“Estamos indo às ruas pela democracia”, defende representante de movimentos goianos pró-Bolsonaro
01 março 2020 às 12h41
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De acordo com o professor e empresário Gustavo Gayer, manifestação marcada para 15 de março é recado direcionado à parte do Congresso e nega caráter antidemocrático
Movimentos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro seguem intensificando o processo de organização da manifestação marcada para o dia 15 de março. Após o presidente compartilhar pelo Whatsapp vídeo com chamada para o ato, diversas autoridades se manifestaram contra e favorável ao movimento, que de um lado é tido como tentativa de emparedar o Congresso e do outro um ato restrito de apoio ao líder do Executivo.
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As mobilizações começaram a difundir nas redes após o vazamento de um áudio do ministro da Segurança Institucional, general Augusto Heleno, reclamando em dialogo com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que o governo não poderia ficar refém “desses caras”, em referência aos congressistas. Logo após esse fato, apoiadores organizaram as mobilizações, com ataques ao Congresso nas redes sociais. Foi só após a publicação feita por Bolsonaro, no entanto, que autoridades se manifestaram sobre a manifestação.
Após a repercussão negativa, representantes dos movimentos se manifestaram contrários ao que estava sendo repercutido. Em entrevista ao Jornal Opção, o professor e empresário Gustavo Gayer, que se identifica como um dos representantes responsáveis pela articulação do movimento do dia 15 em Goiânia, reclama que a manifestação está sendo descaracterizada, diz que o grupo respeita e reconhece a democracia e afirma que o movimento espera dar recado de suporte ao presidente e sinal aos congressistas em apoio às pautas do Executivo.
De acordo com Gayer, o grupo elegeu como pauta principal a contrariedade sobre o Orçamento impositivo, matéria aprovada no ano passado que destina R$ 46 bilhões em emendas parlamentares, dinheiro que deve ser aplicado em áreas definidas pelos próprios deputados e senadores em seus respectivos Estados. Apesar de na época a matéria ter tido apoio da base governista, apoiadores e o próprio governo passou a entender que o montante sob domínio do Congresso seria um risco e invisibilizaria atividades do Executivo. Agora, após a decisão presidencial, Gustavo diz que o movimento espera a manutenção do veto no parlamento.
“Se quiser transformar em regime parlamentarista vamos colocar isso em pauta, em debate público e não fazer de forma sorrateira como está sendo feito”
Há uma aparente divisão sobre qual é a pauta do movimento do dia 15. De um lado pessoas que dizem ser uma manifestação contra o Congresso e do outro os que dizem ser uma pauta restrita de apoio ao governo. Quais são as pautas definidas pelo movimento unificado de Goiânia?
Sempre teremos extremos em ambos os espectros políticos, só que os extremos não representam nenhum movimento. Existem pessoas frustadas com o aparelhamento da máquina pública que estão dispostas a “chutar o balde”, mas é uma minoria insignificante que não tem peso nenhum nas mobilizações de rua.
Nós percebemos que os representantes que estão na política precisam atuar para benefício de toda a nação e não para benefício próprio. Nossa pauta é chamar atenção para um grupo do Congresso que está tentando enfraquecer o governo eleito e de uma forma subliminar está tentando transformar nosso presidencialismo em parlamentarismo. Se quiser transformar em regime parlamentarista vamos colocar isso em pauta, em debate público e não fazer de forma sorrateira como está sendo feito. Estamos indo às ruas pela democracia, mas uma democracia real, em que os políticos eleitos atuem de acordo com o que seus eleitores pediram. Que essas pessoas que estão agindo por motivos escusos prestem atenção e deem um passo atrás, porque querendo ou não eles estão lá porque nós votamos.
Nós temos uma democracia que prevê os três poderes. Dois deles compostos por cargos eletivos, assim como o Executivo, o Legislativo também foi eleito. Qual é a análise de vocês sobre os pesos desses poderes?
A própria nomenclatura deixa claro. O Executivo tem o poder de executar o plano de governo aprovado pela maioria da população nas urnas. Para que você execute esse projeto e essa vontade popular existem critérios que devem ser seguidos, um deles é você determinar a verba pública, um deles os gastos discricionários, que é cerca de 8% da arrecadação da União. O Legislativo tem a função principal de fiscalizar, criar algumas leis, mas fundamentalmente fiscalizar o Executivo. O que eles tentaram fazer de forma sorrateira é tentar tirar o poder do Governo de executar o projeto pelo qual foi eleito.
