Violência política cresce no Brasil às vésperas das eleições
20 julho 2022 às 12h08
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A morte do guarda municipal e tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), Marcelo Arruda, chocou o Brasil. Ele foi assassinado durante a própria festa de aniversário por Jorge José da Rocha Guaranho, um agente penitenciário federal e apoiador do presidente Jair Bolsonaro. A tragédia ocorrida em Foz do Iguaçu (PR) é apenas um reflexo do aumento do número de agressões motivadas por questões políticas.
Segundo levantamento realizado pelo Observatório de Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, o primeiro semestre de 2022 teve um aumento de 32% em relação ao mesmo período em 2020, último ano eleitoral. Os casos saltaram de 161 para 214 episódios.
Em entrevista para o Jornal Opção, a cientista política Ludmila Rosa explica que a situação se iniciou anos atrás, em 2014, durante a disputa presidencial entre Aécio Neves e Dilma Rousseff, depois passou pelo processo de impeachment, em 2016, até as eleições de 2018. “Antes vivíamos em um contexto de polarização de natureza política e não necessariamente eleitoral, com dois polos que se antagonizavam (PT e PSDB)”, contou a Secretária Executiva de Políticas para as Mulheres na Prefeitura Municipal de Goiânia.
“A política é uma disputa eleitoral e é óbvio que isso gera tensão, acirramento e competitividade, isso é normal. Sempre houve no Brasil disputas políticas e eleitorais”, explicou Ludmila, que também destacou que essas divergências e enfrentamentos fazem parte do jogo. “O que não pode acontecer é arrastar isso para o resto do ano ou do mandato, como um instrumento”, completa.
A ativista, entretanto, vê que nos últimos anos acontece algo atípico no regime democrático do Brasil. “O acirramento fundamenta o modus operandi de governar de Jair Bolsonaro. Estudos demonstram que o presidente opera com polêmicas e tensão para continuar aquecendo a militância e para tocar a sua agenda”, disse Rosa.
Como resultado, a estratégia de tensionamento cria uma resistência e gera fraturas no tecido social. Tais fragmentações podem contribuir para o aumento de casos como o que aconteceu em Foz do Iguaçu, ou mesmo do atentado que Bolsonaro sofreu em 2018, quando foi esfaqueado no abdômen durante campanha na cidade de Juiz de Fora (MG), em 2018.
“Os políticos são lideranças que estão constituídas em mandatos outorgados pela população, os mesmos que votaram e enxergaram nele um líder”, afirmou Ludmila, que ressaltou a obrigação dos estadistas em diminuir os “ânimos inflamados” e de pacificar as pessoas. “Isso gera uma responsabilidade enorme para zelar pelos seus liderados e conduzir bem o papel público, além de sistema político brasileiro e a sociedade em ambiente de ódio extremo”, completa.
A cientista também reiterou que o aumento de violência seria um instrumento que afasta a população do processo democrático. Segundo ela, as pessoas estão com medo de expor opiniões e de debaterem ideias com medo da reação dos receptores.