíquotas e também autorizei a postergação de pagamentos. Tudo isso, creio, foi importante. Outra questão que ajudou foi a profissionalização. É algo que já vem acontecendo em Aparecida desde lá atrás, há 15 ou 20 anos, que é a criação de faculdades e cursos profissionalizantes. Tudo isso, certamente, muda o paradigma de cidade-dormitório para uma cidade industrial e universitária. E nós propusemos um “ganha-ganha”: a cidade cedia o terreno, o governo vinha com os incentivos fiscais – que agora infelizmente podemos perder, com a reforma tributária – e os empresários se sentiam atraídos. Quando uma grande indústria se instala, automaticamente quem trabalha na cidade vai consumir no mercado local. Hoje temos muitos cidadãos goianienses trabalhando em Aparecida e também consumindo parte do que ganha por lá.
Quando Maguito assumiu o governo, em 2009, havia pouco mais de 6 mil CNPJs ativos em Aparecida; quando eu tomei posse, já eram 36 mil; quando entreguei a administração para Vilmar, o número já era de 72 mil CNPJs ativos. Agora, li que já são mais de 80 mil.
Nilton Soares dos Santos – E quais os pontos positivos que já são claramente observados na vida das pessoas, em relação ao crescimento industrial de Aparecida?
Esse “ganha-ganha” beneficia todo mundo, é um círculo muito virtuoso. Quando uma grande indústria se instala, independentemente de seu ramo, há mais dinheiro em circulação, algumas pagam salários melhores, na área química, por exemplo. Temos em Aparecida uma empresa que fabrica stents [dispositivos para procedimentos médicos na área de angiologia que servem para evitar obstrução de veias e artérias], a Scitech. Eu a conheci recentemente, por intermédio de um amigo médico, Hélio Paiva, que veio à cidade meses atrás e me convidou para conhecer a estrutura da indústria. Tudo isso só é possível por conta da mudança de paradigma que fizemos, principalmente em termos de infraestrutura.
Outro ponto importante foi a construção de Cmeis [centros municipais de educação infantil]. Aparecida dependia de Goiânia praticamente para tudo: educação, saúde, trabalho etc. Um sinal de que isso mudou é um projeto, bem polêmico, que quer mudar o nome de “Aparecida de Goiânia” para “Aparecida”. Essa autonomia da cidade vem por meio de meu governo. Maguito fez muito, o emprego aumento bastante com ele, da mesma forma com a educação. Mas a virada ocorre na área da saúde, quando inauguramos o HMAP e passamos a ter lá procedimentos de alta complexidade. Aí, então, fechamos o ciclo de tudo que o cidadão teria necessidade em uma cidade, desde a saúde básica, a escola fundamental, passando pelo lazer, arte, cultura. Aparecida tem tudo isso hoje.
Nielton Soares dos Santos – Um desafio antigo de Aparecida é o complexo prisional. Mudou alguma coisa em relação à condução desse tema?
Um complexo prisional é um presente que ninguém quer. Minha reclamação – e isso foi uma das críticas que eu fiz em campanha [para o governo do Estado, em 2022] ao governador – era em relação ao sistema semiaberto. Aquilo era um absurdo, tanto é que foi retirado, o que para nós foi um grande ganho. O que acontecia era que, na área mais nobre do ponto de vista de perspectivas para o futuro – para novas empresas, mais empregos etc. –, o sujeito chegava só para dormir, saía de manhã e voltava à noite assaltando. O trabalhador sofria, era uma reclamação recorrente. Mas isso ficou no passado.
Retirar o sistema prisional é algo bem complexo. A proposta que tínhamos era de levar tudo mais para o final da cidade, mas a grande pedida era mesmo em relação ao semiaberto e o governador Caiado nos atendeu nesse pleito. É preciso ressaltar que o Odenir Guimarães é o antigo Cepaigo, que era para ser um presídio-colônia, mas isso nunca foi implantado. No espaço, agora, vão poder se instalar centenas de empresas gerando emprego, riquezas e divisas para a cidade, além de tirar essa imagem ruim daquele local. Entendo que o sistema prisional é importante, é preciso reeducar as pessoas, mas naquele lugar gerava um prejuízo grande para o município.
