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Pedagoga por formação, especialista em Educação e deputada estadual, Maria Euzébia de Lima, mais conhecida como Bia de Lima, é uma das figuras mais tradicionais do Partido dos Trabalhadores e do movimento sindical em Goiás. Atualmente em seu terceiro mandato na presidência do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), e com a intenção de pleitear um quarto, Bia é amplamente reconhecida no meio sindical da educação, representando mais de 40 mil filiados à entidade.

Eleita deputada em 2022, com 24,3 mil votos, tem como principais bandeiras na Assembleia Legislativa a defesa da educação, dos direitos das mulheres e dos servidores públicos. Nos últimos meses, a parlamentar protagonizou duros embates com o deputado estadual Amauri Ribeiro (UB), a quem acusa de praticar violência política de gênero. O caso, inclusive, está em análise no Conselho de Ética da Assembleia. Nesta entrevista, Bia fala sobre o conflito e ressalta a importância de combater a violência e os ataques no meio político.

A deputada também revela detalhes das articulações para as eleições de 2026 (segundo ela, o PT pretende eleger ao menos cinco deputados estaduais), cita Lula como figura central na disputa pela Presidência da República (ainda que não única), admite falhas na comunicação do governo federal e confirma que já trabalha por sua própria reeleição em Goiás.

Ton Paulo – Nas últimas semanas, têm causado alvoroço na Assembleia Legislativa de Goiás um conflito envolvendo o deputado Amauri Ribeiro e a senhora. Houve uma troca de ataques entre vocês dois, e o deputado teria, segundo entidades e autoridades que lamentaram o ocorrido, praticado violência política de gênero contra a senhora. Como tudo isso começou e como está a questão hoje, uma vez que Amauri é alvo de uma representação no Conselho de Ética da Assembleia?

Essa questão ganhou mais evidência nas últimas semanas, mas não começou agora. Desde o primeiro momento em que cheguei à Assembleia Legislativa, venho sendo reiteradamente agredida e atacada por esse deputado, de forma cotidiana e em diversos aspectos. Primeiramente, porque ele carrega um desespero evidente por eu ser uma mulher petista, cuja trajetória sempre foi dedicada às causas dos profissionais da educação e da classe trabalhadora como um todo. Essa é a minha plataforma.

O fato de eu ter chegado à Assembleia com essa pauta já representa, por si só, uma vitória extraordinária, e ele simplesmente não admite isso. Por isso, passou a me atacar, utilizando palavras extremamente ofensivas, de baixo calão, vulgares e desagradáveis, não só contra mim, mas também contra outras deputadas.

Esses ataques não começaram agora; o que acontece é que, com o tempo, a sociedade goiana passou a perceber com mais clareza a dinâmica dele. Trata-se de alguém sem plataforma, sem base de atuação concreta, cuja trajetória política se sustenta em ataques. Isso começou lá atrás, com a deputada Lêda Borges, e seguiu com outras mulheres da Assembleia. As próprias funcionárias da Casa nutrem verdadeiro repúdio a esse deputado, justamente por sua incapacidade de dialogar de forma respeitosa, de manter uma convivência democrática e harmoniosa no espaço parlamentar.

Deputada estadual Bia de Lima, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Disputas ideológicas, entre direita e esquerda, se fazem com ideias, com argumentos fundamentados, com conhecimento. Quem tem preparo constrói seu pensamento e o defende com base em princípios. Como esse não é o caso do referido deputado, ele prefere recorrer a outros meios, à violência, ao ataque pessoal. E me ataca diariamente.

Mais recentemente, ele se aproveitou de um momento em que eu estava, de forma descontraída, sendo entrevistada em uma rádio de Goiânia. Em um clima leve com a repórter, ela me perguntou, em tom de brincadeira, se eu tinha namorados, e eu respondi, também brincando, que “tinha uns novinhos aí”. Ele então pegou essa fala, provavelmente retirada de um vídeo no Instagram ou no YouTube, recortou o trecho e levou para dentro da Assembleia, distorcendo o conteúdo conforme a lógica da mente suja que carrega.

Ton Paulo – E quais os impactos para a rotina da Alego, os ataques apontados pela senhora?

