De “peito aberto”, prefeito de Goiânia responde sobre vários aspectos da administração e garante que vai concluir todas as obras

Euler de França Belém e PH Mota

No gabinete de Rogério Cruz (Republicanos), no Paço Municipal, há um violão que, segundo o prefeito, fora usado pelo saudoso cantor goiano Cristiano Araújo na gravação de um DVD e depois virou um presente. Instigado a tocar o instrumento, ele promete, depois da entrevista. E assim o faz: dedilha notas de “Trem das Onze”, de Adoniram Barbosa, e “Acaba a Valentia de um Homem”, de Benito Di Paula. Sai também um improvisado, mas honesto vocal.

A trilha sonora cabe bem ao administrador de Goiânia que, pego de surpresa pelo destino, teve de assumir a cidade depois da morte de Maguito Vilela (MDB), como vice que havia sido escolhido por seu estilo diplomático em oito anos como vereador. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o prefeito é questionado – e responde sem fugir do tema – sobre mobilidade urbana, saúde, educação, assistência social e outras questões, fazendo um balanço sobre suas ações à frente da Prefeitura.

Aos 55 anos, Cruz esbanja disposição e vitalidade, mas prefere pensar em reeleição só mais para a frente. “Os projetos que tenho são minhas prioridades. Têm alguns que são de médio prazo, para 2024, e os de longo prazo, que vão estar em execução. Então, se o povo aclamar, como dizia Iris Rezende…”, deixa no ar.

Euler de França Belém – Oficialmente, com seu tempo de TV e seu fundo eleitoral, o Republicanos vai apoiar a reeleição do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) ou o ex-prefeito Gustavo Mendanha (Patriota)?

É uma decisão que o presidente estadual do partido, deputado federal João Campos, precisa tomar e repassar a nosso presidente nacional [Marcos Pereira]. Neste momento, estão tendo uma reunião em Brasília, em conjunto com São Paulo, para poder definir tudo isso e já bater o martelo. Mas quero deixar claro que, independentemente de qualquer situação partidária, meu apoio já está declarado ao governador Ronaldo Caiado, uma vez que tive essa liberação por parte do próprio presidente nacional, bem como do presidente estadual do Republicanos.

“Meu apoio já está declarado
ao governador Ronaldo Caiado”

A questão é que hoje temos um grupo muito forte que formatou as chapas de pré-candidatos a deputados federais e estaduais. São chapas fortíssimas e o presidente estadual precisa reconhecer isso. Acho que ele não pode tomar uma decisão sozinho, tem de ser em conjunto, uma vez que nossas chapas são muito boa – na verdade, até consideradas, pelos que conhecem a política, como as melhores entre todos os partidos. Reconhecendo isso, entendo que o presidente do partido no Estado deveria fazer o caminho certo, que é o caminho da democracia, que seria chamar as duas chapas e conversar. De qualquer forma, acredito muito no diálogo que está tendo em Brasília e em São Paulo para, em conjunto, definir essa situação.

Obviamente, ele [João Campos] é o presidente do partido e, se optar por ir para a chapa de Mendanha, pode ir de forma individual, como pré-candidato ao Senado, e liberar o partido. Mas isso depende dessa conversa.

Euler de França Belém – O sr. não acha que isso passa a imagem de jogo duplo?

Não acredito que seja jogo duplo. Hoje, por exemplo, estou prefeito de uma capital de um Estado que tem um governador atuante, que está muito bem nas pesquisas. Por isso, tomei minha decisão de apoio a ele, com quem estou fazendo um trabalho conjunto, em parceria, pela capital, o que é muito importante e quem ganha é a população. Todos já viram o que fizemos nos últimos meses, o próprio empenho do governo do Estado com o governo municipal em fazer chegar até o cidadão os serviços das duas esferas simultaneamente. Isso já foi feito por quatro vezes, em quatro mutirões conjuntos, todos aqueles realizados em Goiânia.