Vilmar Mariano tem se esforçado para ser competitivo e viável para as eleições
Euler de França Belém – O prefeito Vilmar Mariano é seu candidato para 2024 ou há a possibilidade de lançar um nome alternativo?
Depende tudo dele mesmo. Vilmar tem se esforçado para ser competitivo e viável para as eleições do próximo ano. Nesta semana, aliás, houve uma notícia muito positiva para ele: a STN [Secretaria do Tesouro Nacional] autorizou a obtenção do empréstimo que nós queríamos obter desde o governo passado para Aparecida. Um município não é um ente que possa pegar recursos fora do País, é preciso então que a União fique como fiadora. Na época da pandemia, no entanto, suspenderam os empréstimos e ficamos quase um ano sem ter nada nesse sentido. Maguito já havia feito um, eu também e estávamos indo para o terceiro.
Elder Dias – Com o mesmo credor?
Nós havíamos tomado empréstimo com o Andino, um banco de fomento sul-americano. Agora, o financiamento é via Brics [grupo econômico formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul], com o NDB [New Development Bank] e a União precisa ser a fiadora. Então, o Ministério da Fazenda precisa validar, saber a condição financeira do município, entre outras questões burocráticas. Tudo estava para ser aprovado no governo passado, com Jair Bolsonaro e Paulo Guedes [ex-ministro da Economia], mas, quando muda a gestão, para tudo novamente. São praticamente três anos de negociação.
Euler de França Belém – Vilmar está há quase dois anos no poder. Quando se faz pesquisa de intenção de voto, quem aparece à frente em Aparecida é o deputado federal Professor Alcides (PL). Como se explica isso?
Por incrível que pareça, muita gente ainda acha que o prefeito do município sou eu. Aparecida tem seus veículos de comunicação próprios, mas que ainda são pequenos. Os grandes veículos que as pessoas leem, veem e escutam são os de Goiânia. É uma dificuldade que sempre enfrentamos por estar perto da capital. É o mesmo que ocorre no Entorno do Distrito Federal, quando fui candidato a governador não chegava a informação. Para ter ideia do alcance do problema, quase 30% da população que vive no Entorno do DF se sente morador de Brasília. Acham que o governador deles é Ibaneis [Rocha (MDB), governador do DF]. Por quê? Porque no rádio, quando vai trabalhar, só ouve falar em Ibaneis.
Aparecida de Goiânia sofre com isso também, de certa forma, por mais que a informação seja acessível hoje. Então, lhe respondendo: por que o Professor Alcides está em primeiro? Porque ele é mais conhecido. Mas isso não me assusta, porque em minha primeira campanha [em 2016] ele [Alcides] também estava e, no fim, ficou em 3º lugar. É preciso ver como está a situação nas pesquisas qualitativas. Se o prefeito estivesse mal nessas, aí sim ele precisaria se preocupar. Veja um exemplo recente: nas pesquisas quantitativas para senador no ano passado, quem liderava?
Elder Dias – Marconi Perillo (PSDB).
Sim, e ao fim ele ficou em 2º lugar e poderia até ter terminado em 3º. Isso porque nas qualis estava muito mal. Então, pesquisas quantitativas são retratos de momentos. Portanto, quem trabalha com Vilmar precisa se preocupar em observar como estão os levantamentos qualitativos. Entender isso é mais importante do que se preocupar com essas pesquisas, embora ele já esteja em 2º lugar nas intenções de voto e seu governo já tenha avançado bastante.
Euler de França Belém – O sr. não acha que o eleitor aparecidense talvez esteja com medo de voltar ao passado, depois de avançar tanto nos governos de Maguito e Mendanha? Em uma qualitativa feita no município e a que tivemos acesso, o que se tira de conclusão é que nenhum dos dois que estão liderando é visto como alguém que vá levar Aparecida para frente. O que querem é um “novo Gustavo”.