Isso tem envergonhado a Assembleia de forma recorrente. Não se trata apenas de um constrangimento ou de um ataque pessoal a mim, ele tenta, com essas atitudes, me intimidar e me agredir. Por muito pouco, não fui agredida fisicamente. Foi necessário que o presidente Bruno Peixoto interviesse, colocando seu próprio corpo entre nós para impedir que a agressão ocorresse, tanto contra mim quanto contra o deputado Mauro Rubem, que, por diversas vezes, já tentou me defender.

O objetivo dele, com essas práticas violentas, misóginas, agressivas e, eu diria, até trogloditas, é justamente tentar me intimidar, me enfraquecer emocionalmente, me silenciar. Mas ele não vai conseguir. Nenhum desses mecanismos terá sucesso. Desde o início, tenho recorrido à legislação pertinente, porque não ajo por impulso ou com atitudes físicas. Não é assim que trabalho, nem no movimento sindical e nem em qualquer aspecto da minha vida. Como professora, acredito que preciso dar o exemplo em todas as oportunidades e contextos.

Por isso, minha atuação, seja no movimento sindical, no partido político, onde quer que eu esteja, e agora no parlamento, sempre se dá no campo das ideias. Defendo o que acredito com argumentos, jamais por meio de agressões ou tentando rebaixar o nível do debate. Ao contrário, acredito que minha missão, enquanto educadora, é justamente elevar o nível da discussão.

Raphael Bezerra – Em que pé está a representação no Conselho de Ética da Assembleia? Deve resultar em alguma sanção como suspensão, por exemplo?

Ainda não tenho informação. Estou aguardando que o Conselho de Ética possa, de fato, tomar uma decisão final. Compreendo que há prazos legais para que o deputado possa responder às acusações apresentadas no âmbito do Conselho, e isso naturalmente gera certa demora.

No entanto, independentemente desse processo, tenho buscado outras vias e acionado diferentes instâncias. Já protocolei solicitações junto ao Ministério Público. Inclusive, o Ministério Público Federal já se posicionou favoravelmente a mim. Entrou com um pedido de cassação do mandato do deputado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Não se trata apenas de um constrangimento ou de um ataque pessoal a mim, ele tenta, com essas atitudes, me intimidar e me agredir. Por muito pouco, não fui agredida fisicamente

Essa ação teve como fundamento o entendimento de que, por conta da votação expressiva que ele obteve, o TRE acabou o isentando da acusação de violência política de gênero. E foi justamente esse resultado que ele passou a usar como argumento para continuar promovendo os ataques, como se a decisão do TRE lhe desse aval para persistir nas agressões.

Vamos acionar mais uma vez o Tribunal Regional Eleitoral, buscando que sejam tomadas as medidas cabíveis. Não sei quando isso irá acontecer, mas posso afirmar com convicção: não vou me calar, e tampouco permitirei que me silenciem. Continuarei buscando justiça. Em Goiás, a impunidade é um dos principais fatores que alimentam a prática contínua e brutal da violência contra as mulheres. E é exatamente contra isso que estou lutando.

Raphael Bezerra – Quem acompanha a política percebe que ele usa a violência como estratégia, com ataques e xingamentos. Esse tipo de comportamento ainda cabe no Parlamento? Por que ainda convivemos com tanta agressividade na política brasileira?

Infelizmente, nos últimos anos, principalmente por causa da polarização e da ascensão da extrema direita, a violência tem sido usada como instrumento político, com agressões e baixarias. Temos visto isso claramente no Congresso Nacional, como aconteceu recentemente com a ministra Marina Silva. Em vez de prevalecer o respeito à cidadania e à democracia, que permite o pensamento diverso e o debate, o que se observa é justamente o oposto.

O problema é que a extrema direita não tem palco, nem propostas concretas, tampouco um discurso consistente. Por isso, recorrem a estratégias vazias: criam situações falsas para “lacrar” em cima de fake news, falas indevidas, xingamentos e comportamentos chulos. Tudo começou com polêmicas sem sentido, como a discussão sobre banheiro unissex, tema que antes nem era debatido. A partir daí, foram ganhando seguidores usando essa questão da política de gênero.

Por que fazem isso? Porque não possuem plataforma política, nem propostas para gestão, desenvolvimento ou respeito às pessoas. Sem alternativas reais, recorrem à agressão, à violência e à baixaria para se manterem em evidência.

