Daniel Vilela planeja disputar o governo, mas admite compor com Ronaldo Caiado ou Jânio Darrot
11 abril 2021 às 00h02
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“O sentimento que for do MDB e dos seus líderes é o caminho que nós vamos tomar”, diz presidente regional do partido sobre os rumos para 2022
No centro das atenções, o presidente regional do MDB, ex-deputado federal Daniel Vilela, liderou a campanha do pai, Maguito Vilela, para a Prefeitura de Goiânia. Também conduziu a transição da gestão após a vitória nas eleições e as nomeações da equipe do Paço Municipal. Por último, comandou o desembarque de secretários emedebistas da gestão do prefeito Rogério Cruz (Republicanos). As razões para o rompimento, segundo o ex-parlamentar, foi a falta de diálogo e a mudança nos rumos da administração da capital. Embora contasse com a Prefeitura como base para consolidar sua candidatura ao governo do Estado em 2022, o líder emedebista ainda diz manter o projeto de se lançar candidato, mas já admite composições — seja com governador Ronaldo Caiado (DEM) ou com um grupo de oposição que pode ser liderado pelo ex-prefeito de Trindade, Jânio Darrot, do Patriota.
Daniel Vilela, assim como seu pai, é natural de Jataí, na região Sudoeste do Estado. Também seguiu os passos do pai no futebol — chegando a jogar profissionalmente no time do Goiás — e na política. Sempre esteve envolvido com militância partidária. Em 2008, foi eleito vereador por Goiânia. Na eleição de 2010 concorreu ao cargo de deputado estadual e foi vencedor nas urnas. Em 2014 conseguiu se eleger deputado federal e em 2018 concorreu ao governo do Estado e ficou em segundo lugar. Em entrevista ao Jornal Opção, realizada na sede do Diretório do MDB, em Goiânia, na terça-feira, 6, o emedebista relata o rompimento com o prefeito Rogério Cruz e suas perspectivas para as eleições de 2022.
Euler Belém: Uma pergunta que, aparentemente, ninguém ainda lhe fez: daqui a três anos e cinco meses será eleição para prefeito de Goiânia novamente. O MDB terá candidato a prefeito para enfrentar o prefeito Rogério Cruz?
Essa pergunta de fato ninguém fez. Sinceramente nós não tivemos tempo para pensar nisso ainda. Está muito distante as eleições e a política está muito imprevisível. Você imagina que em 2019, ou melhor, vamos voltar antes ainda, em 2018, quando eu fui candidato a governador tendo Vanderlan Cardoso (PSD) como colega de chapa sendo candidato ao Senado e inicialmente com meu pai de suplente dele, ou seja, estávamos juntos para trazer o partido para ajudá-lo a ser eleito. E essa foi uma escolha do próprio Vanderlan. Na verdade foi quase que uma imposição para ele ser candidato. Ele queria ter o meu pai como suplente. Há época, meu pai humildemente falou que não teria problemas, ou nenhuma dificuldade. Mas depois a gente avaliou que talvez não seria positivo para a chapa, por eu ser candidato a governador e ele estar como suplente. Foi então que Pedro Chaves se tornou suplente. Enfim, Vanderlan foi o vencedor e tivemos uma relação em 2019 muito boa, tínhamos até um relacionamento pessoal. Eu me sentia como um amigo do Vanderlan. De repente, em 2019, o Vanderlan, da noite para o dia, ouviu uma fofoca que o MDB estava buscando se aproximar do Ronaldo Caiado e essas coisas. Consequentemente ele ficaria sozinho em 2022, ou seja, dois anos antes. Foi por isso que ele promoveu uma ruptura conosco, que vínhamos desse projeto em 2018. Eu estive várias vezes com Vanderlan e com o meu pai mostrando que isso não tinha fundamento, que não era esse o nosso interesse. O Vanderlan era alguém que já mencionava a possibilidade do meu pai ser candidato em Goiânia em 2020. Ele achava que era importante em razão da experiência dele, e de repente ele tomou aquela decisão e se aliou ao Ronaldo Caiado. Isso tudo depois de passar alguns anos criticando muito o governo, ele foi e fez essa aliança sem ouvir as considerações e tudo aquilo que nós havíamos dialogado. E aí a gente vê o cenário de disputa entre ele e meu pai, que foi algo inimaginável e provável, até seis meses antes da eleição.
Então assim, a eleição está muito imprevisível e a gente nunca sabe qual é o caminho e quais as circunstâncias vão levar a candidatura. O MDB, assim como nas candidaturas estaduais, nunca se ausentou de ter candidato aqui nos últimos 20 anos, a não ser quando apoiou a reeleição de Paulo Garcia, que o MDB teve o vice. Lembrando que o Paulo, até então tinha uma relação muito próxima com o ex-prefeito Iris Rezende. Acho que é natural a gente imaginar que o MDB terá candidato em 2024 disputando a Prefeitura de Goiânia.
Euler Belém: A partir de agora o MDB será oposição?
Eu acho que é um pouco precipitado da minha parte dizer em nome do partido que seremos oposição. O partido tem que se reunir e discutir. Esse grupo político e esses auxiliares que pediram exoneração – daqui a pouco nós vamos entrar nos assuntos que levaram isso a acontecer – com certeza terão um papel vigilante em relação a essa administração. Nos deixa muito preocupados algumas situações que vêm ocorrendo e principalmente aquelas que originaram a saída do partido da Prefeitura de Goiânia, e acho que esse é um papel que com certeza será feito. Agora se será oposição ou não, isso precisa ser discutido internamente.
“A classe política escolhe um vice olhando o perfil para ser vice e nunca para ser titular, seja para prefeito, governador ou presidente”
Os vereadores têm legitimidade, foram eleitos com o voto dos goianienses, moram aqui, têm compromisso com a cidade e sofrem as consequências positivas ou negativas de serem aliados dessa administração. Então essa avaliação precisa ser muito deles que serão diretamente cobrados. A gente entende que os vereadores são muito experientes e sabem tomar as melhores decisões. Eu acredito e tenho dito que ninguém vai ser hipócrita de falar que o Legislativo não tem relação com o Executivo, seja na esfera municipal, estadual ou federal. Mas ele só tem relação quando o governo tem uma gestão positiva e bem avaliada. Não tem Legislativo que apoia governo fracassado, que toma rumo errado e começa a não entregar aquilo que as pessoas esperam, que não consegue satisfazer a sua população e a sua sociedade.
É um ledo engano, por exemplo, o prefeito Rogério Cruz achar que a Câmara Municipal é sua parceira em qualquer momento. Se ele não tiver o foco na gestão e se a gestão não estiver sendo bem sucedida, ele não vai ter apoio político. Sobre isso tem a história aí para nos mostrar.
Marcos Aurélio: Há uma expressão que diz “se arrependimento matasse”. O senhor e seus aliados estão arrependidos de terem bancado Rogério Cruz para vice? Como realmente se deu a escolha de Rogério? Foi imposição do partido Republicanos e da Igreja Universal?
Eu não sou uma pessoa de guardar nenhum tipo de arrependimento. A vida precisa ser vivida intensamente a cada momento. A gente precisa sempre ter sabedoria e ponderação para tentar tomar as decisões mais correta. Talvez um dos erros, e eu já disse isso, é que a classe política escolhe um vice olhando o perfil para ser vice e nunca para ser titular, seja para prefeito, governador ou presidente. Sempre olha aquele sujeito que se aceita num papel secundário e num papel de colaboração, mas não num papel Executivo. A grande maioria dos vices são assim. A preocupação quando se vai escolher um vice é se ele vai dar trabalho e vai ficar querendo impor o seu pensamento.
