Agenor Mariano: “Em 2021, rompemos com a Prefeitura e eu disse que não fazíamos parte de quadrilha”
24 março 2024 às 00h00
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O presidente metropolitano do MDB, Agenor Mariano, passou dedicou mais da metade de seus 49 anos à vida pública. Foi coordenador-geral da campanha de Maguito Vilela a prefeito de Goiânia nas eleições de 2020, vice-prefeito na gestão Paulo Garcia, duas vezes secretário de Administração e outras duas secretário municipal de Planejamento, na gestão de Iris Rezende.
Desde abril de 2021, quando o MDB rompeu com o prefeito Rogério Cruz, Agenor Mariano esteve fora da Prefeitura. Agora, como oposição ao Paço e na posição de presidente do partido na Capital, Agenor Mariano pretende repetir o feito de 2020, quando o MDB teve a chapa mais votada de Goiânia.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, Agenor Mariano tece fortes críticas ao prefeito (sempre destacando que não tem problemas pessoais com o indivíduo Rogério Cruz). Segundo ele, o glamour e a perspectiva de projeção política fornecidos pelo cargo fizeram com que o prefeito de Goiânia se tornasse “uma figura de gabinete”, que desconhece os problemas reais da Capital. Mariano, que já trabalha para eleger o próximo prefeito, diz que essa será a tônica das campanhas: o cuidado real com a cidade, e não as ideologias abstratas.
Ton Paulo — Foi deflagrada uma operação da Polícia Civil (PC) nesta quarta-feira, 20, para investigar o desvio de R$ 50 milhões na Prefeitura de Goiânia. Em 2021, quando o MDB rompeu com o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) e os secretários do partido colocaram seus cargos à disposição, o senhor declarou “Não somos parte de uma quadrilha”. Já havia, naquela época, suspeita de que ilegalidades podem estar ocorrendo no Paço?
Primeiramente, qualquer pessoa que ocupa função pública está sujeita a ser investigada. Os órgãos de controle e investigativos estão aí para isso. Cabe àqueles que administram o bem público zelar pelo princípio da legalidade e da ética. A operação de hoje traz indícios de crimes graves que os gestores que foram citados vão ter, evidentemente, que prestar esclarecimentos e se defenderem, caso se enxerguem na condição de inocentes.
O que espero é que tudo seja apurado. O cidadão goianiense não merece viver em uma gestão que, além de ser sabidamente incompetente, seja também uma gestão delinquente. Porque o morador de Goiânia pensa que vive apenas uma situação de incompetência, mas descobre agora que pode viver a delinquência dos gestores públicos também. Esses fatos, lá em abril de 2021, quando do nosso rompimento, apenas suspeitávamos. Hoje vão se materializando com as investigações.
Italo Wolff — Como essa operação pode impactar a campanha de Rogério Cruz à reeleição?
Gostaria de destacar que tenho respeito pela pessoa de Rogério Cruz; é um indivíduo gentil, educado. Mas Rogério Cruz como prefeito deixa muito a desejar, infelizmente. Ele não soube gerir quando se encontrou no comando do Paço, se perdeu na imensidão do Poder Público Municipal; se apequenou; cedeu à pressão de concorrentes interessados no poder; não construiu; e acabou se perdendo. Atribuo essa incompetência à sua inexperiência com o Executivo.
Se Rogério Cruz tiver um pouco de humildade, pode dizer que tentou, mas não deu conta; e se tiver compaixão com o cidadão, pode abrir mão de sua pré-candidatura. Assim, ele ajudaria o processo e aliviaria a carga de punição sobre o eleitor, descartando o nome dele para ser candidato.
Ton Paulo — Em uma eventual gestão do MDB, como se planeja evitar que esses tipos de casos voltem a ocorrer?
Como eu disse, todo gestor público está sujeito a ser investigado. Mas nunca houve, nos últimos 20 anos da Prefeitura de Goiânia, uma operação simultânea que interliga vários órgãos da administração. Os problemas passados se restringiram a contratos pontuais, servidores desidiosos, má interpretação de uma lei, etc. A corrupção sistêmica não ocorre sem anuência da instância superior.
Eu, por exemplo, fui duas vezes secretário de Administração. Nas gestões de Iris Rezende, esse tipo de situação era pontual e, quando acontecia, os responsáveis eram imediatamente afastados e iam se resolver com a justiça.