Nós precisamos superar a estreiteza do pensamento da extrema direita para consigamos avançar e construir novos patamares de cidadania, novas condições de convivência harmoniosa, respeitosa. E no campo da política, volto a dizer, é o espaço fundamental para que consigamos construir novas concepções e, principalmente, de novos patamares de civilidade. Está faltando civilidade na política hoje.

Ton Paulo – Mesmo como deputada estadual, a senhora segue na presidência do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás, o Sintego. Em uma manifestação recente de servidores da educação, alguns deles reclamaram de uma suposta falta de diálogo, que a senhora estaria tolhendo o direito de fala deles. Como a senhora enxerga essas críticas? A educação continua sendo sua principal pauta na Assembleia?

Tenho uma vida inteira dedicada ao movimento sindical. Não apenas agora, mas desde sempre. A base sindical é marcada pela diversidade de pensamento, e enfrentei grandes disputas até chegar à presidência do Sintego. Enfrentei chapas competitivas, em eleições acirradas, como continuo enfrentando. Nada nesse espaço é tranquilo, homogêneo ou previsível. O movimento sindical nunca foi, não é e nem será assim, faz parte da natureza da democracia.

Deputada estadual Bia de Lima, em entrevista aos jornalistas Raphael Bezerra e Ton Paulo, do Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

E não é porque estou à frente do Sintego que não tenho opositores. Tenho, e os respeito. Acho absolutamente natural ter adversários, pessoas que discordam da linha política da nossa atuação. Isso faz parte da vida democrática. E foi assim que cheguei à presidência do Sintego: disputando e vencendo eleições. Na última eleição, não tive concorrência. E, neste ano, provavelmente no final, teremos novo pleito. Será mais uma oportunidade para avaliar todo o nosso trabalho.

Conciliar o trabalho como deputada com a presidência do Sintego tem sido uma experiência muito interessante. Em que sentido? O mandato abre portas, permite dar visibilidade a pautas da educação que, apenas pela via sindical, muitas vezes não ganhariam o mesmo alcance. Hoje, ocupo um mandato que fala diretamente pela educação e em defesa da educação.

Nenhum dos meus opositores questiona meu compromisso com a educação. O que existe, às vezes, é discordância sobre a forma da atuação. Alguns prefeririam que minha postura fosse mais radical. Mas eu escolhi atuar pelo diálogo, buscando resolver as pautas por meio da negociação. Só quando isso se esgota, partimos para outros instrumentos de luta.

Aprendi, ao longo da minha trajetória no movimento sindical, que a radicalidade nem sempre conduz ao resultado que a categoria espera. Em certos momentos, é preciso adotar outras estratégias, inclusive recorrer ao poder judiciário, para garantir direitos que não foram conquistados nem mesmo com greves. Foi o que ocorreu em 2023.

Conciliar o trabalho como deputada com a presidência do Sintego tem sido uma experiência muito interessante. Em que sentido? O mandato abre portas, permite dar visibilidade a pautas da educação que, apenas pela via sindical, muitas vezes não ganhariam o mesmo alcance

Naquele ano, fizemos greve com os trabalhadores administrativos da educação e não conseguimos o plano de carreira. Em 2024, fizemos mais de 43 dias de greve, e ainda assim o plano não foi aprovado. Agora, em 2025, muitos defendem uma nova greve. Mas estou convencida de que teremos avanços mais efetivos com as negociações que iniciamos em janeiro e que seguimos conduzindo até agora.

Ton Paulo – Pode citar algumas das ações que estão em andamento?

Na smana passada, conversei com a secretária-geral do governo Mabel, a ex-vereadora Sabrina Garcêz, sobre o envio da proposta. Já protocolamos nossa proposta de plano de carreira para os administrativos, construída de forma democrática, e agora o esforço é transformá-la em um projeto de lei que seja encaminhado à Câmara Municipal.

Nosso objetivo é que a gestão reconheça o valor dos administrativos, construa uma carreira atrativa e aprove essa proposta na Câmara. Esse esforço vai muito além de disputas internas ou embates com outros segmentos da categoria. Encaro tudo isso com um olhar de democracia e compromisso coletivo.

Atualmente, temos três frentes principais em andamento. A primeira é o envio do projeto de lei que corrige o percentual do piso salarial, incluindo também a diferença retroativa desde janeiro. A minuta que estava sendo elaborada inicialmente trazia apenas o percentual, sem considerar essa diferença. No entanto, a legislação é clara ao determinar que o reajuste deve valer a partir de janeiro.