“Criamos o Renda Família Mais Mulher porque as
mulheres foram mais afetadas pela pandemia”

Portanto, a gente vê os benefícios chegando até as pessoas com essa parceria, uma coisa que, se fosse o município fazendo sozinho, chegaria muita coisa ao cidadão, mas não todos os serviços, como está ocorrendo. Da mesma forma, vale para o governo do Estado – se fossem sozinhos, também não levariam tudo.

Euler de França Belém – É uma decisão pragmática, pensando na comunidade. Mas por que o sr. acha que Ronaldo Caiado merece um segundo mandato?

Primeiramente, todos acompanharam a questão da dívida que existia do Estado de Goiás, que não poderia tomar mais nenhum crédito com o governo federal. Pois a única unidade federativa que conseguiu ter a aprovação para se reabilitar foi Goiás. Acredito muito em um governo quando trabalha nessa condição, com o apoio de deputados estaduais, deputados federais e senadores, conseguindo reaver toda a situação financeira. Agora, ele terá a oportunidade de fazer o que quiser, inclusive por empréstimos, para que o Estado cresça e se desenvolva, levando os benefícios que gostaria de levar desde o começo, quando assumiu, mas não podia. Tinha verbas, mas todas já direcionadas aos serviços públicos. Agora, de outra forma, quando consegue o acordo, passa a ter condições de fazer o que realmente quiser. Acredito que essa é a chance que o governador Caiado tem e com a qual posso colaborar. Um segundo mandato pode ser com mais realizações.

Euler de França Belém – O que o sr. fala sobre a chapa do Republicanos bate com nossa apuração: é realmente muito forte. Para deputado federal, têm nomes como Rafael Gouveia, Zé Antônio, Rodnei Miranda e Jeferson Rodrigues. Para estadual, também é uma chapa boa. O Republicanos tem condições de eleger, desta vez, três federais e cinco estaduais?

Na verdade, o trato que hoje o diretório nacional pede ao partido em Goiás é de elegermos dois deputados federais e três deputados estaduais. Pela chapa que for formatada, poderemos ampliar esses números, acredito que sim. É uma chapa muito pujante e que trará um número grande de votos para a sigla. Temos esses nomes que você citou para a chapa federal e também temos nomes que vieram para chapa estadual com volume de votos. Quando temos nomes que trazem esse volume, certamente podemos levar mais um com o que chamamos de “rabicho”. Então, acredito muito que o partido pode chegar a três federais e a quatro estaduais.

Euler de França Belém – No plano nacional, por que o sr. apoia Jair Bolsonaro (PL)?

Acredito muito, primeiramente, nas características que ele tem apresentado ao País. Claro, ele tem, poderíamos dizer, uma certa limitação – qualquer gestor a tem –, não pode fazer tudo que quer ou pensa. No meu caso, estou gestor da cidade e tenho meus limites, preciso acompanhar as sugestões do Ministério Público, do TCM [Tribunal de Contas dos Municípios]. O governo federal, da mesma forma, precisa seguir orientações do STF [Supremo Tribunal Federal] e outras mais.

Bolsonaro tem feito um trabalho de projetos importantes. O primeiro que nós vemos é – e todos nós sabemos disso – é a questão da defesa da família. Quando digo “família”, falo isso de modo geral, não estamos aqui especulando nada. Ele tem tido esse olhar especial para essas questões e considero isso um ponto primordial.

Em segundo lugar, é um homem que fala o que pensa, é muito direto, todo mundo sabe. É um oficial do Exército, um homem treinado, vai chegar sempre e falar o que pensa, e ponto. A transparência do ser humano, no meu ponto de vista, é a melhor coisa que existe. Não adianta eu chegar para você e dizer “gostei de você” e depois, por trás, falar o contrário. O que Bolsonaro fala é natural dele. Tenho meu chefe de gabinete, meu secretário particular, que foi oficial do Exército e conheceu Bolsonaro quando estava ainda na ativa e que me diz que o jeito dele sempre foi aquele, independentemente de qualquer situação – a maneira de falar, de se expressar, perto ou longe das pessoas, o jeito é o mesmo.

