Voto útil pode ser uma estratégia para definir as eleições presidenciais
19 setembro 2022 às 16h42
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz, na reta final da campanha, um forte apelo ao voto útil contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), na tentativa de desidratar os demais candidatos e resolver a disputa eleitoral já no dia 2 de outubro. A campanha do ex-presidente aposta em quatro frentes para atrair o eleitor indeciso nos últimos dias antes do primeiro turno: ampliação da frente ampla pró-Lula, mobilizações de rua no sudeste, ato com artistas e entrevistas para fora da bolha petista.
O evento desta segunda-feira, 19, com ex-candidatos à Presidência é considerado pelos petistas como um dos movimentos em busca dos eleitores que hoje ainda preferem Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT). A tentativa é mostrar que há uma frente ampla contra Bolsonaro, em torno do nome de Lula. O agregador de pesquisas eleitorais do Estadão Dados apontou hoje que Lula tem 50% dos votos válidos, reflexo do que pode ser o primeiro movimento de migração de votos dos candidatos de terceira via para Lula.
Nesse sentido, o “voto útil” começa a ser defendido pelos candidatos que aparecem à frente nas pesquisas de intenção de voto. Enquanto isso, outros condenam a prática, tentando evitar a perda de eleitores na reta final da campanha.
Especialistas ouvidos pelo Jornal Opção descrevem o voto útil como aquele em que o eleitor vota de forma estratégica em um candidato que não necessariamente é a sua primeira opção. A intenção é levar um terceiro candidato à derrota no pleito.
Segundo o cientista político Guilherme Carvalho, em caso de uma eleição acirrada como a deste ano, a tendência é de o eleitor votar não no candidato com o qual se identifica, mas escolher um nome que não seja o seu preferido, com o intuito de impedir que outro candidato seja eleito.
Para o cientista, o voto útil é impulsionado pela desaprovação de um determinado candidato com chances de vitória. “Aqueles que desaprovam um determinado candidato migram para seus votos, não para a sua primeira preferência, mas para aquele que demonstra ser mais competitivo frente à candidatura daquele que menos gosta”.
Para que o voto útil seja eficaz, é necessário ocorrer onde o cenário é polarizado. “Ele pode determinar o final de uma eleição. Algumas porcentagens a mais podem dar encerramento ao pleito a depender de quantos votos migrem”.
Guilherme Carvalho explica que votar no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou no atual, Jair Bolsonaro (PL), não configura, necessariamente, voto útil. “Se esse eleitor fosse votar em Ciro Gomes e muda de ideia para votar no Lula para não eleger Bolsonaro, isso é voto útil. Ou se alguém que iria votar na Simone Tebet, mas não gosta de forma de Lula e vota no Bolsonaro porque acha que essa é a única forma de o PT não voltar ao poder”, exemplifica.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Pedro Mundim, as pesquisas eleitorais de intenção de votos podem influenciar no voto útil. “Elas exercem de forma indireta. Aquele candidato de preferência dele não está vingando e chega o momento que a pessoa tem que fazer sua escolha para o candidato que pode derrotar a quem ele menos se identifica”.
Guilherme Carvalho enfatiza que o voto útil é diferente do estratégico. “O estratégico é aquele que a pessoa vota no candidato que está liderando as pesquisas. Por exemplo, em 2018, quando as pessoas migraram voto da Marina Silva para Ciro Gomes, porque acreditaram que ele iria para o segundo turno”.
Os especialistas salientam que o voto útil deve ser levado em conta que o eleitor, ao abandonar seu candidato preferido, vai falsear o resultado final das eleições, além de ajudar a enfraquecer o seu partido, reduzindo drasticamente a representatividade da bancada de sua preferência no Parlamento. Eles recomendam que os eleitores votem no candidato de sua preferência, pois, muitas vezes, ele ainda tem condições de chegar ao segundo turno, embora as pesquisas não devam ser ignoradas.