Quando percebi que essa parte não constava no texto, fui enfática ao dizer: “Não envie. Não envie assim, porque dessa forma não vai ser interessante. Vamos ter que reagir, porque não foi isso que ficou acordado.” Diante disso, estão tentando ajustar o projeto.

A segunda frente é o plano de carreira, cuja proposta já foi protocolada. A administração se comprometeu a calcular os impactos financeiros e enviar o projeto juntamente com a proposta da data-base. Contudo, até o momento, nenhuma dessas três matérias foi encaminhada: nem a da data-base, nem a do plano de carreira, nem a do piso.

Raphael Bezerra – A Prefeitura de Goiânia ainda pleiteia a aprovação da prorrogação do decreto de calamidade, proposta que tramita na Assembleia Legislativa. No entanto, o Tribunal de Contas dos Municípios já se manifestou contra. Há clima para aprovar essa prorrogação?

A cada dia que passa, a possibilidade de aprovação dessa matéria na Assembleia diminui. E por quê? Talvez porque houve uma pressa excessiva em tentar aprová-la rapidamente. Dentro desse contexto, tanto o deputado Clécio Alves quanto o deputado Antônio Gomide têm desempenhado um bom trabalho na Assembleia.

Deputada estadual Bia de Lima, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O fato de essa votação ainda não ter ocorrido já é, por si só, uma conquista significativa. Além disso, o Tribunal de Contas se posicionou de forma cuidadosa, mas firme, deixando claro que não há estado de calamidade, e todos nós, aqui em Goiânia, sabemos disso.

Essa história de calamidade pública atende a outros interesses.

Vamos ser sinceros: trata-se de uma tentativa de postergar encargos, especialmente nas áreas sociais e trabalhistas, com uma postura bastante conservadora. Goiânia não está em calamidade pública. O que há, na verdade, é uma falta de gestão. E isso já faz tempo. E não, a situação não melhorou.

Ton Paulo – As articulações para as eleições de 2026 estão acontecendo já há algum tempo. Na verdade, nunca pararam. No espectro da direita, podemos ter vários candidatos a presidente. Mas no espectro da esquerda, a impressão que há é a de que “não existe vida política além de Lula”. Isso procede? Qual o plano da esquerda?

Primeiramente, estamos torcendo para que a direita se fragmente e apresente muitos candidatos. Para nós, isso é excelente. Tomara que surjam três ou quatro candidatos — e acredito que vão surgir. Quem serão esses candidatos, ainda vamos descobrir. Muita água ainda vai passar por baixo dessa ponte. Eu até acho que o governador Caiado não será um deles.

No campo da esquerda, acredito que somos o espaço mais fértil que existe. Muita gente diz que não há opções, que é só uma, mas a verdade é que temos muitas. Agora, calma, vamos por partes: temos muitos nomes, mas nosso foco maior é aquele que é o líder principal do país, o presidente Lula.

Eu quero o presidente Lula como presidente novamente. E não sou só eu. Mais da metade da população goiana e brasileira compartilha dessa vontade. Agora, e os outros nomes? Temos, sim. Tivemos Haddad, que poderia ser novamente uma opção.

Também temos o vice-presidente Geraldo Alckmin, um nome forte, que representa um segmento mais amplo, sem se prender às extremidades políticas. Alckmin é competitivo e pode agregar diferentes grupos. Temos ainda Simone Tebet, uma mulher extraordinária que está no nosso governo e fazendo um trabalho notável, junto com Haddad. Simone Tebet é uma figura fantástica, contribuindo para construir e reconstruir o Brasil, especialmente em um campo onde as mulheres nem sempre se destacam.

Ton Paulo – E como reverter a desaprovação do presidente Lula, que está em alta?

Eu contesto isso. Infelizmente, em tempos de redes sociais, as coisas acabam tomando outro rumo. É verdade que, se você observar qualquer segmento da sociedade, verá que as pessoas estão vivendo melhor. Hoje, as pessoas têm emprego, acesso a uma educação de qualidade, melhores condições de vida e salários mais dignos. Em nenhum lugar, nem aqui em Goiás, nem no Brasil, se observa um setor em grande insatisfação, nem mesmo os caminhoneiros que eram apoiadores do Bolsonaro.

