Apesar da laicidade do Estado brasileiro, é cada vez mais notória a influência dos segmentos religiosos nas esferas políticas. A representação das igrejas deve continuar significativa após as eleições de outubro. Em Goiás, lideranças religiosas já trabalham, ainda que sorrateiramente, para manter os quadros já eleitos ou alavancar novos representantes para senador(a). Contando atualmente com pelo menos dois, de três, declaradamente ligados a denominações religiosas evangélicas, a bancada goiana no Senado deve continuar abrigando políticos com trajetória erguida em templos religiosos e expressiva votação no segmento.

Até os anos 1980, pelo menos, a Igreja Católica teve considerável incidência na vida política brasileira. Atualmente, a instituição não é sequer a sombra do que já foi na segunda metade dos anos 1970 e nos anos 1980. À medida que a igreja se retirava da tarefa de orientação de voto, os recém-chegados neopentecostais ocupavam o seu lugar nas periferias da grandes cidades, nos grotões do Brasil, no interior. À proporção que a Igreja Católica deixava de prover quadros para a política, os ultraconservadores pentecostais e neopentecostais assumiram a função de indicar e eleger candidatos ligados aos seus próprios quadros.

“Hoje em dia é imprescindível ter uma base religiosa. Em especial nas instituições de confissões neopentecostais, os pastores adquiram poder de convencimento do seus seguidores muito grande. A indicação de votos deles é uma moeda de troca muito importante. Nas eleições municipais, por exemplo, eles exercem influência de bairro. Já nas nacionais, como essa que estamos vivendo, atuam em toda a denominação. Esses pastores acabam sendo uma espécie de cabo eleitoral com bastante potencial em termos políticos”, explica o cientista político Guilherme Carvalho ao Jornal Opção.

Para ele, o crescimento da “nova direita” impulsionou o alcance institucional das lideranças evangélicas no processo político brasileiro. “Há muitos anos que as lideranças evangélicas atuam no cenário político. Porém, com a força e alcance institucional que estão tendo neste momento, nunca antes na história. Grande parte dessa força se deve por compor a estrutura de manutenção o eleitorado da nova direita em ascensão no Brasil”, frisa.

Igrejas divididas

Nesse sentido, candidatos ao Senado de Goiás buscam apoio de lideranças religiosas para alcançar esse público. Na Assembleia de Deus, igreja historicamente influente no xadrez político, se mostra dividida. Conforme antecipado pelo Jornal Opção, o presidente da Igreja Assembleia de Deus Ministério Madureira Campo Campinas e uma das principais lideranças do país, bispo Oídes José do Carmo, e Eurípedes do Carmo, presidente do PSC e ex-prefeito de Bela Vista, creditam ao deputado federal João Campos (Republicanos) a desistência do senador Luiz do Carmo (PSC) de disputar a reeleição de senador.

Segundo lideranças da igreja, o grupo se sentiu traído e desprestigiado com a falta de transparência de Campos nas articulações com o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia e pré-candidato ao governo de Goiás, Gustavo Mendanha (Patriota).

Como se sabe, João Campos é um membro respeitável da Igreja Assembleia de Deus. Mas a ida do bispo Manuel Ferreira e dos mais de 100 pastores da igreja ao Palácio das Esmeraldas mostra um apoio decidido à reeleição de Ronaldo Caiado. Mesmo que palavras não tenham sido ditas, com o máximo de clareza, o recado é preciso: a Assembleia de Deus (no todo, ou parte dela) aprecia João Campos, mas, em termos de eleições estaduais, está fazendo uma opção por Ronaldo Caiado.

O ex-governador Marconi Perillo (PSDB), apesar de se declarar membro da Igreja Católica Romana, diz que conversa com outras lideranças evangélicas. Nessa semana, ele visitou os pastores Abnair e Samuel Almeida da Assembleia de Deus – Ministério Fama.

O Ministério Luz para os Povos, que é conduzido pelo apóstolo Sinomar Fernandes da Silveira, decidiu essa semana apoiar formalmente a candidatura de Vilmar Rocha (PSD) para o Senado Federal nessa eleição. A definição saiu após reunião do Conselho Político da igreja.

Uma carta encaminhada pelo Conselho Político a todos os pastores, bispos, líderes e membros do Ministério Luz para os Povos, informa que: “depois de ouvir vários candidatos que pleiteiam um mandato eleitoral nas eleições de outubro de 2022”, o conselho definiu os nomes para apresentar a todos indicarem apoio.

Com base na Segurança Pública, o candidato ao Senado Delegado Waldir (UB) disse que dialoga com todas os nichos cristãos. Afirmou ainda que está à disposição das lideranças evangélicas que se alinham Ele defende as pautas conservadoras, como antiaborto, e endurecimento em relação às políticas antidrogas.

Alexandre Baldy (Progressistas) mantem relacionamento com várias congregações. Ele participa de quase todas as festividades católicas pelo estado. Tem o apoio de muitas dioceses, por conta de trabalhos filantrópicos dele e da esposa. Com os evangélicos, ele mantem diálogo bem próximo com a Universal, Assembleia de Deus Madureira, Quadrangular (Anápolis).

Aliado ao presidente Jair Bolsonaro em Goiás, Wilder Morais (PL) deve buscar o eleitorado do mandatário para o Senado. O chefe do Executiva nacional mantém apoio de boa parte das lideranças evangélicas do estado. Com o intuito de atrair esse pessoal, Wilder se agarra na influência do ex-capitão do Exército. Morais diz ainda que Bolsonaro teve dificuldades na aprovação de projetos importantes, pois não tem apoio na Câmara dos Deputados e no Senado.

A ex-deputada estadual Denise Carvalho (PCdoB) afirmou que pessoas de todas as denominações religiosas a apoiam. “Sou católica mas defendo a mais profunda tolerância religiosa. Fui a autora da lei municipal que garantiu liberdade de culto nas praças públicas de Goiânia quando os evangêlicos eram reprimidos por suas pregações nas ruas. Tenho apoios de vários espíritas, espiritualistas, kardecistas, umbandistas, evangélicos de diferentes igrejas. Todos que defendem a liberdade de escolha e culto religioso e o Estado laico”, salientou.