O Rogério Cruz tem o perfil para vice e nesse sentido, eu tenho que ser justo e verdadeiro, não houve nenhuma imposição da parte deles e diria até que houve uma convergência tanto do Republicanos quanto o MDB de que ele era a pessoa mais adequada para ser indicado a vice. O fato é que nós também não podemos ter arrependimento porque ninguém imaginava que sofreríamos a tragédia que nós sofremos. Eu mais do que ninguém – eu perdi o meu pai. Então não há como escolher um vice imaginando que o titular vai adquirir Covid, passar a luta que ele passou por 83 dias, melhorar, estar lúcido e de repente de uma hora para outra vir a falecer. E aí todo o projeto muda de mãos e passa a ser liderado pelo vice. Isso era algo inimaginável para nós. Não posso dizer que houve arrependimento porque a gente não sabia que as circunstâncias seriam essas.
Eu quero aproveitar essa pergunta sua para dizer o seguinte: eu não vejo o Rogério como um sujeito mau-caráter. Não vejo. Só acho que ele está demonstrando ser extremamente influenciado por pessoas que não têm compromisso com a cidade, que não conhecem a realidade da cidade, que não tem compromisso com a gestão, por pessoas que não vivenciaram a eleição, os desejos dos eleitores e o sentimento dos goianienses, e que por isso chegam aqui e querem tomar decisões completamente incoerentes com a cidade.
Euler Belém: Há uma dúvida, vocês dizem que o comando da Prefeitura está em Brasília. Mas com o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, ou com o ex-governador Rogério Rosso, do Distrito Federal...
São todos ligados ao Republicanos nacional. O secretário de Governo, o secretário Executivo de Administração que veio indicado por eles, mas ninguém sabe de onde veio e como que é. Veio uma pessoa agora, um indicado para ser presidente da Comurg, que ninguém também compreende o sujeito sair lá de Alagoas para receber uns R$11.800 de salário, pagar hotel e tudo mais. Se ele for dois fins de semana na cidade dele para ver a família, o salário dele foi gasto.
Euler Belém: Procede que o Rogério não sabe o nome dos secretários que ele contratou?
O nome ele sabe porque passam para ele. Tenho testemunha que ao nomear o secretário de Governo ele não sabia o nome para fazer o decreto de nomeação. Então procede que essas pessoas ele só passa a conhecer quando chegam aqui em Goiânia. Acho que é isso aí o defeito do Rogério. Um líder, que tem legitimidade para poder liderar esse projeto , se sujeita a isso? Esse é o nosso grande questionamento. De repente chegam aqui e editam decretos usurpando a competência e prerrogativa do próprio prefeito.
Eu não sei se lembram, mas o Iris Rezende fazia questão de dizer que todo dia cedo o secretário de Finanças levava o relatório e as despesas e ele autorizava. Hoje quem faz a autorização de despesa na Prefeitura é o secretário de Governo e isso está formalizado em um decreto. É ele que faz, não é o prefeito. Então assim, além de usurpação, o próprio prefeito está abrindo mão da sua legitimidade. Nosso questionamento até então não é de uma falha de caráter dele, mas é de estar terceirizando a gestão e estar transferindo a sua prerrogativa de prefeito que só ele tem legitimidade para isso.
Marcos Aurélio: Daniel, o pecado original, digamos assim, não foi começar uma administração com os principais secretários tendo ligação com o MDB? Não teria sido mais adequado, desde o início, fazer uma gestão mais compartilhada?
Primeiro que o MDB não se apropriou da Prefeitura. O MDB ganhou as eleições e assumiu a Prefeitura no dia 1º de janeiro. Por isso é que naturalmente as pessoas que ocuparam os cargos, a maioria era do MDB, afinal eram ligados ao prefeito eleito, que foi Maguito Vilela. Mas aconteceu essa tragédia e ele faleceu.
Eu tive uma conversa com Rogério Cruz no domingo posterior à morte do meu pai. O Rogério passou a tarde comigo em minha casa. Conversamos muito sobre outras coisas, menos sobre política e sobre a Prefeitura. No fim eu falei para ele que na segunda-feira eu iria na Prefeitura fazer uma visita e minha conversa com ele não seria nem de cinco minutos. Assim eu fiz, fui lá e disse: “eu tenho dois interesses aqui com você. O primeiro é que essa gestão dê certo e a gente possa realizar tudo aquilo que nós nos comprometemos na campanha.” Disse isso me referindo as ações e projetos, como por exemplo, as 15 mil moradias, o IPTU Social e o Renda da Família, que são características do meu pai e do legado dele – ele tinha uma atuação social muito forte. Também tem o Hospital Municipal, que foi uma promessa do meu pai, que tinha muito desejo de realizar esse projeto e há uma necessidade muito grande aqui em Goiânia. Falei também dos projetos na área de esporte e na área de educação… Disse que tinha uma coisa muito importante que é a continuidade de todas as obras iniciadas pela Prefeitura na gestão do Iris Rezende. Falei da modernização da cidade para transformar Goiânia numa cidade mais inteligente e mais avançada tecnologicamente, porque isso é um diferencial muito grande na atração de investimentos. Outro projeto importante e muito estudado por nós na campanha é um novo modelo de transporte coletivo para Goiânia. Muitas cidades estão fazendo algo diferente e esse modelo aqui já esgotou. Hoje pode-se buscar um contrato por quilômetro rodado, onde as empresas passam a ter mais interesse em ofertar mais ônibus, onde se pode exigir um transporte com ar condicionado e Wifi. Essa é uma forma mais inteligente de transporte coletivo. Isso tudo estava praticamente pronto. Por fim eu disse: “Rogério, o que você precisar de mim nisto, eu quero estar do seu lado, qualquer dúvida que se tiver vou ajuda a discutir com o pessoal a melhor alternativa”.
Eu não queria entrar no varejo, não tenho interesse em ficar nomeando ou brigando com vereador. Não é isso. O que eu vou ganhar com isso? Só desgaste. Não tem essa necessidade. Eu enxergo a política como uma decisão macro. Não é ir lá ficar mexendo com um cargo e indicação que vai me levar para um lugar maior na política.
A segunda coisa que eu falei pra ele foi: “quero manter essa aliança política para o ano que vem, quando pretendo ser candidato e espero que a gente possa estar bem aqui na sua administração e consequentemente colaborar com os nossos projetos para 2022”. Porque se ele não estivesse bem também ninguém iria querer o apoio. Meu desejo era que ele estando bem ajudaria na continuidade da nossa aliança em 2022. Ele me respondeu: “Isso não é nem discutido. É claro que tem meu compromisso e vou estar junto com você”. Foi isso. Pronto. Não fiz mais nenhum pedido para ele.