E por quê? Porque há bastante tempo o valor do diesel e da gasolina caiu, enquanto a Petrobras tem registrado recordes de arrecadação. Por que isso não é amplamente divulgado? O problema, infelizmente, do nosso governo é a comunicação. Falta uma comunicação direta com a base, com o povo. Porque o povo precisa ser cada vez mais informado e conscientizado.

O governo federal também atuou fortemente na saúde de Goiás, com o Ministério da Saúde que garantindo os investimentos. Vá até Catalão para ver quem assumiu o hospital de lá. Se não foi o ministro da Educação, que está transformando o hospital por meio da atuação do senador Vanderlan. Ele conseguiu que o hospital fosse equipado e gerido pelo Ministério da Educação, para se tornar um hospital-escola da Universidade Federal de Catalão. Uma iniciativa importante.

E isso deveria ser explicado para o povo, para todo mundo. Infelizmente, na campanha, muitos dizem: “Ah, a vida está cara.” Está cara? O preço do arroz já chegou a 40 reais. O presidente Lula interveio e agora o pacote de 5 quilos voltou a custar 20 reais, o mesmo valor antes do governo Bolsonaro.

O problema, infelizmente, do nosso governo é a comunicação. Falta uma comunicação direta com a base, com o povo. Porque o povo precisa ser cada vez mais informado e conscientizado

Essa é uma medida que ajuda a baratear a cesta básica, especialmente agora com a reforma tributária aprovada. Ninguém quer falar disso, mas depois de 40 anos, finalmente essa tão esperada reforma saiu do papel, foi aprovada e está prestes a entrar em execução. Então, temos condições de falar em todas as áreas. E o que que tá faltando? As pessoas conhecerem mais de perto tudo isso.

Raphael Bezerra – Não falta ao governo um pouco mais de articulação com os prefeitos, especialmente em pautas municipalistas? A marcha dos prefeitos, por exemplo, evidenciou certo distanciamento, inclusive com vaias ao presidente. Falta diálogo?

A verdade é que a maioria dos prefeitos foi eleita por partidos de direita. Naturalmente, eles buscam minimizar o protagonismo do governo federal, tentando restringir sua visibilidade em pautas que lhes interessam diretamente.

A questão do Imposto de Renda, por exemplo, é central. Trata-se do cumprimento de um compromisso do presidente Lula com a população. E pode ter certeza de uma coisa: no próximo ano, o efeito prático dessa medida será muito significativo, principalmente para quem será isento, como os profissionais da educação. Essa era uma demanda antiga, inclusive dos professores, categoria da qual eu faço parte, e representa uma conquista muito relevante.

Deputada estadual Bia de Lima, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Vários pontos terão impacto direto na vida das pessoas e, nesse sentido, serão extremamente positivos. A isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil; a isenção da conta de energia elétrica para quem consome até 80 kWh (ou proporcionalmente até 120 kWh); o auxílio gás; e a ampliação do programa Minha Casa, Minha Vida, que embora esteja demorando a engrenar por conta da burocracia, tende a ganhar mais ritmo em breve.

Não tenho dúvidas de que, até lá, essas entregas estarão mais visíveis. Já vivemos algo parecido no primeiro mandato do presidente Lula: no início, havia muitas críticas, mas ele foi reeleito com força e, depois, ainda conseguiu eleger a presidenta Dilma, justamente por causa do trabalho, das entregas e do compromisso com o povo.

É curioso que muitos prefeitos, especialmente os de cidades pequenas, reconhecem que nenhum presidente fez mais pelas prefeituras do que a presidenta Dilma. E, ainda assim, ela foi derrubada por um impeachment forçado, sem base concreta, porque era mulher, porque tinha força, porque entregava resultados. O que vemos hoje na política vai além de resultados práticos para a população. Está em jogo uma disputa que não é apenas racional, mas emocional.

Há um sentimento de ódio alimentado e enraizado, que muitas vezes não se justifica nem do ponto de vista da lógica, nem do ponto de vista das políticas públicas e seus impactos. Por isso, o grande desafio é entender como reconstruir o país, com base na cidadania, nos direitos, nas oportunidades e nas entregas reais à população.

Ton Paulo – A senhora não acha que, com Lula sendo candidato novamente no ano que vem, a divisão que o país ainda vive até hoje vai se perpetuar?