Fico chateado quando essas coisas ocorrem, porque todos querem ver uma administração bem sucedida. A gestão da cidade beneficia ou pune a todos nós. Quando vejo o que está acontecendo com Goiânia, que está porca, cheia de lixo e mato, fico revoltado. O goianiense quer ver bem cuidada a sua cidade, que é jovem e bonita. Quer saber que as finanças municipais estão bem.
Há, inclusive, uma desconfiança de que essa luta da Prefeitura para contrair empréstimo seja uma tentativa de maquiar as contas; pegar o dinheiro para cobrir o déficit financeiro que está se formando. Quando você pega os dados oficiais que a prefeitura de Goiânia é obrigada a fornecer para os órgãos do Tesouro Federal, você encontra uma Prefeitura que está à beira do precipício.
Quem quiser ser o próximo prefeito tem de pôr a mão na consciência e refletir se a vaidade de ser prefeito vale a pena, ou se há uma vontade genuína de consertar a cidade. O próximo prefeito terá de enfrentar os problemas e, se não for competente, ele vai se tornar mais um a aprofundar a crise no município.
Ton Paulo — O senhor já declarou que o partido, como membro da base governista, aguardará a definição de Ronaldo Caiado (UB) para apoiar o candidato do governador. Isso faz com que, pela primeira vez em muito tempo, o MDB possa não estar na cabeça de chapa. Como vê o cenário que está se desenhando?
Precisamos lembrar que o MDB tem o vice-governador de Goiás, que compõe uma chapa com o governador mais bem avaliado do Brasil, e que pode se tornar o governador do Estado ainda em 2026. A política não é sempre do jeito que você quer, mas do jeito que é possível.
Nesse momento, precisamos respeitar a boa gestão que o governador Caiado vem fazendo. Sua avaliação positiva é fruto de inúmeras ações na área social, na segurança pública, na saúde e na correção dos atos fiscais. Se o governador está com toda essa credibilidade, não tem conversa.
Para você ocupar qualquer espaço, você tem que ganhar a eleição e, neste momento, isso significa respeitar a condição de líder do governador Ronaldo Caiado, que tem uma aliança conosco. O União Brasil e o MDB fazem parte do mesmo grupo, e o governador tem sido muito leal ao vice-governador Daniel Vilela (MDB).
Fazer parte do grupo político que promove uma boa gestão na Capital, mesmo sem a cabeça da chapa, certamente vai se refletir na eleição estadual de 2026, quando o MDB pode se beneficiar com Daniel Vilela.
Ton Paulo — Dos nomes que estão cotados hoje, há sinais de quem pode ser o pré-candidato apoiado por Ronaldo Caiado e Daniel Vilela?
Eu entendo que, até o presente momento, nada foi definido. Dos nomes cotados, me sinto mais à vontade para falar sobre aqueles do meu partido. Temos dois possíveis pré-candidatos: Jânio Darrot e Ana Paula Rezende. Ambos têm as características necessárias para serem prefeitos de Goiânia.
Ana Paula Rezende, na última gestão, acompanhou de perto a atuação do pai. Viu Iris Rezende pegar uma Prefeitura destruída e recuperá-la. Nesse período de quatro anos, fez praticamente um estágio. Além disso, herdou um capital político considerável. A decisão por sua candidatura não depende apenas de nós; é um acerto entre diversos atores; mas ela é uma unanimidade no partido. Não teria dificuldade interna corporis alguma.
Jânio Darrot é o gestor que as pesquisas qualitativas apontam que o eleitorado quer. Devido ao sofrimento que o goianiense sente por não reconhecer na prefeitura um órgão que cuide da cidade, o eleitor busca alguém que saiba resolver problemas, e Jânio é essa pessoa. Ele possui comprovada capacidade de gestão, transformou uma cidade vizinha, é capaz de solucionar quaisquer problemas fiscais.
Italo Wolff — Na sua perspectiva, qual será a tônica das campanhas?
Particularmente, acredito que não cabe guerra ideológica de direita versus esquerda. Não devemos perder tempo falando sobre costumes. Há problemas concretos a serem resolvidos. O que temos que saber é o seguinte: cadê o bedel da cidade?