“Aí que eu falo não é maldade do Rogério. Eu não consigo enxergar essa maldade, mas sim a falta de coragem de chamar um secretário e conversar. É falta de liderança”
Tenho certeza que se ele for uma pessoa correta e decente ele não fala que eu fui lá pedir um cargo se quer, no varejo. Sempre tive me colocando lá para ajudar. O que acontece é que muita gente vai ficar falando pra ele assim: “o Daniel quer ser prefeito. O Daniel quer mandar. O MDB acha que é dono, mas não é, o dono é você e o Republicanos. Você tem que meter a mão na mesa”. Gente, meter a mão na mesa para que? Não estava tendo nenhum problema. Ele criou o Conselho Político por iniciativa dele e me convidou. Fizemos uma reunião espetacular, onde colocamos uma ordem de prioridades de projetos a serem discutidos, discussões interessantes com muita gente experiente e qualificada. A verdade é que os quadros do MDB não estavam lá só pelo MDB, era porque são pessoas extremamente competentes, já com competência comprovada e tudo mais. De alguma forma, de tanto insistir, o prefeito vai se contaminando. Mas isso não foi um fator determinante para chegar na situação em que nós chegamos.
Um dia o Rogério me chamou para ir almoçar com ele, junto ao Marcos Pereira, que é o presidente nacional do partido dele. Isso foi em Brasília. Nós conversamos de forma saudável e normal. Falamos sobre a política macro, sobre o desejo tanto nosso, quanto deles, de ter uma gestão aqui que pudesse ser referência e que seria importante para todos os projetos políticos. Passado isso, o presidente regional do Distrito Federal do Republicanos, o Wanderley Tavares, me procurou dizendo estar falando em nome do Marcos Pereira e que iria, por determinação, fazer uma interlocução partidária e que a gente precisava conversar sobre isso. Ele disse que gostaria de fazer uma troca na Secretaria de Governo. Eu falei: “Wanderley, o prefeito é o Rogério, e ele pode fazer todas as trocas que ele achar que são adequadas, inclusive a Secretaria de Governo. Acho que tem algumas secretarias, inclusive a de Governo, que de fato precisam ser pessoas da confiança do prefeito. Se ele tiver esse entendimento vamos construir, não estou aqui querendo impor nada. Não sou dono desses cargos. Estou tentando colaborar. Quero ajudar.”
No final do mesmo dia dessa conversa eu falei com Rogério, por lealdade a ele. Disse da conversa com o Wanderley, e imediatamente o prefeito chamou Andrey Azeredo e falou: “fique tranquilo com essas conversas que estão surgindo. Não existe nada não. Eu sou o prefeito e tenho absoluta confiança em você.” Passaram 20 dias dessa conversa o Wanderley novamente me ligou e falou que gostaria de conversar comigo. Nós nos encontramos no escritório do deputado João Campos (Republicanos) onde ele me disse o seguinte: “olha Daniel, nós precisamos e vamos fazer a mudança na Secretaria de Governo. Queremos fazer uma mudança na Secretaria de Comunicação também, porque essa é a nossa área e a nossa expertise do grupo Record. O prefeito não quer continuar com o secretário de Cultura e com o secretário de Educação por razões pessoais dele. E a presidência da Comurg também, porque o presidente andou tomando decisões sem compartilhar com o prefeito, sem informar ele e sem a autorização dele. Ele está desconfortável com isso.”
Nesta conversa eu falei: “olha, nós já conversamos e acho que é natural. O Andrey é uma pessoa muito importante, muito preparado e muito qualificado. Ele ajuda demais na gestão. Acho que é preciso encontrar uma forma para ele continuar dando essa colaboração. Ele é da confiança do Rogério, ele próprio me disse isso. Na Comunicação, apesar de achar que o secretário Bruno Rocha Lima está desempenhando um excelente papel, por ser dinâmico. Mas também entendo que precisa ser alguém da confiança. Só acho que vocês deveriam ponderar o fato de representarem um grupo de comunicação e de que forma isso seria visto pelos outros grupos. Isso talvez não seria bom para a própria administração. Mas eu estou só ponderando. Você está me comunicando que vocês vão promover essas alterações. Eu estou fazendo o papel de compartilhar um cenário que seria com essas mudanças. Sobre os demais secretários, acho que o Kléber Adorno (Cultura) é um baita gestor cultural, reconhecido e desenvolve um bom trabalho e esse é um setor muito atuante no debate da cidade. Acho que precisava levar em consideração também quem vai substituí-lo. O Marcelo Costa (Educação) é um excelente quadro, faz um trabalho bem feito e estamos em um momento de pandemia que não está tendo aula. Não sei se é adequado a troca. Já o Toti (Aristóteles de Paula – Comurg) o próprio Iris sempre colocou que a Comurg é um órgão que tem que ser infalível. Não pode falhar porque a beleza da cidade e a cara da cidade estão sendo cuidadas por lá. É um local nevrálgico para gestão. Mas de uma forma geral o que eu quero ponderar é que nós temos dois meses de gestão, uma pandemia, que cresce exponencialmente, e acho que não é o momento adequado para fazer troca. Vai causar essa insegurança para as pessoas conhecerem a administração e tomar as decisões. Porque vocês não esperam aí um ano? Muita gente tem pretensões políticas e acaba saindo, assim se faz uma acomodação política mais adequada, mais serena, mais tranquila e o Rogério já vai ter uma capacidade de avaliação maior sobre os seus colaboradores, podendo fazer uma reforma mais ampla.”
A resposta foi não. Disseram que tinha que ser naquele momento, porque precisava contemplar os deputados dovRepublicanos e os vereadores. Eu disse que estava ok, já que estavam apenas me comunicando… Eu reportei ao Rogério que o que foi falando nessa reunião era diferentemente de quando ele me falou sobre a Secretaria de Governo, ele disse: “É isso. Eles estão falando por mim e têm a autorização minha para conversar sobre isso e nós vamos avançar nesse sentido.”
Passado mais uns dias o Rogério me liga perguntando se pode ir na minha casa – em um domingo. Falei: “claro prefeito. Com prazer.” Esperava o Rogério chegar, ele chega com mais três pessoas, entre eles o Wanderley e já com a lista das secretarias e os possíveis nomes para trocas. Falei para o Wanderley: ”mais uma vez vou falar, se você estiver só me comunicando, ok. Eu não preciso nem de ponderar com vocês aqui. Mas podemos discutir o que é melhor.” A resposta foi que estavam querendo discutir comigo apenas os nomes das cinco pastas já citadas. O Rogério comunicou para mim que tinha solicitado da parte dele a indicação de uma secretária do Ministério de Desenvolvimento Social para o Andrey assumir, e que iria oferecer isso para ele. Disse que seria algo bom para nós e para Goiânia. Eu achei uma excelente ideia e disse que poderíamos avançar nisso.
“Eu não vejo o Rogério Cruz como um sujeito mau caráter. Só acho que ele está demonstrando ser influenciado”
Quando foi na segunda-feira seguinte, eles chamam o Andrey cedo, fazem essa proposta para indicar ele para um cargo em um ministério para colaborar com a cidade. Ele pede para responder até no outro dia cedo, quando no final da tarde, eles chamam novamente e dizem que teria que exonerar naquele dia, querendo ou não. Aí já mudou a conversa. O Andrey, obviamente, ficou chateado, porque ele já tinha praticamente aceitado, só que quando ele fosse nomeado em Brasília, ele seria exonerado em Goiânia. Isso pra ele não ficar no limbo. Foi uma ponderação justa da parte dele e que o prefeito concordou. Foi um susto, mas disseram que tinha que exonerar para nomear o cara que estava vindo de Brasília. Disse desse jeito: “um cara que está vindo de Brasília.” O Andrey disse que eles não estavam cumprindo com o que foi acordado. Fizeram a nomeação e lógico trouxe alguns traumas, poderia ter sido de uma forma melhor. Andrey saiu de forma muito elegante.
