Alinhada a Bolsonaro, Igreja Presbiteriana do Brasil tenta afastar fiéis do ‘pensamento de esquerda’
21 julho 2022 às 09h32
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A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), uma das instituições evangélicas mais tradicionais do País, analisará entre 24 e 31 de julho a adoção de uma resolução que, na prática, levará a instituição a defender a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e afastar os fiéis da “nefasta influência do pensamento de esquerda”.
O documento a ser debatido no Supremo Concílio, em Cuiabá, tem a relatoria do reverendo Osni Ferreira, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina. Um vídeo publicado pelo site do jornal O Estado de S. Paulo mostra que ele utilizou, em 3 de julho, o púlpito a fim de pedir votos para Bolsonaro, ignorando regras impostas pela própria instituição, que orienta os pastores a não pedirem votos, mas, na prática, faz vista grossa às manifestações de apoio ao atual governo.
”Nós temos que reeleger Bolsonaro. Irmãos, não tem outro caminho para o Brasil. Olha a América do Sul inteira…”, disse Ferreira no culto. O deputado Filipe Barros (PL-PR), aliado de Bolsonaro e membro da igreja, estava presente e também foi “ungido” pelo reverendo para sua campanha à reeleição na Câmara. O texto defende que a igreja “apresente a contradição entre Marxismo e suas variantes com o Cristianismo Bíblico” e que “essas pastorais orientem os declarados ‘cristãos de esquerda ou progressistas’ de suas inconsistências”.
Se a resolução for aprovada pelo concílio, a igreja formará, na prática, uma comissão “anti-esquerda” a ser incumbida da tarefa de executar os termos do “manifesto” e estabelecer as regras a serem seguidas pelos pastores.
O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, preso no âmbito de uma investigação sobre o gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação, é um dos líderes da igreja. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, indicado por Bolsonaro, também é da mesma organização.
O documento precisa ser aprovado na reunião em Cuiabá para se tornar um posicionamento oficial da instituição. Nos bastidores, a proposta é apontada como uma pressão contra fiéis críticos de Bolsonaro e eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não seriam mais bem-vindos no reduto presbiteriano.
Foi nessa mesma igreja em Londrina que, em janeiro de 2020, o pastor Emerson Patriota, genro de Ferreira, desafiou os fiéis a assinarem uma ficha de apoio à criação do Aliança pelo Brasil, partido idealizado por Bolsonaro. A legenda não saiu do papel e Bolsonaro acabou se filiando ao PL para ser candidato em 2022. Agora, Emerson Patriota também assina a proposta relatada pelo sogro contra as manifestações de esquerda.
A comissão “anti-esquerda” deve ter como relator o reverendo Alfredo Ferreira de Souza, da Primeira Igreja Presbiteriana de Roraima, autor de estudos sobre “as raízes satânicas do comunismo”. O grupo também deve ser formado por líderes que têm ligação com Bolsonaro, entre eles o presidente do Supremo Concílio, Roberto Brasileiro Silva. Ele esteve ao lado de Bolsonaro quando aliados do governo comemoraram a aprovação da indicação de André Mendonça ao STF, em dezembro do ano passado. Na ocasião, ele elogiou o presidente. Roberto Brasileiro tem um filho, o advogado Gustavo Brasileiro, que foi assessor especial do Ministério da Educação na gestão de Milton Ribeiro e é pré-candidato a deputado estadual pelo Partido Novo em Minas Gerais.
Hernandes Dias Lopes e Augustus Nicodemus Lopes, conhecidos como dois pastores populares por terem milhões de seguidores nas redes sociais e influenciarem o pensamento presbiteriano no Brasil, também foram indicados para compor a comissão. Bolsonaro aposta no apoio de evangélicos para a campanha de reeleição. Pesquisas de intenção de voto têm indicado que o eleitor com esse perfil religioso é mais propenso a votar no atual presidente do que no ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva.