Pela primeira vez, o presidente Jair Bolsonaro e seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vão estar sozinhos na disputa discursiva de um debate político.

O momento era aguardado desde 2018, quando Lula, que estava preso por decisão do então juiz Sergio Moro, teve sua candidatura negada pela Justiça quando liderava as pesquisas eleitorais. Em recuperação dos ferimentos causados por um atentado a faca um mês antes do primeiro turno, Bolsonaro venceu Fernando Haddad (PT) sem ter ido a nenhum debate solo com o petista.

Agora, a situação é outra. O presidente está atrás em praticamente todos os levantamentos de intenção de voto do segundo turno e precisa estar presente. Lula também não está em condições de evitar o confronto, já que a diferença não é nada folgada.

De qualquer forma, a semana foi mais favorável “motivacionalmente” ao petista. Desafiado pelos opositores a “aparecer” nas ruas, Lula promoveu grandes concentrações em algumas das principais capitais nordestinas. Além disso, recebeu novos apoios importantes, como o do liberal João Amoêdo, candidato do partido Novo em 2018 à Presidência, e que decidiu abrir voto crítico no petista, alegando grande risco institucional em caso de reeleição de Bolsonaro.

Já o presidente teve de conviver com derrotas seguidas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de um grande revés – considerado por assessores como o pior da campanha – causado por ele próprio: em um depoimento dado a um canal de YouTube na sexta-feira, 14, ele disse que entrou em uma casa com refugiadas venezuelanas onde havia garotas de 12 a 14 anos se arrumando para se prostituir. A escorregada maior foi dizer “pintou um clima”, ao se referir às adolescentes que havia encontrado.

O desassossego foi tal que Bolsonaro fez uma live no Facebook de madrugada, tentando rebater – e estancar – os efeitos da declaração, acusando o PT de promover “covardia” com sua fala.

Será o primeiro debate em formato de duelo que Bolsonaro terá de enfrentar. Lula já passou por essa situação com Fernando Collor, em 1989; com Fernando Henrique Cardoso, em 1994, com José Serra, em 2002; e com Geraldo Alckmin, hoje seu vice, em 2006.

Se o comportamento de Bolsonaro já é dado a sobressaltos em condições normais, sabe-se que a situação se agrava quando ele está sob pressão. Até que ponto a instabilidade o afetará é uma incógnita. Porém, um alerta: se o presidente mantiver a pose e fizer um debate duro, mas mostrando firmeza e não descontrole, pode ser um páreo complicado para Lula.