A polarização entre direita e esquerda hoje não ocorre exclusivamente por causa da presença do presidente Lula nas disputas. Ela já está posta, não apenas no Brasil, mas em todo o continente, e também na Europa. Estamos vendo esse movimento nos Estados Unidos e em diversos outros países. Em tempos de globalização e redes sociais, tudo o que acontece em um lugar rapidamente repercute em outros, com velocidade quase instantânea.

Esse sentimento polarizado, essas ideias e visões muitas vezes extremadas, precisam ser tratadas com cuidado. E não serão eliminadas apenas com a presença ou ausência de uma candidatura. Essa polarização vai continuar, independentemente de Lula ser candidato ou não.

O que desespera a extrema direita ao ver Lula “candidatíssimo” é a força que ele representa: força popular, social, seu magnetismo e empatia, tanto no Brasil quanto no exterior. A direita, em nenhum momento, pode afirmar que o Brasil já foi tão respeitado internacionalmente como é agora.

Raphael Bezerra – Sabe-se que o presidente Lula tem uma boa capacidade de articulação. Qual o projeto para o ano que vem? Vocês devem seguir com a federação, haverá composição com partidos de centro e centro-direita?

Costumo dizer que o presidente Lula é meu ídolo. Eu o respeito profundamente e procuro sempre aprender com ele. Já fui uma pessoa muito mais radical, mas hoje me vejo mais aberta, mais disposta a dialogar com todos os setores e com todas as pessoas, independentemente da linha política que cada um adote.

Estar aberta ao diálogo também significa estar disposta a compreender a vida com um olhar mais amplo. E é justamente nesse caminho que o presidente Lula atua: ele enxerga longe e vai, com certeza, construindo novas condições, paralelos e patamares para o que ele mesmo vislumbra.

Acredito que as eleições de 2026 acontecerão em um cenário muito mais promissor — mais respeitoso, baseado em resultados concretos, em projetos e em perspectivas de evolução e progresso para o Brasil. Não tenho dúvidas de que o presidente Lula irá convocar todos e todas que, de fato, consigam enxergar essa visão e que queiram participar dessa nova construção. Ele já fez isso em momentos muito mais críticos, e com sucesso.

Ton Paulo – E quais são os projetos políticos da senhora? Deve tentar reeleição ou uma vaga na Câmara dos Deputados?

No final deste ano, durante o período eleitoral, estive conversando com a deputada Adriana, que será nossa presidente do PT em Goiás, no Diretório Estadual. Eu sou vice-presidente na chapa com ela, e juntos vamos construir um novo Partido dos Trabalhadores em Goiás, com uma nova cara, uma nova perspectiva e buscando uma dinâmica renovada para o PT no estado, elevando-o a novos patamares.

Com a deputada Adriana, temos todas as condições para deixar de lado o clima raivoso e trabalhar de forma mais aberta e inteligente. É por esse caminho que estamos seguindo, e nosso objetivo é ter um partido organizado, presente e fortalecido em todo o estado de Goiás para o próximo ano.

No ano que vem, vou concorrer novamente a deputada estadual. Muitas pessoas me perguntam se não pretendo disputar a Câmara Federal, mas eu apoio as candidaturas da deputada Adriana, do deputado Rubens Ottoni e do vereador Edward Madureira, que deve se candidatar a federal. Vamos trabalhar para eleger pelo menos três deputados federais pelo PT aqui.

Quanto aos deputados estaduais, queremos chegar a quatro ou cinco representantes. Para isso, teremos mais pessoas disputando, com mais trabalho de base e resultados concretos. Vereadores como Fabrício e Cátia vão concorrer novamente a estadual, e teremos outros nomes do interior disputando para fortalecer ainda mais a chapa do PT. Eu, como a segunda mais votada do partido, vou me empenhar muito para dobrar minha votação.

Eu, que sou da educação, continuo cada vez mais dedicada à luta pela educação, não apenas da rede estadual, mas também da educação nos municípios, que é a minha base. Como presidenta do Sintego, pretendo disputar novamente a eleição, buscando ampliar minha atuação. Quero renovar a direção e trazer mais pessoas para ajudar no Sintego, porque o sindicato cresceu muito desde que assumi. Quando cheguei à presidência, o Sintego era uma organização pequena. Hoje, três mandatos depois, ele é três vezes maior do que naquela época. A principal característica do meu trabalho tem sido justamente respeitar meus opositores e convidá-los a lutar comigo.