O brasileiro possui um paradoxo interessante em relação à política, ao mesmo tempo em que mostra insatisfação com os atuais políticos e pede mudanças, ele não se lembra em quem votou nas últimas eleições. De acordo com uma pesquisa do Quaest Consultoria e Pesquisa, cerca 66% dos entrevistados desaprovam o trabalho dos deputados e senadores, e 83% desejam uma renovação. Só que 66% sequer se lembram em quem votaram para deputado federal.

Em entrevista para o Jornal Opção, a professora titular aposentada de ciência política da Universidade Federal de Goiás (UFG), Denise Paiva, explica que a amnésia do brasileiro é bem recorrente na política brasileira. “É uma característica do próprio presidencialismo, as pessoas não se esquecem dos votos para prefeito, governador ou presidente, mas possuem uma baixa memória para o legislativo. Até porque se atribui mais importância ao papel do executivo do que ao papel dos parlamentares e do poder legislatório”, disse a antiga docente da Faculdade de Ciências Sociais (FCS).

A doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) acrescentou que as altas taxas de desaprovação dos políticos e desejo de renovação também são corriqueiras. Mesmo que a última eleição tenha tido a maior mudança na Câmara desde a redemocratização. Segundo o Quaest, um total de 243 deputados assumiram o primeiro mandato a partir de 2019, cerca das 47% das cadeiras.

Paiva aponta que nas eleições de 2018 houveram muitos candidatos eleitos ligados ao presidente Jair Bolsonaro e a uma ideia anti-política. Mas, indica que muitos desses parlamentares podem não ser reeleitos: “Vejo que esse ano vamos ter um realinhamento no sentido de retorno dos partidos do centrão, com as siglas mais tradicionais voltando a ter uma votação maior do que nos anos anteriores”. O que pode significar um novo processo de renovação.

Além de mostrar uma certa contradição no eleitor brasileiro, a pesquisa também apontou que os entrevistados escolhem os seus candidatos na reta final das campanhas eleitorais. As informações mostram que 47% decidem o voto faltando um mês para a festa da democracia, enquanto 12% deliberam com apenas 15 dias de antecedência e 36% deixam a escolha para a última hora, durante a última semana pelo menos.

Apesar do eleitor médio enrolar até o final para escolher os próximos representantes, Denise não vê problemas com uma decisão no estouro do relógio. “Isso não significa que as pessoas não se interessam por política, o voto não precisa ser decidido de forma tão antecipada”, explica. Ela também destaca que os cidadãos ainda não conhecem grande parte dos candidatos, já que muitas convenções para o legislativo ainda não aconteceram.