Talvez falte a Vilmar entender que meu jeito e o jeito de Maguito seja o jeito correto. Ele tem uma roupagem diferente, uma forma de comunicação diferente. Fui eleito com a proposta da cidade inteligente. É preciso o prefeito entender que a cidade inteligente é importante para ele, também. Quem está próximo dele, quem o aconselha, deveria também entender isso. Enfim, há alguns equívocos, mas, do ponto de vista quantitativo, não há nada que me preocupe.
Euler de França Belém – Leandro Vilela poderia ser uma alternativa ao nome de Vilmar Mariano, embora ele mesmo já tenha declarado que não tem interesse em ser candidato?
Se Vilmar amanhã, por alguma questão, resolva não ser mais candidato, creio que deva ter uma mesa redonda em que ele esteja presente, juntamente com o governador, com Daniel Vilela, para então decidir o que será feito. Mas, a não ser que haja algum problema realmente sério, Vilmar conseguirá se viabilizar perfeitamente como candidato à reeleição. Agora, caso isso não ocorresse, eu seria leviano em dizer que Leandro Vilela não seria um bom nome. É um bom nome, um bom quadro, mas penso que ele não tem mesmo vontade, já teve outras oportunidades de ser candidato a prefeito, em situações mais vantajosas e não quis ser, continua dizendo a mesma coisa. Mas é realmente um nome qualificado e muito preparado.
Euler de França Belém – Fala-se muito que entre o sr. e o deputado estadual Veter Martins (Patriota) há um contencioso muito grande e que ele seria quem atrapalha sua relação com o prefeito Vilmar. O que há de verdade nisso?
Teria de perguntar sobre isso para ele, porque eu pessoalmente não tenho problemas. Se ele atrapalha a relação [com o prefeito], confesso que não sei. Agora, que existem pessoas que parecem não querer que eu fique próximo a Vilmar, isso existe, mas falar parte, entendo que há isso na política, da questão de ocupar espaço, de tentar ser importante. Não é que eu não faça questão de aproximação, mas eu costumo ficar na minha, se for chamado, estou pronto para ajudar; se não, vou cuidar da minha vida e está tudo certo.
Euler de França Belém – No atual momento em Goiânia está se processando um fenômeno muito curioso: os dois principais nomes nas pesquisas espontâneas na capital vêm de Aparecida – no caso, o sr. – e de Senador Canedo – o senador Vanderlan Cardoso (PSD). Outro nome que poderia despontar é o de Jânio Darrot (MDB), ex-prefeito de Trindade. Os três são gestores de cidades importantes do Entorno de Goiânia. É a prova de que a coisa mudou mesmo?
Creio que, por conta de duas gestões não muito felizes, a de Paulo Garcia (PT) – que era uma figura humana fantástica, ressalte-se – e a de Rogério Cruz (Republicanos), talvez o goianiense queira ter alguém mais experimentado, que já tenha passado pelo crivo do cargo. Digo isso como algo que lá no inconsciente do eleitor ele esteja buscando.
Elder Dias – Na verdade, desde a saída de Paulo Garcia é o que o eleitor de Goiânia tem tido essa ideia, porque escolheu, na sequência, Iris Rezende (MDB) em 2016 e Maguito Vilela (MDB) em 2020.
É verdade. Em Goiânia, se formos notar, nunca houve a eleição de um prefeito mais jovem, apesar de o próprio Paulo Garcia não ter chegado ao cargo tão maduro assim. Meu caso é um pouco peculiar: tenho 41 anos e, se eu puder ser candidato, seria um ponto fora da curva.
Euler de França Belém – Nesse caso, há uma coincidência: a pesquisa qualitativa que foi apresentada mostra que a cidade quer um gestor e a de intenção de votos mostra dois ex-prefeitos na liderança.
Creio que os bons mandatos que fizemos acabam dando essa credencial. Também meu jeito de fazer política, de ser equilibrado, moderado, apesar de minhas convicções pessoais. Sou muito tranquilo com isso.