No final dessa mesma semana o prefeito chama o Bruno Rocha Lima, secretário de Comunicação e fala algo assim: “Bruno, eu precisava de fazer essas ações e tals”. O Bruno disse que ok, mas repassou que tinha ouvido durante a semana toda que seria trocado. O prefeito negou, dizendo que não tinha nada decidido e que era pra continuar o trabalho. Na segunda-feira seguinte, sai no Diário Oficial a exoneração do Bruno Rocha Lima. Ele (prefeito) não teve a educação ou a coragem de chamar e dizer: “Bruno obrigado pelo seu trabalho. Infelizmente, por razões naturais eu vou fazer uma substituição. Enfim, se eu pudesse ajudar de alguma forma, conte comigo.” Ele não teve essa hombridade de fazer isso com o Bruno. Teve medo. E exonerou pelo Diário Oficial, sem sequer falar com ele.
Essa história já criou um sintoma muito ruim entre o secretariado. começou a sair todo dia notícia de que havia uma reforma em curso. Num momento de pandemia onde o foco de todo mundo era a vacinação e o enfrentamento, criou-se essa instabilidade muito grande no secretariado. E aí, de repente, durante a semana, anunciou-se que iria ter troca na Secretaria de Administração, que não fazia parte daquela discussão inicial. Eu liguei para o Wanderlei e nos encontramos. Mas antes falei com o Rogério, que me falou que o que eu fosse tratar era para falar com o Wanderley. Ele iria resolver.
Na conversa com o Wanderley eu disse: “e essa história de Secretaria de Administração, nós nunca conversamos a respeito.” Ele negou e disse que tinha conversado sim a respeito. O secretário particular do prefeito, José Alves Firmino, estava na reunião, então eu perguntei para ele se a gente tinha falado sobre a Secretaria de administração e ele falou que não. O Wanderley quase que demitiu o Firmino com o olhar. Mas ele continuou: “Rogério entendeu também que foi combinado.” Coube a mim dizer que se eles queriam mudar, que mude, mas não diga que tinha sido combinado, porque não foi. A explicação que eles deram era de que o Rogério estava implicado com a secretária (Marcela Araújo Teixeira). Não sei porque eles implicaram, se a menina é íntegra, discreta e faz muito bem o trabalho.
Eu disse nessa reunião que se não tem discussão, se já não estavam cumprindo com a palavra, eu também não iria ficar discutindo. Eu ainda falei: “me desculpe Wanderlei, mas eu tenho que conversar com o prefeito e não com você. Quem tem legitimidade, quem tem o poder de promover as mudanças é ele”. Neste dia ele me disse que o prefeito não iria falar comigo. Me disse que não adiantava eu insistir e ir atrás, que ele não falaria comigo. Eu até achei que era brincadeira. No mesmo dia à noite eu liguei para o Rogério e ele não me atendeu. Eu mandei uma mensagem dizendo que precisava falar com ele para esclarecer sobre o mal entendido. Ele não me retornou. Passou a semana inteira aquela coisa, de vai sair a Marcela e tals.
Na mesma semana demitiram o Fernando de Oliveira, da Superintendência da Secretaria de Planejamento, sem falar com ninguém, nem com o secretário. O Fernando, diga-se de passagem, estava fazendo um brilhante trabalho com ideias novas para buscar equalizar esses problemas das legislações e as soluções de fiscalização com os bares. Demitiram e não avisaram nem o Rogério. E ficaram colocando a Marcela, da Secretaria de Administração, na berlinda o tempo todo. Quando eu vi no final da semana que o Rogério não iria falar comigo, que eles tinham proibido ele de falar e que na verdade não era interesse e nem implicância do Rogério com a secretária, porque eles iriam trazer essa pessoa que foi nomeada secretária Executiva do estado da Bahia. Eu não sei quem é que ele. Ele ia ser o secretário, mas aí o deputado Jefferson Rodrigues criou um problema muito grande, por não estar sendo contemplado, aí indicaram o secretário dele para a pasta da Administração e botaram esse que veio da Bahia, como secretário Executivo.
Neste episódio eu vi claramente que era uma decisão não do Rogério, mas era do interesse do Wanderley e de outras pessoas que eu não sei quem são. A ideia é botar alguém para controlar. É importante registrar que a Secretaria de Administração controla todas as licitações da Prefeitura, as contratações e tudo mais. E é importante registrar também que a pasta da Marcela, que já era secretária no governo de Iris, todos os demais cargos foram mantidos de uma gestão para outra. Eram pessoas que a gente nem conhecia, mas eram técnicos que faziam a máquina rodar com eficiência. O fato é que queriam colocar essa pessoa deles e não queria deixar que eu conversasse com o prefeito.
O recado era para ficar claro para mim, que não era o Rogério que estava querendo substituir a Marcela. Eu liguei para ela e disse o que estava acontecendo e que o Bruno tinha sido demitido pelo Diário Oficial. Como me falaram que havia uma disposição do prefeito em substituí-la, e avise: se prepare que provavelmente você vai ser substituído.
O prefeito chamou a Marcela para discutir temas da secretaria e não falou nada com ela. A Marcela quem falou que estava vendo pelos jornais que seria substituída. O Rogério fez da mesma forma que fez com o Bruno: “Não tem nada decidido. Fique tranquila”. No outro dia ela foi demitida. Então o negócio é incompreensível.
Aí que eu falo que não é maldade do Rogério. Eu não consigo enxergar essa maldade, mas sim a falta de coragem de chamar um secretário e conversar. É a falta de liderança. Tem que dizer que vai fazer uma substituição, que acha que tem que fazer e faz. E se ele não quiser dar essa satisfação, também pode comunicar que vai substituir e agradecer pelo trabalho. Não tem que dar satisfação também, mas não teve essa dignidade com ela que estava há 16 anos na Secretaria de Administração, que conhece, era conhecida e querida.
Depois disso eu não falei mais com ele. Liguei, na outra segunda, novamente, para tentar pacificar e dizer: “Rogerio você pode modificar todas as secretarias, mas estabelece um diálogo, mostra o caminho e as razões. Vamos tentar modificar para melhor. Esse é o objetivo de qualquer substituição”. Mas ele não me atendeu. Mandei recados nesse sentido para ele e nada. O Wanderley disse que iria para a Angola, mas acabou não indo. Está aí o tempo todo em Goiânia. Cessou também todo o diálogo com ele. Veio aí as últimas semanas e a instabilidade generalizada na Prefeitura. Ele (Rogério) ainda convocou uma assembleia para destituir toda diretoria da Comurg, e não comunica o Toti. Ele ficou sabendo dessa assembleia pelos outros. Isso já sob a coordenação política e administrativa do secretário de Governo, Arthur Bernardes, que participou de uma conversa comigo junto com o Wanderley.