Como qualquer um, ele tem seus erros. Todos erram. Quem sou eu para dizer que não erro na minha gestão? Qualquer gestor tem seus erros. Mas são erros que podem ser consertados. Muitos erros, desde o início de sua gestão, Bolsonaro tem consertado.

Euler de França Belém – Por que o sr. acha que ele não está tão bem avaliado quanto Lula da Silva (PT)?

Acho que, primeiramente, o Nordeste é uma força tradicional do Partido dos Trabalhadores. Na última eleição, em que Bolsonaro foi vitorioso, o momento era de muitos problemas para o PT, inclusive com o próprio nome de Lula. Isso fez com que uma camada da região Nordeste optasse por Bolsonaro. Estamos agora começando o mês de junho, acredito muito ainda que possa haver uma reviravolta. A partir do momento em que são apresentados nomes que representam o governo federal, inclusive nos Estados do Nordeste, isso pode mudar tudo. Na Bahia, temos um nome [João Roma] que foi indicado por ele, o qual inclusive era de nosso partido. Morei no Nordeste – em Salvador por oito ano e Fortaleza por quatro anos e meio – e conheço bem o tipo de política que é feito por lá. Lá nunca tinha sido político, mas como estava ligado à comunicação, tinha uma proximidade, direta ou indireta, com a política. Pude observar bastante tudo e conhecer o tipo de política que há na região.

Euler de França Belém – Quando o sr. assumiu, percebi que era um político quando criou uma relação muito positiva com a Câmara. Talvez outra pessoa, que não tivesse passado por lá, teria uma dificuldade de seis meses para se adaptar. E o sr. herdou uma cidade em obras, grande parte delas não terminadas. No poder, está fazendo algo que muitos não fazem, assumem e deixam essas obras antigas de lado. É bem verdade que algumas das que estão aí são impossíveis de não concluir. O sr. decidiu que vai terminar todas as obras iniciadas por Iris Rezende (MDB)?

Temos três viadutos já entregues e vamos entregar o quarto e último até meados deste mês. O gestor não tem de olhar para questões partidárias: quem começou ou quem vai terminar. A gestão precisa olhar sempre para a responsabilidade que tem com o erário. Se gestões passadas iniciaram obras é porque tinham projetos. Alguns projetos são de médio e de longo prazos; outros, são de curto prazo. Por conta da pandemia, todo gestor teve problemas. Então, fazer com que essas obras sejam concluídas é pensar na responsabilidade com o dinheiro público, o dinheiro do cidadão. É importante que o gestor assuma a responsabilidade, porque a obra não é do gestor A ou B, do partido A ou B, é para a cidade, para o cidadão, porque o dinheiro é dele. A partir do momento que alguém deixa uma obra largada, ele está abandonando verba pública, seria um desrespeito.

Euler de França Belém – Como está a questão dos corredores de ônibus, especialmente o BRT Norte-Sul?

A entrega do novo Terminal Izidoria será em conjunto com o viaduto da Perimetral Norte, ambas as obras fazem parte do complexo do BRT. Obviamente, o terminal não é somente para o BRT, mas será entregue para o sistema de transporte público como um todo. O Izidoria era um terminal que já existia e que agora foi adaptado para o BRT. Ou seja, independentemente de o serviço do BRT começar agora ou não, o terminal será inaugurado para as linhas convencionais. Ao mesmo tempo, vamos inaugurar também o viaduto da Perimetral. Na verdade, a obra deveria ser entregue hoje, mas a empresa pediu, por segurança, para ter um prazo de mais dez dias, no máximo.

