O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, fez críticas ao chamado voto útil – aquele em que o eleitor vota de forma estratégica em um candidato que não necessariamente é a sua primeira opção, em prol da derrota de um outro adversário. O pedetista deu a declaração em São Paulo nessa quarta-feira, 21, durante sabatina promovida pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

Ciro, que nas pesquisas Ipec mais recentes aparece em terceiro lugar com 7%, comentou posicionamentos de artistas como Caetano Veloso e Tico Santa Cruz. Os músicos, que apoiaram o pedetista em 2018, anunciaram na quarta-feira, 21, voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para evitar que a disputa avance ao segundo turno e o presidente Jair Bolsonaro (PL) alcance a reeleição.

Também participam Maria Bethânia, Daniela Mercury, Margareth Menezes, Mart’nália, os ex-Titãs Nando Reis e Arnaldo Antunes, Chico Buarque, além de atores e atrizes como Denise Fraga, Drica Moraes, Caco Ciocler, Deborah Evelyn e Ciça Guimarães. No mesmo dia, foi divulgado um manifesto, escrito em espanhol, em que dezenas de líderes e políticos da América Latina pedem, sem rodeios, que Ciro desista da candidatura.

O movimento também tem reflexo na sociedade em geral. Apesar de reconhecer a importância do projeto político de Ciro, o advogado Felisberto Jácomo Filho declarou que vai votar em Lula porque o momento atual requer a preservação da democracia. “O candidato à reeleição a presidente Jair Bolsonaro é a negação da democracia. As chances de o Lula fazer um governo excelente, principalmente corrigindo o grave desiquilibro de renda no Brasil, é grande”, destacou em entrevista ao Jornal Opção.

“Aniquilando alternativas”

Reagindo ao videoclipe dos artistas, Ciro considerou que o Partido dos Trabalhadores (PT) estaria “aniquilando alternativas”. Disse, em sabatina, que Caetano Veloso e Tico Santa Cruz, dois dos mais conhecidos “ciristas” que declararam apoio a Lula, “são boas pessoas, mas que estão com a vida ganha”.

A crítica mais pesada foi remetida ao PT, a quem o presidenciável acusa de estimular “fascismo de esquerda”. “Há um fascismo de esquerda liderado pelo PT, eles estão querendo simplificar de uma forma absolutamente dramática o debate, querendo nada mais, nada menos, do que aniquilar alternativas. Isso é uma tragédia para um país que nem o Brasil”, declarou. Irônico, ainda frisou que é a favor do voto útil “contra a corrupção”

Para Jácomo Filho, o candidato do PDT à presidência erra ao criticar o chamado voto útil do eleitorado. “Legado que ele estava deixando em sua programação para um eventual governo, está jogando fora com essa birra boba, que não reconhece no eleitor o direito de escolha de voo que quer dar. Vamos pensar agora em nos livrarmos do Bolsonaro no próximo dia 2”, defende.

“BrizoLula”

Com o avanço da campanha para decidir o pleito no primeiro turno, reter eleitores passa a ser mais uma preocupação para o pedetista. Na pesquisa da Genial Quaest, divulgada nesta semana, 51% dos entrevistados que declararam voto em Ciro admitiram mudar de opção “caso algo aconteça”, enquanto 47% disseram que a escolha é “definitiva”. Perguntados se mudariam o voto para Lula vencer no primeiro turno, 33% dos ciristas responderam que sim.

A tensão para que Ciro desista da disputa em favor do petista cresce, também, dentro do próprio partido dele. Grupos ligados ao brizolismo já romperam com a candidatura oficial. Na terça-feira, no Rio de Janeiro, pedetistas históricos, como o ex-deputado Vivaldo e o deputado federal Paulo Ramos, lançaram o movimento informal “BrizoLula”.

O grupo prometeu encaminhar ao presidente da legenda, Carlos Luppi, pedido para que a Executiva Nacional seja convocada com o objetivo de definir o aval a Lula ainda no primeiro turno.