O prefeito tem de ser o bedel, o síndico. Ele tem de ter a disposição de ir chamar a atenção de quem para o carro em cima da calçada e de quem não presta o serviço contratado. Ele tem de criar mecanismos para garantir que as ruas estão limpas. Não pode deixar a lâmpada queimada, tem que capinar.
Infelizmente, ser prefeito se tornou adquirir um título, principalmente nas capitais. Esse certo glamour, essa perspectiva de projeção política, tudo isso faz com que o indivíduo vire uma figura de gabinete. Mas o prefeito tem que ir à rua para, de fato, gerenciar a cidade. Ainda mais: acredito que o prefeito não pode falar “sim” para todos. Ele tem de saber falar “não” — quanto mais, melhor.
Ton Paulo — Jânio Darrot está trabalhando em Goiânia em prol de sua candidatura? Muitas pessoas atacam sua pré-candidatura por ser “de Trindade”.
Jânio Darrot fez uma excelente gestão em uma cidade metropolitana, conurbada com Goiânia, tanto é que ganhou três mandatos seguidos, o dele, o da reeleição e o do sucessor. Mas não é verdade que ele seja de Trindade. Ele vive em Goiânia desde 1996, tem domicílio eleitoral aqui. Foi deputado, teve a experiência do parlamento, teve a experiência da gestão, e conhece tudo em Goiânia. Ele também está articulando. Almocei com ele na terça-feira, 19, e estive com ele na segunda. Garanto que ele está fazendo tudo que pode em prol de sua candidatura.
Inclusive, já tivemos uma reunião com o objetivo de informá-lo sobre a atual situação fiscal da Prefeitura de Goiânia. Fiquei impressionado com sua compreensão dos relatórios técnicos, sua capacidade de fazer leituras da situação da Prefeitura real. Ele tem a visão do empresário, que encontra soluções e está sempre se planejando para os problemas do mês seguinte.
Raphael Bezerra — Como um partido pode construir um líder longevo, da forma que o MDB fez com Iris Rezende e Maguito Vilela?
Na verdade, o partido não constrói. Mesmo dentro da sigla, é o próprio político quem tem de ascender interna corporis e conseguir se tornar liderança. Hoje, temos um líder que vem sendo trabalhado e preparado. É um político que conseguiu conciliar visões diferentes no MDB, contornar problemas, atrair gente para o partido — chama-se Daniel Vilela.
O Daniel, no MDB, cada dia que passa se consolida mais como nosso líder. Hoje, ele tem o cargo de vice-governador, mas desde antes disso Daniel Vilela corresponde às nossas expectativas mais altas. Aliás, ele só se tornou vice-governador e trouxe o partido para o grupo político do governador Ronaldo Caiado pela força de sua liderança.
Nós, os liderados, concordamos e resolvemos acompanhar o nosso presidente estadual do partido, Daniel Vilela. É o nome que está sendo trabalhado no partido, e esperamos que seu nome se torne tão próspero e longevo quanto o de Iris e Maguito.
O governador Ronaldo Caiado, ao longo de um ano e três meses de convivência diária com Daniel Vilela, deve ter percebido a pedra preciosa que tem nas mãos. Isso vai se transformar em benefício para o cidadão de Goiás. Daniel Vilela, com o estágio que está fazendo agora ao lado do governador Ronaldo Caiado, tem a chance de fazer uma boa gestão como governador e cada dia mais se consolidar como o nosso líder.
Ton Paulo — Foi noticiado que pelo menos sete vereadores demonstraram interesse em ir para o MDB agora, no período da janela partidária. A sigla analisa a situação do ponto de vista estatístico? Há risco de estourar o quociente necessário para eleger uma chapa?
Não há esse risco. Analisamos tudo. O ideal é que a formação de chapa, se possível, não seja um ato político, mas um ato matemático. Nosso objetivo é extrair o melhor resultado e eu, com minhas características, tento formar as chapas mais competitivas do pleito. O modelo eleitoral de hoje, com as novas regras, beneficia muito as chapas que recebem maior densidade de votos.
Toda proporção entre vereadores, suplentes, pré-candidatos e puxadores de votos é analisada para termos maior ganho na hora de fazer a distribuição das sobras eleitorais. Nas próximas eleições, mais do que nunca, isso fará uma enorme diferença. Nosso trabalho é para termos, novamente, a chapa mais votada de Goiânia. Conquistamos esse título em 2020 e não podemos perdê-lo em 2024.