“Quando alguém deixa uma obra largada,
ele está abandonando verba pública”

O terminal está em fase final na parte de tecnologia, a qual já faz parte das novas tecnologias do transporte público de Goiânia, em que se pode pagar com cartão de crédito ou débito, por aproximação, usando totens e outras facilidades. Criamos agora em março o bilhete único e agora, no início do mês de maior, o Passe Livre do Trabalhador. São dois tipos de cartões que já estão sendo utilizados e com benefícios bastante positivos. Para os trabalhadores que tinham acordo com sua empresa, ela pagava 200 reais mensais por duas viagens, ida e volta para casa. Agora, a empresa paga 180 reais por oito viagens. Ou seja, agora o trabalhador tem direito de ir e voltar do trabalho, mas também de sair na hora do almoço para resolver qualquer situação; depois do trabalho, se quiser passar no mercado ou na escola, também pode. Não há mais aquela limitação de ter de ir direto para casa ou, tendo de descer no meio do caminho, precisar pagar outra passagem. É um grande avanço e a adesão está sendo muito positiva, mais do que o esperado pela CMTC [Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos]. Estamos finalizando as obras no Terminal Izidoria, com a implantação dos equipamentos das empresas – catracas, sistema de cartão de aproximação etc. O viaduto também será inaugurado na mesma data.

PH Mota – E sobre o BRT, especificamente?

A fase 1, que é a parte sul, teve o abandono da obra por parte da empresa responsável. Entretanto, houve uma conversa entre a Seinfra [Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana] – que está designada para fiscalizar a obra, que é do governo federal – com a empresa. Depois disso, conseguimos “resgatar” a empresa, que dará sequência, depois que fechamos alguns acertos, em conjunto com o governo federal. Já na parte norte, que vai do Terminal Izidoria até o Terminal Recanto do Bosque, temos toda a parte de piso pronta e agora estamos instalando a parte da tecnologia, já que o BRT tem seus pontos de semáforo abertos de acordo com a aproximação dos ônibus, bem como as portas das estações. Estamos também passando as fibras óticas pela linha do BRT. Em seguida, vão entrar também os equipamentos das empresas, como está ocorrendo nos terminais.

Euler de França Belém – As obras na Praça Cívica, quando terminarão?

A previsão é da conclusão do anel interno para junho agora. Estamos agora apenas trabalhando nos abrigos de ônibus convencionais. Em seguida, o trabalho se concentrará nos abrigos do BRT, mas os ônibus já vão circular na faixa.

Euler de França Belém – Falando ao sr. como pedestre, gosto muito do semáforo temporizado, que é uma segurança para quem anda a pé. Mas o que pode ser feito pela gestão para o pedestre, já que a cidade está melhorando cada vez mais para o carro? Fala-se muito em “cidade inteligente”, mas isso deveria significar também uma cidade melhor para o pedestre.

Quando se fala em cidade inteligente, também se fala em semáforos inteligentes. O semáforo de contagem, com o advento do semáforo inteligente, é retirado, porque, para se formar uma “onda verde”, não pode haver um temporizador. A câmera vai passar a informar onde está o maior fluxo e vai abrir o sinal verde. Quando o fluxo vai reduzindo, faz o mesmo para onde passou a ter um fluxo mais forte. O temporizador, no caso, não colabora com isso.

Porém, estamos trabalhando por outras soluções. Fui a Foz do Iguaçu (PR), onde há o recurso para uma pessoa que tenha deficiência visual acionar um botão ou um alarme, por meio do qual ela consegue distinguir se o sinal está aberto, em atenção ou perto de fechar. É um sistema que nos interessa e estamos conversando com a mesma empresa tecnológica que vai fazer o trabalho com as câmeras inteligentes, para também adaptar esse sistema.

Euler de França Belém – Como será solucionada a questão da Avenida Anhanguera? Há algum projeto em mente?

Agora há pouco estávamos conversando sobre isso. Havia um projeto nosso, já que a Anhanguera pertence ao município, mas está com cessão de uso para o Estado. Não houve um acordo com o governo do Estado e não pudemos dar continuidade ao projeto, porque o governador preferiu fazer um trabalho de adaptação ao ônibus elétrico. Temos então uma demanda para fazer no Eixo Anhanguera, que é fazer a troca da camada de asfalto para o tráfego dos ônibus. Os novos veículos serão adequados aos novos tempos, não poluidores, o que será muito bom para a cidade.