Veio a última semana, onde em uma noite, editou-se uma série de decretos que transferem prerrogativas do prefeito para o secretário de Governo. Tira autonomia das demais secretarias. Faz algo que para nós é muito caro, dentro do projeto da campanha, que é a paralisação de todas as obras de infraestrutura da cidade. E faz isso sem sequer ouvir o secretário da pasta. Um cara que não é qualquer um. Uma pessoa que já foi deputado estadual e federal, foi presidente Assembleia Legislativa, e principalmente, é um engenheiro extremamente qualificado. Ele não falou com o Luiz Bittencourt. Ele divulgou o Diário Oficial quase meia noite. Bittencourt estava até dormindo quando recebeu uma ligação dizendo de tudo o que tinha acontecido com os contratos (suspensão).
“Depois que meu pai faleceu digo todo dia que eu tenho que ser mais Maguito e menos Daniel“
Neste mesmo dia em que foi suspenso os contratos das obras, um vereador que esteve com Arthur Bernardes, conversou com ele, saiu e contou pra outros… falou assim: “fique tranquilo vereador. A partir de amanhã teremos toda a Secretaria de Infraestrutura para negociar.” Ou seja, eles já fizeram decreto e não comunicaram o Bittencourt, imaginando que ele iria pedir demissão no outro dia por esse fato. Neste dia ainda acontece outro fato. Chamaram a Zilma, da Amma (Agência Municipal do Meio Ambiente), para pedir o cargo. Também não encontrava nenhuma razão para substituir. Ela é uma mulher extremamente qualificada, foi secretária de Finanças e Planejamento, estava desempenhando um trabalho espetacular na Amma. Falaram que iriam substituir, mas que tinham a Casa Civil, que é um cargo de segundo escalão para ela assumir. Isso tudo porque o Arthur queria alguém da confiança dele para a Amma. Queriam tirar ela de lá e o Bittencourt pediu demissão.
Depois disso e depois de 15 dias que eu tentei falar com o Rogério, ele me ligou. Sinceramente até hoje não compreendo o início dessa ligação. Ele me fala: “Daniel, tá bom meu irmão? Estou te ligando para saber o seguinte: o que está acontecendo?”
Eu estava voltando da fazenda, parei o carro, e falei: “prefeito, o senhor me desculpe, mas tem 15 dias que eu estou te ligando para saber exatamente o que está acontecendo. O senhor está fazendo mudanças aí que a gente não havia dialogado. Não estou dizendo que o senhor não tem direito de fazer. Estou dizendo que foi o que o senhor colocou para outras pessoas também.”. Ele me disse que a Zilma não queria a Casa Civil e o Bittencourt tinha pedido demissão. Eu disse: “Se o senhor editou um decreto suspendendo todas as obras de infraestrutura, que é uma das coisas que fez com que nós ganhássemos a eleição. As pessoas viam no Maguito a continuidade das obras e da gestão do prefeito Iris. O senhor fez isso e não comunicou o secretário.” Outra coisa que eu falei, era que o carro chefe da gestão era o programa de recapeamento e as obras funcionando de forma que não pararam nem um minuto, graças à expertise do Bittencourt. Como que ele não iria pedir demissão? Ele se sentiu constrangido e respeitoso.
Como que ele me liga para perguntar o que estava acontecendo? Ai que eu não consigo entender se ele estava sendo sincero sem saber o que estava acontecendo, ou se ele já tinha perdido o comando da sua administração e estava fazendo coisas ali sem compreender e analisar o impacto que essas decisões teriam logo a frente. E eu tive uma conversa muito boa. Na verdade, ele até falou pouco, eu é que falei que daquele jeito era difícil segurar. Disse: “as pessoas estão querendo pedir para sair. Estão todos instáveis, ninguém sabe quem é o próximo a ser demitido no Diário Oficial”. Ainda falei que ele tinha todo direito de mudar, mas porque é que não chamou e agradeceu, falou das razões?
Euler Belém: E qual foi o papel de um grupo de vereadores nesta questão? Pois se ouve que havia muita pressão por cargos e a resposta era de que estavam todos ocupados pelas indicações do MDB.
No dia que eu encontrei o Arthur Bernardes e o Wanderley, eu fiz questão de levar toda a relação dos cargos da Prefeitura. E aí eu fiz questão de, antes de sair da reunião, pegar a caneta marca texto e marcar todos os cargos que eram indicados pelo MDB. Peguei, levei e entreguei para o Wanderlei e para o Arthur. Disse: “estes são os cargos do MDB.” Tem uma letra, acho que é AET3 (Assessoramento Especial 3), são um total de 20 cargos, sete indicados do MDB. No AET2(Assessoramento Especial 2), são 50 cargos, acho que o MDB ocupava seis. Tinha uma função que tinha 100 cargos de comissão, tinha apenas 11 do nosso partido. Outro tinha 200 que só tinha cinco do MDB. Se somasse tudo, não dava 30 cargos do MDB num universo de 500 ou 600. O próprio Wanderlei falou: “uai, só isso? Os vereadores disseram que era tudo do MDB”. Eu mostrei quem era que estavam nos cargos. Eram suplentes de vereadores, que foi pedido de um partido, irmãos e esposas de vereadores. Eu disse para eles pegarem os que não eram do MDB e fazer o que quisessem com os cargos.
Marcos Aurélio: Mas eles alegam que na estrutura de governo, quase tudo era do MDB.
Ok. Vou chegar lá. Eu falei para eles que os demais cargos eram a forma de compartilhar a gestão com os vereadores. Tanto é, que o Arthur me ligou em um domingo, depois dessa reunião, me dizendo que estava com dificuldade porque não conseguia substituir os cargos. Quando ele falava que iria mexer, a vaga era de um suplente e o Rogério dizia para não mexer porque era um que tinha sido colega na Câmara. Eu falei pro Arthur que essa era a dificuldade que todo mundo tem. Por isso que não se satisfaz a base.
O que o MDB tem estrutura? Os cargos que são excessivamente técnicos você vai ver que não são emedebista filiados, mas são pessoas que têm expertise, que tem conhecimento da área. O Fernando, da Abrasel, era superintendente, não é filiado ao MDB, foi candidato a vereador pelo PTB, mas foi alguém que a gente entendia que para a gestão era importante. Pergunta para Zilma, que vai ver que abaixo dela tinha um monte de diretores de carreira, mas eram indicados de vereadores. Vai lá na Comurg, as duas diretorias principais lá, as indicações são de quem? Dos vereadores. São servidores de carreira? São. Competentes? São. Mas são indicações de vereadores.
Euler Bélem: Para esses vereadores que queriam mais cargos, toda essa situação foi um pretexto?
Pretexto, né? Na verdade, alguns queriam ampliar os seus espaços. É legítimo? Acho que até é. Agora essa história é seguinte, isso vai se mostrar daqui uns dias, porque nunca é suficiente para atender a todos igualmente e deixar todo mundo satisfeito. Sem falar que tem alguns que são atendidos hoje e na semana que vem querem outros cargos. São muitos pedidos de emprego, e nós que estamos na política tem 100 por dia e não consegue atender. O vereador quer atender o máximo possível. Ele acha que isso vai se transformar em força política e voto. Mas isso é decisão do prefeito. O que ele quer? Quer transformar todos os cargos em atendimento político? Essa é uma decisão dele. Se ele estabelece que cargos da gestão precisam ser ocupados por pessoas com competência, tem que ser. É aquela história que eu falei, se não tiver uma gestão eficiente, daqui a pouco os vereadores têm todos os cargos na Prefeitura e não querem apoiar a Prefeitura. Porque? Porque está mal para a população.
