Sem consolidação real de golpe, manifestações de 7 de Setembro tomam caráter eleitoral
07 setembro 2022 às 14h14
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No ano que marca os 200 anos da Independência do Brasil, as comemorações do dia 7 de Setembro têm forte caráter eleitoral, sem consolidação real de golpe de Estado. Os eventos acontecem a menos de um mês do primeiro turno das eleições e em meio a uma campanha presidencial acirrada. Pesquisa PoderData realizada de 4 a 6 de setembro mostra quadro de estabilidade nas intenções de voto para a sucessão presidencial. De acordo com o levantamento, no 1º turno, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 43% e Jair Bolsonaro, 37%.
Os atos ganham, ainda, especial atenção pelas convocações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para aliados vestirem verde e amarelo, e irem às ruas para demonstração de suporte popular a sua candidatura. No ano passado, a celebração da data foi marcada por grave tensão entre os Poderes e bandeiras antidemocráticas. O chefe do Executivo deu reiteradas declarações com ameaças de ruptura institucional e seus apoiadores quase invadiram a sede do Supremo Tribunal Federal (STF).
Pela manhã o Chefe do Executivo participou do tradicional desfile cívico-militar na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A estrutura do evento criada pelo governo foi maior que a de edições anteriores. Em seguida, discursou para milhares de apoiadores. Por volta das 15 horas, Bolsonaro deve comparecer na solenidade em comemoração aos 200 anos de Independência do Brasil, em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Em consolidação das pautas bolsonaristas, o cientista político Guilherme Carvalho aponta que as manifestações desta quarta-feira são o último grande evento da militância antes das eleições deste ano. “Elas servem para o presidente Bolsonaro relembrar à militância a importância do seu governo, relembrar as pautas, quem são os adversários. Todas as manifestações dele têm sempre a intenção de questionar o sistema, mas também de alguma forma continuar promovendo a imagem de um chefe que combate o sistema corrupto”, disse ao Jornal Opção.
O presidente Jair Bolsonaro tomou a liderança das intenções de voto na Região Sudeste pela primeira vez desde o início oficial da campanha, mostra pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 7. O chefe do Executivo cresceu 6 pontos porcentuais em comparação ao levantamento da semana passada, e agora tem 32% das intenções de voto. Com o avanço, Bolsonaro ultrapassou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que manteve os mesmos 28% do levantamento anterior.
Para Guilherme, a escolha de participar de evento no Rio de Janeiro é estratégica, haja vista que, além de a cidade ter sido a primeira capital do Brasil, é uma busca pelo eleitorado na região. “Rio de Janeiro foi a primeira capital do Brasil. Ele consegue mobilizar em Brasília, mas precisa retomar a região Sudeste. Ele vem crescendo, mas maior parte dos estados o Lula lidera”.
Já o sociólogo Khelson Cruz acredita que as manifestações pró-Bolsonaro não representam a vontade da maioria da população. “Ele não vai crescer nas pesquisas após o 7 de Setembro. Quem vai nessas manifestações não é propriamente dito o povo, porque eles não têm carro, combustível, comida na mesa. Quem está hoje se manifestando é a elite brasileira”, afirmou ao Jornal Opção.
De acordo com o especialista, não vai haver ameaça real de golpe contra o Congresso e ao STF. “Essas manifestações de hoje são para demonstração popular para as próximas eleições. Não acredito que deve haver um caráter revolucionário. Se ele tomar qualquer atitude nesse sentido, Lula ganha já no primeiro turno”, prevê. Cruz não acredita que o presidente Bolsonaro deve alcançar mais eleitores após o 7 de Setembro. “O candidato Bolsonaro não deve ganhar novos eleitores, mas apenas discursou para a própria bolha política”, destacou.