O Congresso tem que ser uma força aliada ao Executivo?
Não. O bom desses três poderes é que nós temos um Congresso que tem ali a vontade de várias pessoas sendo representadas. Mas nós temos um Executivo que foi eleito pela maioria para executar o seu projeto que foi escolhido pela população. O que a gente percebe é que parte do Congresso que está insatisfeita por não ter mais o balcão de negociações onde eles vendiam seus votos, os seus apoios a determinadas leis e projetos, então agora eles estão tentando minar o poder da presidência.
Não existe citação nominal feita pelos movimento de quais são os deputados lidos como contrários ao governo. Como eles podem ser identificados?
A gente tem uma noção dos lideres, dos que lideram a chamada parcela do centrão. O centrão nós sabemos quem são e quem são os líderes. Nossa intenção é demonstrar que nós estamos de olho e demonstrar a necessidade de que não façam. [Se o fizer] primeiro nós vamos fazer campanha contra, o que faz parte da democracia, lembrar nas eleições “lembra, esse é político que fez aquilo, tente não votar nele”. Mas a gente age na esperança, talvez nós sejamos ingênuos ainda de acreditar que na esperança nós vamos mudar alguma coisa, mas o que há mais para se fazer?
E se as pautas não forem atendidas?
Mais manifestações. Talvez levando até mais pessoas. No ano de 2019 as manifestações foram perdendo volume porque o Brasil começou a entrar no eixo, não havia mais o sentimento de medo de que pudéssemos ir em rumo a se tornar uma Venezuela, então todo mundo passou a entender que existia obstáculos mas que estávamos no caminho certo.
Nessa perspectiva, o Congresso passou a atuar contra o Executivo em algum momento específico?
Ele nunca atuou contra ou favorável ao governo, ele está atuando a favor de si, ele quer poder para si. No inicio o Congresso não quis bater de frente, o presidente tinha acabado de ser eleito por 57 milhões de votos, mas com o tempo e com a crítica sistemática ao presidente começaram a pensar que o presidente estava perdendo apoio, passando a querer seguir vontades próprias. Agora a mobilização está sendo muito grande, eu estou surpreso com a quantidade de pessoas que estão dispostas a ir para as ruas, que estão organizando e contribuindo, por que, acredite ou não, quem financia esses movimentos somos nós, os líderes tiram do próprio bolso e pessoas que a gente nem conhece entram em contato oferecendo apoio. A nossa estimativa é entre 20 e 30 mil pessoas.
O que representa para vocês o envio feito pelo presidente sobre o ato?
Ele recebeu um vídeo de apoio a ele e compartilhou com amigos. Onde que conseguiram colocar uma lupa que deturpou de tal maneira? Isso ajudou o movimento. Essa tentativa de pegar esse ato dele e que não tem ataque à instituição e transformar isso como motivo para impeachment. A parcela que está aceitando essa narrativa não percebeu que isso instigou ainda mais a mobilização. Depois disso começamos a perceber que o celular não para. No inicio nós víamos como uma batalha difícil, porque é uma pauta complexa de ser explicada para a população, mas dai para cá a situação escalou de maneira incrível.
O que o Executivo e os movimentos que o apoiam desejam e que o Congresso não está comportando?
Por exemplo, nós tivemos projetos de lei como o de abuso de autoridade que jamais poderia ter sido aprovado. O pacote anticrime foi completamente esvaziado, era um projeto bonito e que pessoas de vários espectros concordavam que seria bom para a população. Mas o que a gente percebe é que chega lá e os projetos são dissecados, há uma atrofia, porque o que a gente percebe é que muito ali respondem a processos e eles mesmos têm medos, como de ser condenados pelo que está aprovando. O Executivo está tentando levar projetos realmente de apoio popular e o Congresso, ou parte dele, atrofia, disseca e esvazia, de forma que o que passa é 20% do que chegou.
Como é possível dizer que esses movimentos do dia 15 representam a população?
Tem um ditado que fala que a cada manifestante na rua existem outra mil pessoas que concordam com as pautas apresentadas na manifestação, então esse é o peso da manifestação. Então eles sabem que para cada pessoa que se sentiu compelida de ir lá existem outras que pensam como ela. O centrão não tem base eleitoral, então ele sabe se a opinião está pendendo para um determinado lado ele não vai votar contra, porque pode ter eleitorado nele na manifestação.