No entanto, temos um projeto de revitalização da Anhanguera. O novo Plano Diretor prevê isso e estamos finalizando as 12 leis complementares para enviar à Câmara e ativar esse novo projeto. Nele, entra a revitalização, tanto da Anhanguera como do Centro de Goiânia. Um de seus pontos é o incentivo no Código Tributário com relação às fachadas. Nossa cidade é a segunda do mundo em acervo de “art déco”, só perdendo para Miami (EUA).

Euler de França Belém – Quem passa pelo Centro à noite, percebe que a região já está começando a se revitalizar, com mais bares, movimentação humanizada nos becos, com a volta da circulação da classe média. Outra questão é que o local está mais seguro à noite e melhor: está limpo, coisa que há tempos não se via.

Nossa determinação é manter a cidade limpa, porque a cidade é para as pessoas usufruírem, principalmente o Centro. Nosso desejo maior é fazer daquela região um “work-living place”, um lugar para as pessoas viverem, morarem e trabalhar por ali. No Código Tributário, demos incentivos para novas construções, novas moradias, novos comércios. Também têm benefícios em tributos como o IPTU, o ITBI [Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis]. Nosso desejo é fazer com que Goiânia seja reconhecida como uma cidade linda e maravilhosa, não como o Rio, que tem o Cristo Redentor e as praias. Aqui, temos os parques e somos a cidade mais verde do Brasil e a segunda mais verde do mundo.

Euler de França Belém – Goiânia já é mais verde que Curitiba?

Sim, passamos a ser a segunda mais verde do mundo em 20 de janeiro de 2020, com uma pesquisa que foi divulgada. Agora, estamos trabalhando para ser a primeira do mundo. E temos condições, porque a primeira colocada não tem mais metros quadrados para encher; nós, ao contrário, ainda temos muito espaço.

PH Mota – Como andam os projetos para a reforma tecnológica na administração da Prefeitura de Goiânia?

Quando falamos em fazer de Goiânia uma cidade inteligente, isso precisa começar “dentro de casa”. É o que estamos buscando fazer, iniciando a operação com o SEI [Sistema Eletrônico de Informações], o mesmo sistema eletrônico do governo federal, do Ministério Público, do governo do Estado. Antigamente, eu saía daqui 10 da noite, assinando um monte de processos; hoje já assino pelo computador ou mesmo pelo celular. Estamos agora ampliando para órgãos do município, alguns já têm o sistema, outros estão em fase de implantação.

“Muitos erros, desde o início de
sua gestão, Bolsonaro tem consertado”

Também estamos implantando a telemedicina, que está em fase final para adesão à ata e trazer a tecnologia para a Saúde. É algo que se usa no mundo inteiro: algo prático, rápido e objetivo. O acompanhamento no computador, estando no sistema, faz com que tudo possa ser acessado em qualquer momento, em tempo real.

Euler França de Belém – Mas, no concreto, a saúde melhorou em Goiânia? Há muita reclamação, por exemplo, pela falta de pediatras.

A saúde se mantém no espaço que ela está sempre. É preciso que as pessoas entendam o contrato com o tipo de médico especialista. Nem tudo passa pelo município, às vezes dependemos do governo federal. Por exemplo, o Centro de Saúde da Família (CSF) do Conjunto Riviera – um dos inauguramos, ao lado da unidade do Bairro São Carlos e do Setor Alto do Vale – precisa de algumas especialidades. Isso vem do Ministério da Saúde. A Prefeitura dá sua contrapartida entregando a área, o governo federal entra pagando o profissional.

