Casos de violência política se acumulam no Brasil e, a cinco dias para o primeiro turno das eleições, agressões e até mesmo assassinatos de eleitores e candidatos ganham espaço nos noticiários, causando temor na população. Só no último fim de semana, duas discussões com motivação política terminaram em morte no Brasil, somando para um cenário de extrapolação de brutalidade que, segundo especialistas, pode ter resultado do pleito.

No último sábado, 24, no Ceará, um homem foi morto a facadas em um bar. Testemunhas disseram que o autor do crime atacou a vítima após ela ter declarado voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No mesmo dia, em Santa Catarina, um apoiador de Jair Bolsonaro (PL) teve o mesmo fim, também esfaqueado.

Para eleitores entrevistados pelo Jornal Opção, a disputa deste ano ocorre sob polarização ideológica e agressividade. Eles avaliam que são necessárias estratégias específicas para garantir a segurança. O assistente administrativo Pedro Henrique Carvalho, de 19 anos, atribui esse comportamento agressivo da população ao atual chefe do Executivo nacional, Jair Bolsonaro.

“O presidente Jair Bolsonaro instiga muito a violência e o pessoal do outro lado revida. Apesar disso, não acho que nenhum dos primeiros candidatos indicados nas pesquisas venham a ser os salvadores da pátria. O Brasil merece políticos melhores que vejam pelo nosso lado”, comentou.

O aposentado José Soares, de 65 anos, lembra das eleições de 2018 – quando o candidato à Presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad disputou com Jair Bolsonaro (PL) –, que, em sua visão, já trouxe forte polarização, mas não foi tão violenta como essa de 2022. “Esse ano a situação piorou muito. Desde que eu voto, nunca vi uma disputa política tão tensa. As pessoas brigam muito por isso”.

Medo de opinar

Os efeitos da violência podem ser sentidos até mesmo com impactos menos fatais. Relações de amizades também chegam ao fim e são abaladas por conta da defesa de diferentes ideologias e apostas em candidatos. É o que relatou a corretora de plano de saúde Laurivanda Almeida, de 61 anos. Ao Jornal Opção, ela lamentou ter perdido amizades em função da polarização na política. “Uma amiga de igreja me bloqueou do Instagram porque falei mal do candidato dela. Além disso, saí de grupos do aplicativo por conta disso. Elas julgam por quem a gente vota. Nunca vi isso acontecer. A população hoje em dia está doente”, pontuou.

Mesmo sem ter uma experiência acumulada de várias eleições para comparação, mas consciente do papel que exerce na democracia, o estudante Guilherme Mota, de 19 anos, também observa um padrão de violência intimidador. Comparecendo às urnas pela terceira vez em 2022, ele lamenta o momento que o País atravessa e cobra das autoridades mais segurança no dia das eleições. “Tenho medo de declarar meu apoio e ideologia. Espero que as pessoas se conscientizem que vivemos em uma democracia e, por isso, temos o direito de respeito”, relatou à reportagem.

Em pesquisa feita pelo Datafolha de 13 a 15 de setembro, 9% dos entrevistados disseram que podem deixar de votar por medo da violência e 40% acham que existe chance grande de atos violentos em 2 de outubro. Dados coletados pelo mesmo instituto entre 3 e 13 de agosto, por encomenda do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), mostram que 67,5% dos entrevistados temem ser agredidos fisicamente pela sua escolha política ou partidária.

Mortes pelo país

Além das mortes registradas na última semana, o Brasil tem visto episódios recorrentes de violência ligados à polarização eleitoral.

O primeiro caso de violência com conotação política na campanha eleitoral deste ano ocorreu em julho. Um tesoureiro do PT foi assassinado em Foz do Iguaçu, quando comemorava o aniversário de 50 anos em uma festa com motivos do partido. O policial penal Jorge Guaranho, apoiador de Bolsonaro, invadiu o local e atirou contra Marcelo Arruda. Em setembro, no Mato Grosso, outro apoiador de Lula foi morto. O homem de 42 anos levou facadas e um golpe de machado durante briga com um colega de trabalho.

Outra morte relacionada à campanha eleitoral aconteceu em 13 de setembro, em Salto do Jacuí (RS). O empresário bolsonarista Luiz Carlos Ottoni morreu após bater com sua caminhonete em um barranco. O acidente aconteceu minutos após o empresário ter perseguido e colidido na traseira do carro da vereadora Cleres Maria Cavalheiro Revelante (PT-RS). A parlamentar disse que o homem batia de forma proposital, por divergências políticas.