Euler Belém: O senhor teme por uma crivelização da gestão de Rogério Cruz?
Eu não posso dizer isso porque eu não sei se o que aconteceu lá no Marcelo Crivella (ex-prefeito do Rio de Janeiro), é o mesmo que está acontecendo aqui. Não sei se levaram pessoas de fora, pessoas descomprometidas que estavam lá com outros objetivos além de fazer um bom trabalho na Prefeitura. Eu não acompanhei essa gestão do Crivella. O que vimos de longe é que foi uma gestão malsucedida, que culminou com a derrota e depois com a prisão do prefeito. Acho que isso deve servir de exemplo para a direção nacional do partido deles. Penso que eles estão mudando o rumo da gestão (em Goiânia) e estão indo por um caminho extremamente perigoso e que podem comprometer o futuro de todos.
Marcos Aurélio: O senhor sente alguma interferência da Igreja Universal na prefeitura?
Eu não posso dizer nada da Igreja Universal. Todos que eu dialoguei e todos que estão sendo indicados, por mais que sejam da Igreja, eles têm relação com o partido Republicanos. Eu teria que ter falado com o bispo da Igreja Universal para dizer se a Igreja está interferindo. Agora também não podemos ignorar que o partido Republicanos é composto na sua liderança por líderes da Igreja Universal.
Marcos Aurélio: O vice-presidente do MDB estadual, deputado Paulo Cezar Martins, disse que o sr. se precipitou ao romper com o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, e que não consultou o partido, exceto o seu grupo. O sr. discorda, e por quê?
Olha me desculpe, mas o deputado Paulo César Martins mais uma vez age de acordo com os interesses dele. O Paulo, eu posso mostrar para vocês a série de ofícios pedindo empregos na Prefeitura que ele encaminhou e que, obviamente, não foram atendidos porque não é assim que se faz. E aí depois que ele não teve o calhamaço de pedidos de emprego atendido, ele começou a questionar, a criticar e a manifestar que seria candidato a presidente do MDB. Esse tipo de jogo a gente conhece. O problema dele, eu falei para ele pessoalmente isso, é que as pessoas já estão cansadas desse tipo de relação com ele: “ou é do jeito que eu quero e me atende ou eu sou contra você”. Então aproveito essa oportunidade para mais uma vez demonstrar através dessa fala a sua insatisfação pelos seus inúmeros pedidos que não puderam ser atendidos.
Marcos Aurélio: Por conta do trabalho de enfrentamento à pandemia e da situação crítica vivida em Goiânia, era o momento adequado para o seu grupo deixar a Prefeitura?
Acho que você tem razão. Só que nós não estávamos conseguindo mais segurar esse desejo dos secretários de sair. Muitos deles queriam ter pedido demissão junto com Bittencourt, junto com a Zilma… Eu disse: “gente, vamos conversar. Vamos buscar um diálogo.” E não houve esse diálogo. Acho que na verdade é aquilo, o prefeito Rogério e esse grupo que hoje está por trás da direção da Prefeitura, não queria que esses auxiliares continuassem. Eles queriam e fizeram – num linguajar popular nosso – a gata parir. Emparedar os auxiliares para fazer com que eles pedissem para sair. Ai não vou dizer que são só eles. Tem muitos deputados interessados em ocupar espaços. Tem também, obviamente, alguns vereadores que desejavam isso para buscar agora fazer as indicações desses cargos. Enfim, pelo menos os vereadores têm legitimidade. É o que eu disse, são eleitos pela população e foram escolhidos. Não sei até que ponto a compreensão da população nessa troca de indicações, mas eles foram eleitos.
Euler Belém – Depois de tudo isso, o Rogério Cruz te ligou? Você acham que ficarão rompidos para sempre?
Não. Não ligou. E como eu disse, não vejo o Rogério como uma má pessoa. Não vejo que o Rogério seja alguém com intenções ruins. Só acho que ele está deixando ser teleguiado por pessoas que não têm o espírito do que Goiânia espera e deseja nessa gestão. Não tem compromissos – e digo mais talvez, e aí o futuro irá responder – talvez tenham até interesses outros que não vamos saber. E quem é o nome que pode ficar manchado com tudo isso? É o do Rogério. Quem são as pessoas do Rio de Janeiro e do Crivella que se tornaram nacionalmente conhecidas pelo fracasso da gestão? Ninguém. Só o Crivella que saiu preso. O Rogério talvez tenha que botar a cabeça no travesseiro e pensar que o maior prejudicado de erros cometidos será ele. Agora a gente também fica pensando se ele vai embora daqui depois. Na vida a gente não pode pensar assim, porque ele pode até ir embora de Goiânia, mas ele vai sair daqui carregando uma cruz muito grande, caso seja malsucedido, caso esse caminho que estão impondo a ele para ser tomado seja equivocado e ruim pra Goiânia.
Euler Belém – O senhor planeja disputar o governo de Goiás em 2022?
Essa não é a decisão que já foi tomada pelo partido. A gente acha que está muito precipitado. Talvez se nós não tivéssemos numa pandemia já estaríamos com uma agenda mais intensa no interior e a gente poderia ter ouvido mais e sentindo um pouco mais o partido. O que eu percebo é que 2020 foi muito positivo para nós porque, primeiro elegemos trinta e poucos poucos prefeitos. Reduzimos em relação a outra eleição? Sim, mas ok. Nos perdemos em mais de 30 cidades por menos de 200 votos. Cidades essas que a gente estava muito fragilizado, ou seja, cidades que a gente recuperou a nossa força política. Em Anápolis, o Márcio Corrêa hoje é um dos principais quadros do partido. Penso eu que ele tem tudo para ser deputado federal em 2022. Acho que ele hoje se classificou para chegar lá.
Tem o Márcio Luiz, de Porangatu. Cidade que quando os Valadares deixaram o partido todo mundo imaginou que o MDB iria ser o fiasco da eleição. Além de ter disputado com honradez e com a competência que demonstrou o Márcio Luiz, ele é um cara espetacular, extremamente equilibrado e inteligente. Até mesmo na situação de ter comemorado a vitória antes da hora, ele se mostrou um cara muito superior àquela situação. No Entorno de Brasília, perdemos a eleição, mas ficamos em segundo na Cidade Ocidental e m Santo Antônio do Descoberto. Ganhamos com o prefeito, que é uma das grandes figuras da política de hoje, que é o prefeito Pablo Mossoró, de Valparaíso, tem liderança e carisma na cidade. O Lucas, prefeito de Águas Lindas, é filiado ao Podemos, mas era presidente do MDB até o último dia da filiação, além de ser um amigo pessoal que tenho, e tem caminho para vir para o MDB.
O partido está muito forte. Eu penso que temos agora uma condição muito melhor para ter candidatura própria do que tivemos em 2018. Então vamos agora nos prepararmos.
Euler Belém – Você já chegou a dizer que apoiaria o Otavinho Lage para governador. Procede isso?
A gente estava em campanha com o Otavinho, que é uma figura que eu tenho muito respeito por ele. Pessoa muito decente, muito equilibrada e muito inteligente. É um empresário espetacular de referência no Estado. Nesta campanha ficavam toda hora, durante a carreata, dizendo que o próximo governador seria o Daniel. Eu, sinceramente, estando ao lado do Otavinho, um cara que tem uma história de vida tão bem-sucedida, me sentia constrangido até pela minha jovialidade. Então eu falei: “gente, pode ser, mas se o Otavinho tiver eu também estou junto com ele.”