Acredito que Bolsonaro fez um bom governo
Elder Dias – O sr. apoiou Jair Bolsonaro nas eleições passadas. Ainda se coloca como bolsonarista?
Nunca fui bolsonarista. Mas, dentro dos espectros que existiam como opção, Bolsonaro era quem mais se aproximava do meu. Sou liberal, sou conservador, sou evangélico. Sei respeitar e conviver. Acredito muito na força do trabalho, sou defensor das empresas e do agro. Eu me aproximo muito disso, então. E, do meu ponto de vista, acredito que Bolsonaro fez um bom governo, teve vários pontos positivos, superávits, etc. Agora, talvez vocês se assustem um pouco mais (risos), mas se me perguntasse pelo presidente ideal, este seria Michel Temer (MDB). Cheguei a falar isso para ele, para colocar o nome dele, se candidatar.
Elder Dias – O problema é que para ser eleito precisa ter voto.
(risos) Mas acho que Temer poderia ser uma voz para distensionar o ambiente político. Ora, se não existe Bolsonaro, não existiria Lula de novo. Um é antítese do outro.
Elder Dias – Mas o povo não queria alguém como Bolsonaro há muito mais tempo, talvez lá atrás, em 2014, no lugar de Aécio Neves (PSDB), por exemplo?
Eu penso que Bolsonaro começou talvez como uma espécie de brincadeira que pegou corpo. Lembro-me de que a primeira vez que ouvi falar dele foi num desses programas, o “Pânico” [então na Rede TV!] ou o “CQC” [programa que misturava humor e jornalismo e que foi exibido pela Band de 2008 a 2015]. As pessoas já estavam incomodadas, chateadas…
Elder Dias – O sr. acha que o que houve com Bolsonaro no Brasil é o mesmo que está acontecendo agora na Argentina, com o fenômeno Javier Milei [deputado da extrema direita que disputa o segundo turno da eleição presidencial neste domingo, 19]?
Acho que sim. Bolsonaro teve aqui uma grande oportunidade e, repito, acho que ele fez um bom governo. Pecou talvez em falar muito, em ficar com aquele “cercadinho”. Do ponto de vista de gestão, penso que ele teve bons ministros.
Elder Dias – Bolsonaro influenciaria no pleito municipal?
A não ser em alguns cenários que são exceção, eleição nacional nunca influenciou nas eleições municipais. Eleitor quer saber é se o lixo vai ser recolhido, se a criança vai ter escola e boa educação etc. Essa discussão entre direita e esquerda existe, veio para ficar, está presente cada vez mais. Mas acredito que não atingiu ainda o plano municipal.
Elder Dias – Então se Professor Alcides, do partido de Bolsonaro, for apoiado pelo ex-presidente em Aparecida, não teria vantagem por isso?
Não estou dizendo que Bolsonaro não tenha um eleitorado fiel por aqui, mas isso não determinaria o resultado de uma eleição.
Euler de França Belém – É verdade que Tatá Teixeira [ex-secretário de Articulação Política de Aparecida] e André Fortaleza [presidente da Câmara] chegaram a articular com Professor Alcides?
Professor Alcides é meu amigo e, não fosse seu aniversário um ato político, eu poderia ter ido. Cheguei onde cheguei por me relacionar bem com todo mundo. Ele, como deputado federal, foi muito importante durante meu mandato e é uma pessoa por quem tenho carinho, respeito e admiração. Mas meu grupo político tem de saber onde estou. Houve, por parte de Alcides, a tentativa de tê-los mais perto. Eu disse a eles, em um determinado momento, que, se quisessem seguir com ele, estaria tranquilo, mas não ficariam mais em nosso núcleo. Política é isso, fiz uma conversa dura, mas responsável. O que não pode é acharem que meu nome estaria lá, representado por eles, como aliados. Tanto que, publicamente, eu dei uma declaração muito dura com relação a isso.
Euler de França Belém – E como foi a conversa? Eles estavam conversando, apenas. Se acontecer algum dia [de mudarem de grupo político], eu respeito, mas se quiserem fazer parte de meu time precisam estar onde eu estiver. Não piso em duas canoas.