Inclusive, em todas as entrevistas que tenho dado, um item sobre o qual eu falo muito pouco é como será a composição de nossas chapas. Em geral, presidentes de partidos gostam de falar sobre isso, se gabar. Por que eu falo muito pouco? Porque o MDB está em posição diferente: eu falar o que eu estou fazendo significa entregar para o concorrente as ações que podem ser exitosas no maior partido; é dar a eles uma vantagem.
Se há 15 presidentes do partido tentando formatar a melhor chapa possível para os seus candidatos, eu não vou contar ao meu concorrente o futuro do cenário político. Nesta terça-feira, 19, tive reunião com a turma de vereadores aqui da Câmara Municipal de Goiânia, e fui procurado por aqueles que se aliaram ao MDB, além dos seis que já estão conosco. Eu disse para eles: não vamos dar entrevistas ou fazer festa de filiação por enquanto, esperem acabar o prazo da janela partidária para falar sobre isso. Nosso time tem de ir para surpreender na disputa eleitoral municipal.
Italo Wolff — A Comurg tem sido dispendiosa e problemática já há alguns anos, mas nunca foi alvo de operações policiais. Em relação às gestões passadas, onde surgiu o erro? E em relação ao futuro, qual sua visão para a Comurg?
Nas gestões de que fiz parte, quando surgia um problema, o presidente da Comurg só era informado pelo prefeito uma única vez. O prefeito podia dizer claramente: “corrija esse problema e, se precisar te chamar a atenção novamente, você será exonerado”. Ou seja, se o presidente da Comurg quisesse permanecer no cargo, tinha de solucionar a questão.
Não existia isso de manter funcionários protegidos no cargo por favorzinho político. Hoje, a Comurg funciona na base do “encosta um aqui, põe outro ali” e ninguém vai para a rua trabalhar. São funcionários indicados sob a proteção de políticos, mantidos no cargo por grupos políticos.
Iris Rezende era bem enfático. Ele jamais enxergaria o que estamos vendo e ficaria sem fazer nada. Nós todos saímos de casa e olhamos nossa cidade imunda. Iris Rezende tomaria uma atitude com relação a quem estivesse dirigindo a Comurg. Pelo visto, essa atitude não foi tomada por Rogério Cruz. Ou o prefeito não está vendo o óbvio, ou está vendo e é condescendente — o que é ainda pior.
O futuro da Companhia é um assunto sobre o qual não adianta discutir agora. Tudo que podemos fazer agora são meras especulações. Esse é um assunto que o próximo prefeito terá de ponderar com a sua capacidade gerencial, sua visão administrativa e sua visão para a cidade. Esse próximo prefeito terá de tomar decisões sobre a Comurg com as informações que ele tiver, que não são as que temos agora. Se é possível recuperar a Comurg, se há outra saída que não estamos vendo, tudo isso ainda será debatido quando a hora vier.
Raphael Bezerra — Como o senhor pegou o diretório do MDB aqui em Goiânia? O que teve de ser mais trabalhado? Como está o partido hoje?
Eu estava há três anos fora do processo político. Quando entregamos os cargos do MDB e deixamos a base da Prefeitura, em abril de 2021, resolvi dar uma pausa. Fui buscar um ano sabático para reorganizar a minha vida pessoal. Tenho quase 50 anos de idade e sou uma pessoa pública há 28 anos, então minha vida tinha muitas pendências. A rotina de quem trabalha na coisa pública é intensa: eu chegava na Prefeitura às 8h e saía às 23h. Desde 2021, emagreci quase dez quilos, cuidei das minhas finanças e da minha família.
Nesse período, fui convidado pelo vice-governador para assumir uma função de assessoria direta em seu gabinete, mas recusei. Depois, ele me chamou novamente, pedindo para assumir o partido. Eu, que já havia negado antes, pensei: “não é bom recusar muitos pedidos de um cara que vai virar governador” [risos]. Acabei aceitando.
Foi feita uma nomeação da comissão provisória. É a condição em que me encontro hoje: presidente da comissão provisória, porque, quando assumi, o mandato do diretório passado ainda não tinha sido encerrado. Quando passou a eleição de 2022, os olhos se voltaram para a eleição municipal. Assumi com o objetivo de manter a tradição de ter uma boa representatividade na Câmara de Goiânia. E é isso que eu estou fazendo até agora.