Ele é uma figura que eu tenho certeza de que todos que o conhecem sabe que é muito correta. Aliás, Goianésia é uma cidade atípica. Acho que lá sempre teve grupos políticos de pessoas muito qualificadas. Vou te confidenciar uma coisa: uma das minhas maiores referências que tenho no MDB, é o ex-prefeito de Goianésia Gilberto Naves. Acho que é uma das pessoas que tem uma sabedoria incalculável, uma decência, um preparo intelectual e uma visão muito alargada. O Gilberto é uma das grandes referências que eu tenho na minha vida política. E tem lá o Pedro Gonçalves, que é hoje alguém que desperta a esperança muito grande no futuro do partido, também pelo seu preparo. Pedro é chefe de gabinete de um senador em Brasília, tudo isso pelos seus méritos próprios. Ele é muito reconhecido em Brasília.
Marcos Aurélio: Em 2022 há alguma possibilidade de compor com o PSDB?
Praticamente impossível. Sempre fomos antagônicos ao partido. Nós sempre combatemos e fomos oposição ao PSDB, mas há figuras do PSDB que julgo ser pessoas de bem e pessoas preparadas, que merecem respeito e que têm condição de ocupar qualquer cargo público. O Otavinho é uma pessoa nesse sentido que eu não tenho nenhuma dificuldade de estar juntos, assim como estivemos nessa eleição 2020.
Euler Belém: Todo mundo fala que o prefeito de Aparecida de Goiânia é uma alternativa para 2022. O senhor considera?
Com certeza. Acho que o Gustavo se tornou já um líder consolidado do partido. Ser gestor na cidade da importância e do tamanho de Aparecida, e ter a aprovação que ele tem não é para qualquer um. Ele é um líder muito carismático e muito presente. O Gustavo tem uma equipe muito competente e sabe manejar muito bem essa equipe. Às vezes um gestor, tem maior capacidade de habilidade de ser esse líder de equipe. E acho que o Gustavo tem muito isso. E ele, além de tudo tem duas coisas que são muito valorosas, pelo menos para mim, e na política: Lealdade e gratidão. Ele nunca se cansa de enaltecer isso. Eu tenho ele como um grande irmão. Claro que se ele for a melhor alternativa para o partido, eu vou estar de corpo de alma ao lado dele.
Marcos Aurélio: Qual é a possibilidade real de o MDB aceitar participar da equipe do governador Ronaldo Caiado?
Não existe nada de MDB compor o governo do governador Ronaldo Caiado. Agora, a Marcela Araújo parece que já foi convidada pelo governador para assumir um cargo na área de superintendente de licitação. Parece que o Toti também já foi convidado. Eu posso dizer que o governador está percebendo os quadros que o nosso partido tem e que nossos indicados que compunham o time da gestão da Prefeitura de Goiânia são qualificados. É um reconhecimento disso.
Marcos Aurélio: O senhor não considera como uma sinalização do governador para uma aproximação?
Eu estou dizendo desses dois (Marcela Araújo e Toti), os outros eu não sei se vai ocorrer ou se ocorreu. Às vezes pode ser um pensamento do ponto de vista de agregar para a gestão dele, e ao mesmo tempo pode ser uma sinalização. A princípio, o que eu tenho visto e entendido, é que ele não quer abrir mão de algumas pessoas qualificadas, ele quer aumentar e melhorar o time que ele precisa ter.
Euler Belém: É possível ou está inteiramente descartada uma composição do MDB com o governador Ronaldo Caiado para a disputa eleitoral de 2022?
Depois que meu pai faleceu digo todo dia que eu tenho que ser mais Maguito e menos Daniel. Não que o Daniel seja alguém que não tenha méritos, mas é pela juventude, acho que isso é mais da idade. E a idade vai passando e a gente vai também amadurecendo e não tenho dificuldade em reconhecer isso.
Eu vou buscar ter uma vida política que segue uma frase sempre dita, mas acho que simboliza muito bem: quero ter uma vida política de ponte e não de muro. Do mesmo jeito que estou dizendo do Rogério, e da figura dele, e criticando as decisões de gestão, eu quero ter uma política em que eu possa ter as portas abertas com todo mundo. Eu não quero ser inimigo de ninguém, não tenho interesse em ser inimigo de ninguém. Aqueles que não são pessoas de bem, deixo para que a vida trate de julgá-los.
Acho que o governador Ronaldo Caiado é uma pessoa decente, correta, bem intencionada e acho que tem muito a se melhorar na gestão do governo dele, em pontos estratégicos do governo. É lógico que o governo vai sempre procurar evoluir e melhorar.
Não quero ter porta fechada com ninguém, nem com o governador Ronaldo Caiado, até porque, como eu disse, é uma pessoa do bem. Agora, política e as decisões de 2022 precisam ser decididas internamente e coletivamente. O sentimento que for do MDB e dos seus líderes é o caminho que nós vamos tomar.
Euler Belém: Se o seu partido aceitar ter candidato a vice de Ronaldo Caiado, o senhor aceitaria compor essa chapa?
Se for esse o sentimento majoritário do partido, eu acho que não haverá problema. Eu não tenho problema pessoal com ele. Agora essa decisão vai ser tomada lá na frente e tem que ouvir todos.
Já fomos aliados, e ele (Ronaldo Caiado) reconheceu que a eleição dele para o Senado contou com fundamental apoio do MDB. Acho, pelo meu feeling emedebista, que hoje seria difícil essa aliança. Acho que não é a vontade majoritária do MDB.
Euler Belém: Quando o senhor falou em falhas do governo hoje. Quais são as falhas? Você fala em obras?
Eu acho que é um governo que falta realização. A expectativa da população para o governo dele foi muito grande. Houve um cansaço, exaurimento muito grande do grupo do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e que era um governo que divulgava muito mais do que era e entrega. Chegou o momento que as pessoas perceberam isso, e ele foi perdendo a credibilidade.
Já o governador Ronaldo Caiado entrou com muita credibilidade. Acho que a maneira da gestão dele, e talvez esse momento de ruptura de um governo que vinha há vinte e tantos anos, é difícil estancar tudo, começar do zero e rapidamente conseguir atingir o nível de resultado satisfatório. Mas eu acho que ele (Caido) busca isso, só poderia ser bem mais dinâmico, poderia ter pessoas mais qualificadas e competentes. Não vou dizer nem qualificadas, mas o problema é que na gestão pública precisa ter pessoas que sejam dinâmicas e que estejam comprometidas com o sentimento de fazer a coisa acontecer. E acho que tem muita gente nesse governo do Caiado que não entendeu isso, e que está achando que esse governo é eterno.
Euler Belém: Você e o governador Ronaldo Caiado conversam com certa frequência. Vocês falam sobre o que?
No momento que meu pai adoeceu, o governador foi muito solidário. Sempre auxiliando, sugestionando, opinando e buscando informações. Foi um gesto que realmente sou muito grato a ele, não só eu, como toda a minha família. Depois da eleição eu estive com ele em razão da candidatura do meu presidente nacional Baleia Rossi (MDB) que concorria à presidência da Câmara. Posteriormente, e atendendo a um pedido da minha família, eu fui lá agradecê-lo pelo gesto que ele teve de reconhecimento ao meu pai e as honras que ele concedeu a ele. Até então, digamos que quebramos o gelo daqueles que foram adversários na última eleição.