Tivemos um problema sério durante a pandemia de Covid-19. Conseguimos fechar 150 leitos convencionais e de UTI no HC [Hospital das Clínicas] e iríamos contratar uma fundação para trazer os profissionais que cuidariam desses leitos. Conversamos isso e fomos para Brasília. Na volta, fomos avisados de um problema: a Prefeitura não poderia fechar contrato, porque o HC já era administrado por uma OS [no caso, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh)]. Por isso, a Prefeitura não tinha como fechar com uma fundação para colocar profissionais lá. Então, fizemos um chamado e mais 7 mil pessoas se inscreveram. São essas questões que, muitas vezes, as pessoas não entendem, de nossa dependência do Ministério da Saúde para algumas especialidades, porque o custeio da saúde é todo do município, com exceção do que veio para a Covid.

Euler de França Belém – Qual é a dificuldade específica para contratar pediatra?

Primeiramente, a própria contratação. Abrimos agora um concurso público para a saúde. Quantos vieram para essa especialidade? Poucos. A primeira coisa que olham é o salário. A média que está em edital fica entre R$ 10 mil e R$ 13 mil, isso para um plantão por semana. Conversando com a administração da Santa Casa, que faz um trabalho social, eles têm seus especialistas – cirurgiões, por exemplo – e têm os contratados que estão saindo da faculdade de Medicina. A pessoa me disse que se senta com o rapaz, explica como é o trabalho no hospital e logo ele diz “isso eu já sei, quero saber é quanto eu vou ganhar”. Quando falam, eles não querem. O poder público também passa por essa dificuldade.

Euler de França Belém – As unidades de saúde de Goiânia não merecem uma reforma?

Todas serão reformadas. Vamos construir 14 novas UBSs [unidades básicas de saúde], incluindo aí as três que já entregamos e eu citei há pouco. Quem chegar nesses locais vai ver uma qualidade muito melhor do que em muitas clínicas particulares, e com segurança também. Uma coisa interessante: as unidades de saúde que estão em prédios alugados não podem passar por reforma da Prefeitura.

Euler de França Belém – E são muitas?

São mais de 50. O mais grave é que a gente não pode reformar e o proprietário do imóvel também não se importa com isso. Vou dar um exemplo do drama: fomos visitar a unidade do Residencial Vale dos Sonhos. Já tinha visto posto de saúde ruim, mas não tanto quanto aquele. Por quê? É uma casa alugada, em que as pessoas ficam no térreo esperando, mas a recepção, os consultórios, tudo é em cima, tem de subir uma escada. Então, me pergunto: como fica para uma pessoa idosa ou com deficiência? Então, imediatamente, chamei a assessoria e já pedi o estudo para uma área – que já conseguimos – para uma nova UBS. A primeira que vamos construir será no Vale dos Sonhos.

Da mesma forma, estamos finalizando o contrato para o novo prédio do Cais do Bairro Goiá. A unidade atual vai abaixo e vamos fazer um prédio ao lado dela, temos área para isso. Aos poucos, então, vamos ampliá-la.

Euler de França Belém – O sr. costuma visitar essas unidades de saúde?

Sempre. No sábado passado, estávamos acompanhando um evento no Setor Morada do Sol e saímos a pé para visitar o Cais do Setor Finsocial. Aproveitamos para olhar as ruas dos bairros.

Euler de França Belém – Há vacina contra a Covid-19 sobrando em Goiânia hoje?

Sim, a Van da Vacinação está circulando por aí, com calendário marcado, cada dia em um lugar.

Euler de França Belém – O sr. se vacinou com as três doses contra a Covid-19?

Sim, e vou vacinar a quarta, se for necessário.

Euler de França Belém – O sr. tem algum projeto para a área de inclusão social, para melhorar a vida das pessoas com deficiência?

