Entre as nuances das eleições presidenciais de 2022, uma questão que vale destacar é a queda do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Antes, considerado uma das principais siglas do país, sempre presente na ferrenha disputa contra o Partido dos Trabalhadores (PT) para presidência da República, hoje caminha a passos largos para o esquecimento. Desde 2018, os tucanos perdem espaço para a nova polarização entre os antigos rivais e a “nova direita” liderada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

Por exemplo, depois de quase 30 anos no poder em São Paulo, o PSDB agora assiste Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) se enfrentarem no segundo turno. O candidato tucano e atual governador Rodrigo Garcia ficou de fora e já está negociando o seu apoio ao candidato bolsonarista.

Se não bastasse perder o controle da própria “casa”, o partido não elegeu nenhum governador no primeiro turno. A únicas esperanças estão em quatro candidatos que foram para o segundo turno, mas nenhum liderou a votação inicial. Eduardo Riedel (MS) e Raquel Lyra (PE) até estão “empatados” com os respectivos adversários. Mas, Pedro Cunha Lima (PB) e Eduardo Leite (RS) ainda precisam superar uma vantagem considerável para vencer.

Pelo Senado Federal, nenhum tucano foi eleito nas 27 unidades federativas do Brasil, restando apenas quatro senadores no poder até 2027: Plínio Valério (AM), Izalci Lucas (DF), Alessandro Vieira (SE) e Mara Gabrilli (SP). Nomes fortes no passado, como Marconi Perillo (GO), perderam as eleições ou decidiram não disputar a reeleição, no caso de Tasso Jereissati (CE).

Outro exemplo de figurão no partido que não quis ocupar o posto parlamentar mais elevado foi José Serra (SP). Aos 80 anos, o político foi senador, governador, deputado federal e prefeito de São Paulo. Além de ter sido ministro três vezes, duas pelo governo FHC nas pastas do Planejamento e Orçamento do Brasil e da Saúde, e mais recentemente, comandou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil durante o mandato de Michel Temer (MDB).

No atual pleito, o tucano ainda tentou retornar ao parlamento como deputado federal e conseguiu 88.926 votos, mas não foi eleito. Em todo o país, o partido elegeu apenas 13 deputados sozinho, uma marca muito longe do passado recente. Para efeito comparativo, em 2014 o partido conseguiu 54 parlamentares e em 2018, o número caiu para 29.

Em entrevista para o Jornal Opção, o professor de Ciência Política da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (FCS-UFG), Pedro Santos Mundim, destacou que o fortalecimento do bolsonarismo roubou o espaço dos tucanos. “O que estamos vendo nesta eleição, assim como em 2018, não é só mais uma ascensão, mas uma consolidação da extrema direita no país. E de fato, o PSDB cada vez mais vai desaparecendo”.

O docente ressaltou que ao longo dos anos, com o objetivo de combater o PT, a emenda saiu dos ideais de esquerda para abarcar inúmeros pensamentos de direita. “O partido começou com um alinhamento mais centro-esquerda, tanto é que social democracia nunca foi de centro e centro-direita em nenhum lugar no mundo. Mas, nesta última década, a mudança de comportamento cobrou um preço muito alto”, disse. O custo para se opor foi o crescimento de nomes de extrema direita, como o do presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo o professor.

Dessa forma, Mundim além de estar surpreso com a ascensão de tal movimento político, também está curioso para saber até onde o PSDB irá e como a sigla deve reagir a isso.