Recentemente ele se mostrou preocupado com esses acontecimentos da Prefeitura de Goiânia. Nós conversamos sobre o que estava acontecendo, sobre o que a gente achava que estava errado. Não sei se estou confidenciando demais, mas ele relatou que sentia um distanciamento do prefeito Rogério, e que ele tem toda disposição como governador de colaborar com Goiânia. A última conversa que tivemos foi mais baseada nos últimos acontecimentos aqui da capital.
Euler Belém: João Campos chegou a falar contigo para ser candidato a senador numa chapa sua?
Nunca. Nunca conversou comigo. Aliás, há muito tempo atrás ele disse que não teria interesse. Que gostaria de ser candidato a senador em 2026, quando terá duas vagas. Acho que esse é um desejo muito grande do Republicanos. Porque a eleição de deputado federal tem um componente que ninguém pode definir agora. Se ficar essa legislação, poucos partidos vão fazer chapa. Acho que o Republicanos não consegue fazer.
Marcos Aurélio: O MDB não elegeu nenhum deputado federal em 2018 e tem um senador, mas assumiu porque era suplente do governador Ronaldo Caiado. Para 2022, o partido já está começando a montar uma chapa consistente?
Eu acho que essa legislação atual que valeu para as eleições de 2020 é extraordinária para o MDB. Se não modificar, vou dizer para vocês, vamos eleger no mínimo cinco deputados federais. Vou dizer mais, não haverá mais do que cinco chapas de deputado federal aqui em Goiás, no ano que vem. Serão cinco partidos. Muitos candidatos e muitos deputados vão ter que se juntar a alguns partidos. Por isso não é uma meta ousada. É perfeitamente racional. Agora se mudar, se for distrital, o partido perdeu valor. O cara pode se filiar em qualquer partido.
Euler Belém: O senhor pode citar cinco nomes consistentes para deputado federal que poderão ser candidatos pelo MDB? Leandro Vilela, Agenor Mariano e Pedro Chaves podem estar neste grupo?
O Leandro é muito resistente a voltar para a política. Continua muito resistente. Não sei se ele tem essa disposição. Lógico que nós vamos conversar com ele. Foi um grande deputado, conseguiu ajudar demais o Estado, a região sudoeste e foi um político destacado.
O Agenor tem disponibilidade para ser candidato. Mas o Agenor é muito experiente. Ele vai saber tomar a decisão. O Marcio Correia é um candidato que tem grandes condições. Enfim, tem outros que não me vem à cabeça.
Pedro Chaves é muito querido. Não consegue achar alguém que não gosta dele. Então ele é alguém que tem sempre um potencial muito grande.
Euler Belém: Vou insistir, há possibilidade de o MDB compor com o governo de Ronaldo Caiado ocupando alguma secretaria?
O MDB não vai fazer isso. Agora, o MDB também não vai impor, se amanhã o governador quiser convidar, como já convidou a Marcela, que não é filiada, mas foi alguém que sempre esteve nas administrações do partido. Se a pessoa tem o desejo, tem a vontade e tem a disposição, o partido não pode querer impor uma situação dessa para pessoa.
Euler Belém: Ouve-se muito que o senhor tem uma comunicação muito ativa com o patriota. É verdade?
Se eu tenho algum canal de comunicação com outro partido é com Patriota. Jorcelino Braga é a pessoa que me orienta muito na política. Converso muito e sei do carinho especial que ele tem comigo e eu tenho com ele. Esteve comigo em 2018, esteve conosco em 2020. Alguém muito calejado e experiente, ponderado nas decisões. A gente sempre vai buscar estar juntos em todos os projetos. Já Jânio Darrot é uma figura querida por todos. Da mesma forma que eu dizia do Otavinho, que era do PSDB. É inegável a figura limpa que ele representa, um grande executivo e um grande empresário. Se trata de um cara que está na política para contribuir e para ajudar.
Euler Belém: Há possibilidade de o senhor. compor com Jânio Darrot para a disputa do governo em 2022?
Claro. Completamente.
Euler Belém: E o Luiz Carlos do Carmo, vai a senador com seu apoio?
Ele está trabalhando e muito, diga-se de passagem, para ser candidato ao Senado. É natural e legítimo já que ele é o senador hoje. Ele tem demonstrado interesse e uma integração muito grande com o partido. Temos feito reuniões semanais de forma virtual, e eu acredito que ele tem toda a condição de desempenhar um papel e ser um líder e continuar sendo um dos representantes majoritários do nosso partido.
Euler Belém: Vilmar Rocha tem uma admiração por você e até uma proximidade. Há possibilidade de uma composição em 2022 com o PSD de Vanderlan?
Eu acho que sim porque eu também sou admirador do Vilmar. Ele é um dos poucos românticos da política que eu conheço. Adoro estar com ele e conversar. Ele agrega muito para mim, que sou muito mais jovem, toda a história política que ele tem e seu conhecimento político. Acho que não tenho dificuldade nenhuma com ele. Ele é uma pessoa do bem e uma pessoa equilibrada. Acho que isso é possível, apesar de nunca termos andado juntos, e mesmo assim gosto dele.
Euler Belém: Como avalia a volta de Henrique Meirelles para a política de Goiás?
Sinceramente ainda não acredito nisso. Conheço muito o Meirelles, ele foi candidato a presidente com meu apoio e tem uma boa relação e grande admiração por ele. Acho que nesse momento de crise que o Brasil vive agora tem muita gente pensando que ele podia voltar a ser ministro da Economia, pela sobriedade dele e pelo conhecimento técnico. Todas as vezes que foi delegado a ele esses desafios ele se deu muito bem. Mas ele, politicamente, nunca sabe o que quer. Hoje pode ser uma coisa e no ano que vem é outra.
Euler Belém: Não chegou a hora de o MDB lançar um candidato a presidente da República? Qual nome o partido tem para lançar?
Eu acho que é um momento muito oportuno quando você tem essas polarizações e que as pessoas são muito conscientes da necessidade de um equilíbrio. Acho que o governo do presidente Bolsonaro tem seus erros e seus defeitos. Mais são coisas que despertou na população esse desejo de ter um líder mais sereno, mais equilibrado, mais racional e menos passional. E aí é a hora que entra os partidos de centro, que o MDB é talvez o mais reconhecido partido de centro do país, eu acho, mas não existe candidato de proveta.
Marcos Aurélio: Em relação aos dois processos que foram abertos questionando a diplomação do seu pai como prefeito em Goiânia, você acredita que eles possam prosperar, ganhar força e ter um resultado contra a chapa do MDB? Essa eleição e posse totalmente atípica dá brecha para uma cassação?
Não dá. Sinceramente, eu não vou ser alguém, que em razão dos acontecimentos da Prefeitura vou mudar convenientemente a minha visão. Eu acho que não há uma tese jurídica que se sustente neste sentido. Lógico que não sou profundo conhecedor da legislação eleitoral, mas que não há tese, porque a consumação da eleição ela se dá no voto. O desejo das pessoas, o espírito democrático é consolidado no voto, não se tomou posse assim ou assado, se não foi diplomado. Até porque o diploma não precisa também da cerimônia. Não são atos de formalidade que definem o desejo popular. Acho que o que vale no fundo é isso.