Quando vereador, fui presidente da Comissão do Direito das Pessoas com Deficiência. Grande parte do que está sendo implantado nessa área hoje em Goiânia decorreu desse período. Hoje essa comissão está com o vereador Willian Veloso (PL), que é cadeirante. Já foram mais de 400 rampas de cadeirante feitas somente nesta gestão, coisa que não existia. Aqui mesmo, no Paço, não havia acessibilidade; hoje, no piso do Atende Fácil, estamos colocando uma nova passarela. Fizemos a rampa, o piso tátil, também placas indicativas, tudo para facilitar o acesso por pessoas com deficiência. Da mesma forma, fizemos uma rampa nova no acesso ao saguão e também o acesso para o cadeirante, que já existia. Só que, se o cadeirante quiser subir do piso de baixo, ainda não tem como. Então, agora estamos fazendo um acesso já no 1º piso. É o mínimo que podemos fazer. Pela cidade, vamos fazer os semáforos com sonorização, para pessoas com deficiência visual, o que já está no cronograma da SMM [Secretaria Municipal de Mobilidade].

Euler de França Belém – Como está o trabalho da Prefeitura para conter o avanço da dengue em Goiânia?

O Brasil todo está nessa situação. Infelizmente, Goiás está em 1º lugar. Lançamos, há um mês, o Dia D contra a Dengue, na região oeste, juntamente com o governador. Temos nessa força-tarefa os agentes de saúde, agentes de endemia, Guarda Civil Metropolitana (GCM), Agência Municipal do Meio Ambiente, juntamente com o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil, todos estão envolvidos no combate ao mosquito da dengue. É um trabalho feito por regiões.

Euler de França Belém – Algumas escolas de Goiânia também estão precisando de reforma. Isso vai ocorrer?

No fim do ano passado, entregamos a cada escola e a cada Cmei [centro municipal de educação infantil] a quantia de R$ 100 mil. Fizemos assim porque é o diretor de cada unidade que sabe quais são as necessidades para reformar. Muitas já foram reformadas, em cada mutirão estamos entregando de duas a três escolas. Além dos eventos, também entregamos outras. Ao todo, creio que já entregamos a reforma de mais de 20 escolas e Cmeis.

Visitei semanas atrás uma escola que não havia iniciado a reforma. Está com o dinheiro em caixa, mas as pessoas contratadas ainda estão ocupadas com esse trabalho em outras escolas. Devem ter quatro ou cinco equipes nessa tarefa. Temos outra questão que é abrir processo para construção de novas escolas. Quando assumi, tínhamos um déficit de 8 mil vagas, isso agora é de 4 mil. Se tudo der certo, teremos condições de zerar o déficit de vagas para educação infantil e ensino fundamental até 2023.

Euler de França Belém – A pobreza cresceu no Brasil depois da pandemia. Em Goiânia, há muitas pessoas precisando de ajuda, muitas nas ruas, pedindo em semáforos. Como a Prefeitura está cuidando da assistência social?

Os estrangeiros, principalmente os venezuelanos, estão sendo assistidos por meio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas, estão assistidos pelo governo federal. Têm um projeto pelo qual quem é cadastro recebe essa assistência, inclusive em termos de documentação. Com a pandemia e o desemprego, ao iniciar a gestão, o segundo projeto que apresentei foi o Renda Família – o primeiro foi o IPTU Social. Como observamos que o Renda Família não estava beneficiando as pessoas da ponta, resolvemos criar o Renda Família Mais Mulher. Por que esse nome? Porque as mulheres foram as mais afetadas: o marido às vezes perdeu o emprego, às vezes até morreu de Covid, e a mulher ficou sustentando a casa sozinha. Já entregamos 12 mil cartões em três etapas. Pelo programa, durante seis meses, cada beneficiária todo dia 10 tem 300 reais em sua conta.

Euler de França Belém – E essa pessoa pode também receber os 400 reais do Auxílio Brasil, do governo federal?

Pode, não há problema nenhum, desde que ela esteja no Cadastro Único. Vamos entrar agora na quarta e última etapa, quando queremos entregar mais 10 mil cartões.

Euler de França Belém – A assistência social é fundamental, mas é necessário também qualificar as pessoas…

A própria Secretaria da Mulher, hoje, tem cursos gratuitos, realizados na própria sede, com espaço apropriado. Outros cursos podem ser feitos até pela internet, com o uso do próprio celular. Algumas dessas mulheres já se formaram e estão com seu negócio em casa – a maioria delas se torna cabeleireiras, manicures etc. –, por meio desses cursos gratuitos ministrados pela secretaria em convênios com vários institutos. Além disso, a Sedec [Secretaria Municipal do Desenvolvimento e Economia Criativa] também tem dado cursos gratuitos por meio da Faculdade Delta, esses para homens e mulheres.

Euler de França Belém – O sr. gosta de Chico Buarque?

Gosto, MPB é comigo.

Euler de França Belém – E qual música ele o sr. gosta mais?

Acho “Construção” uma música linda. A letra fala muito, é um poema.

Euler de França Belém – E sobre Cartola?

Cartola, já um sambista, é um samba de fundo de quintal. E esse é o tipo mais bonito que existe.

Euler de França Belém – E Paulinho da Viola?

Também gosto, como tudo assim que vem de uma MPB mais clássica, vamos dizer assim.

Euler de França Belém – E uma cantora favorita?

Uma cantora em quem eu me amarro é Alcione. São músicas com letras que têm muito sentimento. Ela sempre transmitiu isso, porque a vida dela é aquilo ali mesmo.

Euler de França Belém – E o sr. costuma ir a shows?

Sim, agora no de Henrique e Juliano eu devo ir. Dependendo do local, até danço com minha esposa. Se for um samba, dá para fazer uns passinhos; um forró, melhor ainda (risos). Meu pai era paraibano e minha esposa é baiana. Meu sogro tinha um grupo de forró, tocava acordeão.

Euler de França Belém – E o sr. toca alguma coisa?

Faço um barulho (risos).

Euler de França Belém – E sobre cinema, o que o sr. prefere?

Não muito, se for para assistir tem de ser um filme de ação. Se não for, eu durmo. Agora mesmo, pretendo assistir ao “Top Gun: Maverick”.

Euler de França Belém – E em literatura, o que o sr. gosta?

Gosto muito das obras de Rui Barbosa, como “Oração aos Moços”. No Instituto Histórico tem uma ótima coletânea que quero conhecer. Gostei muito também de “Capitania de Verão”, que meu avô me repassou e foi o primeiro que li dele.

PH Mota – O sr. é carioca. Como se estabeleceu sua relação com Goiânia?

Conheci Goiânia por meio de um GPS que eu havia trazido da África. Quando vim para cá, administrar um grupo de rádios, eu adaptei o aparelho GPS e coloquei o mapa do Brasil nele. Botei no carro e os endereços que tinham eram “escritório” e “casa”. E saía igual um doido pelas ruas. Então, de algum ponto eu ligava para o técnico e dizia “olha, Freitas, eu estou aqui na (então eu olhava para a placa de endereço) no Setor Ferroviário e o som da rádio está ruim”. Então perguntavam o que estava fazendo lá, como eu tinha ido parar lá etc. E desse jeito eu saía andando. Para voltar para casa ou seguir para o escritório, era só botar no GPS e ir.

Euler de França Belém – Mas agora o sr. não precisa mais de GPS para andar por Goiânia…

Não, mas eu conheci Goiânia na realidade política lendo dois livros de Iuri Godinho sobre a cidade.

Euler de França Belém – O ex-presidente Tancredo Neves dizia que “não existe cedo em política, só tarde”. Para 2024, Rogério Cruz é candidato à reeleição?

No momento, não.

Euler de França Belém – É uma boa resposta protocolar. Mas o sr. tem vontade de continuar?

Os projetos que tenho hoje são minhas prioridades. Têm alguns que são de médio prazo, que dá para entregar até o fim de 2024. Mas têm os de longo prazo, que vão estar em execução. Então, se o povo aclamar, como dizia Iris Rezende…